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3. ESCUTANDO AS VOZES DE QUEM RESISTE:

3.7 LIBERDADE

A canção Liberdade é a única dessa seleção que foi composta logo após a

Revolução dos Cravos e traz uma temática relevante em relação ao período português que sucedeu o regime ditatorial. Composta e lançada por Sérgio Godinho (um dos

entrevistados) no seu disco À Queima-Roupa, ainda em 1974, logo após o seu retorno a

Portugal, foi um enorme sucesso por realçar os problemas que Portugal estaria enfrentando e por ser um dos primeiros discos da fase do PREC, o teor das composições

reforça a preocupação com a política e com o país naquele período significativo que deveria ser de mudanças. Esta canção é ainda muito lembrada atualmente, por discorrer sobre desigualdade social, tema que continua recorrente em esfera global:

Viemos com o peso do passado e da semente Esperar tantos anos torna tudo mais urgente e a sede de uma espera só se estanca na torrente e a sede de uma espera só se estanca na torrente

Vivemos tantos anos a falar pela calada Só se pode querer tudo quando não se teve nada

Só quer a vida cheia quem teve a vida parada Só quer a vida cheia quem teve a vida parada

Só há liberdade a sério quando houver A paz, o pão

habitação saúde, educação

Só há liberdade a sério quando houver Liberdade de mudar e decidir

quando pertencer ao povo o que o povo produzir quando pertencer ao povo o que o povo produzir

A canção contém quatro estrofes, sendo as duas últimas apresentadas como ‘refrão’. Contém quatro versos em cada, podendo ser regulares e/ou livres, devido à mudança da contagem da sílaba métrica nas duas últimas estrofes. Nas duas primeiras quadras, todos os versos contêm quatorze sílabas métricas, e no refrão, podem variar entre quatro e quatorze. As rimas são emparelhadas, sendo a primeira estrofe: AAAA, a segunda BBBB, e, no refrão, segue a ordem: CDDD CEEE. As rimas das duas primeiras

quadras são graves, formadas apenas por paroxítonas, enquanto as rimas do refrão são

todas agudas, por serem oxítonas. Todas as rimas são externas, por aparecerem ao fim de

cada verso e perfeitas ou consoantes, por apresentarem correspondência total de sons.

A canção segue um estilo bem diferente dos estilos vistos em Zeca Afonso e

Adriano Correia de Oliveira, sendo esta com um ritmo mais acentuado para o rock e folk,

com o acompanhamento de viola, baixo, guitarra elétrica, bateria, além de outras duas vozes. A letra serve como aviso tanto à população quanto aos “militares’ que tomaram o poder em abril de 1974, pois mostra um conjunto de aspirações do povo que vivenciou uma repressão por mais de quarenta anos e agora, diante da perspectiva da mudança,

o cantautor mostra situações vividas no país naquele período, como veremos estrofe por estrofe:

Viemos com o peso do passado e da semente Esperar tantos anos torna tudo mais urgente e a sede de uma espera só se estanca na torrente

e a sede de uma espera só se estanca na torrente

Já no primeiro verso, ocorre uma antítese e um tipo de metáfora (catacrese) ao revelar “o peso do passado e da semente”. A antítese é descrita pelo tempo “passado” e o substantivo “semente”, que nesse caso, pode fazer alusão a algo que ocorrerá no futuro. E o “peso”, nesse caso, não se refere a um peso comum, volume, mas de uma “força”, “gravidade”, provocando uma catacrese ao utilizar uma palavra no lugar de outra mais adequada: o “peso”, nesse caso, pode trazer dois sentidos: 1. o “peso” do país, que o próprio Salazar deu à História portuguesa, com toda a contribuição de Portugal em relação às grandes navegações e conquistas do passado, e 2. faz alusão ao “fardo” que Portugal carregou nos últimos quarenta anos de opressão. Assim, tanto em um sentido como em outro, esse peso “aumenta” em relação ao futuro, pois há a expectativa das pessoas de voltarem à época dos grandes avanços, em que a nação se mostrava próspera; ou ainda, quanto a sentir uma necessidade de haver (finalmente) um presente ou futuro favorável às pessoas, após mais de quarenta anos na opressão.

