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LISTA DE GRÁFICOS

4. Condições de produção da pesquisa

4.1. Cenário da pesquisa

O primeiro ponto importante para traçarmos os condicionantes deste trabalho se refere à escolha do local em que realizamos a investigação. A escola surge como possível cenário de pesquisa, a partir de conversas com uma colega de pós-graduação, professora e coordenadora da sala informatizada daquela escola, Bethânia. Em uma de nossas discussões extra PPGECT sobre nossos temas de pesquisa, foi mencionado que na referida escola era realizado desde o ano de 2004 um projeto sobre leitura e escrita intitulado: “Ler e escrever: compromisso da escola, compromisso de todas as áreas”6

. Depois de ter entrado em contato com a direção da escola e ser autorizada pelos mesmos, em 14 de junho de 2007 fui apresentada à escola e aos professores de Ciências que tornarem-se colaboradores desta pesquisa: Marta e Daniel7.

A escola Beatriz de Souza Brito está localizada no bairro Pantanal, bem próxima à UFSC e atende alunos que moram, em sua grande maioria, na região.

Cabral (1998), atual diretor da escola, em sua dissertação de mestrado faz um estudo histórico da constituição da escola. Segundo o autor, a institucionalização da escola ocorreu em 1986 e se deu em decorrência da expansão do bairro, vinculada ao estabelecimento da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e de empresas como Eletrosul (empresa subsidiária de

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Não tivemos acesso ao projeto de modo que pudéssemos dedicar espaço neste trabalho para sua análise. No entanto, a professora consultora do projeto nos concedeu uma entrevista que se encontra na mídia (CD) em anexo.

Centrais Elétricas do Brasil S.A. - ELETROBRÁS, vinculada ao Ministério de Minas e Energia), TV BV (transmissora da rede Bandeirantes de Televisão) e ITESC (Instituto Tecnológico de Santa Catarina), e da necessidade de atender as demandas da população do bairro, uma vez que a localização de outras escolas era em bairros distantes.

A escola atende aproximadamente 500 estudantes matriculados do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental. De modo geral, é possível dizer que sua estrutura é bastante adequada, possui diversos espaços abertos, inclusive com muitas árvores plantadas pela comunidade escolar8.

Sua estrutura física conta com salas de aula, biblioteca, auditório, refeitório, sala informatizada, sala de professores, salas ocupadas pela direção e coordenação de ensino, além de uma sala multiuso (onde acontecem atividades de diversas disciplinas, inclusive aulas práticas de ciências). A escola conta também com quadras de esportes, bastante utilizadas pelos meninos nos períodos de intervalo, para jogos de futebol, e ainda um ginásio de esportes onde são realizadas boa parte das aulas de educação física. Ao longo do período de contato com a escola pude observar as rotinas escolares e a ocupação desses espaços por alunos e professores.

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A escola conta com um projeto de arborização envolvendo a comunidade escolar. Esse projeto é desenvolvido por meio de plantio de mudas e cuidados com as árvores já plantadas Para tanto, existe no calendário escolar algumas dadas previstas no período letivo anual em que a comunidade escolar é convidada a ir à escola realizar esse trabalho de plantio. Segundo os professores, essa atividade contribuiu de forma significativa para produzir nos estudantes o sentimento de cuidado com a escola, especialmente no que se refere á questão da limpeza e não depredação.

147 Do ponto de vista de recursos, a escola conta com cerca de vinte computadores na sala informatizada, sendo estes com acesso à internet, televisores e aparelhos de DVD, aparelho de som, data-show e copiadora. Ou seja, é uma escola que apresenta uma boa infra-estrutura.

A leitura também se faz presente fora da sala de aula, em espaços como a entrada da sala dos professores, onde se encontra um mural contendo informações sobre a escola, bem como algumas revistas (como Nova Escola, Veja, Superinteressante, Carta Capital) e uma mesa, instalada junto a dois sofás, em que ficam dispostos diversos livros, em sua maioria, de literatura infantil. Presenciamos muitos momentos em que estudantes colocavam-se ali naquele espaço, aconchegados no encosto do sofá para ler. Também encontramos murais na sala dos professores, que serve de espaço para troca de informações e avisos e um mural no corredor que dá acesso às salas de aula, contendo também informativos. Além, é claro, da biblioteca contendo um acervo bastante variado: livros de literatura, didáticos, revistas, vídeos.

