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A inserção do capital chinês no oeste baiano, decorrente do agronegócio e os impactos na região

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A INSERÇÃO DO CAPITAL CHINÊS NO OESTE BAIANO,

DECORRENTE DO AGRONEGÓCIO E OS IMPACTOS NA

REGIÃO

Brasília - DF

2014

(2)

ROSÂNGELA QUEIROZ MARTINS ARAÚJO

A INSERÇÃO DO CAPITAL CHINÊS NO OESTE BAIANO, DECORRENTE DO AGRONEGÓCIO E OS IMPACTOS NA REGIÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Direito.

Orientador: Profª. Dra. Leila Maria Da’Juda

Bijos

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Dissertação de autoria de Rosângela Queiroz Martins Araújo intitulada A INSERÇÃO DO CAPITAL CHINÊS NO OESTE BAIANO, DECORRENTE DO AGRONEGÓCIO E OS IMPACTOS NA REGIÃO.”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito, defendida e aprovada, em 05 de dezembro de 2014, pela banca examinadora abaixo assinada:

____________________________________ Profª. Dra. Leila Maria Da’Juda Bijos

Orientadora

____________________________________ Prof. Dr. Maurin Almeida Falcão

Membro Examinador Interno

____________________________________ Prof. Dr. José Rossini Campos do Couto Corrêa

Membro Examinador Externo

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“Uma das vantagens de países como o Brasil é poder tomar atalhos para o futuro”

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Agradeço, em primeiro lugar, a Deus, minha grande fonte de inspiração e por ter me dado a sabedoria de que tudo é possível.

Aos meus três fantásticos filhos (um enteado-filho) e ao meu maravilhoso marido, que tiveram que se abdicar, muitas vezes, de minha companhia, inclusive em momentos especiais, para que eu pudesse concluir a dissertação e galgar os meus sonhos. Obrigada pela compreensão!

Aos meus pais pela formação sólida e às minhas irmãs pelo amor e estímulo na continuidade dos estudos.

À professora Dra. Leila Bijos, pela orientação segura e principalmente pela dedicação e amizade durante toda a fase de preparação deste trabalho.

Aos professores Dr.Maurin Falcão e Dra. Liziane Angelotti, pelas significativas sugestões apresentadas a este trabalho quando do exame de qualificação.

Aos professores do Curso de Mestrado em Direito da Universidade Católica de Brasília, por tudo que me ensinaram ao longo do curso.

Aos meus colegas do Curso de Mestrado. Neste particular agradeço a Synthia Lemes, Denis Cavalcante, Mayra Cavalcante, Jeane Carvalho e Carlos Venâncio, pela convivência fortalecedora no decorrer do curso.

À Secretaria da Universidade Católica de Brasília, na pessoa de Erivana, pela maneira carinhosa que sempre me tratou.

À Faculdade São Francisco de Barreiras (FASB), na pessoa do professor Tadeu Bergamo, por ter confiado e possibilitado um crescimento profissional ao cursar o Mestrado em Direito na Universidade Católica de Brasília.

Ao professor Dr. Pedro Bergamo, pessoa na qual tenho o mais profundo respeito e admiração. Obrigada pelos ensinamentos e por ter me proporcionado uma reflexão sobre o verdadeiro sentido do coletivo.

À Direção Acadêmica da FASB, na pessoa do professor Marden Lucena pelo carinhoso apoio, cooperação, principalmente na etapa final do trabalho, momento em que eu mais precisei.

À Coordenação do Curso de Direito da FASB, na pessoa da professora Cristiane Gabriel Pacheco pela força e amizade, motivando a enfrentar e a superar as dificuldades; substituindo-me no desempenho das atividades das monografias do curso. Merece menção especial os professores Aderlan Messias e Thiago Rafagnin, que dedicaram seu valioso tempo para discutir o trabalho, fazendo sugestões extremamente úteis.

Aos professores do Curso de Direito da FASB, que me deram grande apoio e incentivo durante todo o Mestrado, principalmente na fase de conclusão.

Aos colegas da FASB, indistintamente, pela compreensão e cooperação durante a minha ausência para conclusão dessa dissertação.

À Rosi Cerrato, Assessora da Presidência da AIBA, e ao Ernani Sabai, Diretor de Integração, Projetos e Pesquisa da AIBA, pelo apoio e pelas informações sobre o agronegócio da região, demonstrando solícitos.

Ao Saulo Guimarães, pelas informações sobre os dados do IBGE, sempre disposto a sanar as dúvidas quando surgiam.

Ao meu amigo Túlio Machado Viana, pela companhia nas viagens e convivência durante o curso.

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Obrigada!

A todos os amigos que sempre torceram e acreditaram no meu sucesso.

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“Uma das vantagens de países como o Brasil é poder tomar atalhos para o futuro”

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ARAÚJO, Rosângela Queiroz Martins. A inserção do capital chinês no Oeste Baiano, decorrente do agronegócio e os impactos na região. 2014. 139 f. Dissertação (Mestrado em

Direito) – Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito, Universidade Católica de Brasília,

Brasília, 2014.

Os teores desta dissertação correspondem a resultados de uma pesquisa científica, sobre a

inserção do capital chinês no Oeste Baiano decorrente do agronegócio e dos impactos na economia e no desenvolvimento social da região. O interesse surge da vivência na região há mais de vinte anos e do olhar que tem sobre os díspares aspectos entre crescimento econômico e desenvolvimento social, mesmo considerando uma das regiões que mais crescem no Brasil. O estudo da análise específica sobre a entrada de investimentos estrangeiros diretos chineses na região Oeste possibilita a busca da seguinte problemática: quais os impactos socioeconômicos no âmbito local-regional, decorrentes da chegada do capital chinês no Oeste Baiano? Acredita-se que a abordagem interdisciplinar que o presente estudo proporciona sobre a análise das relações comerciais internacionais, com foco em seus aspectos jurídicos permitirá o atingimento da meta proposta na pesquisa. A partir desse entendimento, realiza-se uma análise acerca do regime jurídico de atração de investimentos estrangeiros face à proposta da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), de promover a integração dos países em desenvolvimento na economia mundial, em consonância com os aspectos políticos e jurídicos do comércio exterior brasileiro. Busca-se ainda, uma apreciação sobre o direito da integração dentro do contexto do Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT 1947) e da Organização Mundial do Comércio (OMC 1995), a fim de abarcar o processo de integração regional com fito à integração asiática. Da mesma forma, analisou-se o momento em que a China foi admitida na OMC, impulsionando as relações bilaterais entre a China e o Brasil, com foco no agronegócio. Em seguida, avaliou-se a inserção brasileira no contexto internacional do agronegócio, numa análise global-regional, bem como, as políticas agrícolas de desenvolvimento. Por fim, verifica-se os impactos da chegada do capital chinês no Oeste Baiano e as perspectivas futuras dessa relação, traçando uma linha do tempo sobre a expansão do agronegócio na região Oeste da Bahia. Para o atingimento dos resultados, o estudo é desenvolvido por meio de pesquisas de campo, por se deter na observação do contexto no qual o objeto da pesquisa está inserido; e documental através de um tratamento analítico de materiais existentes.

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The theories of this dissertation relay the results of scientific research on the insertion of Chinese capital in the western region of Bahia arising from agribusiness, and thus the impact on the economy and social development of the region. For over 20 years Chinese capital has been present the region, arousing interest in discrepancies between economic growth and social development, in what is considered one of Brazil's fastest growing regions. Specific analysis on the entry of Chinese foreign direct investment (FDI) in the western region provokes the following consideration: what are the economic impacts on the local-regional scope since the arrival of Chinese capital in Bahia's western region? The success of this study is in the interdisciplinary approach to analysis of international trade relations focusing on legal aspects. The analysis considers the legal regime around foreign investment attraction based on the proposal of the United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD), to promote integration of developing countries into the world economy, in line with the political and legal aspects of Brazilian foreign trade. Further to this, an analysis of integration law was carried out within the context of the General Agreement on Tariffs and Trade (GATT 1947) and World Trade Organization (WTO 1995) in order to cover the process of regional integration focusing on Asian integration, such as an evaluation of the period of China's admission to the WTO, which thus boosted China-Brazil relations, primarily through focus on agribusiness. Following this was the Brazilian insertion into the international context of agribusiness, in a global-regional analysis, including agricultural policies on development. Finally, the impact of the arrival of Chinese capital in Bahia's western region and the future prospects of that relationship, following a time line of the expansion of agribusiness in Bahia's western region. The results are based on field studies, to detain the observation in which the object of study was inserted; documentary, through an analytic approach to existing materials.

