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9. FIOS QUES SE TRANÇAM: ANÁLISE DISCURSIVA DOS TEXTOS

9.1 Categorias de Análise

9.1.2 Cenário atual traçado para o sujeito idoso

Conforme já mencionado anteriormente, as categorias aqui traçadas não são estanques, não estatizam a vinculação de um discurso em uma única vertente, até porque a própria discursividade pode ensejar diferentes efeitos de sentido. Fazendo uso, inclusive, das ideias de Beauvoir (1990, p.109), observo o quanto é difícil construir um percurso para a velhice. Segundo a autora:

[...] é impossível escrever uma história da velhice. A história implica uma circularidade. A causa que produz um efeito é, por sua vez, modificada por este. Das mitologias, da literatura e da iconografia destaca-se uma certa imagem da velhice, variável de acordo com o tempo e os lugares. A imagem da velhice é incerta, confusa, contraditória.

Mesmo entendendo todas essas características multifacetadas do idoso, mas reconhecendo, em contrapartida, as diferentes formas de subjetivação que atravessamos ao longo da vida, considero importante analisar um pouco como o idoso se constitui no cenário atual. Dentre as inúmeras situações, elenquei, nesse item, a preocupação com a finitude, a associação de seu próprio corpo com a ideia de exclusão e refugo e a possível referência à solidão.

9.1.2.1-Finitude do sujeito

Diante das diversas incertezas que trazemos ao longo de nossa existência, uma delas foge da lista: a finitude do ser. Por mais que cuidemos do corpo e da alma, que sigamos todas as pesquisas que projetem um melhor ajuste da máquina humana, nada garantirá a manutenção desse corpo conforme nossa vontade. Somos finitos. Contudo, o efeito de sentido atribuído à finitude coaduna, em alguns casos, àqueles presentes em enunciados de Bauman (2007a, p.10) quando aponta que a liquidez humana nos faz sair de cena antes que o espetáculo acabe. Segundo o autor,

A vida na sociedade líquido-moderna é uma versão perniciosa da dança das cadeiras, jogada para valer. O verdadeiro prêmio nessa competição é a garantia (temporária) de ser excluído das fileiras dos destruídos e evitar ser jogado no lixo. (BAUMAN, 2007a, p. 10).

Essa liquidez contribui para uma produção de sentidos de que a iminência da morte tende a afastar a celebridade idosa da possibilidade de continuar atuando, trabalhando, de receber convites para novos trabalhos. Mergulhados em um mundo em constante transformação, em que nada é duradouro, os artistas idosos (as) tendem a adotar uma postura adaptável até mesmo ao que envolve a finitude humana,

Acerca das discursividades das celebridades relativas à finitude, destacam-se, por exemplo, as considerações de Elza Soares.

Em entrevista concedida à BBC Brasil, dentre inúmeras questões suscitadas, uma delas foi em relação ao medo da morte. Prontamente a cantora se esquiva do tema produzindo um efeito de sentido de dissimulação numa possível tentativa de se proteger de algo que atormenta a todos e, em especial, os idosos. Nesse sentido, destaca Silva (2013a):

Os mecanismos de defesa apresentados pela pessoa idosa possibilitam que se ignore a morte e se dificulte a percepção da finitude do ser no mundo. O idoso por sua vez, admite a morte como um fato, porém apresenta grande dificuldade em assumi-la como um modo de ser da natureza humana. Adotar uma postura de autodefesa diante da morte garante ao ser o simples ato de pensar e agir, dissimulando seu verdadeiro significado.

Esse pensamento é corroborado por Santos (2000,p.158) quando menciona a dificuldade que o indivíduo tem de se perceber em processo de envelhecimento, atribuindo essa condição ao outro:

O verdadeiro velho é o outro – neste sentido, os sujeitos enfatizam o estágio final da velhice como fase de dependência total. Assim, há sempre um ―outro‖ mais velho que ele. Parece importante salientar, que ao destacar aspectos negativos da velhice que de certo modo ameaçam a identidade do sujeito, alguns mecanismos de defesa são acionados. Assim, há sempre um outro mais velho que concretizaria as características negativas da velhice.

