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3. QUEM É O IDOSO DE HOJE?

3.3 Subjetividades

Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo.

(Michel Foucault)

Quando se fala de um indivíduo, atribuímos de pronto um sentido de singularidade, unidade. Todavia essa individualidade acaba sendo construída ao longo da vida mediante as influências advindas da sociedade. Assim sendo, passamos a conviver enquanto sujeitos que estão em contínuo processo de transformação em face das relações sociais. Daí a constituição do sujeito acontecer de formas distintas mediante os espaços inseridos, conforme aponta Teixeira e Camargo (2015, p. 06):

Se as práticas sociais só são legitimadas no campo da representação, o texto quer seja: literatura, cinema jornalismo, publicidade são espaços perfeitos para entender os conceitos que tangem determinados grupos, pois ao produzi-lo, os sujeitos colocam-se em um palco onde é possível visibilizar a maneira como as representações agem, são absorvidas e transformam-se em discursos representativos.

Acerca das questões de constituição do sujeito, Foucault declara:

Em primeiro lugar, penso efetivamente que não há um sujeito soberano, fundador, uma forma universal de sujeito que poderíamos encontrar em todos os lugares. Eu sou muito cético e hostil em relação a essa concepção de sujeito. Penso, pelo contrário, que o sujeito se constitui através das práticas de sujeição (assujeitamento) ou, de uma maneira mais autônoma, através das práticas de liberação, de liberdade, como na Antiguidade – a partir, obviamente, de um certo número de regras, de estilos, de convenções que podemos encontrar no meio cultural (Foucault, 2004b, p. 291).

Analisando-se o percurso histórico acerca da temática, percebe-se que no período socrático, as maneiras de constituição do sujeito eram baseadas em um cuidado de si, porém voltado muito mais para questões políticas, para os modos de governar no contexto político. Assim destaca Foucault (2004, p. 45):

[...] a finalidade do cuidado de si, não o objeto, era outra coisa. Era a cidade. Sem dúvida, na medida em que quem governa faz parte da cidade, também ele, de certo modo, é finalidade de seu próprio cuidado de si e, nos textos do período clássico, encontra-se com frequência a ideia de que o governante deve, como convém, aplicar-se a governar, para salvar a si mesmo e a cidade - a si mesmo enquanto parte da cidade. [...] A cidade mediatizava a relação de si para consigo, fazendo com que o eu pudesse ser tanto objeto quanto finalidade, finalidade contudo unicamente porque havia a mediação da cidade.

Já nas sociedades modernas, entram em jogo relações de saber e de poder que acabam por interferir na constituição do sujeito, diferentemente do que acontecia na Grécia Antiga. Isso começou a ficar evidente no início do Cristianismo quando se depositou na figura dos padres e religiosos o poder no sentido de contribuir com o processo de formação do sujeito, ou seja, delega-se ao outro o seu assujeitamento. Inverte-se, portanto, o processo no qual o sujeito passa a ser constituído mediante autorização delegada a outrem, saindo de uma esfera particular, que outrora predominava, para a inclusão de terceiros.

Importante destacar que a relação do sujeito consigo mesmo era minimizada em função de poder concedido a outro (religiosos) que passariam a nortear seus modos de subjetivação. Essa autoridade, devidamente imbuída do poder e da autoridade moral de interferir na constituição do sujeito, sob a ótica de possibilitá-lo ser uma pessoa melhor, acabava por desqualificar muito do que o sujeito trazia até então. O ato de perdoá-lo por seus atos contribuía para a ruptura com seu passado. Era uma desconstituição ou destruição de quem aquela pessoa era em detrimento do que se entendia como um sujeito melhor. Dessa forma, havia uma significativa influência da visão do outro sobre o indivíduo sendo este o fator determinante e não seu autoconhecimento.

Esse processo passa a ser modificado com o advento das ciências sociais que deram um caráter científico à percepção do que o sujeito trazia acerca de si mesmo, ou seja, não era necessário buscar no outro, enquanto autoridade a condução de sua vida enquanto sujeito. O conhecimento sobre o humano dava a este um caráter de verdade científico.