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Figura 1: Localização geoeconômica da Região Oeste da Bahia Figura 2: Panorama Pluviométrico / Valor Terra

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Tabela 1:Grade de Principais Produtos Exportados para a China em 2014 Tabela 2: Principais produtos importados da China pelo Brasil

Tabela 3: Balança Comercial Brasileira

Tabela 4: Balança Comercial Chinesa: Evolução do Comércio Exterior Tabela 5: Principais destinos das Exportações em 2013 em US$ bilhões

Tabela 6:Origem das Importações Chinesa em 2013 -US$ bilhões

Tabela 7: Dez principais produtos exportados da China em 2013

Tabela 8: Dez principais grupos de produtos importados pela China em 2013 Tabela 9: Evolução do intercâmbio comercial com o Brasil US$ bilhões, FOB Tabela 10: Exportação Brasileira com destaque no Estado da Bahia

Tabela 11: Balança Comercial da Bahia 2012/2013 Tabela 12: Matrícula Agrícola do Cerrado Baiano Tabela 13: Principais culturas da região

Tabela 14: Áreas produtivas da Região Oeste

Tabela 15: Empregos e Remuneração no Agronegócio Tabela 16: Remuneração no Agronegócio

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Gráfico 1: Investimentos Chineses no Brasil por estrutura proprietária da empresa investidora em 2010.

Gráfico 2: Investimentos Chineses no Brasil por Setor da Economia em 2010 Gráfico 3: Principais destinos do agronegócio brasileiro em 2013

Gráfico 4: Balança Comercial Brasileira e do Agronegócio

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AIBA – Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia

IED – Investimentos Estrangeiros Diretos

UNCTAD – Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento

CMNs – Corporações Multinacionais

SISBACEN – Sistema de Informações do Banco Central do Brasil

TNCs – Empresas Transnacionais

CEBC – Conselho Empresarial China-Brasil

CONCEX – Conselho de Comércio Exterior

CACEX – Carteira de Comércio Exterior

MICT – Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo

MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

SECEX – Secretaria de Comércio Exterior

MRE – Ministério das Relações Exteriores

CAMEX – Câmara de Comércio Exterior

DECEX – Departamento de Operações de Comércio Exterior

MF – Ministério da Fazenda

RFB – Receita Federal do Brasil

PROEX – Programa de Financiamento às Exportações

DECOM – Departamento de Defesa Comercial

DEINT – Departamento de Negociações Internacionais

COAF – Conselho de Controle de Atividades Financeiras

SISCOMEX – Sistema Integrado de Comércio Exterior

RA – Regulamento Aduaneiro

CECA – Comunidade Europeia do Carvão e do Aço

CE – Comunidade Europeia

CEEA – Comunidade Europeia da Energia Atômica

NIPs – Novos Países Industrializados

ASA – Associação do Sudeste Asiático

ASEAN – Associação de Nações do Sudeste da Ásia

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Labex China – Laboratório Virtual da Embrapa na China

SEAGRI – Superintendência de Política do Agronegócio

CAI – Complexo Agroindustrial

CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas

SUPRA – Superintendência de Política Agrária

IBRA – Instituto Brasileiro de Reforma Agrária

INDA – Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina

PAP – Plano Agrícola e Pecuário

SPA – Secretaria de Política Agrícola

Pronaf – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

FAO – Organização Mundial para Alimentação e Agricultura

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

IICA – Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura

REDPA – Rede de Coordenação de Políticas Agropecuárias

DEAGRI – Departamento de Economia Agrícola

REDPA – Rede de Coordenação de Políticas Agropecuárias

PGPM – Política de Garantia de Preços Mínimos

CSA –Commodity System Approach

PIB – Produto Interno Bruto

CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil

Farsul – Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul

STF – Supremo Tribunal Federal

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

NUPEC – Núcleo de pesquisas da CDL de Barreiras

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

Codes – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Bahia

Fundeagro – Fundo de Desenvolvimento do Agronegócio do Algodão

Adab – Agência de Defesa Sanitária da Bahia

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Fundesis – Fundo para o Desenvolvimento Integrado e Sustentável da Bahia

Fiol – Ferrovia da Integração Leste-Oeste

TCU – Tribunal de Contas da União

FMI – Fundo Monetário Internacional

GATT – Acordo Geral Sobre Tarifas e Comércio

OIC – Organização Internacional do Comércio

OIT – Organização Internacional do Trabalho

OMC – Organização Mundial do Comércio

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INTRODUÇÃO ... 1 CAPÍTULO 1 – REGIME JURÍDICO DE ATRAÇÃO DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO ... 5

1.1 O FLUXO DE INVESTIMENTO CHINÊS NO BRASIL COM ÊNFASE NO

AGRONEGÓCIO ... 11 1.2 A POLÍTICA DO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO E SEUS ASPECTOS JURÍDICOS ... 14

1.2.1 Desafios do mercado interno e externo frente às estratégias de internacionalização .... 21

CAPÍTULO 2 – A INSERÇÃO POLÍTICA E JURÍDICA DA CHINA ... 26 2.1 O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO POLÍTICA CHINESA SOB A ÓTICA DE HENRY

KISSINGER ... 30 2.2 A INTEGRAÇÃO REGIONAL ASIÁTICA ... 34 2.2.1 O papel da China no processo de Integração Regional ... 35 2.3 MOMENTO EM QUE A CHINA MUDOU: A OMC E SEUS REFLEXOS NA ECONOMIA MUNDIAL ... 40 2.4 CHINA E BRASIL NO CONTEXTO DAS RELAÇÕES ECONÔMICAS E COMERCIAS ... 43 2.4.1 Agronegócio: o âmago das relações entre o Brasil e a China ... 47 2.4.3 Uma análise comparativa da balança comercial do Brasil x China 2013/2014 ... 57

CAPÍTULO 3 - A INSERÇÃO BRASILEIRA NO CONTEXTO INTERNACIONAL DO AGRONEGÓCIO ... 65

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA AGRICULTURA AO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO ... 65 3.2 POLÍTICAS AGRÍCOLAS DE DESENVOLVIMENTO ... 71

CAPÍTULO 4 - A GÊNESE DA PUJANÇA DO AGRONEGÓCIO NO OESTE DA BAHIA ... 90

4.1.1 Panorama Socioeconômico do Agronegócio: Região intitulada “cinturão da soja” ... 101

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INTRODUÇÃO

Os anos oitenta são o marco da gênese do agronegócio no Oeste Baiano, sobretudo com a inserção dos sulistas que anteviram o potencial da região, motivados pelas pesquisas da Embrapa, as quais demonstravam a viabilidade de terras produtivas por meio de tecnologias avançadas. A princípio, o agronegócio sofreu muitos entraves, entre eles, as poucas informações sobre o Cerrado Baiano e ausência de investimentos pelas instituições bancárias, que foram impedidas pelo Banco Central de financiarem as lavouras. Ademais, se depararam com outros gargalos na comercialização, armazenagem e logística, o que tornavam o custo da produção ainda mais elevado.