No decorrer da canção, percebe-se que a leitura mais apropriada é em relação à segunda hipótese, especialmente com o segundo e terceiro versos. O segundo verso também apresenta uma antítese com a “espera de tantos anos” e “urgente”, referindo ao tempo da ditadura salazarista. Pela história portuguesa, desde a queda da monarquia, em 1910, pode-se dizer que Portugal esteve sempre à espera dessa mudança que parecia vir e não somente em relação ao período em que Salazar esteve no poder. No terceiro e quarto versos (repetição) vemos outra figura metonímica utilizada por Sérgio Godinho, ao afirmar que a “sede de uma espera só se estanca na torrente”.

Nesse caso, a sede pode se referir a um anseio de um povo, a uma série de expectativas que as pessoas têm em relação a Portugal, que só será boa caso seja concretizada; e ao mesmo tempo, essa “sede” também faz parte da necessidade de sobrevivência, pois, sem “água” uma pessoa não sobrevive, e no caso da canção, sem as necessidades básicas, também não. Muitos que emigraram foram a procura de trabalho,

liberdade e vida melhor para a família, caso contrário, não viveriam. Essa sede, essa necessidade de sobrevivência só seria saciada com a melhoria em todas as áreas, e na canção, a palavra “torrente”, vem confirmar essa ideia, pois, como uma “enxurrada de água”, mostra que a melhoria não seria suficiente em apenas um ou outro setor, e sim, em muitos setores, de tão atrasado que o país se encontrava.

Vivemos tantos anos a falar pela calada Só se pode querer tudo quando não se teve nada

Só quer a vida cheia quem teve a vida parada Só quer a vida cheia quem teve a vida parada

Mais algumas figuras de oposição são exploradas nessa estrofe, começando pelo paradoxo logo no primeiro verso, ao “falar pela calada”. O silêncio do povo reflete a censura, já que, na verdade o povo não esteve em silêncio, mas sim, foi silenciado. Por meio da censura e do silêncio forçado, as pessoas exprimiam o que de fato estava ocorrendo, e esse ato, por si só, já era uma forma de “denúncia” ao mundo. O segundo verso mostra novamente a ansiedade das pessoas de desejarem tantas coisas (tudo),

porque nada tiveram, mostrando outra antítese. Assim, a vida cheia - que antes não era,

por falta de emprego, de voz, de saúde - hoje é uma vida que se deseja plena, com trabalho, saúde, disposição e uma participação mais efetiva na luta. A repetição dos dois últimos

versos reforça a necessidade de uma mudança, além da anáfora, que ocorre com a

repetição das iniciais “só”, em três dos quatro versos.

Só há liberdade a sério quando houver A paz, o pão

habitação saúde, educação

A anáfora continua no refrão iniciado com a partícula adverbial “Só”. Nele, o poema traz o que mais se exigia pelos portugueses quando do fim da ditadura: a “Liberdade”. A canção reforça que a liberdade real só existe mediante a existência de todos os aspectos que não eram possíveis de se ter com o regime salazarista. Como

exemplifica a canção: a paz (alusão à guerra que ainda ocorria), o pão (metonímia para

não era uma realidade para todas as pessoas); a saúde (melhoria no sistema de saúde, melhores hospitais) e a educação (melhoria e reforma no sistema de ensino)

Só há liberdade a sério quando houver Liberdade de mudar e decidir

quando pertencer ao povo o que o povo produzir quando pertencer ao povo o que o povo produzir

Com a imposição da censura durante o regime as pessoas não tinham o direito de intervir e nem de reivindicar mudanças, após o Golpe Militar, as pessoas esperavam que, com a instauração da democracia, passassem a ter o direito de participar ativamente das mudanças. O último verso encerra o poema referindo-se à injustiça da má distribuição de renda.

