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CAPÍTULO 3 A INSERÇÃO BRASILEIRA NO CONTEXTO INTERNACIONAL DO AGRONEGÓCIO

3.3 DA VISÃO GLOBAL AO REGIONAL DO AGRONEGÓCIO

3.3.2 Cenário do Agronegócio Brasileiro

Até a década de 1960, o conceito de agricultura restringia-se às atividades de arar o solo, plantar semente, fazer a colheita. Com a industrialização, ampliou-se o seu conceito, de modo a ser analisada a partir de complexo sistema. No contexto atual, a agricultura está agregada, de forma sistêmica, às atividades desde a produção, transformação, distribuição ao consumo dos alimentos, que são setores econômicos responsáveis pela atividade agrícola. Reitera-se que a esta relação ou inter-relação chama-se, na nova conjuntura, de Agronegócio, internacionalmente conhecida por agrobusiness. “O termo agribusiness deve significar o atrelamento da fase agrícola aos demais setores, a produção agrícola como parte integrante de um sistema que tem por objetivo levar os produtos à mesa do consumidor”253. Ademais, o

250 BURANELO, Renato Macedo e AIRES, Antônio Manoel França. Atratividade de Investimento e o Desenvolvimento do Agronegócio no Brasil. Revista de Direito Empresarial | vol. 3/2014 | p. 179 | Mai / 2014 |

DTR\2014\2713 2014. Disponível em: www.revistajurídica.com.br – Ed. RT Acesso em: 24/08/2014

251

MENDES, Judas Tadeu Grassi e PADILHA JUNIOR, João Batista. op.cit, p.51

252 Id., p.51

253 BURANELO, Renato Macedo e AIRES, Antônio Manoel França. Atratividade de Investimento e o Desenvolvimento do Agronegócio no Brasil. Revista de Direito Empresarial | vol. 3/2014 | p. 179 | Mai / 2014 |

agrobusiness seria uma contribuição dentre outras atividades254, a econômica para apoiar as

exportações agrícolas255.

Dentro desta perspectiva, o agronegócio é constituído como “conjunto de atividades, que tem início nos fornecedores de insumos e bens de produção e fim nos consumidores, [e que] (grifo nosso) representa um papel fundamental na economia brasileira, além de ser o setor-chave de inserção do Brasil no mercado256. Quanto a esta concepção, LUPINACCI complementa, explicando o agronegócio como atividade compreendida “pela soma total de operações de produto e distribuição de suprimentos agrícolas; as operações de produção nas fazendas; o armazenamento, o processamento, a distribuição e a comercialização dos produtos agrícolas e itens produzidos com eles”257.

As conceituações supracitadas demonstram, claramente, a combinação de elementos integrados que formam parte de um todo mais complexo, que é o agronegócio. “Desde que o ambiente rural passou a ser investigado com maior interesse, o tradicional setor primário (caracterizado pelo tripé agricultura-pecuária-extrativismo) tem se transformado em agronegócio (diversificado-moderno-complexo)”258; constituindo-se, desse modo, um novo paradigma do meio rural, que passa a exigir novas modalidades de empreendimentos.

A compreensão do agronegócio como sistema de fatores interligados e correlacionados foi apresentada por “Ray Goldberg, m 1968, quando se deu a primeira noção de commodity

system approach (CSA) para estudar o comportamento dos sistemas de produção de

diferentes produtos agrícolas”259. Na atualidade, há no agronegócio um envolvimento de funções diversificas, as quais coadunam com o conceito elaborado por LUPINACCI: suprimentos à produção agropecuária; produção agropecuária; transformação; acondicionamento; armazenamento; distribuição; consumo e serviços complementares260.

A atividade do agronegócio como sistema, precisa ser pensada e planejada desde os investimentos privados que corroboram com a produção e disponibilização de insumos261 à

254Contribuição à atividade econômica requerida para que alimentos, vestuários, fumo e calçados cheguem aos

consumidores.

255 MENDES, Judas Tadeu Grassi e PADILHA JUNIOR, João Batista. Agronegócio: uma abordagem econômica. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007

256 Id, p.44

257LUPINACI, Adriano. Desafios do produtor rural no futuro. In: BOLETIM. Passarela da soja e do milho.

