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Os Jogos Olímpicos e o “não legado” do Pan

Ainda que haja uma prioridade do poder público em investir em novos equipamentos esportivos de alto rendimento, os melhores atletas não têm equipamentos adequados para treinar na cidade do Rio de Janeiro. Não contando as instalações destruídas ou fechadas por causa da Copa do Mundo, somente em 2013 foram fechados o Parque Aquático Maria Lenk e o Estádio Olímpico João Havelange, localizado no bairro do Engenho de Dentro. O Velódromo Municipal, construído para o PAN, foi destruído.

O Parque Aquático Maria Lenk foi um equipamento construído em 2007 para abrigar as competições de esportes aquáticos, ao custo de R$ 85 milhões com recursos públicos. Contudo, aquilo que serviu para os Jogos Pan-Americanos, não servirá para os Jogos Olímpicos, que tem como prerrogativa do Comitê Olímpico Internacional, uma instalação que abrigue cerca de 15 mil espectadores e que tenha um teto coberto. A falta de teto proibiria que os recordes mundiais que deveriam caracterizar todos os jogos olímpicos (como parte da lema

altius, citius, fortius) sejam possíveis uma vez que o controle das condi-

ções ambientais faz-se necessário para a modalidade. Assim, o Maria Lenk somente será palco das competições de polo aquático. Com o principal palco de natação descartado, uma piscina temporária no Forte de Copacabana abrigará as provas de saltos ornamentais. Com o fechamento temporário da piscina do Julio Delamare e as obras em andamento no Maria Lenk, o Rio de Janeiro está sem espaços de trei- namento para atletas dos desportos aquáticos.

O Estádio Olímpico João Havelange foi construído a um custo de R$ 380 milhões para receber as competições de atletismo e, poste- riormente, concessionado para uso como estádio de futebol pelo Bota- fogo. O custo de construção foi cinco vezes maior que o orçamento inicial e a construção em si foram marcados pela falta de diálogo com as comunidades vizinhas e a ausência de planejamento urbano (Maga- lhães & Rangel 2006). Conforme investigações levantadas logo depois da realização do PAN, os benefícios prometidos para a população local, “parecem consolidar-se apenas para o setor imobiliário, que se apropriou da condição favorável criada pelo executivo municipal” (Bienenstein et al. 2011, 184). Essa análise é consistente com outros exemplos que identificam os megaeventos esportivos como vetores

fundamentais para a valorização do mercado imobiliário das cidades- sedes (Shaw 2008; Raco 2014; Observatório das Metrópoles 2012).

Logo depois do PAN o Botafogo Futebol e Regatas assinou uma concessão com a prefeitura do Rio para gerenciar o Engenhão. O clube mudou o nome do estádio para Stadium Rio. Essa tentativa de fazer marketing esportivo deu sinal de que um eventual contrato de

naming rights poderia ser assinado. Desde quando o Maracanã entrou

em obras para a Copa do Mundo em Outubro de 2010, o Stadium Rio foi a principal referência de jogos de futebol na cidade e ainda recebeu alguns shows de artistas internacionais como Paul McCartney e Roger Waters. As temporadas de 2011 e 2012 foram bastante lucrativas para o Botafogo, uma vez que o clube possuía um monopólio sobre está- dios de futebol com capacidades acima de 20.000 espectadores. Só que desde março de 2013, ele está interditado por conta do laudo da auditoria de uma empresa alemã, contratada pelo consórcio que fina- lizou a construção do estádio (formado pelas empresas Odebrecht e OAS, tendo em vista que a empreiteira Delta abandonou o projeto), que apontou problemas na cobertura do estádio, que colocariam o público em risco em caso de ventos e chuvas fortes. Por isso, o Bota- fogo utiliza apenas a estrutura de vestiários, sala de musculação e o campo anexo para a realização dos treinos. O torcedor carioca viu diversos jogos serem transferidos para outras cidades por conta da ausência de estádio adequado.

Com o Engenhão ainda fechado em 2014, o Botafogo assinou um acordo com o concessionário do Maracanã para os próximos 30 anos, deixando o Engenhão sem utilidade para o futebol. A principal razão para a mudança foi a maior rentabilidade do Maracanã para o clube (L. G. Moreira 2013). Essa rentabilidade está na contramão dos outros clubes cariocas que estão vendo suas despesas aumentar e suas receitas cair com o novo Maracanã (Torre 2014). Embora o Engenhão esteja em reformas para os jogos olímpicos, a utilidade do estádio no período pós-2016 é duvidosa. O Botafogo F.R. estuda entrar na justiça contra a Prefeitura, pois calcula um prejuízo de cerca de R$ 45 milhões causado pelo fechamento do Engenhão. Estaria o clube, na época da interdição, próximo também de assinar um acordo de naming rights.

O caso do Velódromo Municipal chama a atenção pela lógica da produção destrutiva de equipamentos esportivos, pois, erguido para sediar as provas de ciclismo de pista e de patinação, o custo para se

adequar às exigências da competição olímpica seria semelhante ao de construir uma instalação nova (cerca de R$ 130 milhões). Três fatores determinaram a decisão de fechar a instalação, em relação a seu uso nos Jogos Olímpicos: as duas colunas de sustentação que impediam a perfeita visualização da pista; a capacidade de público – 1.500, em vez dos 5.000 exigidos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI); e a inclinação da pista, que deveria mudar para proporcionar mais velocidade para as bici- cletas (Romanelli 2013). Além do mais, o Velódromo abrigava o Centro de Treinamento da Ginástica Artística da seleção brasileira. O esporte que, além de contar com essa baixa, também recebeu um duro golpe após o incêndio do ginásio do Flamengo, o que diminuiu ainda mais o número de espaços destinados para receber os atletas.

Os Jogos Olímpicos de 2016 e os novos equipamentos