Nessa nova forma de constituição do sujeito, o poder permanece uma vez que à ciência é delegado o direito de descortinar sua vida ao ponto de fazer surgir um novo ser. Essa condição de assujeitamento permanece na sociedade moderna, pois, ao contrário do que se pensava, não contribui para a emancipação e sim referenda os parâmetros de verdades

utilizados pelo conhecimento científico a partir dos critérios de julgamento utilizados. Dessa forma, imbuído ou amparado pelo conhecimento científico, o sujeito é conduzido a assumir determinadas posturas ou padrões.

Nesse cenário moderno, Foucault (1984, p.1205) enfoca que seu intuito a partir do contexto de assujeitamento por ele mencionado é construir uma nova perspectiva do presente sem desconsiderar os efeitos do passado. No contexto atual, as lutas políticas não só mudaram como interferem, mediante uso do poder, na transformação dos indivíduos em sujeitos. Segundo o filósofo:

Elas se constroem contra um tipo de poder que se exerce na vida cotidiana das pessoas, que classifica os indivíduos em categorias, designa-os por sua individualidade e lhes fixa em suas identidades, lhes impõem uma lei de verdade a qual eles devem reconhecer em si mesmos e que os outros devem reconhecer neles. Trata-se de uma forma de poder que transforma os indivíduos em sujeitos (FOUCAULT, 1984, p. 1048).

A ação política deve se dar no contexto de resistência às relações de poder-saber que pressupõe uma relação do sujeito consigo mesmo de forma que consigamos compreender quem somos e porque nos subjetivamos dessa ou daquela maneira. Essa nova forma de visão nos faz refletir que,

sem dúvida o objetivo principal hoje não é o de descobrir, mas de recusar o que nós somos. É necessário imaginarmos e construir aquilo que poderíamos ser para nos desvencilharmos dessa espécie de ‗dupla constrição‘ política que é a individualização e a totalização simultâneas das estruturas do poder moderno (FOUCAULT, 1984, p. 1051).

Ao longo de sua trajetória, Foucault foi visto por muitos como um filósofo cuja preocupação residia nas questões relativas ao poder. Entretanto, através de sua obra O Sujeito e o Poder, o autor ressalta que um de seus objetivos até então não residia nas questões relativas ao poder, mas possibilitar o entendimento das diversas formas pelas quais os homens se tornam sujeitos. Nesse sentido, em uma entrevista com Hubert Dreyfus e Paul Rabinow, acerca três modos de objetivação que transformam os seres humanos em sujeitos, o autor declara:

O primeiro é o modo da investigação, que intenta atingir o estatuto de ciência, como, por exemplo, a objetivação do sujeito do discurso na gramaire générale, na filologia e na linguística. Ou, ainda, a objetivação do sujeito produtivo, do sujeito que trabalha, na análise das riquezas e da economia. Ou, um terceiro exemplo, na objetivação do simples fato de estar vivo na história natural e na biologia. Na segunda parte de meu trabalho, estudei a objetivação do sujeito naquilo que eu chamarei de ‗práticas divisoras‘. O sujeito é dividido no seu interior e em relação aos outros. Este processo o objetiva. Exemplos: o louco e o são, o doente e o sadio, os criminosos e os ‗bons meninos‘. Finalmente, tentei estudar –meu trabalho atual- o

modo pelo qual um ser humano torna-se um sujeito. Por exemplo: eu escolhi o domínio da sexualidade –como os homes aprendem a se reconhecer como sujeitos de ‗sexualidade‘. Assim, não é o poder, mas o sujeito, que constitui o tema geral de minha pesquisa. (DREYFUS; RABINOW, 1995, p. 231-232).