Março 2013 – Ano 05 – Nº 05, p.50. www.fundacaoba.com.br/boletim/revista . Acesso: 25/11/2014

258 CALLADO, Antônio André Cunha e CALLADO, Aldo Leonardo Cunha. Sistemas agroindustriais. In:

CALLADO, Antônio André Cunha (Org). Agronegócio. 3ª Ed. – São Paulo: Atlas, 2011, p.02

259

Id, p. 03

260 ARAÚJO, Massilon J. Fundamentos de agronegócio. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2005,p.03 261

Sobre insumos destacam-se fatores de produção que tornam o agronegócio viável: máquinas, equipamentos, fertilizantes, componentes químicos, compostos orgânicos, melhoramentos genéticos, sementes, e implementos.

prestação de serviços262 direcionados ao agronegócio; à produção263 propriamente dita até a inserção264 do produto no mercado – interno e externo. O processo de inserção dos produtos no mercado se dá por diversos níveis: 1. Produtores rurais; 2. Intermediários –primário, secundário e terciário-; 3. Agroindústrias, mercados dos produtores e concentradores; 4. Representantes, distribuidores e vendedores; 5. Atacadistas, centrais de abastecimento, bolsas de mercadorias, cédula de produto rural, governos, internet, etc; 6. Supermercados, pontos-de- venda, feiras livres e exportação; 7. Consumidores e 8. Importação265.

Como se vê, o agronegócio ultrapassa todas as fronteiras das atividades meramente rurais, de maneira a englobar as pessoas que trabalham no campo; os fornecedores de insumos sejam pessoas ou empresas; os processadores dos produtos; a manufatura; o transporte e os consumidores.

No Brasil, como se verifica, a mudança no setor agrário iniciou-se a partir da década de setenta, decorrente do processo de industrialização, das novas tecnologias direcionadas às atividades agrícolas e, consequentemente, das exigências dos mercados consumidores. No Brasil, o agronegócio compreende o segmento de alimentos, fibras e energia renovável. Em 2007, o Brasil já era responsável por:

Mais de 30% do PIB nacional (cerca de R$ 2 trilhões, ou seja, US$ 600 bilhões). Mais de 40% da receita gerada com a exportação do Brasil, ou seja, mais de US$ 50 bilhões.

Cerca de 37% de mão-de-obra ou do total de emprego no país (35 milhões de pessoas), sabendo-se que a PEA (população economicamente ativa) é de aproximadamente 95 milhões de pessoas.

Cerca de 45% dos gastos ou do consumo das famílias brasileiras. Utilização de mais de 50% da frota nacional de caminhões.266

Na atualidade, a estimativa do valor agregado ao agronegócio brasileiro é de US$ 40.00 dólares, representando cerca de 20% do PIB do País. O PIB do agronegócio nacional em R$ bilhões

262Quanto aos serviços prestados ao agronegócio, destacam-se os prestados pelas instituições que atuam para o

desenvolvimento econômico e institucional do agronegócio: pesquisas, extensão rural, elaboração e análise de projetos, créditos e financiamentos, capacitação de recursos humanos, infraestrutura, análises laboratoriais, consultorias, assessoria jurídica e técnica, monitoramento, rastreamento, tecnologias de informação e auxílio à exportação.

263 São todas as atividades produtivas: atividades agrícolas – desde o preparo do solo, tarefas de manejo, podas e

colheitas até às atividades pós-colheita – transporte interno, armazenamento apropriado, classificação e embalagem dos produtos

264 Refere-se às atividades de distribuição e comercialização dos produtos agroindustriais – in natura ( sem sofrer

qualquer processo de transformação) ou beneficiados

265

Esses níveis serão explicados em fluxograma, no item sobre o Agronegócio na Região Oeste da Bahia.

266

subiu de 841,30 em 2010, para 1.175,59 em 2014267. De acordo com CEPEA, a qualificação do PIB Agro-Brasil reflete a evolução do setor em termos de renda real, a qual se destina à remuneração dos fatores de produção: trabalho (salários e equivalentes), capital físico (juros e depreciação), terra (aluguel e juros) e lucros. Considera-se, portanto, no cômputo do PIB do agronegócio tanto o crescimento do volume produzido como dos preços, já descontada a inflação”268.

“O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro estimado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, com o apoio financeiro da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), perdeu ritmo em junho mais seguiu crescendo, 0,11% frente 0,56% em maio”269. Com isso, no primeiro semestre de 2014, o PIB do setor cresceu 1,90%.

Na safra 2013/2014, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento, a produção nacional de grãos aferiu-se 195,90 milhões de toneladas, superando a produção da safra anterior em aproximadamente 10 milhões de toneladas, utilizando-se para tanto aproximadamente 55 milhões de hectares na safra 2013/2014.

