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Capítulo 3. – Os Intérpretes

3.1. Rogério Silva de Sousa Nunes

3.1.1. Carreira militar

3.1.5.3. Centro de Informática da Universidade do Porto

Em junho de 1975, os colaboradores do projeto de investigação MP2-II do IAC, Análise Numérica e Ciência de Computadores – Informática, constituíram-se como Grupo Proponente à criação de dum Centro de Informática da UP. Eram eles Rogério Nunes (1975-1986), Francisco de Azevedo Machado (1975-1984), Pedro Regueiras (1975-1980), Miguel Filgueiras (1975-1976), Jorge Madureira (1975-1980) e Fernando Trigo(1975-1984)253. Durante os onze anos que esteve no CIUP, Rogério Nunes exerceu sempre as funções de secretário, tratava das questões de tesouraria, pedia orçamentos, geria verbas, respondia a solicitações administrativas, entre outras responsabilidades. À imagem dos cargos de direção que teve no OAUP e no LACA, não recebia qualquer remuneração.

Na sequência do despacho nº 17/75 de 21 de abril da Secretaria de Estado do Ensino Superior e Investigação Científica, o IAC propôs a homologação de vários centros de investigação, entre eles o CIUP254. Mesmo sem ter ainda sido homologado, o CIUP

começou imediatamente a receber financiamento do IAC, embora seja difícil de perceber se as verbas eram para o CIUP, para o LACA, ou para os dois, uma vez que as linhas de

[acedido a 18 de agosto de 2019] disponível em: http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=20499.

251 RELVAS, Bernardo et al (2016) Restauro Funcional do Círculo Meridiano de Espelho do Observatório Astronómico da Universidade do Porto. In Atas do Congresso Ibero-Americano "Património, suas Matérias e Imatérias, Lisboa: LNEC, página 1. [em linha] [acedido a 6 de fevereiro de 2019] disponível em: https://www.researchgate.net/publication/318542455.

252 Universidade do Porto recupera o maior telescópio português. [acedido a 7 de fevereiro de 2018] disponível em: https://noticias.up.pt/universidade-do-porto-recupera-o-maior-telescopio-portugues/. 253 Arquivo da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Centro de Informática da Universidade do Porto, volume 1 [PT/FCT/INIC/DSE/1025]. Consultado a 24 de abril de 2019.

ação propostas eram, basicamente, a continuação do trabalho feito naquele Laboratório. Mesmo em contactos institucionais, a confusão entre as designações CIUP e LACA era uma constante. Em parecer relativo a uma possível homologação do CIUP, J. J. Delgado Domingos, ao tempo responsável pela instalação das áreas das Engenharias na UNL (Universidade Nova de Lisboa), escreveu: “O LACA constitui, a nosso conhecimento, o primeiro centro universitário de Cálculo Automático do país, e soube, justamente, construir uma firme reputação de qualidade, competência e abertura. Este facto, juntamente com a análise da proposta, leva-nos a recomendar todo o apoio à criação do centro”255.

A partir de 1976, com a extinção do IAC, o CIUP passou a estar dependente do INIC. Esta mudança significou um escrutínio mais apertado por parte daquele Instituto, que incluía diferentes Comissões para avaliação anual de cada centro financiado.

Até 1979, as atividades do CIUP não diferiram muito das do LACA. Existiam algumas linhas de investigação diferenciadas, mas, sobretudo por partilharem as mesmas instalações e o mesmo equipamento, não havia espaço, literalmente, para grandes desvios da linha de investigação comum.

Por essa altura, já estava em desenvolvimento o processo de aquisição de um novo computador para substituir o NCR Elliott 4100. Entre a publicação do concurso, a preparação do caderno de encargos, as apresentações de propostas, os testes de performance e a compra final do computador passaram-se alguns anos. O modelo escolhido foi um Cyber 720, da empresa norte-americana CDC, com 1 megabyte de memória central e 1 gigabyte de disco256. O processo de compra do novo computador foi dirigido por Alberto Amaral, na altura Diretor da FCUP, e por Carlos Madureira257. No

255 Ibidem

256 Para mais informações sobre o processo de compra do Cyber 720 consultar: BEIRA, Eduardo (ed) Protagonistas - Memórias das Tecnologias e dos Sistemas de Informação em Portugal. Braga: Associação Industrial do Minho, 2004. [em linha] [acedido a 31 de janeiro de 2019]. Disponível em: http://www.memtsi.dsi.uminho.pt/entrevistas/protagonistas_completo.pdf.

257 Intervenção de Carlos Madureira [registo vídeo] Seminário memTSI. [acedido a 21 de março de 2019] disponível em: http://www.memtsi.dsi.uminho.pt/protagonistas/madureira.wmv.