Perguntas sobre finitude parecem naturais de serem feitas às pessoas acima de 60 anos. No caso de Elza Soares, aos 90 anos, essa proximidade com a morte denota algo mais óbvio do que a busca de uma explicação para sua longevidade. É como se no campo midiático a constituição da subjetividade do idoso perpassasse, necessariamente, pelo discurso da finitude. Em contrapartida, com a mesma naturalidade com que é tratada a pergunta, a cantora utiliza do conhecimento de si como comportamento vigilante a esse tipo de indagação.

BBC Brasil - Você tem medo da morte, Elza?

Elza Soares - Nunca conversei com ela não, entendeu? Deixo ela distante. Não tenho muita confiança com ela

não. Deixa ela pra lá. (Elza Soares, p. 170) Fonte: https://www.bbc.com

Destarte, pode-se vislumbrar também uma categoria de resistência à colocação da mídia. Como analisa Foucault (1995, p.206), onde há poder, há resistência. Resistência que se traduz em lutas contra as diversas formas de subjetividade e de submissão às quais estamos expostos constantemente. Assim, para a mesma estrutura de poder que age no controle dos corpos direcionando-os, obrigatoriamente, para o reconhecimento da finitude, há uma força contrária de resistência opondo-se a essa forma de subjetivação. Essa figura é explicitada quando da negação da cantora Elza Soares a essa forma de controle e governamento.

Ainda no âmbito da finitude, destacam-se, também os discursos que envolvem as celebridades Fernanda Montenegro, Tarcísio Meira e Antônio Fagundes em momentos distintos:

Poderíamos levantar inúmeras respostas para essa questão quase ―insuportável‖ de viver a velhice, mas o que parece ser o ponto crucial é a proximidade do fim, o enfrentamento da finitude quando há tanto de bom para viver (mesmo que, de fato, não haja).

―O mais difícil é saber que você está na fase definitivamente conclusiva da vida. É melhor encarar‖.

Um processo entremeado, necessariamente, de muitas perdas: referência de experiências vividas, corpo e mente que já não respondem como gostaríamos e pior, amigos, amantes e amores que se vão levando parte de nós e de nossas histórias. É…a finitude bate à porta de todos, ninguém escapa, nem mesmo os ―soberbos‖.

Perdas democráticas, todos, um dia, as terão. Lembrando a morte do companheiro de 60 anos de vida, Fernando Torres, a atriz lamenta: ―A coisa mais dolorosa pela qual tenho passado é ver a minha geração morrer. Nos últimos cinco anos, morreram, além dele, Paulo Autran, Raul Cortez, Gianfrancesco Guarnieri, Renato Consorte, Sérgio Viotti, Sérgio Brito, Ítalo Rossi e Millôr Fernandes‖. (Fernanda Montenegro, p. 171)

Fonte: https://www.portaldoenvelhecimento.com.br

Ela se emociona ao concluir: ―Você olha em volta e a sua memória está ligada a todo esse mundo que se vai. É muito forte‖. Na lista de baixas recentes, tem ainda Hebe Camargo que, como ela, nasceu em 1929. ―Vivemos o mesmo período da história. Quem substitui? Ninguém‖. (Fernanda Montenegro, p. 171)

E continuam morrendo. Hoje, por exemplo, foi a vez do poeta Décio Pignatari. Morreu aos 85 anos. (Fernanda Montenegro, p. 172)

https://www.portaldoenvelhecimento.com.br Fonte: https://www.portaldoenvelhecimento.com.br

―A morte me assusta. Ninguém gosta de pensar que o fim está chegando. Mas ele está chegando para mim. É triste também lidar com a perda dos amigos. Certa vez, fui receber um prêmio de cinema. Dei de cara com o diretor de teatro Antunes Filho. Foi uma alegria, porque fazia anos que não o via. Eu disse: ―Antunes, somos sobreviventes‖. Pouco tempo depois, o próprio Antunes morreu. A esta altura da vida, muitos colegas da minha idade se foram. Daqui a pouco, vou eu. Talvez eu deixe um vazio nas pessoas.‖ ( Tarcísio Meira, p. 198) Fonte: https://veja.abril.com.br

A constituição de subjetividades apresentada por Fernanda Montenegro, Tarcísio Meira e Antônio Fagundes, em suas produções discursivas, diferentemente daquelas apresentadas por Elza Soares, demonstra uma certa preparação para a chegada do fim da vida. Ao relacionarem os diversos amigos e companheiros de convivência que já se foram ou ao reconhecerem que a morte faz parte da vida, eles se percebem inseridos nessa mesma lista. Todavia diferente do discurso de Tarcísio Meira e de Antônio Fagundes, há que se considerar algumas discursividades midiáticas presentes na entrevista da atriz Fernanda Montenegro que merecem menção, já que alguns elementos não foram citados acima.

