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Capítulo 2 Estágio na Biblioteca da FCUP

2.2. Coleção Professor Rogério Nunes

O tratamento da Coleção Professor Rogério Nunes, uma doação mista, com espólio bibliográfico e documental, foi o primeiro trabalho deste género a ser realizado nesta biblioteca. Existem outras doações com características semelhantes, mas que aguardam ainda a alocação de recursos humanos para serem trabalhadas.

A Coleção ocupava sete estantes no piso -2, ou depósito 3, do edifício do Departamento de Matemática da FCUP, onde se localiza a Biblioteca. A nossa primeira visita àquele espaço ocorreu precisamente a 12 de fevereiro de 2019. Trata-se de um espólio significativo, com uma parte bibliográfica, onde se incluíam monografias,

periódicos e artigos científicos, e uma parte documental guardada, na sua maioria, em caixas porta revistas. O espaço total ocupado cifrava-se em cerca de 33 metros lineares.

Rogério Silva de Sousa Nunes foi aluno de licenciatura na FCUP entre 1939 e 1947, e professor nesta mesma instituição entre 1947 e 1990. A sua longevidade como docente, por si só, justificaria o interesse no estudo da doação. Uma carreira que experienciou seis décadas do ensino superior português, diferentes correntes de pensamento, diferentes contextos políticos, e o inexorável progresso do conhecimento, da tecnologia e das características sociais do país.

Foi, portanto, com agrado que a FCUP recebeu a doação deste espólio, uma vontade expressa em vida por Adriana Barreiro de Sousa, esposa de Rogério Nunes, e sua viúva desde 2000, cumprida postumamente pelos seus herdeiros, em fevereiro de 2013, dias depois de ser lavrada a respetiva habilitação de herdeiros30, a 12 de fevereiro do mesmo ano.

Como já referimos, a BFCUP, que serve todos os departamentos da Faculdade, foi criada apenas em outubro de 2012, poucos meses antes desta doação se concretizar. Estavam em curso diversos trabalhos decorrentes da junção das bibliotecas de cada departamento bem como as bibliotecas de outras instituições dependentes da FCUP, tais como o Instituto Geofísico da Universidade do Porto, o OAUP, a Estação de Zoologia Marítima Dr. Augusto Nobre, entre outros. O estudo desta doação, e não só, entre outras, não foi, nem podia ser, uma prioridade.

As informações iniciais que nos foram dadas, ainda durante a preparação do projeto na FLUP, apontavam para um conjunto bibliográfico e documental que não havia recebido qualquer tipo de tratamento e que se referiria apenas ao Professor Rogério Nunes. Adicionalmente, o material estaria numa ordem relativa exata, espelhando o modo como se encontrava na última residência de Rogério Nunes no Largo Soares dos Reis, nº 46, 3º D, em Vila Nova de Gaia. Teria apenas sido alvo de recolha e transporte por uma empresa especializada. Pelo que sabíamos, quando tivemos pela primeira vez acesso à

30 Foi lavrada escritura de habilitação de herdeiros, em 12 de fevereiro de 2013, no cartório do Dr. Jorge Costa e Silva, Barcelos. Livro nº 338-A, folha nº 144. Assento de Óbito nº 817 do ano de 2012. Conservatória do Registo Civil de Barcelos. Processo nº 11713/2012. Obtido a 13 de março de 2019.

Coleção, não só a ordem era a original, como as caixas porta revistas onde se encontrava a documentação haviam vindo da casa de Rogério Nunes. Convém, neste ponto, referir, que a responsável pela receção e arrumação da doação já não se encontra ao serviço da FCUP.

Imagem 2 – Aspeto da Coleção Professor Rogério Nunes, a 20 de fevereiro. Foto Nuno F. Machado.

Na imagem 2, pode-se observar o espaço que continha todo o espólio, no extremo nascente do piso -2 do edifício de Matemática da FCUP, após as duas primeiras viagens de recolha de livros.

