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9. FIOS QUES SE TRANÇAM: ANÁLISE DISCURSIVA DOS TEXTOS

9.1 Categorias de Análise

9.1.1 Percepção e concepções acerca da velhice

9.1.1.1 Rejeição, liberdade, resistência e incapacidade do idoso

O discurso para Foucault enquanto objeto de estudo, sempre foi algo que lhe instigou e provocou inquietações. Contudo, não se trata de estudar o discurso com um viés de descortinar algo que esteja implícito como se procurássemos algo escondido em meio ao que fora dito. Conforme menciona Fischer (2001, p. 198) em seus estudos a partir de Foucault:

[...] nada há por trás das cortinas, nem sob o chão que pisamos. Há enunciados e relações, que o próprio discurso põe em funcionamento. Analisar o discurso seria dar conta exatamente disso: de relações históricas, de práticas muito concretas, que estão "vivas" nos discursos. Por exemplo: analisar textos oficiais sobre educação infantil, nessa perspectiva, significará antes de tudo tentar escapar da fácil interpretação daquilo que estaria "por trás" dos documentos, procurando explorar ao máximo os materiais, na medida em que eles são uma produção histórica, política;

na medida em que as palavras são também construções; na medida em que a linguagem também é constitutiva de práticas.

Dessa forma, quando opto por analisar o discurso veiculado pela mídia e proferido por celebridades, não estou à procura da verdade intocada, mas de reconhecer a representatividade que tais discursos exercem em um determinado percurso da vida dessa mesma celebridade e que, naquele momento, representa a sua verdade.

Tomando como parâmetro a categoria de análise que trata da Percepção e concepções

acerca da velhice que aqui inclui a rejeição, liberdade, resistência e incapacidade do idoso,

elenquei alguns enunciados que podem ensejar efeitos de sentido relacionados à categoria supracitada.

Em geral, a literatura médica voltada ao idoso relata que os problemas decorrentes da falta de autonomia e de independência são atribuídos à incapacidade, principalmente funcional que acaba por interferir na realização de atividades diárias. A depender do grau de (in)capacidade, o idoso pode se constituir como alguém livre, resistente às adversidades, rejeitado ou simplesmente incapaz. Entretanto, não se pode negar as relações de poder que atravessam tais discursos.

A seguir, algumas discursividades da atriz Ângela Vieira:

O discurso de Ângela Vieira enfatiza sentidos que traduzem a desvalorização sofrida pelo idoso e que, provavelmente leva a atriz a se ―manter ativa, atenta e rejeitando qualquer tipo de preconceito‖ como forma de resistência a essa verdade disseminada de que o idoso é aquela pessoa cansada, incapaz e improdutiva. Dessa forma, o cuidado de si acaba assumindo um papel de resistência frente às constantes normatizações delineadas pela sociedade fazendo com que esse sujeito se reafirme a partir da posição assumida. Isso se reflete no que menciona Beauvoir (1990, p.8):

A velhice aparece como uma espécie de segredo vergonhoso, do qual é indecente falar (...). Com relação às pessoas idosas, essa sociedade, não é apenas culpada e criminosa. Abrigada por trás de mitos da expansão e da abundância trata os velhos com párias.

Em geral, os discursos proferidos por alguns sites trazem efeitos de sentido que tentam macular a imagem do sujeito idoso levando a uma subjetividade baseada nas suas limitações e fragilidades. Percebe-se na fala da atriz que o fato de se manter ativa surge como um elemento de

―Lamento por ainda termos essa postura em relação às pessoas mais velhas [de desvalorização]. Não levanto bandeira, mas sigo minha vida tentando me manter ativa, atenta e rejeitando qualquer tipo de preconceito. O Brasil ainda é um país muito preconceituoso‖. (Ângela Vieira, p. 159)

resistência a tais forças e, de certa forma, como uma rejeição ao fato de ser idoso uma vez que a mesma se refere àquele em terceira pessoa, não se incluindo no grupo.