entanto, no processo do INIC sobre o CIUP, só Pedro Regueiras258 aparece como fazendo

parte da Comissão Diretiva, e apenas até 1980. O Cyber 720 chegou ao Porto em finais de 1982259. A compra deste computador foi alvo de várias críticas, nomeadamente do

vice-reitor da UP, Francisco Velez Grilo260, mas também de Rogério Nunes. A CDC, havia já apresentado condições à FCUL e ao Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) para fornecimento de uma máquina igual. No entanto, estas duas propostas apresentavam valores substancialmente mais baixos261 do que a proposta apresentada à FCUP. Velez Grilo chegou mesmo a sugerir que o estado estaria a ser lesado em 14000 contos262. O vice-reitor da UP, entretanto nomeado para liderar uma Comissão de Receção e Pagamento do computador, insistiu nas críticas, recusando pagar peças que não constavam da proposta inicial da CDC, bem como um pagamento mensal extra pela manutenção, que estaria, a seu ver, incluído no preço estabelecido263. Por seu lado, Rogério Nunes subscrevia as preocupações de Velez Grilo, fazendo chegar às mãos do vice-reitor, e também de Alberto Amaral264, cópia de uma notícia do jornal Computerworld, de maio de 1982, que informava que a CDC havia encerrado a produção da série 700. Os únicos computadores, desta série, disponibilizados pela empresa, pertenciam ao programa de revenda de unidades previamente alugadas em regime de leasing265. Em novembro de 1983, mais de um ano depois da chegada do Cyber 720, ainda decorria o inquérito sobre os valores a pagar, com Alberto Amaral, pressionado pela CDC Portuguesa, a pedir urgência na regularização da dívida266.

258 Formado pela FEUP. Foi o responsável pelo Centro de Computação da FEUP até meados da década de 1980. Apoiou e incentivou, na década de 1970, a integração dos microcomputadores e microprocessadores na Faculdade de Engenharia. Trabalhou, depois, na informatização da Reitoria da Universidade do Porto. 259 PT/FCUP/SIRN/SC 01/SSC 01.03/SSSC 01.03.05/SR 01.03.05.02/SSR 01.03.05.02.01/01/27/

260 Nasceu em Ervedal (1921-2000). Licenciado em Engenharia Eletrotécnica pela UP. Foi professor da FEUP (1947-1991), diretor da mesma faculdade (1980-1982) e vice-reitor da UP (1982-1985).

261 PT/FCUP/SIRN/SC 01/SSC 01.03/SSSC 01.03.05/SR 01.03.05.02/SSR 01.03.05.02.01/01/28/ 262 Ibidem

263 PT/FCUP/SIRN/SC 01/SSC 01.03/SSSC 01.03.05/SR 01.03.05.02/SSR 01.03.05.02.01/01/44/

264 Nasceu em Fafe (1942-). Licenciado em Engenharia Químico-Industrial pela UP e doutorado em Química Quântica pela Universidade de Cambridge. Desenvolveu investigação na área da Química desde a década de 1960 e foi professor da FCUP (1968-1972 e 1976-2012). Foi presidente do Conselho Diretivo da FCUP (1978-1980 e 1981-1985), e reitor da Universidade do Porto (1985-1998). Jubilou-se em 2012. 265 PT/FCUP/SIRN/SC 01/SSC 01.03/SSSC 01.03.05/SR 01.03.05.02/SSR 01.03.05.02.01/01/24/ 266 PT/FCUP/SIRN/SC 01/SSC 01.03/SSSC 01.03.05/SR 01.03.05.02/SSR 01.03.05.02.01/01/42/

Acreditamos que a resistência colocada por Velez Grilo e Rogério Nunes contribuiu para o desgaste da sua imagem perante parte da comunidade científica da UP. Se bem que consigamos identificar documentação que valida as suas críticas, não temos elementos suficientes para comentar todo o processo. Independentemente dos diferentes contextos políticos ou económicos, os constrangimentos que envolvem uma aquisição dispendiosa como a do Cyber 720 são ubíquos e podem ter contribuído para limitar a margem de manobra de Alberto Amaral, Carlos Madureira e Pedro Regueiras.

Quanto à Comissão Diretiva do CIUP, a partir de 1981, incluiu novos membros, como Maria do Carmo Miranda Guedes (1981-1984), Manuel Rogério da Silva (1981-?), José Gonçalves (1985-?), Luís Manuel Martins Damas (1985-?) e Pedro Lago (1985-?).

Em 1985, após dez anos de existência quase informal, o CIUP é criado oficialmente pelo Decreto Regulamentar 15/85, publicado no Diário da República n.º 47, Série I de 26 de fevereiro de 1985267.

Em junho de 1986, Rogério Nunes abandonou a Comissão Diretiva do CIUP268. Para esta decisão talvez tenha contribuído a transferência do NCR Elliott 4100, entretanto desmantelado, para o Museu da Ciência e Tecnologia de Coimbra. O processo de seleção das peças a enviar, uma vez que, como referimos, tinham chegado a existir duas unidades na Rua das Taipas, ficou a cargo de Luís Damas e de Jorge Madureira269.

Na despedida do CIUP, Rogério Nunes deu mais uma mostra do seu rigor e idoneidade. O saldo bancário que o Centro apresentava era de 5580$00. No entanto, segundo as suas contas, o valor deveria ser de 6011$60. Com tal, ao entregar a pasta, incluiu um cheque pessoal para cobrir a diferença270.

267 Decreto regulamentar nº 15, Diário da República n.º 47/1985, I Série de 26 de fevereiro de 1985 – Cria o Centro de Informática da Universidade do Porto [em linha] [acedido a 20 de abril de 2019] disponível em: https://dre.pt/application/conteudo/327141.

268 Arquivo da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Centro de Informática da Universidade do Porto, volume 4 [PT/FCT/INIC/DSE/1036]. Consultado a 24 de abril de 2019.

269 Livros de atas das reuniões do Conselho Diretivo da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. (1984-1989), folha 35. [em linha] [acedido a 3 de maio de 2019] disponível em: https://repositorio- tematico.up.pt/handle/10405/48006.