As dificuldades de duas décadas foram gradativamente atenuadas a partir de 2000, mormente em 2003 quando houve uma produtividade expressiva, com obtenção de lucros. Ao processar essas iniciativas, um novo panorama emergiu, despontando o Oeste Baiano no cenário mundial como a região que mais crescia no Brasil, face ao agronegócio. Por força dessas informações, deflagra uma parceria comercial entre a região Oeste e a China. Importante mencionar que, antes de tal acontecimento, o Brasil já estabelecia relações comerciais e econômicas com o mercado chinês; cujas relações foram intensificadas em 2001,

momento em que a China adquiriu seu status como Parte-Contratante do Acordo Geral de

Tarifas e Comércio (GATT) e foi admitida pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Em decorrência das relações comerciais entre os dois países, a região Oeste da Bahia se destaca nas exportações de grãos para a China. Esse, por vez, se torna o maior consumidor mundial de soja do Brasil. Este ponto de partida, concomitante a interesses pessoais e profissionais que surgem da vivência na região e que acompanhou o processo de crescimento econômico em contraponto ao desenvolvimento social, corroborou, decisivamente, para a busca de um conhecimento mais aprofundado acerca da inserção do capital chinês no Oeste Baiano decorrente do agronegócio e dos impactos na economia e no desenvolvimento social no âmbito local-regional.

A região pesquisada acima descrita, a do Oeste da Bahia, intitulada de “cinturão da

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Assim, os teores do texto, a seguir, corresponderão a resultados de uma pesquisa científica que tem como objetivo primeiro, responder a seguinte indagação: quais os impactos socioeconômicos no âmbito local-regional, decorrentes da inserção do capital chinês no Oeste Baiano? Acredita-se que a abordagem interdisciplinar que o presente estudo proporcionará sobre a análise das relações comerciais internacionais, com foco em seus aspectos jurídicos permitirá o atingimento da meta proposta na pesquisa. Portanto as bases dos teores que versam sobre as relações econômico-comercias internas e internacionais incidem no âmbito dos direitos internacional econômico, dos negócios internacionais, da Integração e Comércio Internacional, e da Análise Econômica do Comércio Internacional.

À luz dos teores, há necessidade premente de analisar o regime jurídico de investimentos estrangeiros, a fim de compreender a entrada do capital chinês no Oeste Baiano; inferir acerca do Direito da Integração e da admissão da China na Organização Mundial do Comércio (OMC) e se essa admissão intensificou as relações bilaterais entre o Brasil e a China de maneira a possibilitar o desenvolvimento da região; avaliar a inserção brasileira no contexto internacional do agronegócio; descrever o processo de expansão do agronegócio na Região Oeste da Bahia; compreender o paradoxo existente que há entre o desenvolvimento social e o crescimento econômico; e, verificar os impactos da inserção do capital chinês no Oeste Baiano e as perspectivas futuras dessa relação bilateral.

Os saberes teóricos do presente estudo serão sistematizados e estruturados em quatro capítulos. O primeiro, intitulado “regime jurídico de atração de investimentos estrangeiros”, apresenta uma análise sobre o ingresso de Investimentos Estrangeiros Direitos face à proposta da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) de promover a integração dos países em desenvolvimento na economia mundial; perpetra, ainda, numa análise acerca do fluxo de investimento chinês no Brasil, com ênfase no agronegócio, bem como, na política do Comércio Exterior Brasileiro e seus aspectos jurídicos. O final do capítulo destina-se-á discussão em torno de uma apreciação sobre os desafios do mercado interno e externo frente às estratégias de internacionalização. Tais discussões são embasadas em CAPARROZ (2014) que traz uma análise sobre o comércio internacional e sua legislação; NIARADI (2008) que discorre sobre os Investimentos Estrangeiros Diretos; SILVA (2013) que

trata das questões deestratégias para atuação em Comércio Exterior; e em FONSECA (2014)

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A discussão da lógica do segundo capítulo, “Direito da Integração”, se permeia na concepção jurídica da integração; sobre o processo de integração política chinesa, como também, da integração regional asiática e a entrada da China no processo da integração regional. Tratar-se ainda, sobre a inserção da China na OMC e seus reflexos na economia mundial, e sobre as relações bilaterais entre o Brasil e a China, no contexto do agronegócio. Para o entendimento dessa discussão é fundamental uma análise teórica com base nos autores PORTELA (2014); BÖHLKE (2010); KISSINGER (2011); CRETELLA NETO (2012); NAISBITT (2012); PEMPEL (2008); FURLAN e FELSBERG (2011); CASELLA (2011); MARQUES (2009); SHIN (2008). Os resultados econômicos têm como fonte primordial o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e o Ministério das Relações Exteriores.

O terceiro capítulo se refere à Inserção Brasileira no Contexto Internacional do Agronegócio e aborda o processo de internacionalização do agronegócio, a partir de uma análise global-regional, perpetrando ainda pelo caminho das Políticas Agrícolas de desenvolvimento. Para analise desta discussão, busca-se embasamento teórico no Acordo sobre Agricultura da OMC; em SZMRECÁNYI (1998); PAULILLO (2013); COSTA (2014); GRAZILIANO DA SILVA (1994); BORGES (2014); STEFANELO (2007); MENDES e PADILHA (2007); CALLADO (2011). As informações da SEAGRI, do CEPEA e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil servem de base para avaliar e descrever o processo de expansão do agronegócio nacional-regional.

O último capítulo, intitulado, “A Gênese da Pujança do Agronegócio no Oeste da Bahia”, é destinado a especificar o expansionismo do agronegócio do Oeste Baiano no contexto internacional chinês, analisando o panorama socioeconômico dos municípios que fazem parte da fronteira agrícola e os impactos do agronegócio no crescimento econômico e desenvolvimento social local-regional. A base teórica desse estudo é em autores que acompanharam todo processo expansionista da região, a exemplo de PAMPLONA (2002);

ALMEIDA (2005); MORAES et al (2010), além de dados oficiais do IBGE (2010/2014) e da

Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia – AIBA (2014).

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CAPÍTULO 1 – REGIME JURÍDICO DE ATRAÇÃO DE INVESTIMENTO ESTRANGEIRO

O ingresso de capital nos países em desenvolvimento é representado, em sua maioria, pelos Investimentos Estrangeiros Diretos (IED). Na acepção da Conferência das Nações

Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), entidade criada em 19641, para

promover a integração dos países em desenvolvimento na economia mundial, a maior parte dos investimentos estrangeiros “se dá nos países asiáticos, além das regiões favorecidas com

amplos recursos naturais, como é o caso da América Latina”2. Com a finalidade de promover

a sua função, de tal sorte a gerar aos países menos desenvolvidos maior sustentabilidade, a entidade busca

funcionar como um fórum para deliberações intergovernamentais e manter discussões e trocas de experiências com especialistas em comércio internacional voltadas para a obtenção de consenso entre os membros; realizar pesquisas, coletas de dados e análise das políticas comerciais, submetendo os resultados aos especialistas de cada país; fornecer assistência técnica de acordo com as necessidades dos países, com especial ênfase para os menos desenvolvidos e as chamadas economia em transição (oriundas de regimes socialistas) inclusive em cooperação com outros organismos internacionais3.

Com o obejtivo de concretizar a atuação da UNCTAD, a mesma deverá fomentar junto a outras organizações do Sistema das Nações Unidas, Comissões Regionais, instituições governamentais, associações comerciais e industriais, bem como, institutos de estudos e pesquisas, ações direcionadas ao desenvolvimento sustentável dos países. Trata-se de uma “entidade autônoma, com personalidade jurídica própria e é, portanto, um organismo

internacional. Entretanto, “[...] é vinculada à Assembleia-Geral da ONU4, com a qual mantém

1Por iniciativa das Nações Unidas, foi realizada em Genebra em 1964, a primeira Conferência sobre Comércio e

Desenvolvimento, que teve como principal resultado a decisão dos participantes de institucionalizar um mecanismo capaz de enfrentar as questões de grande relevância econômica. Em paralelo, os países em desenvolvimento criaram o Grupo dos 77, para conferir voz e expressão aos seus anseios, com a Declaração Conjunta dos Signatários. Hoje possuem 130 membros.