Interessante ressaltar que a própria chamada da matéria traz como enunciado ―Está com tudo - Coroa empoderada em Bom Sucesso‖, numa referência à personagem protagonizada por Ângela Vieira. Se considerarmos que ―coroa‖ é um termo comumente relacionado àquele (a) que já apresenta traços biológicos do processo de envelhecimento, mas que não se insere na fase idosa, reconhecemos então, que a matéria produz efeitos de sentido que não consideram a atriz como idosa, apesar de seus atuais 68 anos. Ao mesmo tempo, a entrevista é conduzida pela relação da personagem enquanto idosa. No caso específico do contexto de sua entrevista com a atriz, as práticas discursivas do jornalista frente à atriz apontam para a produção de sentido de que Ângela representa a terceira idade em um país considerado preconceituoso com essa população tentando construir um discurso que de certa forma não é ratificado pela atriz. Trata-se de uma possível tentativa de subjetivação nos moldes tradicionais da mídia que enquadra o sujeito após os 60 anos nas condições determinadas pelos aspectos biológicos, amparada pelo biopoder. Assim, as discursividades apresentadas na matéria apontam para uma construção de um corpo que reflete um cuidado estético. Isso fica evidenciado quando o enunciado enaltece uma fase anterior à fase idosa, apesar da produção discursiva apresentada posteriormente ensejar a desvalorização do idoso. Ângela Vieira seria, então, uma idosa cujos cuidados contribuíram para sua manutenção em uma fase que antecede à idosa. Todavia as relações de poder presentes a colocam no mesmo discurso biológico da idade, quando a referencia como coroa empoderada, mas direciona a entrevista para uma pessoa realmente acima de 60 anos. Nesse contexto, Deleuze (1991, p.112) destaca:

Se é verdade que o poder investe cada vez mais nossa vida cotidiana, nossa interioridade e individualidade, se ele se faz individualizante, se é verdade que o próprio saber é cada vez mais individualizado, formando hermenêuticas e codificações do sujeito desejante, o que sobra para a nossa subjetividade? Nunca 'sobra' nada para o sujeito, pois, a cada vez, ele está por se fazer, como um foco de resistência, segundo a orientação das dobras que subjetivam o saber e recurvam o poder (Deleuze, 1991, p. 112-113).

Referendando o pensamento de Foucault, Deleuze (1991) enfatiza a tendência que temos em querer descortinar verdades, adentrar na privacidade dos indivíduos e construir um saber capaz de dominar os sujeitos, seus corpos e suas almas, o que, no discurso midiático relacionado à atriz produz um efeito de sentido voltado ao controle dos corpos.

Ao contrário de Ângela Vieira cujas discursividades norteadas pela mídia faziam uma correlação com sua personagem empoderada e criativa de sua última novela, a entrevista com Betty Faria demonstra que sua personagem tentava produzir um efeito de sentido que ensejava

liberdade e independência o que na verdade se contrapunha ao vivenciado pela intérprete. Seu discurso, ao contrário da personagem, aponta efeitos de sentido que em nada romantizam o processo de envelhecimento, mas denota, mesmo em tom de humor, o sofrimento enfrentado no processo de gravação devido a dores articulares. Vejamos:

Dona de um histórico relacionado à beleza e sexualidade, a atriz se utiliza de um cuidado de si voltado à própria saúde como requisito para se manter na ativa enquanto profissional. Para tanto, os cuidados voltados à estética que tanto a identificaram passam a assumir um plano secundário, fazendo sobrepor àqueles a sobrevivência e permanência no cenário midiático. Seria uma resposta ou uma defesa à possibilidade de inclusão no que Bauman (2015, p. 12) denominou de ―refugo humano‖:

A produção de ―refugo humano‖, ou mais propriamente, de seres humanos refugados (os ―excessivos‖ e ―redundantes‖, ou seja, os que não puderam ou não quiseram ser reconhecidos ou obter permissão para ficar), é um produto inevitável da modernização. E um acompanhante inseparável da modernidade.

