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1. ASPECTOS HISTÓRICOS DE PORTUGAL NO SÉCULO XX:

1.3 O ESTADO NOVO (1932-1974)

1.3.2 A Censura

Uma das bases para que o governo ditatorial salazarista perdurasse e conseguisse levar a população a seguir à risca todas as orientações do governo foi a existência de um órgão que fosse responsável pela segurança do país. Por algumas vezes durante o regime, esse órgão foi reformulado para atender às principais demandas e para que o controle de tudo o que ocorresse fosse eficaz.

Com o fim da I República, muitos foram os órgãos criados para aumentar a

segurança do país após a extinção da Polícia de Segurança. Inicialmente, a Polícia de

Informações (PI) foi chefiada por um diretor contratado pelo Ministro do Interior, que agia em Lisboa e Porto como forma de controle de todos os veículos de informação que

fossem publicados. Após dois anos, a PI passou a ser Polícia Internacional Portuguesa

(PIP) agindo nas duas cidades separadamente por alguns anos até se unificarem em 17

de março de 1928 e passarem a ser Polícia de Informações do Ministério Interior

Depois de muitas dissoluções, instabilidade político-militar e alguns protestos

contra a violência da PIMI, foi criada em 1933 a Política de Vigilância e Defesa do

Estado (PVDE), pelo Decreto-Lei nº 22.99221, de 29 de agosto. A PVDE era constituída por duas seções, uma que se encarregava da prevenção e repressão contra os crimes de natureza política e social e outra que era responsável por verificar as entradas, permanências e saídas de estrangeiros do território nacional, a sua detenção, caso se tratassem de elementos indesejáveis, a luta contra a espionagem e a colaboração com as polícias de outros países. Em 1934 foram-lhe atribuídas novas funções, com a criação da seção de Presos Políticos e Sociais, responsável por prover ao sustento, manutenção, guarda e transporte dos presos por delitos políticos e sociais, tanto como formas de prevenção, quanto aos já condenados. As atividades passaram a ser vigiadas e controladas pela polícia, e o direito de reunião era bem regulado: “reuniões destinadas a fins de propaganda política ou social só podem ter lugar depois de obtida autorização do governador civil do respectivo distrito” (Legislação Repressiva, p.140-141 apud MENESES, 2011, p. 187). A censura, segundo o decreto 22.469,

Terá somente por fim impedir a perversão da opinião pública na sua função de força social e deverá ser exercida por forma a defendê-la de todos os fatores que a desorientem contra a verdade, a justiça, a moral, a boa administração e o bem comum, e a evitar que sejam atacados os princípios fundamentais da organização da sociedade” (IDEM)

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a derrota nazi-fascista levou Salazar a fazer algumas modificações nas instituições do Estado Novo, com o intuito de divergir – pelo menos aparentemente – o máximo da política criada pelos Aliados e assim a PVDE

passou a ser PIDE – Polícia Internacional e de Defesa do Estado (de acordo com o

decreto-Lei nº 35.046), e, similarmente à PVDE, a ela competiam quaisquer tipos de serviços destinados à proteção e segurança do país; à sugestão de aplicação de medidas de segurança e à prisão ou liberdade dos acusados. Tudo o que se referia à emigração, à passagem e fiscalização das fronteiras terrestres e marítimas, ao regime de permanência e trânsito de estrangeiros em Portugal e à repressão criminal cabia à PIDE, e aqueles que não seguissem as leis seriam presos e julgados – a lista completa sobre a criação da PIDE datada de 1945 encontra-se nos anexos (ANEXO C). O julgamento – quando ocorria – acontecia muito tempo depois da prisão e após o cumprimento da pena a PIDE podia

21 Documento retirado do website criado para fins de investigação sobre o primeiro ministro António de Oliveira Salazar. Disponível em http//oliveirasalazar.org. Acesso em 02/10/2014

prorrogá-la, caso achasse necessário ou percebesse que o preso representava uma ameaça para o regime:

A maioria dos presos políticos não ia a julgamento (73 por cento entre 1933 a 1945) [...] em 1944, dos 226 presos políticos do campo de concentração do Tarrafal, 172 estavam presos sem julgamento, nem pena, ou permaneciam presos após já a terem cumprido. (ROSAS, 2013, p. 205);