Os estudos foucaultianos evidenciam, portanto, três fases no pensamento do filósofo em questão - arqueologia, genealogia e ética. Tais fases permitem que se compreendam os problemas existentes dentro de uma cronologia específica, delimitada para cada fase. Veiga- Neto (2003), denomina tais fases de ―domínios foucaultianos‖, em função de as obras de Foucault não apresentarem um caráter sistemático, sendo aqui compreendidas as denominações de saber (ser-saber / o que posso saber?), ação de uns sobre os outros (ser- poder / o que posso fazer?) e ação de cada um consigo próprio (ser-consigo / quem sou eu?), sendo este último domínio, o elemento norteador de minha pesquisa. Por esse motivo, encontramos referências à temática sob a titulação de ―fases de Foucault‖ ou ―os três Foucault‖, lembrando, contudo, que essas fases não representam uma divisão destacada podendo ser encontrado traços implícitos de um domínio no outro. Esses ―três Foucault‖ podem ficar melhor explicitados a partir da citação de Veiga-Neto, a saber:

Como Deleuze sugeriu, a cada fase pode-se fazer corresponder uma das perguntas fundamentais que nortearam Foucault: ―que posso saber?‖, ―que posso fazer?‖ e ―quem sou eu?‖. A cada fase corresponde um problema principal colocado pelo filósofo e uma correlata metodologia (VEIGA-NETO, 2003, p. 38).

A fase da arqueologia evidencia a preocupação de Foucault com as questões relativas às ―estruturas‖ que compõem os diferentes conhecimentos que não correspondem necessariamente aos saberes científicos. Daí a importância dada ao processo de investigação acerca da formação dos saberes e suas formulações conceituais. Ela compreende, segundo critério metodológico e cronológico mencionado por Veiga-Neto (2003), ―as obras que vão de História da Loucura (1961) até A arqueologia do saber (1969), passando por O nascimento da Clínica e As Palavras e as Coisas”.

Em sua obra, Veiga-Neto (2003, p.58) relata que, em História da Loucura (1961), Foucault já se reportava à arqueologia numa condição que ele chamou de ―percepção‖ como forma de demonstrar um saber que não é considerado de base científica ou sistematizado. Por esse motivo, as percepções não estão inseridas no campo do conhecimento. A preocupação com o conhecimento só ficará mais evidente em As Palavras e as Coisas quando a cientificidade dada aos saberes faz com que estes sejam aceitos como discursos verdadeiros.

O ponto áureo dessa primeira fase ou primeiro domínio foi a obra Arqueologia do Saber. A arqueologia permite com que se descortinem as camadas dos discursos já ditos como

forma de resgate de ideias já esquecidas o que facilita o entendimento de como e porque os saberes se formam e se transformam. Além disso, ela define o discurso não como um documento, mas como práticas que obedecem a regras. Daí a importância de se compreender que a arqueologia não pretende justificar ou interpretar o teor de um discurso, mas entender como e porque ele se constitui dessa forma e não de outra, haja vista que o discurso segundo Foucault (2014, p.122) é ―um conjunto de enunciados que se apóia em um mesmo sistema de formação‖.

A fase da genealogia ou segundo domínio (ser-poder) contempla a Ordem do Discurso (1971) passando por Vigiar e Punir (1975), até culminar com o primeiro volume de História da Sexualidade – a vontade do saber (1976).

Importante destacar que as periodizações aqui denominadas de fases parecem-nos acontecer bem mais para fins didáticos do que, cronológicos uma vez que é possível encontrarmos elementos de uma fase implícitos em outra. Ademais, é nessa terceira dimensão que Foucault adentra nas questões relativas ao processo de formação do sujeito a partir da ingerência de uma rede de poderes capaz, inclusive, de categorizá-lo. Dessa forma, o elemento norteador passa a ser o poder aqui entendido como ―elemento capaz de explicar como se produzem os saberes e como nos constituímos na articulação entre ambos‖ (VEIGA- NETO, 2003, p.65).

O autor chama a atenção, também para o fato de entendermos ―a genealogia como um conjunto de procedimentos úteis não só para conhecer o passado, como também, e muitas vezes principalmente, para nos rebelarmos contra o presente‖. A partir daí, é possível perceber melhor as verdades históricas repassadas ao longo das gerações sem, contudo, atribuir-lhes uma nova interpretação, desmistificando aquilo que seria uma invenção e não uma descoberta. Seria o caso, por exemplo, do enunciado relativo à terceira idade aqui referenciada como a melhor fase da vida onde se concede um caráter cientifico a essa verdade que é assim multiplicada nas práticas discursivas. Por esse motivo, o presente é uma "etapa no processo bélico de confrontação entre forças opostas em busca do controle e da dominação”, estando essas forças presentes em todos os espaços sociais. O poder seria, portanto, o que Foucault descreveu como uma ação sobre ações.