2 NIARADI, George. Investimentos Estrangeiros Diretos no Brasil. Análise da Legislação Aplicada.- Campinas, SP: Milennium Editora, 2008, p.05 grifo nosso.

3 CAPARROZ. Roberto. Comércio Internacional e Legislação Aduaneira esquematizado. 2ª ed, ver. atual. e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2014, p. 185-186.

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laços de cooperação”5. As suas principais atividades são desenvolvidas por meio de

Conferências6, a cada quatro anos, as quais cumprem papel decisório da instituição.

A ênfase da UNCTAD é nos países em desenvolvimento, porém, “não implica que apenas estes [países desenvolvidos] (grifo nosso) integrem a UNCTAD, que é um organismo do sistema das Nações Unidas e que é, portanto, aberto à participação de todos os Estados do mundo”7. A ressalva demonstra a participação efetiva de muitos membros da ONU, de

diversos níveis de desenvolvimento.

Em junho de 2004, foi realizada no Brasil a XI Conferência da UNCTAD, sediada em

São Paulo, cujas discussões foram direcionadas às relações entre as estratégias nacionais de

desenvolvimento e processos econômicos globais (grifo nosso). Os debates foram divididos em quatro blocos, a saber: “a) estratégias de desenvolvimento numa economia globalizada; b) construção de capacidade produtiva e competitividade internacional; c) ganhos de desenvolvimento a partir de negociações comerciais internacionais; d) parcerias para o desenvolvimento”8.

No atual cenário, a finalidade primordial da UNCTAD é aumentar as oportunidades de comércio, investimento e progresso (grifo nosso) dos países em desenvolvimento, de maneira que sejam capazes “de enfrentar os desafios da globalização e aparelhar as economias

incipientes dos membros para a captação de recursos estrangeiros mais duradouros, focados

na produção local, criação de empregos e transferência de tecnologias”9. No entanto, em

análise das pesquisas concretizadas sobre a realização de negociações externas, Buranello e Aires realçam que

pelo projeto Doing Business, entre 189 países, financiado pelo Banco Mundial e pela

International Finance Group (IFC), demonstrou que o Brasil ocupou a 116ª posição,

na realização de negócios estrangeiros no ano de 2014. Pela pesquisa realizada pela Forbes, o país aparece na 80.ª posição de um total de 145 países analisados, sustentando a tese de que o país ainda se mantem distante dos países mais atrativos para se realizar negócios. Quanto à competitividade e ao recebimento de investimentos estrangeiros, a pesquisa realizada pelo World Economic Forum,

em 2013 indicou que o Brasil encontra-se na 56.ª posição em ranking referente à competitividade mundial, em um total de 148 países analisados. Por sua vez, considerando a classificação elaborada pela The Heritage Foundation, o Brasil

5 PORTELA. Paulo Henrique Gonçalves. Direito incluindo noções de Direitos Humanos e de Direito Comunitário. 6ª ed. rev,ampl e atual. Editora Jus PODIVM, 2014, p.417

6 Depois da criação da OMC, foram realizadas cinco Conferências da UNCTAD: UNCTAD IX (1996), em Midrand – África do Sul; X (2000), em Bangkok- Tailândia; XI (2004), em São Paulo –Brasil; XII (2008), em Accra – Gana e XIII ( 2012), em Doha, Qatar.

7CAPARROZ. Roberto. Comércio Internacional e Legislação Aduaneira esquematizado. 2ª ed, ver. atual. e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2014, p. 417

8 CAPARROZ. Roberto. op cit, p. 194

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apresenta-se na 114.ª posição em ranking das economias mais liberais do planeta, em pesquisa realizada com 178 países10.

Como demonstram as pesquisas, o Brasil mesmo sendo receptor de investimentos estrangeiros, ainda apresenta entraves e constantes falhas na captação de investidores. No entendimento desses autores, o Brasil apresenta uma instabilidade no sistema jurídico, o que pode afetar o funcionamento de empresas “que tendem a direcionar grande parte de seus esforços na adequação de seu funcionamento de acordo com as novas leis criadas ou editadas.

Esta alteração legislativa, muitas vezes, “[...] resultam de discussões fragmentadas e buscando

beneficiar determinados grupos organizados ou de setores econômicos”11. A atuação da

UNCTAD tem sido referencial, no sentido de que questões como essas sejam evadidas, dado que a globalização demandou uma reestruturação da economia decorrente das mudanças nos padrões de produção, seja da união de mercados financeiros, aumento das multinacionais, aumento de intercâmbio e crescimento da integração regional. O que evidencia que nenhum Estado, nesta nova conjuntura,

é capaz de suprir todas as suas necessidades. Tal realidade implica a existência de laços entre as economias de vários países. Sobretudo, com a globalização, esses laços entre as economias nacionais vêm ficando cada vez mais estreitos, com a expansão da atuação das empresas multinacionais, de modo que se pode falar, hoje, já em interdependência, para descrever as relações econômicas internacionais12.

Pela própria amplitude das negociações internacionais, não se pode negar a interdependência das relações econômicas entre os Estados. “A interdependência econômica existente entre os Estados leva à consideração da efetivação racional e eficiente do meio destinado a facilitar as trocas comerciais e seu financiamento”13.

Em contrapartida, “corporações multinacionais (CMNs) tentam convencer seus dirigentes e os cidadãos de outros países onde se instalam de que efetivamente aumentam as

exportações, os empregos e os salários”14. No ponto de vista de GILPIN, na era da empresa

multinacional, deve haver regramento jurídico tanto para os serviços quanto para a produção, que abarque o desenvolvimento econômico e a prosperidade das sociedades. Na sua acepção,

10 BURANELO, Renato Macedo e AIRES, Antônio Manoel França. Atratividade de Investimento e o

Desenvolvimento do Agronegócio no Brasil. Revista de Direito Empresarial | vol. 3/2014 | p. 179 | Mai / 2014 | DTR\2014\2713 2014.p.única Disponível em: www.revistajurídica.com.br – Ed. RT Acesso em: 24/08/2014.(grifos nosso)

11 Id, 2014, p 5.

12 TOMAZETTE, Marlon. Direito Societário e Globalização: rediscussão da lógica público-privado do direito societário diante das exigências deum mercado global. – São Paulo: Atlas, 2014, p.55

13 FONSECA. João Bosco Leopoldino. Direito Econômico. 7ª ed. rev e atual. Rio de Janeiro.: Forense. 2014, p.121

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o “investimento estrangeiro tende a reduzir o comércio, na medida em que a empresa investidora geralmente obtém partes componentes de fornecedores locais, e não da economia doméstica”15. A grande indagação recai sobre o que fazer diante do impasse de que os

investimentos estrangeiros, ao aportar capitais e tecnologias no País, podem vir a explorá-lo e dominá-lo. Nesse contexto, o legislador brasileiro buscou resguardar o Estado, regulando a atuação de Investimentos Estrangeiros Diretos.

No Brasil, as relações de Investimentos Estrangeiros são regulamentadas pela Lei nº 4.131/62, que disciplina a aplicação do capital estrangeiro e as remessas para o exterior; Lei nº4.390/64 (que altera a Lei nº 4.131/62); Lei nº 5.595/64, que dispõe sobre a Política de Instituições Monetárias, Bancárias e Creditícias, e cria o Conselho Monetário Nacional; Resolução (BACEN) n2.997/2000; Circular (BACEN) nº 2.997/2000; Medida provisória nº 2.224/2001, que estabelece multa relativa a informações sobre capitais brasileiros no exterior; Lei nº 10.406/2002 (institui o Código Civil); Medida provisória nº 315/2006, que dispõe sobre operações de câmbio, sobre registro de capitais estrangeiros, sobre pagamento em lojas francas localizadas em zona primária de porto ou aeroporto, sobre a tributação do arrendamento mercantil de aeronaves e sobre a novação dos contratos celebrados; lei nº11.371/2006 (Conversão da Medida Provisória nº 315/2006; Resolução (BACEN) nº

3.455/200716.