A PIDE durou até 1969, quando assumiu a Direcção-Geral de Segurança (DGS),

criada pelo Decreto-Lei nº: 49.401, de 24 de novembro, e tinha praticamente as mesmas obrigações da PIDE, como, por exemplo, o de zelar pela segurança do Estado, vigiar as fronteiras terrestres e marítimas, punir infrações cometidas pela população e também manter relações com organizações policiais nacionais e estrangeiras. Em 25 de Abril de 1974, a DGS foi extinta, juntamente com o regime opressor.

Para o historiador Fernando Rosas (2013), o regime utilizou duas formas de

repressão para conseguir os seus objetivos: a violência preventiva e a violência punitiva.

Segundo ele, a violência preventiva era a mais constante e “a que era apontada à dissuasão, à intimidação, privilegiando a contenção e a vigilância permanente dos comportamentos.” (p. 196).

O país era constantemente vigiado por diversos órgãos que funcionavam para indicar o limite de cada atividade, como, por exemplo, o Ministério da Educação Nacional (MEN), a Mocidade Portuguesa (MP) e a Organização das Mães para a Educação Nacional (OMEN). Qualquer atividade só podia ser realizada com a estrita autorização da polícia, que, por fim, era rigorosamente controlada pelo governo, e tinham a incumbência de “vigiar o quotidiano e inculcar unívoca e autoritariamente os valores do ‘homem novo’ salazarista e da mulher a renascer como fada do lar e repouso do guerreiro, vinculada à missão de o servir e à família como esteio da nova ordem.” (ROSAS, 2013, p. 199). No âmbito educacional, por meio dos inspetores da MEN, os professores eram devidamente selecionados pelo regime, os livros eram únicos e exaltavam o ensino da religião católica, a pátria e a família, mostrando o papel que cada um dos integrantes devia exercer no lar, conforme o trecho seguinte:

O ensino primário fora largamente entregue a regentes escolares cujo critério de admissão eram os da fidelidade ao regime. Os professores foram obrigados a dar aulas glosando cartazes de propaganda do Estado Novo e a apresentar, depois, relatórios sobre o que tinham feito. (ROSAS, 2013, p. 201)

Havia outras organizações como a organização corporativa, formada pelo Instituto Nacional do Trabalho e Previdência (INTP) e a Federação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT):

Toda esta imensa panóplia burocrática (do Estado e da organização corporativa), com a sua ação intimidatória no dia-a-dia, com o clima de intimidação e de abstenção cívica que alimentava, visava instalar, através de uma surda socialização do medo, um clima geral de acatamento e submissão. (ROSAS, 2013, p. 200)

Foi esse clima geral de submissão, dessa interiorização da obediência e de desmobilização que resultou num prolongado regime ditatorial (ROSAS, 2013), dando uma falsa ideia de que o país caminhava bem, quando, na realidade, o medo e o conformismo tomavam conta da população portuguesa.

Ainda se entendia como violência preventiva, todas as atividades que fossem

realizadas, sejam elas no âmbito escolar ou não, que não podiam acontecer sem a autorização prévia do ministro do Interior, assim como a população também não tinha o direito de fazer greves ou reuniões. Na prática, o rigor era ainda maior: “não se podia organizar um torneio de xadrez numa escola, ou uma excursão num local de trabalho, fora do monopólio da iniciativa ou da autorização da MP ou FNAT.” (ROSAS, 2013, p. 201).

A violência punitiva, como o nome diz, é a repressão por métodos coercitivos daqueles que de alguma forma praticaram atividades que fossem além do permitido pela polícia. Atividades de risco como seguir ou apoiar organizações clandestinas de luta contra o regime, conspirando ou participando em atividades revolucionárias, aderindo a uma greve ou comparecendo numa manifestação, podiam trazer grandes problemas aos envolvidos, como torturas e penas de prisão. (ROSAS, 2013).