Os destaques dessa fase em questão são as transformações presentes em práticas institucionais, a exemplo da prisão, escolas, asilos, dentre outras que passaram de suplícios ou castigos corporais para o disciplinamento que dociliza os corpos mostrando que a disciplina mobiliza, produz, traz efeitos positivos.

O poder disciplinar veio substituir o poder pastoral que vigorava no cristianismo e o poder soberano. Segundo Foucault (2014), o poder pastoral rege-se mediante princípios, quais sejam:

- O poder é vertical uma vez que emana do religioso/pastor, mas se retroalimenta dos fiéis;

- Exige sacrifícios em nome da salvação – o pastor deve estar à disposição de seu rebanho e esse sacrifício pode representar a salvação e a vida eterna;

- É individualizante e detalhista à medida que exige o conhecimento acerca de cada fiel de seu rebanho.

Já o poder soberano, pela sua própria natureza, não poderia ser piedoso e não conseguia atender ao viés político. Diante de tal limitação, o poder disciplinar surge como um novo modelo que, na realidade, tentava ampliar o poder soberano à medida que utilizava práticas de vigilância capazes de observar toda uma sociedade, ou seja, o poder disciplinar foi capaz de chegar onde o poder soberano não conseguia ser visto. Daí ser interessante analisar como essas relações de poder podem se evidenciar na constituição de idosos proativos para uns e considerados refugos para outros, no tocante aos direitos e garantias fundamentais da nossa legislação. Nessa linha, percebe-se que as instituições asilares, hoje denominadas instituições de longa permanência para idosos, também contribuíram para a transformação de uma sociedade baseada no poder soberano para uma sociedade estatal a partir do momento em que individualizou a pessoa idosa e abriu espaço para novas subjetividades ou novos modos de subjetivação. Surgem, então, idosos mais maleáveis e moldáveis, tanto em nível de corpos como de saberes.

Todavia conforme explicitou Machado (2006, p. 179), o poder disciplinar não extinguiu a soberania. Ao contrário, esta se aliou à disciplina e à gestão governamental, advindo daí, o seu conceito de governamentalidade - práticas de governamento ou da gestão governamental que ―têm na população seu objeto, na economia seu saber mais importante e nos dispositivos de segurança seus mecanismos básicos‖.

A fase da genealogia ainda nos traz a temática do biopoder aqui considerado como uma nova forma de poder que age sobre uma multiplicidade de corpos – a população, entendendo que, mesmo diante das individualidades, algo é comum a todos: a vida. Enquanto o poder disciplinar age na individualidade do corpo, o biopoder age sobre a espécie humana surgindo em função disso, o que Foucault denominou de biopolítica. Por meio desta, os saberes são criados com vista a controlar a própria espécie. Para uma população, com inúmeros interesses, características e necessidades era necessária, também, uma

multiplicidade de saberes que contemplasse esse novo corpo, inclusive controlando-o e fazendo projeções para o futuro, indo além de uma mera descrição. Com isso, depreende-se que o poder disciplinar age sobre o indivíduo (corpo) mediante mecanismos disciplinares e o biopoder age sobre a população por meio de mecanismos regulamentadores.

A fase da ética ou terceiro domínio contempla os volumes II e III de História da sexualidade - o uso dos prazeres e O cuidado de si, publicados pouco mais de um mês antes da morte de Foucault, em 1984.

Nesse domínio, Foucault não tinha como escopo retratar condutas sexuais nem como estas são representadas pela ciência. Interessa para ele entender a sexualidade enquanto caminho para a subjetivação, como um espaço que se abre para falarmos sobre nós mesmos, nossos desejos e todas as proibições que giram em torno dessa temática.

