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Centros de incubação e parques de ciência e tecnologia

No documento Spin-offs académicas em Portugal (páginas 93-95)

CAPÍTULO IV POLÍTICAS E PROGRAMAS PÚBLICOS DE APOIO AO

2. Programas públicos de apoio à criação e desenvolvimento de spin-offs académicas

2.1. Centros de incubação e parques de ciência e tecnologia

No que se refere aos instrumentos de apoio às ASO mais comuns destaca-se a criação de centros de incubação, em alguns casos associados a Parques de Ciência e Tecnologia e que na maioria dos casos são propriedade individual ou conjunta de entidades públicas, como sejam as universidades, ou outras entidades ligadas ao sistema de apoio ao empreendedorismo qualificado (Siegel et al., 2003a; Meyer, 2003; EC, 2002; Bathula et al., 2011; Dee et al., 2011; Ganotakis, 2012).

Os parques de C&T e as incubadoras têm vindo a ser criados um pouco por todo o mundo como estruturas de apoio e estímulo à atividade económica. Tradicionalmente ligadas à criação de emprego e de riqueza (Amirahmadi & Saff, 1993; Phan et al., 2005) acredita-se que estas estruturas podem ser um veículo efetivo de interação entre a universidade e a indústria (Vedovello, 1997; Link & Scott, 2003; Marques et al., 2006). O sucesso de parques de C&T como os de “Sillicon Valley” na Califórnia, “Route 128” em Massachussets (Castells & Hall, 1994; Saxenian, 1994), o “The Resarch Park Triangle” na Carolina do Norte (Link & Scott, 2003) e Cambridge no Reino Unido (Koh et al., 2005) têm influenciado outros países a replicar estes modelos tal com acontece no Kuwait (Al-Sultan, 1998), Brasil (Cabral & Dahab, 1998), Rússia (Kihlgren, 2003), Taiwan (Lai & Shyu, 2005), India (Vaidyanathan, 2008), Israel (Rothschild & Darr, 2005) e China (Watkins-Mathys & Foster, 2006). O mesmo acontece com as incubadoras de negócios (Barrow, 2001). De acordo com a NBIA (The National Business Incubation Association), em 2012 havia aproximadamente 1250 incubadoras nos EUA o dobro das existentes em 1998 (NBIA, 2014) e cerca de 900 na europa, de acordo com dados da EU (EC, 2002).

Em geral, os centros de incubação disponibilizam espaço, equipamentos e serviços de uso partilhado para instalação de pequenas empresas. Através da localização do centro, procura-se estimular a interação entre as empresas instaladas e as entidades do sistema científico e tecnológico, com especial enfase nas universidades. A sua função primária é apoiar a comercialização do conhecimento através de iniciativas empreendedoras e inovadoras, que catalisem outros processos e iniciativas empresariais geradoras de valor acrescentado. A sua existência numa determinada região atua por vezes como estímulo à transferência de conhecimento que de outro modo não aconteceria, constituindo assim, por esta via, um mecanismo que pode ter importantes efeitos de adicionalidade no desenvolvimento económico local ou regional (Feldman, 2001; Fritsch, 2011).

Meyer (2003) verificou que o apoio de incubadoras a empresas baseadas em ciência é importante fruto dos instrumentos e mecanismos de apoio que colocam à disposição dos empreendedores, nomeadamente apoio na angariação de financiamento, apoio ao plano de negócio ou apoio de consultoria. Também Bathula et al. (2011) demonstraram que os apoios de incubação desempenham um papel positivo no desempenho das ASO, desde que tenham associados estruturas e serviços qualificados, como escritórios compartilhados, acesso a laboratórios de pesquisa, hardware e software, serviços de aconselhamento e acompanhamento, acesso a redes de conhecimento, bem como a

outras empresas start-up. Esse apoio deveria proporcionar à nova empresa um ambiente relativamente estável e uma vantagem sobre as que não podem beneficiar destes apoios. No entanto os diferentes estudos consultados sugerem resultados bastante contraditórios no que se refere à eficácia quer das incubadoras, quer dos parques de ciência e tecnologia que, em alguns tem centros de incubação integrados na sua estrutura. Por exemplo, Siegel et al. (2003a), numa revisão de alguns artigos sobre o efeito dos parques de ciência e tecnologia na sobrevivência e desempenho das empresas concluíram que seria insignificante para o contexto do Reino Unido, em linha com outros autores que realizaram estudos similares para outros contextos (Massey et al., 1992; Amirahmadi & Saff, 1993; Castells & Hall, 1994).

No que se refere a Portugal, num estudo que incluiu 8 Parques de C&T e 7 incubadoras, Ratinho e Henriques (2010) sugerem que os resultados das incubadoras são modestos quer em termos de criação de novas empresas e do seu posterior desempenho, quer no impacto social nas regiões onde se inserem. Atribuem esta baixa contribuição para o desenvolvimento e desempenho de novas empresas ao modelo de gestão dessas estruturas, demasiado baseado no modelo linear de inovação em que o conhecimento flui do produtor de conhecimento (universidades) para as ASO através de um processo com etapas predeterminadas e pouca interação entre as partes. Além disso a relativa juventude das incubadoras é outro fator apontado para a fraca influência destas estruturas no desenvolvimento e desempenho de novas empresas. De acordo com Allen e McCluskey (1990), ciclo de vida médio para que as novas incubadoras possam aprender com as experiências passadas pode chegar a cinco ou seis anos.

Apesar de Ratinho e Henriques (2010) não encontrarem uma influência significativa das incubadoras no desempenho das novas empresas, são todavia reconhecidos alguns casos de sucesso com projeção internacional, nomeadamente a incubadora do Instituto Pedro Nunes com forte ligação à Universidade de Coimbra, o UPTEC da Universidade do Porto ou o Madan Parque com forte ligação à Universidade Nova de Lisboa, todos com prémios internacionais conquistados.

Em síntese, como pudemos constatar, os resultados sobre o papel das incubadoras e dos parques de ciência e tecnologia no desempenho das ASO não são consensuais, parecendo que apenas terão uma influência positiva quando tem associados serviços qualificados e pró-ativos, perdendo essa eficácia quando se restringem á disponibilização de espaço físico e serviços de apoio administrativo, ou quando ainda não têm experiência acumulada.

No que se refere aos programas de apoio estudados e já antes referidos (anexo III), pudemos constatar que na maioria dos casos o apoio à incubação física ou a serviços de incubação não é um apoio direto aparecendo de forma indireta através da elegibilidade de despesas com espaços de instalação, consultoria, acompanhamento, ou apoio ao plano de negócios.

Por último verifica-se que no geral as universidades tendem a disponibilizar o apoio de incubação nos estágios iniciais das ASO. Em Portugal a maioria das universidades tem

ligações fortes a incubadoras ou parques de C&T10, normalmente localizados nas proximidades dos campi académicos.

No documento Spin-offs académicas em Portugal (páginas 93-95)