À medida que o fundo foi sendo tratado, fomos constatando algumas imprecisões na informação dada inicialmente. Existiam espécimes bibliográficos pertencentes, ou mesmo da autoria, de Adriana Barreiro de Sousa, e também documentação a ela relativa. Apesar de tudo, o material ligado a Rogério Nunes estava em grande maioria. De igual modo, quando se deu início ao tratamento da parte documental, não só confirmamos haver elementos relativos a Adriana Barreiro de Sousa, como foi possível fazer uma outra

descoberta. As caixas porta revistas, do lado virado para a parede, tinham etiquetas descrevendo os seus conteúdos anteriores, nomeadamente, pelo que foi possível aferir junto da Dra. Célia Cruz, periódicos de botânica e biologia, das antigas bibliotecas de departamento da FCUP. Estava, assim, desconstruída a ideia de que a divisão da documentação existiria já antes da doação. Apenas podemos especular sobre se, pelo menos, a ordem da documentação foi mantida. O que se foi percebendo é que não era possível ligar cada caixa a um tema, uma série. Salvo alguns documentos compostos, que foram descritos a esse nível, muita da documentação encontrava-se dispersa, por vezes com alguma ordem, outras nem por isso.

A nível da documentação, as principais tipologias são os elementos que contêm apontamentos, de diferentes temas e cronologias, os elementos de avaliação, as pautas de alunos e os artigos científicos. Todas estas acima das cem unidades. A nível da correspondência, apresenta um número relativamente reduzido, cerca de 80 elementos, a maioria dos quais de teor institucional. A nível da autoria, Rogério Nunes produziu, ou coproduziu, cerca de 60031 documentos, Adriana Barreiro de Sousa pouco mais de duas dezenas. A nível dos elementos avulsos, as principais tipologias são os elementos de avaliação, com mais de 300 elementos, e as faturas/recibos, com mais de duas centenas e meia de exemplares. Mais uma vez a correspondência é reduzida, cerca de 100 elementos, e principalmente institucional. Quanto à autoria, tanto Rogério como Adriana foram responsáveis por cerca de duas centenas de elementos.

Após o tratamento de todo o fundo, contabilizamos 4774 itens, 1998 espécimes bibliográficos, 1228 elementos documentais e 1548 papéis avulsos, de tipologia variada, que se encontravam dentro dos livros. Foi este o número final32 obtido, que foi alvo de

recenseamento e/ou descrição. A cronologia dos livros varia entre 1723 e 2002 e a documental entre 1932 e 2001. Na sua maioria, têm Rogério Nunes e Adriana Barreiro de Sousa como produtores ou destinatários, ou referem-se à sua atividade. No que diz

31 Aproximadamente 200 assinados, os restantes inferidos por dados constantes, tipo de letra, ou outra informação externa.

32 Existem alguns livros em exposição numa mesa no piso -2 entre a Coleção Professor Rogério Nunes e a Coleção Professor Ruy Luís Gomes. Como não estão assinados não é possível afirmar taxativamente a que coleção pertencem.

respeito ao espólio bibliográfico, a Coleção é riquíssima nas áreas da Matemática, Astronomia, Geodesia e Informática, mas também em Física e Química. Existem volumes que são ainda essenciais para o currículo atual de licenciaturas ministradas na FCUP. Outros são exemplares raros no nosso país, nomeadamente edições estrangeiras das décadas de 50 e 60 do século passado33.

Ainda relativamente a esta doação, parece-nos que, claramente, ela não descreve uma realidade natural de um arquivo pessoal. Salvo raras exceções, que terão escapado, existem poucos elementos de índole mais pessoal. Existem indícios de troca de correspondência, mas estes limitam-se a cartões de visitas, ou pequenas cartas, maioritariamente encontrados dentro de livros. Fica a clara noção de que o espólio foi alvo de escrutínio, tendo sido deixada, para além dos livros, documentação ligada, sobretudo, à vida profissional do casal. Sobre a veracidade desta opinião e sobre quem teria feito a separação da documentação, a ter acontecido, apenas podemos especular. Fica, no entanto, uma observação do Professor Francisco Calheiros, informando-nos que Rogério Nunes deixou escolhidas as fotografias pelas quais queria ser recordado.