O antagonismo presente na canção refere-se a uma gama de expectativas que não foram concretizadas durante o salazarismo, e pareciam não se concretizar após a queda do regime. Se a liberdade é tão desejada pelo povo, significa que durante todo o regime salazarista as pessoas não se sentiam livres: se o regime acabou, a ideia, ou a expectativa, era de que a liberdade fosse, enfim, conquistada também. Mas a canção adverte que essa autonomia só seria conquistada de verdade, uma vez que todos os percalços e problemas advindos com o salazarismo fossem igualmente extintos. Além disso, a liberdade não seria de verdade: de que valeria uma liberdade com as expectativas frustradas? O que seria a liberdade, se, no fim, as pessoas teriam de permanecer caladas e sem o poder de decisão? Ou, ainda, se não houvesse investimentos nas áreas prioritárias, que realmente seria a solução para as melhores condições de vida? Esse livramento causaria a verdadeira ruptura entre o passado e o presente, mas essa ruptura só seria quebrada quando todos os outros problemas citados na canção fossem vencidos também.

Essa canção foi uma forma de as pessoas perceberem que uma mudança não acontece rapidamente, como todos esperam. Antes, é preciso que se lute para que ocorram de maneira eficiente e gradativa, especialmente com ação do povo. A letra dessa canção é ainda hoje recorrente em Portugal, não somente como uma forma de protesto contra a desigualdade social, mas também em ocasiões em que se exaltam a conquista da liberdade – ainda que parcial. A seguir, uma imagem retirada de um muro comemorativo de Abril, que estampa as letras mais conhecidas da canção de Sérgio Godinho:

Figura 32 – Muro Liberdade88

Coletivo PCP da Figueira da Foz “Paz, pão, habitação, saúde, educação”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao término da pesquisa, faz-se necessário destacar a relevância do papel da música de intervenção na dinâmica da sociedade global e, neste caso em particular, no contexto português. Retomando a epígrafe com que se abre este estudo, como canta Chico Buarque, “sei que há léguas a nos separar”, mas essa distância Brasil – Portugal deveria ser somente geográfica. Com essa perspectiva, propiciada pela ideia de lusofonia que aqui se adota (cf. Brito 2010 e 2013), quanto mais nos aproximarmos da história, da cultura, das experiências dos outros espaços lusófonos, maior a compreensão de nós mesmos. Nessa direção, a lusofonia supõe o conhecimento e reconhecimento da história e da cultura de outros países que falam a nossa língua, considerando, nesse caso, Portugal como um componente do espaço lusófono, pois falar de lusofonia não é apenas falar da África “portuguesa” ou de Timor-Leste; é falar, também, da matriz. Compreender a história portuguesa oferece suporte para que nós, brasileiros, possamos entender também a literatura, a música e a identidade, de tal forma que as reconheçamos junto de nós, como

parte de nós. E prossegue Chico Buarque: “Sei também quanto é preciso, pá, navegar”

para que esse conhecimento seja melhor difundido neste “lado do mar”.

Com esse enfoque de base, a presente investigação destacou elementos linguísticos e poéticos de composições portuguesas que contribuíram para uma conscientização política durante o Estado Novo, e que se mantem, ainda hoje, como componente significativo no construto identitário do povo português.

Cada capítulo mostrou a importância para a compreensão das letras analisadas à luz da História Portuguesa e possíveis razões para que cada uma delas tenha posição de destaque no Canto de Intervenção. Percebe-se, primeiramente, que desde o início do Estado Novo, as ideias inculcadas por Salazar tencionavam mostrar um Portugal perfeito, um país de finanças equilibradas, a grandiosidade do Império Português, que exaltava um passado heroico ao fazer referência à Época das Grandes Navegações; um país “pacífico”, por exemplo, ao adotar, estrategicamente, uma posição neutra na Segunda Guerra Mundial. Além disso, com o lema “Deus, Pátria e Família”, assume a importância da submissão a Deus, da veneração à Pátria e do valor do papel de cada membro da família, cabendo ao homem o lugar central e à mulher a os cuidados do lar e das crianças. Todos que se preocupam em desempenhar corretamente suas funções, e seguissem os valores pregados por Salazar, seriam bem-sucedidos, pois segundo mostravam as propagandas

panfletárias e os livros escolares, as imagens apresentavam crianças sempre felizes ao ajudar os pais e as mulheres satisfeitas ao cuidar da casa, enquanto o marido cuidava do campo e da agricultura.