A modernidade, em sua liquidez expressa por Bauman (2001, p.8), leva o indivíduo idoso a se subjetivar a partir do que lhe está posto. Entendendo que a celebridade idosa tem necessidade de sobrevivência como qualquer outro profissional, esta se utiliza dos mecanismos que estão ao seu alcance para que não se enquadrem na condição de refugo humano, mesmo que tentem ultrapassar o limiar da dor. Os cuidados com o corpo vão além da beleza – representam a própria manutenção da capacidade física da celebridade, não devendo, portanto, ser considerada uma prática egoísta. Os ―excessivos‖ e ―redundantes‖ que, em geral, assumem essa posição por serem substituídos pelos mais novos – considerados únicos e essenciais para determinadas posições na mídia, travam uma batalha diária para não serem fadados ao ostracismo. Quando o foco é a demonstração de sua capacidade física para o trabalho, a prioridade passa a ser, portanto, a manutenção dos padrões de saúde e não mais a possibilidade de simplesmente utilizar um salto alto. O controle sobre o corpo se configura de forma marcante exigindo da atriz os cuidados com os aspectos básicos de saúde. A beleza corporal não é mais primazia nesse momento.

Para a atriz, que no ano passado teve de operar os dois joelhos, envelhecer não é tão agradável quanto sua personagem fará parecer. "É um saco, melhor idade é o cacete!", diz às gargalhadas.... (Betty Faria, p. 160)

Betty sofreu muito com dores nos joelhos. Durante o trabalho em Boogie Oogie (2014) tomava uma injeção a cada 15 dias. "Faço fisioterapia para fortalecer as pernas, mas não posso dançar nem muito menos usar salto alto. E eu gosto desses saltos altos de ―cachorra‖, como eu gosto... – (Betty Faria, p. 160)

Isso fica evidente nas pesquisas de Sampaio (2011, p.224) ao estudar a liberdade a partir de Foucault, quando afirma:

Essa atitude, ocupar-se "de si", foi aos poucos se tornando um comportamento que despertava desconfiança aos olhos de determinadas práticas morais, como se tivesse defeitos ou fosse uma postura egoísta do indivíduo. Mas o cuidado de si, ainda segundo Foucault, longe de ser uma atitude egoísta, posiciona- se como um comportamento eticamente primeiro, diante do fato que a relação consigo é ontologicamente primeira. Além disso, no mundo contemporâneo, o cuidado de si poderia constituir-se como uma forma de resistência diante das frequentes práticas subjetivantes modernas.

Dessa forma, quando as produções discursivas trazidas pela mídia tentam atribuir um sentido voltado à decreptude e construir subjetividades que insiram a atriz fora de suas capacidades laborativas, a mesma reage fazendo uso dos recursos médicos como estratégias do cuidado de si. Nesse caso, a subjetividade plástica fica evidente uma vez que a cada discursividade com efeito de sentido negativo e reducionista de sua capacidade laborativa, a atriz faz uso de técnicas que se contraponham a isso, construindo uma rede de proteção e resistência às limitações corporais.

Ao mesmo tempo em que aponta suas fragilidades corporais no âmbito biológico, Betty Faria ratifica, discursivamente, sua resistência à condição de refugo humano quando contraria os discursos condenatórios que a definiram como ―ousada‖ pelo fato de ir de biquíni à praia em meio aos seus 73 anos à época. Em função disso, afirmou:

Interessante destacar que o discurso retrata um período de reapresentação da novela Água Viva, lançada em fevereiro de 1980, oportunidade em que a atriz estava com 39 anos e cuja personagem era ambiciosa e não media esforços para ascender socialmente. Some-se a esse encontro de fases, a eterna personagem Tieta protagonizada aos 42 anos, que notabilizou a atriz como símbolo sexual e cujo enredo incluía a sedução de seu próprio sobrinho seminarista interpretado por Cássio Gabus Mendes. Nesse ínterim surge Beth Faria, aos 73 anos ―ousando‖ fazer uso de um biquíni na praia.

Em meio às formações discursivas que buscam associar a imagem da atriz às personagens por ela protagonizadas, percebe-se que os efeitos de sentido são gerados em face