A Lei nº 4.131/62 que disciplina a aplicação do capital estrangeiro e as remessas de valores para o exterior, em seu art. 1º conceitua capitais estrangeiros como os

bens, máquinas e equipamentos entrados no Brasil sem dispêndio inicial de divisas, destinados à produção de bens e serviços, bem como os recursos financeiros ou monetários, introduzidos no País, para aplicação em atividades econômicas, desde que, em ambas as hipóteses, pertençam a pessoas físicas ou jurídicas residentes, domiciliadas ou com sede no exterior17.

Na definição do art. 2º da Circular nº 2.997/2000 do BACEN, os Investimentos Estrangeiros são todas as “participações, no capital social de empresas no País, pertencentes a pessoas físicas ou jurídicas residentes, domiciliadas ou com sede no exterior, integralizadas ou adquiridas na forma da legislação em vigor, bem como o capital destacado de empresas

15 GILPIN, Robert. O desafio do capitalismo global. (tradução de Clóvis Marques). Rio de Janeiro: EditoraRecord, 2004, p.224.

16 NIARADI, George. Investimentos Estrangeiros Diretos no Brasil: Análise da Legislação Aplicada.- Campinas, SP: Milennium Editora, 2008,

17

(26)

estrangeiras autorizadas a operar no País”18. No tocante à operação de Investimentos

Estrangeiros Diretos no País, o art. 981 do Código Civil Brasileiro buscou estabelecer um

contrato de sociedade da empresa receptora, prescrevendo, verbo ad verbum que “celebram

contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados”19.

Para a concretização dessa relação contratual, é preciso que os capitais estrangeiros de investimento direto ou de empréstimo, sejam em moeda ou em bens, devam ser registrados e efetuados na moeda do país de origem, conforme prevê o art. 4º da Lei nº 4.131/62 absorvida pela Lei nº 4.390/64. Quando o capital for representado por bens, o parágrafo único do art. mencionado acima preleciona que o registro será feito conforme preço do país de origem. O prazo para o registro de capital estrangeiro é de trinta dias a contar da data do seu ingresso no País. No entanto, cabe ao Banco Central à atualização dos registros dos dados dos Investimentos Estrangeiros e às empresas, as informações solicitadas, pois a contrário senso, incorrerá em ilicitude, sujeito à multa.

A Medida Provisória nº 315/06, convertida na Lei nº 11.371/06, em seu art. 5º ampliou a obrigatoriedade do registro, ficando “sujeito ao registro em moeda nacional, no Banco Central do Brasil, o capital estrangeiro investido em pessoas jurídicas no País, ainda não

registrado e não sujeito a outra forma de registro no Banco Central do Brasil”20. Contudo,

compete ao Conselho Monetário Nacional, órgão deliberativo do Sistema Financeiro Nacional, a regulamentação dos registros.

Em complementariedade, a Circular nº 2.997/2000 do Banco Central instituiu e regulamentou a modalidade de Registro Declaratório de Investimentos Estrangeiros Diretos. O controle é feito pelo Sistema de Informações do Banco Central do Brasil (SISBACEN). Os dados e as informações registradas no SISBACEN são de propriedade do Banco Central do Brasil, que poderão ser acessadas pelos seus usuários. O acesso ao Sistema

para registros e consulta no Cadastro de Empresas da REDECEC, Rede de Informações de Capitais Estrangeiros e Câmbio, que destina-se às pessoas físicas e jurídicas que realizem operações comerciais e financeiras com o exterior, é feito através do código PEMP500, enquanto a consulta é feita pelo PEMP600, conforme os incisos I e II do artigo 2º do regulamento Anexo à Circular 2.997/00.

18

BRASIL. Circular nº 2.997/2000. Disponível em: www.bcb.gov.br. Acesso: 20/11/2014

19DINIZ. Maria Helena. Código Civil Anotado. 10ª ed. ver. e atual. de acordo com o Código Civil (Lei nº 10.406, de 10/01/2002). – São Paulo: Saraiva, 2004, p.684

(27)

A modalidade de registro eletrônico é obrigatória, conforme Resolução 3.455/2007 do Banco Central. No entanto, o Registro Declaratório de IED, nesta modalidade, só poderá ser efetuado se constarem os “registros contábeis da empresa brasileira receptora do capital estrangeiro [...], sendo que o capital estrangeiro a ser registrado deve ter a sua titularidade comprovada por documentos”21. O art. 6º, § 1º, “a” da Resolução nº 3.455/2007 do BACEN

define declarante no caso de investimento externo direto, o representante no País da empresa receptora de investimento externo direto e do investidor não residente, devendo este declarante manter todos os documentos que comprovem as declarações prestadas ao BACEN,

pelo prazo de cinco anos, contados da data de declaração na modalidade RDE22. O registro do

capital estrangeiro deve ser realizado no SISBACEN, no Registro Declaratório Eletrônico nos módulos RDE-IED ou no Registro de Operações Financeiras (RDE-ROF).

O processo de evolução no sistema de investimentos estrangeiros consagrou-se devido à abertura das economias, principalmente, nos países em desenvolvimento que passaram a receber fluxos de capitais. No entanto, esse processo se intensificou a partir da década de 90, quando o mundo passou a vivenciar o fenômeno da globalização alavancado pelo uso da internet e,

Ao ingressar numa economia globalizada, os países, até então concentrados em questões domésticas ou regionais, passaram a enfrentar problemas em larga escala (comércio internacional, crises econômicas e degradação ambiental, [...]), cujas soluções dependem, igualmente, de respostas fornecidas por organismos internacionais fortes e eficientes, situação muito distante da realidade atual.23.

Conquanto a Organização Mundial do Comércio (OMC), criada a partir de 1995, tenha tomado importantes decisões sobre os problemas sinalizados logo acima, na acepção de CAPARROZ há muito o que ser feito frente aos desafios perceptíveis da globalização, centrados na liberdade do capital, que é a concentração de poder nas mãos de empresas transnacionais (TNCs). Apesar do assunto, TNCs, não ser objeto do presente texto, cabe um adendo do ponto de vista do autor JOSÉ CRETELLA NETO, que ao fazer uma análise da

atuação econômica, política, bem como do status jurídico da empresa transnacional frente ao

Direito Internacional, ressalta que se trata de uma organização que floresceu no sistema capitalista e que no século XXI, as empresas transnacionais ampliaram a economia de

21 NIARADI, George. Investimentos Estrangeiros Diretos no Brasil: Análise da Legislação Aplicada.-Campinas, SP: Milennium Editora, 2008, p. 21

22 BRASIL. Resolução nº 3.455/97. Disponível em: www.bcb.gob.br. Acesso: 20/11/2014

(28)

mercado em todo planeta, conjuntamente com as organizações internacionais. Na visão desse autor, a contribuição de TNCs colabora com a civilização dos Estados, legitimando a ação humana internacional como subsídio para o crescimento das instituições e dos países envolvidos.

1.1 O FLUXO DE INVESTIMENTO CHINÊS NO BRASIL COM ÊNFASE NO AGRONEGÓCIO

A China é considerada, na atualidade, como o principal parceiro comercial do Brasil. Essa afirmação vem sendo constada há mais de uma década, pelos estudos e dados apresentados adiante. A partir de 2010, a China começou a ganhar relevância, atuando no campo de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) no Brasil, já que antes desse período, o País não figurava fronteira de interesse para os investimentos chineses; atuação que já vinha ocorrendo no âmbito mundial desde 1990, com aumento expressivo em 2004.