Como visto, se tais valores recomendados traziam satisfação, sucesso e felicidade, as pessoas o obedeciam, pois entendiam que o governo sabia o que era bom para o país e para a população. O aprendizado escolar, restrito e mecânico, facilitava a difusão de tais valores ao passo que as crianças – que seriam a próxima geração – não eram encorajadas a pensarem criticamente.

Para a população mais instruída, ainda que utilizasse meios para reprovar as práticas do governo, a PIDE sabia prontamente como repreender e punir a todos os que se desviavam dos ensinos dogmáticos impostos por Salazar. A população foi por vezes vista como submissa e conformada, porém, entende-se que essa passividade era, na verdade, totalmente controlada pelo governo, para passar uma sensação de que a população era ‘obediente’ porque praticava os seus preceitos. A punição era imediatamente realizada, para que os grupos de oposição ao governo não influenciassem o restante menos instruído e inibissem a insistência de tais práticas. Percebe-se que todo esse conformismo foi, de certo modo, um “mito” de Salazar, elaborado para que não surgissem outros grupos que pudessem desestabilizar o governo e a violência repressiva e punitiva sempre funcionava muito bem a favor do regime.

Ao resgatar valores que engradeciam o país, Salazar criou uma nova identidade portuguesa, e as propagandas idealizadas por António Ferro e o restante das exposições confirmariam a importância dessa identidade. Gradualmente, o regime foi trabalhando esse tipo de nacionalismo e patriotismo forjados, mostrando como deveria ser ‘um bom português’ e como fazer para se sentirem identificadas com o ideário salazarista.

É nesse cenário que a música se revela como uma importante arma contra o governo, pois o aparecimento dessas canções com cariz político alastrou o mundo juvenil politizado e influenciou grupos que antes nunca haviam pensado por tais perspectivas. Mas as canções só tiveram esse poder de influência porque as letras afirmavam as necessidades gerais de um país que não andava em conformidade com o que era passado pelo governo. A nação se mostrava melhor representada a partir das letras das canções, e não por meio dos discursos do regime ou das propagandas exaustivamente veiculadas. Se o retrato da sociedade estava contido na letra das canções, então os discursos de Salazar mostravam uma ideia fictícia de um país que não condizia com a realidade, levando assim, às pessoas a uma maior identificação com as letras, em detrimento do que era

representado midiaticamente. Salazar imaginou um país como ele queria que fosse visto pelos portugueses e pelos estrangeiros, adotando uma figura imaginária que sustentasse suas afirmações, conseguindo, portanto, a adesão das pessoas menos instruídas, prolongando o seu controle sobre o país. Com as canções, ao ver que o país estava representado ali, e que elas passavam exatamente a imagem como as pessoas se enxergavam, originou um conflito identitário causando uma tensão entre as pessoas e o ideário salazarista.

Para ilustrar, veremos como as canções aqui analisadas desmistificaram toda essa ideologia pregada por Salazar, agrupando-as por contexto:

Canção O que Representa Contraste com o Ideário Salazarista

Menino do Bairro Negro

Liberdade

Desigualdade Social

Em quase todos os panfletos em que haviam a propaganda do Salazarismo havia escrito: “Tudo a Bem da Nação”. E os relatórios da PIDE sempre finalizavam “A Bem da Nação”. O bem da nação almejado pelo povo era uma sociedade em que as pessoas tivessem acesso à boa educação, saúde, alimentação e a distribuição de renda fosse justa. Se as pessoas realmente não viam que as necessidades básicas não eram supridas, as canções confirmavam o que de fato ocorria.

Menina dos Olhos tristes

Guerra Famílias desestruturadas

Como um dos lemas, “Deus, Pátria e Família”, e como uma nação de “paz”, Salazar mostraria que tais valores faziam parte do seu governo e da identidade do povo português. Com o início da Guerra Colonial (e a contradição de um dos seus ideais, a paz), desestruturou a população, não apenas em termos identitários, mas também financeira e ideologicamente. Além disso, famílias ficavam incompletas, sem o pai ou sem o filho que haviam ido à guerra.