―Pude viver momentos de beleza, não tenho mais, mas não é por isso que não vou poder ir à praia de biquíni. Não sou ressentida, posei três vezes para a Playboy e tenho o direito de ficar velha. Se não gosta, não publica, não olha, deleta, vai a m… Fiquei com raiva porque me arrasaram. É como se quisessem que eu estivesse com o porte da Tieta‖, disse a atriz para a série Depoimentos para a Posteridade, do Museu da Imagem e do Som (MIS), no Rio de Janeiro e reproduzido pelo jornal O Globo. (Betty Faria, p.161)

da necessidade de preservação da imagem da atriz ainda jovem, ostentando um corpo sedutor e que só dessa maneira lhe possibilitaria usar tal vestuário. ―Fiquei com raiva porque me arrasaram‖ expressa bem como a atriz se subjetiva nesse lapso temporal onde as exigências no tocante à estética corporal em relação ao artista têm um peso diferenciado para as demais categorias profissionais. Aqui, a atriz aponta para uma construção de subjetividade plástica que enaltece todo o profissionalismo traçado por ela ao longo dos anos e que devem sobrepor às questões estéticas. Atingiu o apogeu da beleza ao ponto de ser capa da Revista Playboy por três vezes, mas essa não deve ser a referência para ser lembrada e sim, sua trajetória artística.

Em um rompante de resistência, o site O Globo acrescenta:

Refletindo sob essa ótica, Fischer (1999, p. 40) questiona:

Estaríamos vivendo um momento semelhante àquele que Foucault investigou - da Antigüidade Clássica -, em que se tomaram tão presentes as "técnicas de si", essa reflexão sobre os modos de existir e regrar a própria conduta, segundo determinados fins que o homem fixa para si mesmo? Ou estaríamos mais próximos da apropriação, feita pelo Cristianismo, dessas mesmas técnicas de si? Ou ainda: estaríamos aperfeiçoando aquilo que o homem dos séculos XVII e XVIII tão bem conseguiu, ao produzir um farto material, tão bem analisado por Foucault, no qual se registrou à exaustão a intimidade de vidas "infames, obscuras e desafortunadas"? Percebe-se que a mídia, em seus diversos meios de comunicação, exige uma constante preocupação da atriz consigo mesma e uma justificativa para todos os seus atos, principalmente aqueles que fujam dos padrões e rótulos impostos, que desvirtuem da verdade estabelecida. Nesse jogo de verdades, a atriz chegou a questionar ao jornalista se ela deveria ir de burca à praia num sinal de resistência à ideia de que seu corpo não poderia estar mais em evidência devendo ser ocultado em sua quase totalidade.

Contrapondo-se a essas forças que tentam delimitar os espaços a serem ocupados pelo idoso em face de não mais ostentar os padrões de beleza, a atriz rompe com tais paradigmas munindo-se de um comportamento de resistência. Nesse sentido, a mídia evidencia as relações de poder que agem sobre o corpo idoso utilizando-se do ―policiamento‖ como mecanismo de controle. Todavia tal controle é enfrentado com a continuidade da atriz em ir à praia, de biquíni.

Em uma outra formação discursiva, a atriz se rende aos cabelos brancos como registro de passagem do tempo quando afirma:

[...] apesar de todo o policiamento que fizeram, ela continua indo à praia de biquíni, quase como um ato de resistência. (Betty Faria, p.161)

As discursividades do enunciado produzem sentidos que expressam a liberdade que os cabelos grisalhos podem representar. Conforme expressa Goldenberg (2006, p.57), a brasileira não fica velha, fica loira. A possibilidade de não mais alterar a cor do cabelo, de não mais ser ―escrava‖ dos salões para manutenção de um padrão que a sua profissão exigia gera uma sensação de libertação e um caminho para uma provável necessidade de aceitação dos reflexos da idade. Todavia essa liberdade é limitada apenas à questão capilar, uma vez que a atriz se utiliza de expressões linguísticas que denotam ser apenas isso a referência positiva atribuída à terceira idade.

Esse discurso é corroborado pela atriz Fernanda Montenegro quando menciona:

O discurso produz sentidos que apontam para uma confissão do passar dos tempos a partir das lembranças da jovialidade de outrora. Contudo o fato de assumir os cabelos grisalhos pode produzir esquivas, um jogo na produção de verdades, conforme destaca Fischer (1999, p.55).

[...] a compulsão aprendida de tudo falar, de tudo confessar, não significa univocamente que o dito libera, o falado em si produza verdade; é como se estivéssemos de fato num jogo de verdade e falsidade, e a confissão - com todas as técnicas de exposição ilimitada de si mesmo - para permanecer como prática desejável e permanente, também produzisse "desconhecimentos, subterfúgios, esquivas", como escreveu Foucault em "Scientia sexualis", de A vontade de saber. O jogo da produção da verdade, em especial a verdade sobre sexo, inclui, portanto também o não-saber.