Inspirado na análise do pesquisador Peter Buckley sobre o papel da China como fonte de Investimentos Estrangeiros Diretos, o Conselho Empresarial China-Brasil (CEBC) sinaliza que este “movimento se inicia com a política de ‘portas abertas’ [liberalização doméstica promovida por Deng Xiaoping] (grifo nosso), através da qual as firmas estatais chinesas começaram a fazer a suas primeiras operações internacionais, momento no qual somente estas são autorizadas a investir”24. A falta de legislação específica era o grande entrave sobre os

investimentos estrangeiros diretos. Tal problema é solucionado somente após 1984, quando o Ministério do Comércio Exterior juntamente com a Cooperação Econômica (MOFTEC), hoje, MOFCOM, órgão responsável pelo comércio exterior, cooperação econômica e investimentos estrangeiros da China, criam duas diretrizes que visam sustentar propostas para inserção de empresas fora do País.

Com o ingresso da China na OMC, em 2001, o governo chinês reforça a importância de alcançar a política de investimentos externos globalmente. Mesmo assim, a fim de evitar saídas ilegais e perda de controle de recursos estatais, a política de IED foi limitada pela OMC. Somente em 2003, conforme estudos de BUCKLEY, as empresas privadas chinesas foram autorizadas a se inscreverem para análise e posterior aprovação dos projetos de investimentos.

(29)

No Brasil, entre 1990 e 2009, os investimentos chineses representavam, apenas 3,5% .

Em 2010, os dados demonstram que o crescimento foi de 62,7%25, momento denotado como

uma nova fase no relacionamento bilateral, diante da relação já estabelecida com a China decorrente do aumento de exportações, no início da década de 2000.

Os investimentos vão se concentrar, inicialmente, nos setores de mineração, petróleo e gás e infraestrutura, ferroviária e portuária. Destaca-se que a origem do capital investido em 2010 no Brasil é decorrente de um tipo de empresa estatal sob a supervisão do governo, a Central SOE, que representa um conjunto de 123 corporações, as quais pertencem a setores econômicos do País. Como demonstra o gráfico abaixo, a Central SOE representa 93% dos investimentos chineses no Brasil.

Gráfico 01: Investimentos Chineses no Brasil por estrutura proprietária da empresa investidora em 2010.

93,% 6% 1%

Central SOE

SOE

Privada

Elaboração própria Fonte: CEBC/ 201126

No tocante aos setores da economia brasileira, os dados apresentam que há uma

predominância nos setores de energia, agribusiness e mineração. Tal predominância é

justificada pelo aumento das exportações de minério de ferro, petróleo e gás para a China. “os

chineses estão dispostos a inserir definitivamente o Brasil em sua base internacional de

25 COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATICA E O CARIBE (CEPAL)

apud Conselho

Empresarial Brasil-China. 2012.

26CONSELHO EMPRESARIAL BRASIL-CHINA. Investimentos Chineses no Brasil. 2012. Disponível em:

(30)

fornecimento de recursos naturais”27. O interesse pelo Brasil é, realmente, pela abundância de

recursos nacionais.

Gráfico 02: Investimentos Chineses no Brasil por Setor da Economia em 2010

Elaboração Própria Fonte: CEBC/ 201128

Em 2010, o agronegócio representou relevância para os investimentos chineses. Como se verifica no gráfico, os chineses investiram 20% do total, no setor. NesSe mesmo ano, a

empresa Chongqing Grain Group anunciou o investimento de US$ 300.000.000 na compra de

100 mil hectares de terras, no município de Barreiras, Oeste da Bahia, para a produção de soja e instalação de indústria de esmagamento de soja. O projeto ainda não efetivado. Além da

empresa Grupo Pallas International, através do governo da Bahia, que também anunciou a

aquisição de terras na Região Oeste da Bahia/MAPITO29 a fim de produzir grãos para

exportação e atuação em bioenergia, porém, sem valor divulgado. Na acepção de

SANTANA30, os chineses estão desistindo de plantar soja no Brasil devido aos entraves nas

compras de terras. Agora, a intenção é a expansão e dinamização do complexo exportador brasileiro, ou seja, financiar a produção, processar e exportar, elevando, assim, a capacidade

de produção nacional de commodities.

27 Id, p.24

28 CONSELHO EMPRESARIAL BRASIL-CHINA. Investimentos Chineses no Brasil. 2012. Disponível em: www.cebc.org.br. Acesso: 20/11/2014

29 Maranhão, Piauí e Tocantins

(31)

De 2007 a 2012, o Brasil recebeu 60 projetos de investimentos chineses. No período de 2007 a 2009, em análise à evolução dos projetos de investimentos por setores da economia, o agronegócio ficou em 2º lugar, representando 15% do total, ficando atrás, apenas, do setor automotivo. Em 2010, como verificado no gráfico acima, o agronegócio corresponde a 20% do total. Enquanto nos anos de 2011 não há projetos apresentados; em 2012 e 2013, dois projetos foram registrados, no valor de US$ 340 milhões, destinados ao processamento de milho no estado do Mato Grosso do Sul e o outro, para manejo de madeira, no estado do

Acre, no valor de US$ 20.000 milhões31. Conforme análise do CEBC, o agronegócio, no

contexto atual, não entra na preferência dos projetos de investimentos chineses no Brasil.

1.2 A POLÍTICA DO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO E SEUS ASPECTOS JURÍDICOS

A Constituição Brasileira de 1988, prevendo a ocorrência de situações excepcionais e complexas no âmbito das relações comerciais internacionais, as quais, por vezes, exigem esforços de diversos organismos e entidades estatais que tratam da matéria, previu no seu art. 8º, XVII, “i”, “l” e “m” que a competência para legislar sobre o comércio exterior é da União, como também, sobre as comunicações e os transportes que tenham natureza internacional. “Essa competência facilita, de certo modo, a consideração e a mudança dos aspectos jurídicos que forem focalizados [...] Acrescente-se a isso a multiplicidade de normas reguladoras, que

se desdobram em leis, decretos-leis, decretos, regulamentos, portarias, instruções e circulares”

32. Em especial, decorrente da era da globalização, em que todos os países buscam criar

instituições, mecanismos e normas reguladoras direcionados ao comércio exterior.

No Brasil, até o início da década de noventa, as decisões e administração das atividades de comércio exterior eram de responsabilidade do Banco do Brasil, do Banco Central (BACEN) e do Conselho de Comércio Exterior (CONCEX); sendo que as atividades

do Banco do Brasil eram mediadas pela Carteira de Comércio Exterior (CACEX – já extinta).

Com a reforma administrativa ocorrida no ano de 1992, criou-se o Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo (MICT), hoje, o atual Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

31CONSELHO EMPRESARIAL BRASIL-CHINA. Investimentos Chineses no Brasil. 2014. Disponível em:

www.cebc.org.br. Acesso: 20/11/2014

(32)

Comércio Exterior (MDIC), instituído pela Medida Provisória nº 1.911-8, de 29 de julho de 1999.

O CONCEX, na nova conjuntura, após apelos do empresariado nacional, é constituído entre seus membros, por representantes de empresas privadas. Como “órgão deliberativo da política do comércio externo, poderá, agora, com a experiência do setor privado, uniformizar e sistematizar as normas de comércio internacional”33. Conquanto, as suas atividades

passaram a ser de responsabilidade da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), a qual estabeleceu uma “nova e moderna estrutura organizacional de apoio às decisões de negociação com outros mercados”34 como resultado da modernização do aparelho estatal

frente aos desafios da globalização.

A SECEX é responsável pelo controle e defesa das operações de comércio exterior no Brasil. Toda e qualquer negociação entre empresas brasileiras e estrangeiras, seja em ações de importação ou exportação, deve estar em consonância com as políticas brasileiras de comércio exterior; sobretudo, com os procedimentos administrativos, tributários, operacionais e burocráticos que embasam as relações de comércio internacional.

