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Centro de Operações Rio (COR)

O Centro de Operações do Rio (COR) está localizado a 500 metros do CICC, no bairro de Cidade Nova. Construído simultaneamente com o CICC, o COR cumpre muitas das funções do seu “irmão” do estado mas pertence à Prefeitura do Rio de Janeiro. Conforme entrevistas realizadas com funcionários, o COR é fruta de um encontro entre o prefeito Eduardo Paes e o então prefeito de Nova Iorque Michael Bloomberg. O Bloomberg tinha instalado um centro operacional para lidar com emergências civis e a avaliação de processos urbanos. Depois das chuvas que atingiram o Rio em Abril de 2010, a prefeitura conseguiu capturar recursos federais para a construção do COR que foi inaugurado em 31 Dezembro de 2010.

Inicialmente o COR contava com 150 câmeras, mas até o final do ano 2011 tinha 600 espalhadas pela cidade. Além de cobrir as princi- pais vias de aceso à cidade, a cobertura concentrava-se na Zona Sul, Centro e nos arredores do Maracanã. Mesmo com um aumento no número absoluto de câmeras para 800 para a Copa do Mundo e um projeto de ter 1500 até as Olimpíadas, a cobertura da cidade vai conti-

nuar ter sérias embalanças, privilegiando ainda mais os controles dos fluxos nas zonas mais nobres da cidade.

No processo de instalação do COR a prefeitura procurou entender outros sistemas implementados nas grandes cidades ao redor do mundo. Com essa busca, abriu-se uma conversa com a empresa IBM para testar seus sistemas de “smarter city”(Söderström, Paasche, e Klauser 2014; IBM 2011). A ideia do smarter city é que os funcio- nários do IBM viessem para três semanas para instalar um sistema para monitorar a cidade. No caso do COR, não deu certo porque as tecnologias do IBM não foram adequadas as necessidades da cidade do Rio. Conforme as entrevistas feitas com funcionários do COR, o software do IBM foi rejeitada em favor de uma elaboração própria da empresa municipal PENSA. Em vez de entrar uma parceria com IBM, a prefeitura do Rio fechou uma contrapartida com Samsung, empresa coreana que recebeu benefícios financeiros para providen- ciar telões, computadores e suporte técnico para o novo sistema. O COR também conta com uma parceria com Google Earth, que provi- dencia o framework para georeferenciamento. A notável presença das maiores empresa tecnológicas do mundo na construção de um sistema que governa as circulações da cidade é ainda mais evidencia da natu- reza globalizada dos sistemas de inteligência e suas articulações em função dos megaeventos esportivos.

Durante a Copa do Mundo o COR publicou boletins várias vezes por dia sobre as operações sendo por ele coordenadas. Contrário ao CICC, o COR tem uma plataforma on-line que providencia informações para a população. Além de demonstrar o transito em tempo real, o COR publica alertas sobre incidentes na cidade, condições meteorológicos e as interdições, operações e outros intervenções não comuns na cidade.

Semelhante ao CICC, o COR é um lugar que congrega diferentes órgãos do governo para articular respostas, monitorar as circulações da cidade e planejar operações especiais. Conforme nossas entrevistas, a integração de todas as agencias da cidade é o principal ganho do COR. Mesmo assim, o COR não conta com a colaboração de todas as concessionárias das linhas de transporte. Uma ausência particular- mente notável é da empresa CCR, que é o detentor das concessões das barcas, a ponte Rio-Niteroi, e as principais vias de ingresso e egresso a cidade (Rodovia Washington Luís, Arco Metropolitano e Presidente Dutra). Essas lacunas são agravadas pela ausência de cooperação com

o NITrans de Niterói, cidade vizinha e polo gerador de dezenas de milhares de viagens diárias ao Rio.

Apesar dessas lacunas na cobertura metropolitana que limitam uma visão mais completa das circulações da cidade, todas as outras concessionarias e agencias da cidade tem uma pessoa de plantão 24 hours por dia 365 dias por ano. A prefeitura gasta aproximadamente R$1.5 milhão por mês em custos operacionais, e conforme os relatos da organizadores da Copa do Mundo e entrevistas feitas com funcio- nários, o COR funcionou muito bem durante o mês do evento. Os relatos operacionais são disponíveis para a população consultar e o processo de integração já melhorou o tempo de resposta em situações emergenciais. O COR é uma ferramenta flexível e útil para a prefei- tura da cidade entender o que está acontecendo na cidade, planejar para eventos especiais e monitorar e controlar as circulações da vida cotidiana com mais eficiência.

Mas o desenvolvimento desta ferramenta de biosegurança enfrenta graves problemas na sua mais completa realização. Ideal- mente, os dados do COR e do CICC articulariam para desenvolver mais conhecimento sobre a cidade para melhorar sua infraestrutura, identificar bloqueios e entraves, e para planejar a cidade no longo prazo. Infelizmente, a competição política entre o governo do estado e da prefeitura impede que os dois centros colaborassem. Em ambas as visitas, notava-se um certo desprezo no tom de conversa sobre a outra instalação. Outros conflitos apareceram nas informações dadas em relação as responsabilidades de cobertura urbana, quais funções pertenciam a cada um, e no papel de planejamento e execução das operações de segurança pública durante a Copa do Mundo.

Embora que possuem quase as mesmas informações e que reúnem as mesmas agencias, os mandatos dos centros são diferentes. O CICC é responsável para segurança pública e o COR para operações urbanas. Mas, com um evento com o nível de complexidade de planejamento como a Copa do Mundo, não há grandes distinções entre as duas coisas. Embora que não há informação evidente sobre outras cidades da região metropolitana, o CICC é responsável para o estado do Rio de Janeiro enquanto o COR é claramente limitado ao capital. A falta de integração com outras municipalidades da região metropolitana e a ausência de grandes vias na cobertura de tráfego faz com que estes dois sistemas enfrentam severas limitações como ferramentas de biossegurança.

Mais preocupante é o fato que nenhum dos dois centros contri- buem informação para uma base de dados que poderia ser empre- gado para fornecer informação para planejamento urbano de médio e longo prazo. Não é só que os dois centros não compartilham infor- mação entre si, mas que os processos de planejamento da prefeitura e do estado estão reféns às interesses políticas. Para ter mais integração dos sistemas é preciso ter acordos políticos entre prefeituras e também entre subprefeituras da cidade. Se algumas agências não estiver no campo político do prefeito, elas não serão incluídas nos processos de planejamento. Um outro grave problema em ambos os centros é a falta de continuidade de gestores quando os gestores municipais e estaduais mudam. O maior funcionamento dos sistemas COR e CICC também enfrentam as velhas dificuldades de corrupção, falta de boa vontade na parte das empresas terceirizadas e a precária infraestrutura da cidade como um todo.

Em ambos os centros de comando e controle, os gestores afir- maram que os centros melhoraram muito a capacidade de planeja- mento e gerenciamento dos megaeventos esportivos, particularmente nos campos de segurança pública e planejamento estratégico para os eventos. Mas em ambos os casos, as informações coletadas sobre a vida cotidiana da cidade não estão sendo empregadas para superar as difi- culdades cotidianas de engarrafamento, congestão e violência.