Para Salazar, a censura era uma importante ferramenta para controlar a paz, já que era medida aceitável enquanto o mundo se encontrava em guerra. Adotou uma postura ofensiva e sempre eliminava qualquer atitude de ameaça em seu governo. A partir de 1934 algumas cadeias foram projetadas como forma de punição para aqueles que não seguissem as leis do regime, sendo um total de 6 cadeias: Cadeia do Aljube, duas cadeias do Forte de Caxias, Cadeia do Forte de Peniche, Estabelecimento Prisonal Angra do Heroísmo, sendo fechado em 1936 para abrir o último e o pior deles, o “Campo de Concentração de Tarrafal”, em Cabo Verde. Alguns documentos mostram a quantidade de presos existentes em cada uma das cadeias, como o seguinte, datado de 25 de setembro de 1936, apenas dois anos após o início das prisões:

Figura 9 – Boletim da Existência de Presos (1936)22

Relação das cadeias e da quantidade de presos existentes em cada uma delas. Nesse quadro, ainda existia uma prisão em Angra do Heroísmo, enquanto a do Tarrafal ainda seria ocupada no fim de outubro.

O Campo do Tarrafal seria, inicialmente, construído em Angola, mas alteraram para Cabo Verde por proporcionar alguns fatores mais atraentes para o governo. Dentre eles, Angola era considerado um espaço indispensável para Portugal e, além do mais, Cabo Verde, por sua posição distante do continente africano, era um fator relevante para manterem os prisioneiros afastados de sua origem e numa situação de difícil deslocamento – “Houve algumas tentativas de fuga, mas os fugitivos descobriam que não tinham para onde ir”. (MENESES, 2011, p. 195). A ideia original era criar um espaço para a recuperação das pessoas e um campo de trabalho agrícola e o Tarrafal, na cidade de Santiago, parecia um local apropriado por ter uma fonte de água próxima. Com o decreto pronto no dia 23 de abril de 1936, os prisioneiros começaram a ser levados para

o Tarrafal em outubro do mesmo ano, e as primeiras 15123 pessoas tiveram que construir

praticamente tudo, pois no local só havia tendas. Além disso, as condições insalubres do lugar e o tratamento cruel transformaram o Tarrafal em um “campo da morte lenta”, como apontam relatos de pesquisadores e de prisioneiros que lá estiveram:

22 Documento disponível para consulta online nos arquivos da Torre do Tombo. Código de Referência: PT/TT/AOS/D-G/8/4/1 (m.0003). http://digitarq.arquivos.pt/details?id=3889735

Uma forma especial de castigo era a frigideira, uma cela, a certa distância do campo principal, quase sem ventilação, atingindo assim altas temperaturas no seu interior durante o dia. Entre os mosquitos, trabalhos forçados, má alimentação e cuidados médicos praticamente inexistentes, o Tarrafal era um desastre à vista. [...] Seis deles [dos prisioneiros] morreram em quatro dias em Setembro de 1937. Mais quatro morreram dias depois. [...] (MENESES, 2011, p. 195)

A prisão do Tarrafal era considerada a mais cruel e sinistra de todas e, durante seu funcionamento, vários presos tentaram fugir, mas sem sucesso. Muitos protestos se seguiram para o fechamento dessa prisão, mas Salazar a manteve aberta por quase dezoito anos, sendo fechada em 1954 e reaberta após o início da Guerra Colonial, em 1961. Em outro “Boletim de Existência de presos”, datado de 1945, consta a quantidade de presos no campo de Tarrafal, além de outras prisões em Portugal:

Figura 10 – Boletim Da Existência de Presos e Deportados (1945)24

Relação das cadeias e da quantidade de presos existentes em cada uma delas. Nesse quadro, já consta a Colônia Penal de Cabo Verde (Tarrafal)

Além dos prisioneiros em cadeias, do documento constam indivíduos que estavam

sob a guarda da PIDE por emigração clandestina e que ainda seriam interrogados.25

24Documento disponível para consulta online nos arquivos da Torre do Tombo. Código de Referência: PT/TT/AOS/D-G/8/4/1 (m.0005). http://digitarq.arquivos.pt/details?id=3889735