Em conversas com professores, equipe diretiva, bibliotecária, fomos informadas de que a biblioteca era pouco freqüentada pelos estudantes das séries finais do Ensino Fundamental. Em uma escola onde há um projeto envolvendo leitura e escrita, isso nos intrigou. Em algumas visitas à biblioteca identificamos diversos livros e revistas que consideramos interessantes. Além de clássicos da literatura como Machado de Assis, José de Alencar, Guimarães Rosa, entre outros, também

encontramos diversos títulos voltados para o público juvenil, abordando temas como adolescência, namoro, drogas, amizades, etc. Que motivos estão envolvidos nessa ausência dos estudantes? Seria uma forma de resistência? Consideramos este um indício do modo como a leitura funciona na escola. Questões que aprofundaremos juntamente com a análise das questões iniciais que fizemos aos estudantes, apresentadas neste capítulo.

No contato com a escola também pudemos presenciar alguns encontros de formação dos professores, ocorridos no âmbito do projeto “Ler e escrever: compromisso da escola, compromisso de todas as áreas”. Nesses encontros, participaram todos os professores da escola, direção e coordenação pedagógica e foi ministrado por uma professora vinculada à PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) que orienta e dá assessoria ao projeto do ponto de vista teórico/metodológico, a quem chamaremos aqui de Luiza9.

Assim, podemos dizer que os professores envolvidos na pesquisa contam minimamente com um referencial acerca da leitura e escrita, que permite algumas reflexões e direcionamentos em seu trabalho pedagógico. É importante também destacar que o projeto é desenvolvido na escola contando com o apoio da editora Ática. Esta editora é responsável pela produção do livro didático voltado à Língua Portuguesa adotado pela escola, do qual Luiza, a assessora do projeto, é uma das autoras.

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149 O fato de o projeto de leitura e escrita da escola se desenvolver em parceria com uma editora de livros didáticos é parte importante de suas condições de produção. Entendemos que os livros didáticos em seu funcionamento discursivo instituem determinadas formas de leitura e escrita. Esses materiais em sua organização, apresentam textos que abordam certos conteúdos (não outros), são estruturados de certo modo, e, freqüentemente, geram a sensação de completude, ou seja, de que apresentam em suas páginas todos os conhecimentos acerca dos assuntos tratados. A abordagem discursiva que adotamos auxilia na compreensão de que a completude é uma ilusão, na medida em que os textos, mesmo aqueles localizados em livros didáticos, não são fechados. Eles relacionam-se com outros textos que estão fora dele e, além disso, em sua leitura essas relações são ampliadas pelos sujeitos (leitores), que ao interpretar estabelecem redes de significações produzindo um lugar de interpretação.

Aprofundando as questões de pesquisa, o trabalho foi organizado em dois momentos. Um primeiro momento em que buscamos compreender o funcionamento da leitura e da escrita nas aulas de ciências e um segundo momento caracterizado por intervenções, onde procuramos modificar as condições de produção da leitura e da escrita em sala de aula.

No momento inicial nos aproximamos das questões de leitura e escrita por meio de conversas com os professores e coordenação de ensino, observações de aulas de ciências de quatro turmas do Ensino Fundamental, que foram escolhidas por

possibilidade de horários da pesquisadora. A intenção nessa fase da pesquisa foi vivenciar o trabalho realizado com diversas séries afim de melhor compreendermos o que envolve suas condições de produção, mais particularmente estávamos interessadas em identificar as relações entre abordagens (formas) e conteúdos. Ou seja, temas (conteúdos) diferentes envolviam abordagens (formas) de leitura e escrita diferenciadas?

Na produção dos dados que compõe o corpus analítico do primeiro momento da pesquisa fizemos uso de alguns instrumentos, quais sejam: anotações das observações em diário de campo e gravações em áudio das aulas observadas e de encontros com os professores colaboradores. Assim, a partir desse conjunto de dados, buscamos formular um panorama acerca do modo de funcionamento da leitura e da escrita no espaço escolar de ciências e vinculado a isso, a relação entre conteúdos de ciências e questões de linguagem.

O desenvolvimento da fase inicial da pesquisa subsidiou o processo de elaboração de atividades de ensino envolvendo leitura e escrita, que se deu de forma conjunta com professores da disciplina de Ciências. Nesse segundo momento da pesquisa, realizamos um trabalho que envolveu a proposição e implementação de atividades de leitura de textos alternativos ao livro didático e de escritas diferenciadas daquela tradicionalmente empreendidas em aulas de ciências, qual seja, a resposta a atividades presentes em livros didáticos e escrita de resumos. Para o desenvolvimento dessa etapa do trabalho contamos com reuniões de planejamento e encontros com os

151 professores, em que discutimos questões teóricas e metodológicas sobre leitura e escrita.

Assim, ao longo da pesquisa o trabalho esteve organizado como mostra o quadro abaixo:

MOMENTOS DA