Grândola Vila Morena

Opressão Superação

Grândola era a canção que trazia o modelo de uma sociedade justa, igualitária e democrática, com

valores utópicos, ao contrário dos princípios criados por Salazar. Se o Estado Novo pregava o autoritarismo e a censura, a canção desfazia desses princípios ao revelar que para o “bem da nação” a sociedade devia seguir os valores que “Grândola” seguia.

Cantar da Emigração

Emigração

Novamente, a realidade desestrutura um dos lemas de Salazar que exaltava a família e o trabalho na agricultura. Com a emigração (forçada), e saída de homens, as famílias se viam sem a figura masculina que as sustentariam com o trabalho no campo. Sem trabalho, sem homens, as mulheres viravam “viúvas de vivos” e as crianças, órfãs, abalando a estrutura familiar.

Trova do Vento que passa

Tristeza, Opressão, Resistência

Nessa canção, o país é caracterizado por estar vivendo uma “desgraça”, que pode ser sobre a questão da fome, emigração, opressão, autoritarismo, etc. A tristeza (um dos sentimentos mais utilizados nas canções), também mostra a insatisfação popular de se viver sob tal regime, mas que, ao mesmo tempo, é compensado por ver que há pessoas que resistem e lutam por uma sociedade mais justa.

Os Vampiros

Opressão Má administração

O autoritarismo era pregado por Salazar, mas sob a imagem de que seria uma forma eficaz de alcançar seus objetivos, como a independência política e financeira, sem ter problemas com a oposição. Mas se o país demonstrava estar financeiramente equilibrado, mas ao mesmo tempo faltavam recursos para a população enquanto eles gozavam de seus benefícios, essa má administração denunciava o grave problema do regime. Além disso, a brutalidade com o que a PIDE trabalhava para defender os ideais do regime causava ainda mais a revolta da população.

Vale ressaltar também que as imagens difundidas pelo Estado Novo transmitiam cidadãos aparentemente satisfeitos, mostrando felicidade por estarem vivendo boas condições na pátria. Nas imagens, o salazarismo trazia a conquista, o sucesso, felicidade. A realidade mostrava que as pessoas lutavam pela liberdade, pelo trabalho, pela paz – o que gerava a insatisfação e melancolia. Assim, com a ideia oposta ao que era pregado, mas uma vez as canções se identificavam mais com a realidade das pessoas do que a realidade pregada pelo Estado Novo.

A partir do momento em que as canções atingiram as pessoas – inicialmente jovens universitários – a população passou a enxergar aquela realidade de outra forma e a desconstruir toda aquela identidade que tinha sido criada anteriormente pelo governo.

O sentimento dos cidadãos em cada canção analisada contrasta com o sentimento pregado por Salazar, o que nos faz entender a dificuldade do povo de construir e aceitar a identidade imposta por Salazar, visto que a realidade é exposta de outra maneira:

Música Possíveis motivos de identificação com o público

Menino do Bairro Negro Pobreza e esperança.

Menina dos Olhos Tristes Tristeza, choro, cansaço e luto.

Trova do Vento que passa Desgraça, tristeza e esperança.

Vampiros

Na perspectiva do Governo e da PIDE: Enchem as tulhas; bebem vinho novo; dançam a ronda = Felicidade, Satisfação

Na perspectiva da População: No chão do medo; tombam os vencidos; ouvem-se os gritos; na noite abafada; jazem nos fossos = Medo, grito, opressão e morte.

Cantar da Emigração Solidão e sofrimento.

Grândola Vila Morena Utopia.

A partir da exposição acima se percebe que tudo o que era sustentado pelo salazarismo, foi sendo “desmascarado” pela realidade que muitos se recusavam a ver, seja por conformismo, seja por ignorância ou medo. Como se pôde verificar ao longo deste estudo, o papel que as canções tiveram para essa sociedade foi além de apenas informar: elas desmistificaram a ideologia construída por Salazar, a identidade que demoraria anos para ser produzida, por meio de muito trabalho propagandístico e censura. Inicialmente, muitos ainda aceitavam a imposição e tentavam se identificar com o país criado pelo

No documento CANTO DE INTERVENÇÃO EM PORTUGAL: (páginas 170-200)