Considerando-se todas as culturas, o Brasil cultiva área superior a 80 milhões de hectares e, apesar das dificuldades econômica, logísticas e climáticas, foram registradas safras recordes de grãos, cana, carnes, leite e de produtos das florestas plantadas nos últimos anos. Mais ainda, aproximadamente 200 milhões de hectares do território nacional são destinados a pastagens, entre os quais cerca de 96 milhões hectares aptos para a agricultura. O Brasil já dispõe da melhor tecnologia tropical do planeta, o que permitiu aumentar a produção de grãos em 147% nos últimos 17 anos com um aumento da área cultivada de apenas 27%, demonstrando que o país possui um enorme potencial de continuar crescendo na produção de alimentos270. Por isso, O agronegócio brasileiro vem se constituindo como grande destaque da balança comercial, no decorrer dos anos, como demonstra a gráfico abaixo.

267

SECRETARIA DE ESTADO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO.

www.agricultura.mg.gov.br apud Cepea-USP /Faemg /Seapa. Acesso: 27/09/2014** Dados publicados em Setembro de 2014, referentes a Junho de 2014

268

CEPEA- Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. Disponível em : www.cepeaesalq.usp.br/pib . Acesso em: 27/09/2014, p.02

269 Id., p.03

270 BURANELO, Renato Macedo e AIRES, Antônio Manoel França. Atratividade de Investimento e o

Desenvolvimento do Agronegócio no Brasil. Revista de Direito Empresarial | vol. 3/2014 | p. 179 | Mai / 2014 |

Gráfico 4: Balança Comercial Brasileira e do Agronegócio

Apud: AIBA, 2014

A balança comercial apresenta dados surpreendentes em relação ao crescimento do agronegócio brasileiro, evidenciando a participação do setor para o equilíbrio da economia do país. O destaque se dá, especialmente, nas exportações. Com dados mais recentes, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil sinaliza que no primeiro semestre de 2014 o agronegócio representou 44,4% de toda exportação do país, com destaque para a soja em grão, farelo de soja, carne bovina, café cru em grão e celulose. Do valor total exportado, a soja em grão corresponde a 16,7%, no valor de US$ 16,1 bilhões, constituindo, assim, recordista de vendas no valor total exportado pelo Brasil271.

Quanto ao valor total das exportações do agronegócio, o Brasil alcançou o valor de US$ 49,6 bilhões, com queda de 0,92% em comparação ao ano anterior; enquanto as importações alcançaram US$ 8,3 bilhões, com aumento de 0,2% em relação ao ano de 2013. Apesar do primeiro semestre, o saldo comercial ter sido “superavitário em US$ 40,8 bilhões, com redução de 1,15% em comparação ao desempenho de 2013, no mês de junho, o saldo da balança comercial do agronegócio foi positivo em US$ 8,4 bilhões”272. Em 2014, as

271 Boletim Internacional. Sistema CNA Brasil. Edição 02 julho de 2014.

www.canaldoprodutor.com.br/.../boletim-agronegocio-internacional. Acesso:25/11/2014 272

Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. In: Boletim Internacional. Sistema CNA Brasil. Edição 02 – julho de 2014, p.01

exportações do farelo de soja, também, merecem destaque, pois alcançou melhor desempenho em preço, com elevação de 7,8%, 4,2 em volume, correspondendo um valor de US$ 3,5 bilhões.

Hoje, os principais blocos econômicos parceiros do comércio agrícola brasileiro são a Ásia, com participação em 44,3%, correspondendo a US$ 22 bilhões; e a União Europeia em 21,3%, com valor de US$ 10,5 bilhões e Nafta, 8,3%, com valor de US$ 4,1 milhões273.

Observa-se que o Brasil em 2014 teve uma queda no valor total das exportações em 0,92%. Conforme dados da AIBA, os custos operacionais do agronegócio colocam a produção brasileira em desvantagem, frente a países como Estados Unidos, Argentina e China. Os custos operacionais são o grande entrave ao desenvolvimento agrícola nacional274.

Para Antônio da Luz, economista-chefe da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), o Brasil “não tem problema de produtividade, mas os altos custos de insumos e logística fazem com que a produção brasileira perca competitividade no mercado externo”275. Para esse economista, os países latinos, vizinhos ao Brasil, possuem outra vantagem em relação ao País, que é a utilização de fertilizantes inferior. O autor segue afirmando que “ estamos todos os anos competindo para ser o pais que mais vai produzir soja, mas temos que perceber que já estamos liderando nos custos. Isso é um problema. Se vendemos um produto que tem um preço internacional, no momento em que temos um custo maior, estamos perdendo competitividade”276.