A publicação da reportagem data de maio de 2014 e foi intitulada ―Dona do tempo‖. Nela a jornalista destaca que a entrevista foi feita após acordo silencioso e que isso só acontece porque trata-se da ―soberba‖ Fernanda Montenegro. Feito isso e contextualizando o processo de envelhecimento, conclui um de seus posicionamentos dizendo que a finitude bate à porta de todos, ninguém escapa, nem mesmo os ―soberbos‖ numa possível alusão ao fato de que a altivez ou o orgulho da atriz não a exclui da finitude do ser. Além disso, reporta-se à velhice como algo ―insuportável‖. Produz, portanto, efeitos de sentido que de imediato a inserem nesse cenário de finitude, incluindo tais informações já no momento de apresentação do que viria a ser tratado na reportagem. São efeitos de um biopoder que também faz uso de recursos midiáticos para produzir suas próprias verdades e repassá-las como verdades a serem seguidas, mesmo que isso não corresponda à subjetividade do indivíduo citado.

Nessa mesma entrevista, ao ser perguntado sobre o que achava sobre a morte – na ocasião um dos assuntos abordados na sua peça ―Restos‖, em que ele interpretava o personagem Edward Carr, ele respondeu: Tem um filósofo (Lucrécio) que resume muito bem: ―Onde a morte está, eu não estou. Onde estou, a morte não está. Por que me preocupar?‖ Só que ela existe, faz parte da vida. Não me preocupo muito com a morte. Me preocupo mais com a doença. Porque a morte é isso mesmo. Acabou, morreu. Agora, ficar no sofrimento é horrível em qualquer idade. O Schopenhauer (Arthur Schopenhauer, filósofo) dizia que, se você tem 15 anos, é bonito e rico, mas não tem saúde, está perdendo para um cara de 80, feio e pobre, mas com saúde. (Antônio Fagundes, p.189)

Fonte: https://www.portaldoenvelhecimento.com.br

“Costumo brincar que sempre tive a nostalgia da velhice. Queria ser velho quando era moço, comecei fazendo velho no teatro. Sempre tive fascínio pela velhice. Você só não vai ficar velho se morrer jovem. Então a velhice e a morte estão ligadas, você tem que encarar. Venho me preparando. Claro que a coisa muda, você não sobe mais a escada de três em três degraus, mas estou subindo de dois e dois ainda‖. (Antônio Fagundes, p. 189)

Adentrando nos discursos das três celebridades pode-se depreender que as tecnologias do eu aparecem como forma de confissão da finitude quando reconhecem que estão na fase conclusiva da vida, a qual deve ser encarada e que o fim está chegando. Trata-se, portanto, de regramentos da relação consigo.

Nesse sentido, Fischer (1999, p.53) destaca que

os estudos de Foucault sobre o relato de inúmeras técnicas de si, expostas nos textos clássicos, demonstram que as práticas relativas ao cuidado consigo mesmo diziam respeito à necessidade que o homem tinha de discursos verdadeiros para dirigir-lhe a vida - as palavras certas para enfrentar o real, para saber seu lugar na ordem das coisas, sua dependência ou independência em relação aos acontecimentos. Isso era alcançado através de muitas e variadas técnicas: exercícios de memorização, de escrita, de leitura e reflexão, de meditações sobre a vida e a morte, doença e sofrimento, de histórias exemplares de vida.

E completa, citando Foucault (1989):

Temos aí um conjunto de técnicas que têm por fim ligar a verdade e o sujeito. Mas é preciso compreender bem: não se trata de descobrir uma verdade no sujeito, nem de fazer da alma o lugar onde reside - por um parentesco de essência ou por um direito de origem - a verdade; não se trata mais de fazer da alma o objeto de um discurso verdadeiro. Estamos ainda muito longe daquilo que seria uma hermenêutica do sujeito. Trata-se, ao contrário, de armar o sujeito de uma verdade que ele não conhece e que não reside nele; trata-se de fazer dessa verdade - apanhada, memorizada, progressivamente colocada em aplicação - um quase-sujeito, que reina soberanamente em nós. (FISCHER, 1999, p.54)

São preceitos e regramentos estabelecidos na relação dos atores consigo mesmo que inserem seus discursos em uma relação de poder sobre si, mesmo que esse poder seja o reconhecimento da finitude.