Segundo Foucault (1991, p.345), ―as proibições sexuais estão continuamente relacionadas com a obrigação de dizer a verdade sobre si mesmo‖. Sempre indagando o porquê, quando e como tal prática pode vir a se constituir como um problema na tentativa de ―definir as condições nas quais o ser humano problematiza o que ele é, e o mundo no qual ele vive‖. Essa fase é considerada, então, como marcada pela reflexão sobre o sujeito, a moral, sexualidade desejo e prazer.

Diante desse cenário, o filósofo define a ética a partir da relação do indivíduo consigo mesmo e como este se constitui enquanto um sujeito moral de suas próprias ações. É através dos jogos de verdade que conseguimos perceber o que cada um entende como falso ou verdadeiro e que vão contribuir para o reconhecimento de quem somos ou como nos vemos. Isso só se torna possível porque o sujeito moderno é produto da intercessão da ética com o saber e o ser-poder.

É no terceiro domínio que se configura a subjetivação do sujeito moderno aqui influenciado pelas seguintes tecnologias: tecnologias de produção, tecnologia de sistema de signos, tecnologias de poder e tecnologias do eu, sendo esta última a maior referência de Foucault para a fase em questão e que servirá como referência para a análise dos discursos dos idosos enquanto celebridades.

A ética que envolve o cuidado de si possibilita que o sujeito problematize sua própria existência tornando-o capaz de criar uma ética própria para seu dia a dia o que contribuirá para o desenvolvimento de atitudes que se contraponham as estruturas de poder capazes de determinar suas subjetividades. Daí o resgate feito por Foucault à necessidade de autoconhecimento presente no período socrático. É a partir dessa perspectiva que se fundamenta a pesquisa em questão.

A partir do que Foucault denominou como ―Tecnologia do eu‖ (1991), o filósofo chama atenção acerca da necessidade do cuidado consigo mesmo – o cuidar de si. Sob esse prisma, ele enfoca o quanto o sujeito deve voltar seu olhar para si próprio não como uma forma de isolamento ou individualidade, mas como uma forma de reflexão acerca de si próprio e de sua relação com o mundo. Acerca disso, Danner (2008, p.77) complementa:

Na perspectiva foucaultiana, a cultura de si assume a forma de um exercício que o indivíduo realiza sobre si mesmo, ou seja, um exercício onde o indivíduo procura se elaborar, se transformar e atingir um determinado modo de ser e de agir, um determinado ethos. É o que vai denominar de technè tou biou, isto é, uma arte da vida, uma estética da existência. Desta maneira, a cultura de si está diretamente vinculada à formação do caráter moral dos indivíduos.

São as práticas de si que propiciam que o indivíduo, ao se voltar para si, consiga se encontrar, encontrar momentos de liberdade e traçar suas próprias regras capazes de influenciar na sua vida e na sua subjetividade.

Todavia esses momentos de liberdade correspondem a um retorno a determinados espaços de prisão que acabam por cercear muitas de nossas escolhas e instigar-nos a seguir caminhos que não foram por nós traçados ou que sequer fomos consultados. É por esse motivo que o cuidado de si não deve ser entendido como um princípio de base egoísta uma vez que o retorno a si se desdobra em retorno ao outro e ao mundo como forma de melhor compreensão do sujeito envolto às práticas sociais. Nas palavras de Foucault (2004, p. 268):

[...] e é muito difícil saber quando isso aconteceu o cuidado de si se tornou alguma coisa um tanto suspeita. Ocupar-se de si foi, a partir de um certo momento, denunciado de boa vontade como uma forma de amor a si mesmo, uma forma de egoísmo ou de interesse individual em contradição com o interesse que é necessário ter em relação aos outros ou com o necessário sacrifício de si mesmo.

Mediante as técnicas de relações consigo mesmo enquanto conhecimento acerca das subjetividades de idosos, as entrevistas publicitárias podem representar um começo para esse conhecimento. Os discursos dos artistas, reconhecidos como celebridades, podem produzir sentidos que apontem como o conhecimento de si contribui para a ruptura de estruturas de poder que tentam mudar quem ele é, direcionando suas subjetividades.