Dessa forma, a sensação de liberdade expressa pela aceitação da cor dos cabelos pode corresponder a um jogo de verdades em que a confissão acaba sendo uma estratégia desse jogo, o que pode ser corroborado pelo fato de o discurso considerar ―só‖ essa condição como "O que é bom [na terceira idade] é só essa liberdade de não precisar virar uma velha loira, ficar assim natural, como estou. Meu cabelo está virgem, é a cor que tenho agora", diverte-se....( Betty Faria, p.161)

Fonte: http://noticiasdatv.uol.com.br

―Deixar o cabelo branco é repousante, muito confortável. Pintar toda semana é um horror porque uma hora a tinta deixa de pegar na raiz. Agora que estou natural, é como se eu fosse uma criança de novo. Viu como tem vantagem a velhice?‖, diverte-se. (Fernanda Montenegro, p.171)

algo que represente positividade na fase idosa ou como a única vantagem da velhice, acima mencionada por Fernanda Montenegro.

Assim, as produções discursivas apontam para um cuidado do corpo no sentido de proteção e até de retomada de algo peculiar à fase jovem – a naturalidade dos cabelos, mesmo que na condição de grisalhos. Com isso, a visibilidade agora se dá em um padrão divergente daqueles anteriormente encontrados quando da execução de alguma personagem. Contudo, os discursos não deixam claro ser isso uma opção, uma escolha assumida ou um intervalo entre um trabalho e outro. A depender do momento em que tal entrevista aconteceu, a discursividade pode ensejar uma liberdade momentânea, um pequeno intervalo onde as atrizes podem assumir alguns sinais do processo de envelhecimento. Sob outro prisma, pode produzir sentidos que apontam para o cuidado com o corpo como manutenção de visibilidade e condição para assumir determinados papéis. É o caso, portanto, quando as características da personagem exigem determinada cor de cabelo, determinado peso e até o uso de certas variações linguísticas. Assim, as subjetividades das atrizes são construídas seguindo uma imposição do mundo televisivo que direciona acerca dos cuidados necessários a cada momento específico sob pena de exclusão do cenário midiático.

Ainda sob a égide dos discursos de Beth Faria, a mesma se posicionou, discursivamente, frente à Regina Duarte, atriz contemporânea de mesmos palcos, acerca de sua saída do cargo que ocupava enquanto Secretária de Cultura do Governo Federal. Em meio às polêmicas e controvérsias que marcaram a passagem da atriz pelo cargo, Beth Faria relata:

Os elementos linguísticos aqui presentes apontam para as dificuldades em aceitação das mudanças corporais geradas ao longo do tempo e que se refletem no meio artístico e fora dele mesmo que a trajetória tenha sido construída sob o escopo do talento e da beleza. ―É mole ficar velha se você foi a coadjuvante e a baranga a vida inteira‖ retrata bem o peso que o processo de envelhecimento pode representar para aqueles que construíram suas vidas sob os holofotes.

Para alguém que nunca teve os atributos da beleza e sempre viveu no anonimato ou em funções de pouca repercussão, torna-se mais fácil. E assim, associa a beleza às questões da ―O ego da atriz que foi famosa e bonita é muito mais duro. É mole ficar velha se você foi a coadjuvante e a baranga a vida inteira. Primeiro porque, mais velha, você desperta menos tesão. Tem sempre alguém que gosta um pouco, mas não era como antes. Além disso, a pessoa tem que saber que o protagonismo é dos mais jovens, os papéis não terão o mesmo destaque. A atriz vai sofrer com a idade se não estiver trabalhando a cabeça. Trabalhei muito a minha.‖ (Betty Faria, p. 162)

sexualidade e do protagonismo, sendo esse último, segundo ela, uma opção apenas para os jovens.

As produções discursivas, nesse caso, apontam para a significativa importância que se dá ao corpo de uma atriz que foi referência de beleza e das dificuldades de esta se reconhecer sem a presença de tais atributos na atualidade. Todavia a atriz atribui a essa dificuldade de se reconhecer a velhice como um dos motivos do insucesso de sua colega de profissão, sem adentrar na capacidade para o cargo. As discursividades delineiam para a subjetividade de