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MOMENTO EM QUE A CHINA MUDOU: A OMC E SEUS REFLEXOS NA ECONOMIA MUNDIAL

CAPÍTULO 2 – A INSERÇÃO POLÍTICA E JURÍDICA DA CHINA

2.3 MOMENTO EM QUE A CHINA MUDOU: A OMC E SEUS REFLEXOS NA ECONOMIA MUNDIAL

Ao fazer uma perspectiva histórica, vale mencionar, que a China, no tocando a área de comércio multilateral, já havia sido Parte-Contratante do GATT-1947, qual deu origem à OMC133, com participação nas duas primeiras rodadas de negociação comercial: “a Rodada

130 Id, p.314

131 A primeira reunião aconteceu em Bangcoc, em 25 de julho de 1994, composta pelos países: Malásia,

Indonésia, Brunei, Cingapura, Tailândia, Filipinas, Vietnâ, Laos, Estados Unidos, Canadá, Japão, China, Coréia do Sul, Austrália, Nova Zelândia, Nova Guiné e União Europeia.

132 NAISBITT, John. Id, p.187

133 A Organização Mundial do Comércio (OMC) surgiu em 1995, no bojo das discussões durante a Rodada do

UruguaiRodada Uruguai, iniciada em 1991, sucedendo ao GATT, por iniciativa dos países da Comunidade Europeia, que planejavam a criação de uma organização que tratasse das questões do comércio mundial. Buscou nesta seara estabelecer os seguintes objetivos:

a) Criar uma organização supranacional, capaz de administrar e regulamentar o comércio internacional;

b) propiciar um maior e melhor acesso aos mercados, de modo a evitar as restrições protecionistas às importações;

c) combater o comércio desleal nas exportações, evitando o crescimento artificial e desmedido de produtos não competitivos ou de mercadorias falsificadas;

d) permitir aos países intervenientes o prévio conhecimento das normas regulamentares que afetem suas atividades;

Genebra (1947) e a Rodada Annecy (1949)”134. Com a fundação da República Popular da China, em 1949, o Partido Nacionalista, instalado em Taiwan, solicitou a desvinculação do País do GATT. Mesmo assim teve o amparo do sistema multilateral durante 1950 e 1960. Em 1971, com a aprovação da Resolução 2.758, a Assembleia Geral das Nações Unidas restaurou o assento da China como país observador do Conselho do GATT; porém, sem a representação de Taiwan.

Passados dezesseis anos, a China pleiteou oficialmente o pedido de restauração como Parte-Contratante do GATT, sob as seguintes justificativas: “ampliar o comércio exterior; avançar no aprofundamento das reformas econômicas; participar das questões econômicas e internacionais e da formulação das regras do comércio internacional, resistir ao protecionismo que incidia sobre suas pretensões [...]; e adquirir maiores informações sobre o comércio internacional”135. De período compreendido entre 1986 e 1995, a China permaneceu como país observador, participando inclusive, das negociações da Rodada do UruguaiRodada Uruguai, da qual se originou a OMC, em 1994/1995. No final desse processo, a China renovou pedido de inclusão, perante a OMC sob o apoio de muitos países que tinham interesse nas relações bilaterais com a China. Nesse período, trinta e sete países manifestaram veemência ao País, diante à OMC. No entanto, somente em 2001, na Conferência Ministerial de Doha, a OMC vinculou a China aos acordos da organização.

A admissão da China pela Organização Mundial do Comércio (OMC) foi considerada um dos acontecimentos mais importantes para o sistema multilateral do comércio. A OMC por vez, “colaborou para o processo de integração desse país à economia mundial, e demonstrou sua perseverança em converter-se em um país de economia de mercado”136.