Nessa perspectiva, Silva (2013, p.354-355) destaca que:

o corpo, para Foucault, era um corpo controlável, dócil, sujeito aos ditames do biopoder e da biopolítica. A ideia de vida, para ele, só poderia ser pensada a partir da ideia de morte. A morte seria um momento de desalienação total, no qual nos tornamos singular. [...] A mudança da noção de morte no ocidente, segundo Foucault, operou de modo a estabelecer um poder de morte sobre a vida, e essa fase de transição fez com que fosse inscrita nos mecanismos do biopoder.

Nesse contexto de finitude, as discursividades que perpassam os dizeres de Fernanda Montenegro e de Tarcísio Meira produzem sentidos voltados à vigilância de quantos dos seus pares já se foram, como uma contagem diária para saber quais ainda estão presentes nesse plano. Ao contabilizarem os amigos falecidos, percebem que poucos restaram e o cuidado de si antes de ser voltado à visibilidade, constitui-se, literalmente, na possibilidade de permanecer vivo.

As produções discursivas presentes na mídia minimizam as subjetividades profissionais em detrimento do processo de finitude. Logo de inicio, a matéria destaca o viver a velhice como algo insuportável e que o ponto crucial é a proximidade do fim. Sendo assim, o profissionalismo, enquanto parâmetro de visibilidade, já não faz mais sentido, face ao pouco tempo de vida. É um discurso imbuído de controle dos corpos e da indução à renúncia de si mesmo. Quando se mantém a vigilância constante sobre os que restam, a mídia contribui para a construção de subjetividades das celebridades não mais como profissionais, mas como alguém que deve aproveitar o pouco tempo que lhe resta. Aqui, as subjetividades plásticas parecem apontar para o fim do emaranhado de possibilidades disponíveis do cuidado de si a partir do momento em que as discursividades se resumem a uma vigilância biológica.

O discurso da finitude, contudo, não produz o mesmo efeito de sentido para o ator Antônio Fagundes. Talvez isso se deva ao fato da diferença de mais de uma década de vida em relação aos citados anteriormente e da permanência em vida de muitos de seus colegas de palco. Assim, Fagundes demonstra que seus cuidados com o corpo visam a preservação da saúde biológica, referindo-se à incapacidade como algo mais negativo do que a morte. Ao referenciar sua capacidade de subir degraus com uma certa tranquilidade, o ator, mediante tais materialidades, se põe em situação confortável, excluindo aquilo que poderia gerar sua saída do cenário midiático. Assim, ao demonstrar que continua apto para as atividades diárias, o ator não apenas se exclui da relação com a finitude, como garante a sua permanência na mídia.

9.1.2.2- Corpo e refugo

O corpo representa objeto de desejo e é muitas vezes utilizado na mídia como marketing para a venda de produtos e serviços. Suas características podem emanar, para alguns, efeitos de sentido de cuidado e preocupação, ao passo que também podem se configurar em desleixo produzindo uma culpa pela forma como se apresenta. Isso faz com que muitas celebridades vivam sob o controle das dietas, dos exercícios físicos e dos tratamentos para rejuvenescimento.

Quando se adentra à fase idosa, as cobranças são maiores e mais difíceis pois exigem um controle maior sobre os corpos no sentido de que a manutenção dos padrões de beleza implica na permanência nos espaços de trabalho. Todavia o poder biológico sobre os corpos impera numa velocidade acima das possíveis intervenções constituindo-se numa ação de

controle sobre eles. Tudo isso resulta numa tentativa de se evitar a condição de refugo humano que compara os indivíduos a objetos de descarte.

Vejamos algumas discursividades que podem ser categorizadas nesse âmbito, a começar pela cantora Rita Lee:

A cantora Rita Lee, conhecida como ―Rainha do Rock Brasileiro‖, relata conquistar serenidade e gostar mais de si própria. Incentivada pelo marido, a mesma se constitui de forma positiva apesar de enfatizar o aparecimento das rugas e da flacidez a que denominou de ―pelanquinhas‖.