O levantamento feito por Mauro Osaki, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (CEPEA) mostrou que entre as safras 2009/2010 e a safra de 2012/2013, houve um aumento de 19% dos custos de produção de soja, e 17%, de milho. Esse aumento é decorrente do crescimento de fungicidas, inseticidas na composição do valor, bem como, do alto custo de adubos e sementes de alta tecnologia. O acréscimo no custo operacional faz com que o Brasil perca a competitividade no mercado externo277. Em contrapartida, o relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, 2013), indica que as exportações brasileiras entre 2014 e 2023 devem aumentar 41,4%.

273 Boletim Internacional. Sistema CNA Brasil. Edição 02

– julho de 2014.

www.canaldoprodutor.com.br/.../boletim-agronegocio-internacional. Acesso:25/11/2014 274 AIBA, 2014

275 Antônio da Luz apud AIBA, 2014, p.09 276

Id., p.09

277

Um conjunto de fatores apontados pode favorecer a produção de algodão do Brasil, [como exemplo] (grifo nosso). O primeiro é a mudança da política do algodão na China, maior produtor mundial estimulando os produtores de grãos no país, o que tem tornado o mercado de grãos mais atrativo aos produtores chineses. Outro fator é o aumento dos salários que coloca a produção de algodão por ser uma lavoura trabalho-intensiva, em posição desfavorável em relação a produção de grãos. O terceiro fator é o deslocamento para baixo dos preços do algodão fora da China, relativamente a outras commodities278.

Em 2012/2013, o Brasil produziu 1,35 milhões de toneladas de algodão, havendo projeção para 2022/2023 de 2,53 milhões de toneladas. “Essa expansão corresponde a uma taxa de crescimento de 5,1% ao ano durante o período da projeção e a uma variação de 87,6% na produção. O consumo desse produto no Brasil deve crescer a uma taxa anual menor que 1,0% nos próximos dez anos”279, correspondendo, assim, um consumo de 915 mil toneladas em 2022/2023. Há previsão de crescimento no setor de exportação, de 58,7% entre 2013 e 2023. As exportações.

Quanto à produção de milho, estima-se para 2022/23 a produção de 93,6 milhões de toneladas. A média projetada da produtividade de milho “para os próximos 10 anos situa-se entre 5,0 e 6,4 toneladas por hectare. Mas essa projeção é considerada baixa pela Conab. A área de milho deve ter um acréscimo de 6,3% entre 2012/13 e 2022/23, passando de 15,7 milhões de hectares em 2012/13 para 16,7 milhões, podendo chegar a 21,6 milhões de hectares em 2022/23. Frente a esta realidade, há uma estimativa no aumento de exportação desse produto, passando de 18 milhões de toneladas em 2013 para 24,74 milhões de toneladas em 2022/23.

No tocante à produção de soja, a projeção é de 81,3 milhões de toneladas, em 2013, para 99,2 milhões de toneladas para 2023. O que representa um acréscimo de 21,8% em comparação à produção de 2013. Apesar da Conab considerar um percentual abaixo do crescimento ocorrido nos últimos 10 anos, que foi de 66,0%.

No entanto, há projeções de aumento de demanda tanto no mercado interno, em particular, para a produção de Biodiesel e ração animal; quanto no internacional. As projeções para exportação de grãos para 2022/20133 são de 46,9 milhões de toneladas. Também, segundo a Conab, abaixo do que se observado na última década.

Em âmbito nacional, estima-se para 2022/2023, produção de 222,3 milhões de toneladas de grãos, correspondendo a um acréscimo de 20,7% sobre a safra de 2013. Nesta perspectiva, há previsão de um aumento de 8,2% de área plantada entre 2013 e 2023. Para o

278 Projeções do Agronegócio

– Brasil 2012-2013 a 20122-2023. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: www.agricultura.gov.br. Acesso: 27/09/2014

279

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, “o agronegócio brasileiro caminha para a próxima década com foco na competitividade e na modernidade, fazendo da utilização permanente da tecnologia um caminho para a sustentabilidade”280, de maneira a produzir o suficiente para suprir o abastecimento anual do país, num total de 200 milhões de brasileiros; além do excedente para exportação para “algo em torno de 200 países”.