LACERDA PRAZERES ressalta que “o ingresso da China na OMC veio justamente a confirmar o caráter global do sistema de comércio articulado pela organização. [...]. Sua

e) abarcar e disciplinar todas as transações internacionais, alcançando uma gama de produtos, inclusive com regras específicas em relação á prestação de serviços;

f) estabelecer um procedimento na solução de conflitos capaz de garantir aos seus membros o reconhecimento dos direitos negociados e o cumprimento das obrigações assumidas;

g) ser, em suma, um organismo de vocação universal. Buscou ampliar a sua aplicabilidade e efetividade, fazendo frente à dinâmica das negociações internacionais; administrando a estrutura jurídica, as políticas comercias, promovendo assistência técnica aos países em desenvolvimento e trabalhando em cooperação aos demais organismos e blocos econômicos. A OMC apesar de ser o mais recente das organizações internacionais, se configura como a mais influente na era do comércio e da economia globalizada. (DÉNIZ, Pedro Talavera apud CAPARROZ, p.126)

134 FURLAN, Fernando de Magalhães e FELSBE, Thomas Benes. Brasil-China: Comércio, Direito e Economia. São Paulo: ed. Lex Aduaneira, 2005, p.25

135 GUOHUA, Yang, JIN, Cheng. Apud FURLAN e FELSBERG. Id,p.26-27

136CHRISZT, Michael. O Crescimento Econômico da China. Disponível em:

participação no comércio internacional tem crescido de forma significativa”137. A abertura da China para o comércio exterior marca a renovação da história da humanidade, no sentido de permitir novos estudos sobre a sua história, em especial, no setor econômico, político e comercial.

A China encontra-se em pleno crescimento econômico, tornando o mercado de investimento e de exportação, o grande negócio. No entanto, há de mencionar que o processo de importação também teve grande importância para o desenvolvimento da China; pois, um país quando aberto ao Mundo, deve se preocupar por atrair investimentos estrangeiros que possibilitem o seu crescimento138.

Ao expor sobre a política de integração internacional da China, Li Lanqing139 enfatiza que as principais razões do crescimento desse país estão relacionadas à “estabilidade política, cooperação econômica e comercial com o exterior, a produção industrial e agrícola (grifo nosso) estável e suficiente para a exportação; as medidas governamentais de incentivo à exportação; e a melhoria constante do ambiente interno de investimentos, que atrai mais capital estrangeiro”140. As medidas de ajuste econômico adotadas pela China contribuíram decisivamente para a concorrência de capital estrangeiro.

Desde então, as relações entre Brasil e China se se intensificaram, tornando o Brasil o maior parceiro comercial da China na América Latina. O ingresso dos produtos chineses no Brasil, como também, o aumento de importações vem possibilitando o equilíbrio do comércio bilateral. Na acepção de Li Lanqing,

A China e o Brasil são países em via de desenvolvimento. Desenvolver a cooperação com os países do terceiro Mundo constitui uma parte importante da política externa do nosso país. [...] . Na área econômica, China e Brasil complementam-se, e os produtos de importação e exportação são relativamente de interesse das duas partes. [...]. Além do comércio, as duas partes também podem desenvolver a cooperação e o intercâmbio nas áreas econômica e técnica. [...] as relações econômicas e comerciais sino-brasileiras podem atingir resultados mais satisfatórios, mediante esforços comuns de ambas as partes141.

As relações econômicas e comerciais entre Brasil e China vêm se ativando, permitindo, assim, novas perspectivas em diversos setores, particularmente no que tange a agricultura. Para FURLAN e FELSBERG, existe um “potencial considerável para máquinas e

137 PRAZERES, Tatiana Lacerda. A China e a OMC. In Brasil – China: comércio, direito e economia. (Org.)

Fernando de Magalhães Furlan e Thomas Benesfelsberg – São Paulo: Lex Editora, 2005, p.24

138 OLIVEIRA, Carlos Tavares de. O despertar da China: 1980-2002 Crescimento acelerado. _ 2ª edição. São

Paulo: Aduaneiras, 2002.

139 Vice-ministro das Relações Econômicas com o Exterior. 140 LI LANQING apud OLIVEIRA. Id, p.118

141

equipamentos brasileiros para a agricultura, além de pesquisa agropecuária, uma vez que a China ainda vive atraso tecnológico considerável no campo e o Brasil é bastante competitivo no setor” 142. Para os brasileiros que atuam na área do agronegócio, a China é a preferência global.

2.4 CHINA E BRASIL NO CONTEXTO DAS RELAÇÕES ECONÔMICAS E