Uma pequena empresa brasileira, em 2011, não teria tido sucesso quando decidiu iniciar importações de réplicas de armas de fogo, se não tivesse se informado, antes da compra, sobre o tratamento administrativo aplicado a esse tipo de produto. O cumprimento de exigências do Ministério do Exército foi determinante para o sucesso nos negócios35.

Tal cumprimento procedimental e legal, como o de conhecer os órgãos que controlam as transações comerciais, bem como, as suas atribuições e as regras, é fator fundamental para

o sucesso das negociações; minimizando, desta forma, os riscos e a “complexidade de atuação

no mercado exterior”36. O controle das negociações de exportação e importação compete aos

seguintes órgãos: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Ministério das Relações Exteriores (MRE), Câmara de Comércio Exterior (CAMEX), Departamento de Operações de Comércio Exterior (DECEX), Ministério da Fazenda (MF), à Receita Federal do Brasil (RFB), além de outros departamentos. Cada órgão apresenta suas áreas de competência específicas e cria, com autonomia, a sua formalidade e seus documentos, o que na maioria das vezes, pode-se denotar um excesso de formalismo e de

33

Op cit, p.01

34 SILVA, Marcos Antônio da. Estratégia para atuação em Comércio Exterior. São Paulo: Editora Senac São Paulo. 2013, p.35.

35 SILVA, Marcos Antônio da. Estratégia para atuação em Comércio Exterior. São Paulo: Editora Senac São Paulo. 2013, p.35.

(33)

documentação. O Decreto nº 7.096/2010, por sua vez, no seu art. 1º regulamenta a estrutura regimental do MDIC, elencando os seguintes assuntos das áreas de competência do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior:

I - política de desenvolvimento da indústria, do comércio e dos serviços; II - propriedade intelectual e transferência de tecnologia;

III - metrologia, normalização e qualidade industrial; IV - políticas de comércio exterior;

V - regulamentação e execução dos programas e atividades relativas ao comércio exterior;

VI - aplicação dos mecanismos de defesa comercial;

VII - participação em negociações internacionais relativas ao comércio exterior37.

Os assuntos sobre a formulação da política de apoio à microempresa, empresa de pequeno porte e artesanato (inciso VIII) e sobe execução das atividades de registro do comércio (inciso IX) foram revogados pelo Decreto nª 8.001/2013. Para exercer sua competência, o MDIC requer uma estrutura organizacional, da qual há vinculação direta de

entidades brasileiras38.

O Ministério das Relações Exteriores39, órgão político que integra a Administração

Direta, atua na função de auxiliar o Presidente da República na formulação da política exterior do Brasil, de maneira a assegurar sua execução, manter relações diplomáticas com governos de Estados estrangeiros, organismos e organizações internacionais e promover os interesses do Estado e da sociedade brasileira no exterior. “A atuação do Ministério das Relações Exteriores transcende aos interesses públicos e alcança as necessidades de empresários e

37

BRASIL. Decreto nª 7.096 de 04 de fevereiro de 2010. Disponível em: www.mdic.gov.br. Acesso: 10/10/2014 38 quais sejam: a) autarquias: 1. Fundo Nacional de Desenvolvimento - FND;2. Instituto Nacional da Propriedade Industrial - INPI; 3. Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - INMETRO; e4. Superintendência da Zona Franca de Manaus - SUFRAMA; b) empresa pública: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES BRASIL. Decreto nª 7.096 de 04 de fevereiro de 2010. Disponível em: www.mdic.gov.br. Acesso: 10/10/2014

39 . É de competência do MRE: a política internacional; as relações diplomáticas e serviços consulares; a participação nas negociações comerciais, econômicas, técnicas e culturais com governos e entidades estrangeiras; programas de cooperação internacional e de promoção comercial; e apoio a delegações, comitivas e representações brasileiras em agências e organismos internacionais e multilaterais. Abordo das competências, o MRE tem as seguintes incumbências:

1. executar as diretrizes de política exterior estabelecidas pelo Presidente da República; 2. propor ao Presidente da República linhas de atuação na condução dos negócios estrangeiros;

3. recolher as informações necessárias à formulação e execução da política exterior do Brasil, tendo em vista os interesses da segurança e do desenvolvimento nacionais;

4. contribuir para a formulação e implementação, no plano internacional, de políticas de interesse para o Estado e a sociedade em colaboração com organismos da sociedade civil brasileira;

5. administrar as relações políticas, econômicas, jurídicas, comerciais, culturais, científicas, técnicas e tecnológicas do Brasil com a sociedade internacional;

6. Negociar e celebrar tratados, acordos e demais atos internacionais;

(34)

particulares nacionais, com a participação em negociações comerciais, econômicas, jurídicas, técnicas e culturais de interesse da sociedade”40; e, consequentemente o desenvolvimento do

País.

O MRE, com a abertura dos mercados, passou a exercer papel de extrema importância

de divulgação comercial, aumentando as exportações e a captação de recursos estrangeiros,

através de discussões em seminários e workshops realizados pela rede consular e diplomática.

Além do MRE, a Câmara de Comércio Exterior (CAMEX) constitui órgão também

responsável pelas negociações brasileiras de exportação e importação. Constitui “órgão

integrante do Conselho do Governo que tem por objetivo a formulação, a adoção, a

implementação e a coordenação de políticas e atividades relativas ao comércio exterior de bens e serviços, incluindo o turismo”41. De acordo o art. 2º do Decreto nº 4.732, de 10 de

junho de 2003, cabem à Câmara de Comércio Exterior:

Definir as diretrizes e os procedimentos relativos à implementação de política de comércio exterior que visem à inserção competitiva do Brasil na economia internacional; coordenar e orientar as ações dos órgãos que possuem competências na área do comércio exterior; definir, no âmbito das atividades de exportação e importação, diretrizes e orientações sobre normas e procedimentos para os seguintes temas, observada a reserva legal: racionalização e simplificação do sistema administrativo; habilitação e credenciamento de empresas para a prática de comércio exterior; nomenclatura de mercadoria; conceituação de exportação e importação; classificação e padronização de produtos; marcação e rotulagem de mercadorias e regras de origem e procedência de mercadorias, estabelecimento das diretrizes para as negociações de acordos e convênios relativos ao comércio exterior, na natureza bilateral, regional ou multilateral, orientação da política aduaneira, observada a competência específica do Ministério da Fazenda, dentre outras competências42.

A CAMEX é a instância máxima do comércio exterior no Brasil. A normatização de

regras e procedimentos em relação às negociações comerciais de importação ou exportação, seja de natureza bilateral, regional ou multilateral é de responsabilidade desta Câmara

(grifo nosso). Desta forma, as operações de exportação de commodities agrícolas para a

China, bem como, as negociações bilaterais entre o Brasil e a China, são classificadas e padronizadas de acordo às diretrizes estabelecidas pela CAMEX, da mesma forma que os produtos importados para o Brasil. A essa Câmara compete, ainda, nos termos da Lei nº 10.184/2001 estabelecer o Programa de Financiamento às Exportações (PROEX), cujo

40 CAPARROZ. Roberto. Comércio Internacional e Legislação Aduaneira esquematizado. 2ª ed, rev atual. e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2014, p. 344

41 Art. 1º do Decreto nº 4.732/2003

apud CAPARROZ, Roberto. Op cit, p. 333

42

(35)

objetivo é “conferir aos exportadores brasileiros condições de financiamento e obtenção de crédito comparáveis às vantagens oferecidas por outros países”43.

Todos os atos expedidos pela Câmara de Comércio Exterior devem respeitar os compromissos internacionais firmados pelo país, principalmente, junto à Organização Mundial do Comércio (OMC). “O papel da CAMEX é coordenar esforços de diferentes

órgãos de Governo com o objetivo de tomar decisões em matéria de comércio exterior”44.