As discursividades enfatizam sentidos que apontam para uma cantora autorreflexiva e que busca, no processo de encontro consigo, reconstruir cenários que hoje teriam uma outra conotação. Assim, sob um possível processo de meditação, a cantora tenta identificar momentos positivos de sua trajetória que a configurem como alguém que deixa boas lembranças na memória das pessoas. É um autoconhecimento pautado nos reflexos que suas atitudes trarão à vida das pessoas. Conforme expressa Foucault (2004b,p.12):

[...] com a noção de epiméleia heartoû, temos todo um corpus definindo uma maneira de ser, uma atitude, formas de reflexão, práticas que consistem uma espécie de fenômeno extremamente importante, não somente na história das representações, nem somente na história das noções ou das teorias, mas na própria história da subjetividade ou, se quisermos, na história das práticas de subjetividade.

Dessa forma, o cuidado de si transcende a individualidade e é direcionado também ao outro à medida que suas ações influenciam nos demais. O ocupar-se do corpo e da alma passa a ser uma referência no cuidado de si.

Ao contrário do descrito no cristianismo, não se trata aqui de uma renúncia de si uma vez que o exame de consciência que gerou o perdão de seus próprios atos não se configura em uma obediência permanente a alguém, apenas gerou a aplicabilidade em algumas circunstâncias.

Rita se mostra bem resolvida com a idade e tenta olhar a vida pelo lado positivo, sem crises. "Conquistei uma certa serenidade. Sempre fui muito ansiosa, compulsiva até. Agora, sinto um pouco mais de controle na minha cabeça, nas coisas que eu quero, nas minhas orações. Estou gostando mais de mim e percebendo que fiz coisas boas. É o meu processo de envelhecer com dignidade, ver os pontos bons, afastar mágoas que tinha comigo mesma. Eu me perdoei de tudo. Estou me achando legal. Roberto sempre me fala: "Pô, se ache legal. Você é legal, é bonita!‖Então, estou aqui, tem umas pelanquinhas, umas rugas, mas estou bem. (Rita Lee, p. 178) Fonte: http://www.purepeople.com.br

Com isso, depreende-se que as discursividades que atravessam os dizeres da cantora apontam para um cuidado de si voltado muito mais à reflexão dos atos que a constituíram ao longo da vida do que, necessariamente, de sua manutenção na mídia. Essas técnicas de si constroem subjetividades que minimizam as questões estéticas ao passo em que enaltecem as atitudes tomadas como garantia de um direito de envelhecer com dignidade. Esses traços ficam evidentes quando da chamada da mídia que destaca – ―Rita se mostra bem resolvida com a idade e tenta olhar a vida pelo lado positivo, sem crises‖.

Diferente de Rita Lee cujas discursividades não são direcionadas ao corpo na condição de refugo, a atriz Susana Vieira destaca:

A atriz Susana Vieira, apesar de não mencionar expressamente as mudanças corporais atribuídas à idade destaca que a história e a carreira de um ator são desconsideradas quando da chegada da velhice. Dessa forma, as alterações provenientes do processo de envelhecimento podem contribuir para a redução de convites para trabalhar uma vez que, biologicamente, há uma possível redução na agilidade, não só em questões de deslocamento, como de memorização de textos, atividades essenciais em espaços televisivos. Esse biopoder atuante exerce seu controle utilizando estratégias que contribuam para a redução desses fatores, quer por meio de reeducação alimentar e exercício físicos, quer por intervenções estéticas.

Nessa perspectiva, Santos e Lago (2016, p.140) salientam que ―a medicalização da velhice, disfarçada sob a categoria da terceira idade, criou a figura do bom velho e do mau velho em consonância aos outros ideais bioascéticos que produzem uma onda de corpos potencialmente abjetos‖. Para os autores,

os estereótipos contra os gordos, idosos e outras figuras que fogem do padrão do corpo ideal têm o mesmo efeito estigmatizador e excludente. A obsessão pelo corpo bronzeado, malhado, sarado, lipoaspirado e siliconado faz aumentar o preconceito e dificulta o confronto com o fracasso de não atingir esse ideal, como