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Pontuando algumas questões e objetivos da pesquisa

LISTA DE GRÁFICOS

1. Leitura e escrita em aulas de ciências: considerações sobre o tema e objetivos da pesquisa

1.1. Pontuando algumas questões e objetivos da pesquisa

Na pesquisa trazemos a noção de autoria como sendo balizador do nosso olhar para a leitura e escrita nas aulas de ciências, mais particularmente nos baseamos nas contribuições de Eni Orlandi e Michael Foucault.

Pela autoria (uma função do sujeito) o sujeito coloca-se na origem do dizer ocupando um lugar social. Produz um lugar de interpretação, historiciza seu dizer. Segundo Foucault, é a partir dessa função que a relação de sujeitos com a linguagem é marcada pelo controle social. A função-autor, assim, perpassa as relações e discursos didático-pedagógicos. No entanto, a escola institui um tipo de função-autor próprio. Não se pode dizer a partir de qualquer posição. Há sempre a retomada de uma posição específica, a de aluno ou a de professor. Posições institucionalmente e historicamente determinadas.

Assim, a pesquisa visa compreender o lugar ocupado pelos sujeitos (alunos e professores) no discurso escolar sobre ciências, o que contribui para compreendermos as relações desses sujeitos com esse conhecimento e os sentidos produzidos a partir desses lugares de enunciação e quais os efeitos disso para a educação em ciências.

Tendo em vista o enfoque na questão da autoria, devemos esclarecer que neste trabalho, entende-se por “escritas

autorais” aquelas em que os sujeitos são levados a assumir a responsabilidade pelo o que escrevem. Ao mesmo tempo essa escrita deve constituir uma forma de relação entre contexto histórico-social (exterioridade) e suas próprias histórias de leitura, produzindo assim uma forma de significação. De acordo com Orlandi (1993), ao colocar-se como autor assume-se um papel social: “Essa assunção implica uma inserção (construção) do sujeito na cultura, uma posição dele no contexto histórico-social.” (p.79).

Consideramos que na produção de sentidos, forma e conteúdo não se separam. Dito de outro modo, na produção de sentidos não está em jogo apenas o que é dito, mas como é dito. A forma já carrega sentidos relacionados ao que é dito (referente) (ORLANDI, 1996). Seguindo essa linha apontamos para o importante papel dos temas de ciências que foram abordados ao longo da investigação. Assim, forma (leituras e escritas) e conteúdo (temas de ciências) estão inter-relacionados na produção de sentidos sobre ciências em sala de aula. Entre os temas abordados nas aulas estão: produção de energia, radioatividade e biografias de alguns cientistas.

Além disso, temos como premissa que mudanças nas condições de produção da leitura e da escrita na escola contribuem para a produção de novas leituras e dessa forma, o surgimento de novas posições de sujeito. Assim, no trabalho de colaboração, junto a professores de ciências, tentei deslocar a função-autor-escolar para uma posição menos fixa, onde têm espaço diferentes dizeres (não só os previstos) na intenção de

57 contribuir para que estudantes e professores assumam funções- autor que caminhem para a produção da repetição histórica, aquela em que o sujeito historiciza seu dizer.

A inscrição do dizer no repetível histórico (interdiscurso) é que traz para a questão do autor a relação com a interpretação, pois o sentido que não se historiciza é ininteligível, ininterpretável, incompreensível. Isto nos leva a afirmar que a constituição do autor supõe a repetição. (...) Mais extensamente podemos mesmo afirmar que o dizível é o repetível, ou melhor, tem como condição a repetição. Não porque é o mesmo, mas é o que é passível de interpretação: o que é passível de ser repetido, efeito de pré-construído (já dito) na relação com o interdiscurso. (ORLANDI, 1996, p. 70-71)

Ao abordarmos a leitura e escrita em aulas de ciências via questões de autoria, tendo em vista a tese que aqui defendemos, buscamos compreender:

o Quais os modos de leituras e escrita predominantes em aulas de ciências? Em que condições são desenvolvidas? o Que caminhos percorre o discurso de ciências no espaço

escolar e como se relaciona com outros discursos?

o Que imagens de leitor/autor de ciências são (re)produzidas na escola? Quais seus efeitos no ensino de ciências?

o O que envolve o funcionamento da leitura e escrita em aulas de ciências?

o Quais as possibilidades de contribuição de uma perspectiva diferenciada de leitura e escrita em aulas de ciências?

o Em que medida as atividades escolares de ciências privilegiam a produção de texto em que há espaço para autoria (como a entendemos)? Em que isso contribui nos processos de aprender/ensinar ciências?

o A assunção de novas posições de sujeito implicam em perspectivas mais questionadoras sobre ciências e tecnologias?

Assim, tendo em vista a tese de que abordagens polissêmicas de temas de ciências podem contribuir para a assunção da autoria por parte dos educandos, nesta pesquisa objetivamos:

Investigar as condições de produção estabelecidas em sala de aula frente à leitura e a escrita;

Problematizar a noção de leitura e escrita em aulas de ciências, juntamente a professores, contribuindo para a produção de perspectivas não naturalizadas sobre as mesmas;

Investigar as possíveis mudanças produzidas em situações de ensino frente à leitura e a escrita, a partir de mudanças nas condições de produção em que as mesmas se desenvolvem;

Produzir deslocamentos nas posições-sujeito assumidas em sala de aula, especialmente por parte dos estudantes, diante dos textos de/sobre ciências;

Promover aprendizagem em ciências;

59 Na intenção de enriquecer o debate e localizarmos as possíveis contribuições para a área de educação em ciência trazidas por esta investigação, no próximo capítulo apresentamos algumas discussões acerca de pesquisas que se dedicam a investigação da leitura e da escrita no ensino de ciências.

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2. Leitura, escrita e autoria: articulações com o ensino de