25 Nos anexos (ANEXO B) desta tese consta a lista de todos os presos no Tarrafal entre 1936 a 1939. Nesse período, passaram pela Colônia Penal de Cabo Verde 200 presos, dos quais treze deles teriam sido “eliminados” até fim de 1938, sendo dez por morte “natural”. Pela lista também, é possível confirmar a

No total, trinta e seis pessoas morreram no Tarrafal26 – trinta e dois portugueses, dois angolanos e dois guineenses – enquanto estiveram confinados, mas há outros que perderam a vida logo após a libertação, por conta das péssimas condições em que viveram. Vale ressaltar que no primeiro período de funcionamento do Tarrafal, entre 1936 e 1954, os prisioneiros eram em sua maioria portugueses, e depois de um ciclo fechado, a prisão voltou a ser reaberta por ocasião da Guerra Colonial, em 1961, e a partir daí os prisioneiros levados eram em sua maioria africanos. Passaram por lá 107 angolanos, 100

guineenses e 20 cabo-verdianos27. Em 1º de maio de 1974, uma semana após a Revolução

dos Cravos, as portas do Tarrafal se abriram e todos foram libertados.

Outras prisões em Portugal (Aljube, Peniche e Caxias), funcionaram entre 1934 e 1974, com exceção do Aljube, encerrado em 1965. A Prisão do Forte de Peniche (de 1934 – 1974) foi considerada a de mais alta segurança, embora tenha sido palco de uma das mais espetaculares fugas durante o Estado Novo, em janeiro de 1960. A fuga contou com um planejamento minucioso, e um envolvimento de muitos presos e alguns agentes, para ser bem-sucedida. Os historiadores entrevistados no presente trabalho, Fernando Rosas e António Borges Coelho, estiveram presos por mais de uma vez por atividades irregulares durante o Estado Novo, Fernando Rosas em Caxias e Peniche, enquanto Borges Coelho ficou em Aljube, além de Peniche. Tratar-se-á um pouco dos relatos pessoais desses historiadores no capítulo dedicado a eles, especialmente António Borges Coelho, que durante a entrevista compartilhou algumas experiências de quando esteve preso. Durante todo o regime ditatorial, muitos passaram pelas prisões, e saber a quantidade exata de presos é uma tarefa praticamente impossível:

Não sendo fácil estabelecer, com precisão, o número total de presos pela PVDE/PIDE/DGS por razões políticas, os diferentes estudos efectuados permitem estabelecer com razoável probabilidade que, entre 1933, quando se cria a PVDE e se institucionaliza o Estado Novo, e o 25 de Abril de 1974, a polícia política efectuou não menos de 30 mil prisões por motivos políticos. (ROSAS, 2013, p. 204)

Outros métodos de punição do regime podiam ser as torturas do sono e da estátua, utilizados pela polícia para conseguir mais informações de outros militantes. Mais

entrada de 151 presos no dia 29 de outubro de 1936, o primeiro grupo dos presos que foi obrigado a construir praticamente todo o local.

26 Fernando Rosas em um vídeo na RTP (2014) fala em 40 mortes durante a existência do Tarrafal. http://ensina.rtp.pt/artigo/fuga-prisoes-politicas-estado-novo/

utilizada em Aljube no início dos anos 60, a “estátua” era um método no qual o preso deveria ficar de pé o máximo de tempo possível; caso não suportasse, podia sentar-se alguns instantes e voltar a se levantar –quanto mais cansado e esgotado, melhor para a PIDE. Dependendo da situação, caso o preso tentasse dormir, haveria pancadas. Quando não aguentavam mais, forçavam-no a falar. No caso da tortura do sono, o caso era impedir que o preso dormisse - método que foi mais utilizado, sendo mais cansativo e prolongado para o preso. Havia presos que ficaram sem dormir por sete dias consecutivos, e outros chegaram até onze dias. Após serem submetidos a essas torturas, podiam sofrer também com o isolamento, outro método utilizado pela PIDE:

Muitos detidos pela PIDE/DGS, referiram que, após um período de serem sujeitos a violências e à tortura do “sono”, sentiram uma quase felicidade, com o retorno à cela e ao isolamento. Mas, depois, consideraram o isolamento mais difícil de suportar do que a própria tortura, pois provoca, no indivíduo, um sentimento permanente de ameaça sem objecto e uma vivência de despersonalização. (PIMENTEL, 2007, p. 109)

Fernando Rosas (2013), que foi submetido a algumas torturas, explica que a polícia política usava todos os recursos necessários para atingir os objetivos do regime: “incluindo o recurso ao assassinato pela tortura nas cadeias ou por liquidação física dos resistentes em emboscadas ou operações policiais de rua” (p. 203), mas que esses casos de assassinato apenas ocorriam em situações extremas em Portugal, diferentemente do que ocorria nas províncias ultramarinas durante a Guerra Colonial. Outras torturas já eram bastante utilizadas:

A tortura do sono, a “estátua”, os espancamentos com vários tipos de instrumentos de agressão, o isolamento prolongado, a chantagem e a humilhação dos presos, a prisão arbitrária sem culpa formada nem condenação judicial, foram os métodos constantemente usados pela polícia política a que o regime procurará dar uma fachada de legalidade, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial. (ROSAS, 2013, p. 203)

Segundo Pimentel (2011), a combinação de fatores levou à durabilidade do regime, e não apenas a ação da PVDE/PIDE/DGS com seus “métodos eficazes” de tortura. O auxílio da PIDE/DGS e também dos grandes pilares, a Igreja e as Forças

Armadas, foi fundamental durante o “terremoto delgadista” (assunto a ser tratado

posteriormente, ainda neste capítulo), e o período da Guerra Colonial, quando muitos jovens começaram a lutar incessantemente contra o regime. O regime ditatorial também

durou porque conseguiu uma ‘organização de consenso’, através de aparelhos de desmobilização cívica e de inculcação ideológica, bem como diversos instrumentos, como os sindicatos nacionais e grêmios, e outras organizações como FNAT, MP e MPF. (PIMENTEL, 2011). Os poucos que lutavam contra o governo não conseguiam passar pela polícia, que intimidava e causava o medo na população, com seus meios de repressão:

Em suma, pode-se dizer que a durabilidade do regime se deveu a uma combinação de dois fatores decisivos: por um lado, o sucesso da prevenção/desmobilização/intimidação cívica/repressão, por meio de vários instrumentos, entre os quais a importante PIDE/DGS e, por outro lado, o fato de o regime ditatorial, nos momentos de crise – 1945 e 1958 – 1961 – ter conseguido manter a coesão das Forças Armadas em seu redor. O estertor do regime foi acompanhado por uma maior repressão e um aumento da violência policial, que coincidiram com a multiplicação dos problemas enfrentados pelo regime. (PIMENTEL, 2011, p. 148)

Rosas (2013) defende que a durabilidade do regime também se deveu à combinação desses fatores apontados por Pimentel (2011), mas há ainda outro fator importante, que foi a passividade de algumas pessoas perante os desafios, pois

o que largamente predominava não era o consenso, a aceitação livre, ou sequer o sucesso de uma doutrinação massiva. Era a sujeição, a obediência, a passividade, obtidas pela combinação eficaz do enquadramento preventivo com a resposta punitiva. Não se pretende dizer que o regime não tivesse tido apoios fiéis e entusiásticos, em certos sectores sociais, ou em certas conjunturas históricas, sobretudo até a Segunda Guerra Mundial. Mas não era, nunca foi, a mobilização dessa gente que principalmente o susteve. Foi, quase sempre, a bem sucedida desmobilização dos demais. (p. 202)

Rosas também ressalta (2013) que a ação das Forças Armadas foi igualmente fundamental para a permanência de Salazar no poder. Elas eram inteiramente controladas pelo regime, e tinham que obedecer rigorosamente aos comandos do poder, sob pena de trocar toda a equipe, como ocorreu entre 1938-1940. Foi a ação desse grupo que segurou

Salazar após a Segunda Guerra Mundial e a fraude das eleições de 1958 (a ser visto

No documento CANTO DE INTERVENÇÃO EM PORTUGAL: (páginas 54-63)