Em 1990, com a abertura econômica e comercial, “os empresários brasileiros passaram a disputar, de forma mais contundente, parcelas significativas de mercados estratégicos, antes

inacessíveis, na mesma medida que o Brasil tornou-se alvo de empresas estrangeiras”45 frente

aos interesses dos consumidores e da demanda reprimida durante décadas de restrição às importações. Diante dessa realidade, o governo precisava proteger as indústrias nacionais de práticas abusivas.

Foi dentro deste contexto que o governo instrumentalizou os procedimentos de defesa comercial, criando, dentro da SECEX, o Departamento de Defesa Comercial (DECOM), cujo objetivo é de “intensificar a atuação governamental no enfrentamento dessas questões, além

da competência para a condução das investigações necessárias”46. A DECOM47 é a autoridade

brasileira para fins de investigações de defesa comercial.

Além do DECOM, a SECEX criou o Departamento de Competitividade; hoje com a nomenclatura de Departamento de Competitividade no Comércio Exterior, previsto no Decreto nº 8.058/2013. A sua criação reside na possibilidade de apreciar propostas de aprimoramento de regras infralegais, quando estabelecidas por empresários ou por agentes do setor privado, e forem benéficas à economia e demonstrarem maior competitividade para os produtos nacionais. Há, ainda, o Departamento de Negociações Internacionais (DEINT), cujo objetivo é administrar tratados assinados pelo Brasil e participar das discussões sobre a Tarifa Externa Comum do MERCOSUL, auxiliando empresários brasileiros que apresentam dificuldades em razão de barreiras tarifárias e não tarifárias.

43CAPARROZ. Roberto. Comércio Internacional e Legislação Aduaneira esquematizado. 2ª ed, rev atual. e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2014,p. 646

44 BARRAL, Welber. Política de comércio exterior brasileira. 2013. Disponível em: www.fiesp.com.br. Acesso:25/11/2014, p.09

45CAPARROZ. Roberto. Comércio Internacional e Legislação Aduaneira esquematizado. 2ª ed, rev atual. e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2014, p.339

46 CAPARROZ, Roberto .op cit, p. 340

47Cabe ao DECOM a elaboração de pareceres técnicos que subsidiarão as decisões da CAMEX em matéria de

(36)

Na acepção de Barral, a SECEX/MDIC e CAMEX fazem o controle das negociações, o DECEX é o responsável pelo licenciamento de importações, cujo objetivo é monitorar as importações e a restrição da entrada de produtos importados, nos termos da lei. O DECOM

visa à proteção da indústria nacional com medidas antidumping e salvaguardas48.

Outro órgão responsável pelo controle do comércio exterior é a Receita Federal do

Brasil49, órgão do Ministério da Fazenda. A esse cabe, especificamente, a formulação e

execução da política econômica do País. As atribuições da Receita Federal estão relacionadas, dentre outras, à atuação na cooperação internacional e nas negociações e implementações de acordos internacionais voltados às questões tributárias e aduaneiras. Com base na competência constitucional que lhe foi outorgada “como órgão específico e singular do Ministério da Fazenda, cabe à Receita Federal do Brasil a administração das atividades aduaneiras (de natureza administrativa), bem assim, a fiscalização, o controle e a tributação das operações de comércio exterior”50.

No âmbito do Ministério da Fazenda, foi criado o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), cujo objetivo é de “disciplinar, aplicar penas administrativas, receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas”51, como prevê o art. 14

da Lei nº 9.613/9852. O Brasil é signatário de tratados de combates a crimes de evasão de

divisa, e de importações ou exportações ilícitas; sendo assim, cabe a COAF “coordenar e propor mecanismos de cooperação e de trocas de informações com órgãos internos, como a

Receita Federal do Brasil e o Banco do Brasil, bem assim com organizações internacionais”

53.

48 BARRAL, Welber. Política de comércio exterior brasileira. 2013. Disponível em: www.fiesp.com.br. Acesso:25/11/2014

49 O novo regimento da Receita Federal (Portaria do Ministério da Fazenda nº 203, de 14 de maio de 2012) apresenta os objetivos da secretaria em relação ao comércio exterior. Vide (Anexo 4).

50 CAPARROZ. Roberto. Comércio Internacional e Legislação Aduaneira esquematizado. 2ª ed, rev atual. e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2014, p.348

51 CAPARROZ, Roberto.

Op cit, p.351

52É criado, no âmbito do Ministério da Fazenda, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras - COAF,

com a finalidade de disciplinar, aplicar penas administrativas, receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas previstas nesta Lei, sem prejuízo da competência de outros órgãos e entidades. § 1º As instruções referidas no art. 10 destinadas às pessoas mencionadas no art. 9º, para as quais não exista órgão próprio fiscalizador ou regulador, serão expedidas pelo COAF, competindo-lhe, para esses casos, a definição das pessoas abrangidas e a aplicação das sanções enumeradas no art. 12.

§ 2º O COAF deverá, ainda, coordenar e propor mecanismos de cooperação e de troca de informações que viabilizem ações rápidas e eficientes no combate à ocultação ou dissimulação de bens, direitos e valores.

§ 3o O COAF poderá requerer aos órgãos da Administração Pública as informações cadastrais bancárias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades suspeitas. (Incluído pela Lei nº 10.701, de 2003). Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso: 25/11/2014

53

(37)

O registro, controle e acompanhamento das operações de comércio exterior é feito

pelo Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX) através de softwares destinados a

esse fim. Os importadores, exportadores, depositários e transportadores se constituem os principais usuários do SISCOMEX.

Todo o controle do comércio exterior será efetuado, especificamente, pelos órgãos acima citados. No entanto, é necessário saber a natureza do produto negociado, bem como, as suas características e aplicabilidade, dessa forma, os órgãos competentes estarão envolvidos

no controle do mesmo “O objetivo de conhecer os mecanismos de controle, os órgãos

controladores, a legislação de comércio exterior e os procedimentos de tratamento administrativo aplicado a determinados produtos pelos órgãos anuentes é dar credibilidade ao planejamento internacional”54, garantindo assim, a transparência nas negociações de

importação e de exportação. Hoje, está cada vez mais presente a atuação de empresas, independentemente do porte, no mercado globalizado. Por isso, a importância de se conhecer as legislações e todos os mecanismos de controle do comércio exterior.

O CONCEX, que é o órgão deliberativo da política do comércio externo, pode, desde então, com a experiência do setor privado, uniformizar e sistematizar as normas de comércio internacional. Todavia, como já dito oportunamente, é de competência da União legislar sobre o comércio exterior. As leis, os decretos, os regulamentos aduaneiros, as portarias da SECEX e as instruções normativas da Receita Federal constituem um conjunto de legislação “essencial na construção de uma mentalidade de comércio exterior ética, responsável e de gestão de importação e de exportação em conformidade com as regras brasileiras e internacionais”55; pois, as operações comerciais quando desenvolvidas em desconformidade

com as legislações podem causar prejuízos e comprometerem os resultados das negociações. Atualmente, as legislações que norteiam as relações de comércio exterior no Brasil, o Regulamento Aduaneiro e as normas da SECEX são as que mais amparam as atividades de importação e exportação. O Regulamento Aduaneiro (RA), definido pelo Decreto nº 6.759, de 5 de fevereiro de 2009, busca regulamentar a administração das atividades aduaneiras, a

fiscalização e o controle, como também, a tributação das operações internacionais56. As

54 SILVA, Marcos Antônio de. Estratégia para atuação em Comércio Exterior. São Paulo: Editora Senac São Paulo. 2013, p.43

55 SILVA, Marcos Antônio. op cit, p. 45

56Cabem ao Regulamento Aduaneiro: definição de território aduaneiro; definição de zona primária e de zona

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Gráfico 01: Investimentos Chineses no Brasil por estrutura proprietária da empresa  investidora em 2010
Gráfico 02: Investimentos Chineses no Brasil por Setor da Economia em 2010
Tabela 1: Grade de Principais Produtos Exportados para a China em 2014
Gráfico 3: Principais destinos do agronegócio brasileiro em 2013
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