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Políticas públicas de apoio ao empreendedorismo académico

No documento Spin-offs académicas em Portugal (páginas 89-91)

CAPÍTULO IV POLÍTICAS E PROGRAMAS PÚBLICOS DE APOIO AO

1. Políticas públicas de apoio ao empreendedorismo académico

Na revisão da literatura efetuada foram identificados um conjunto de fatores de natureza multifacetada e variada que influenciam o empreendedorismo académico, e o desempenho das ASO, nomeadamente: orientação da política universitária para a transferência de conhecimento; a existência de gabinetes de apoio à transferência de conhecimento e ao registo da propriedade intelectual; a existência de incubadoras; o acesso a recursos tecnológicos e financeiros; o acesso a apoios de consultoria especializada, à elaboração do plano de negócios, à formação em gestão ou à realização da prova de conceito; a existência de políticas universitárias de incentivo à transferência de conhecimento por via da criação de ASO; a composição das equipas de fundadores. Face a esta diversidade de fatores influenciadores, a elaboração de políticas públicas no campo do empreendedorismo como mecanismo de transferência de conhecimento pode tornar-se complexo.

Segundo Stam et al., (2008) a primeira preocupação no processo de formulação de políticas públicas de apoio às novas empresas é que sejam desenhadas de tal forma, que apenas beneficiem delas os empreendedores que se enquadrem no modelo pretendido. Ou seja, se a orientação da política pretende beneficiar, por exemplo, as ASO, então apenas devem ser selecionadas as novas empresas que preencham de forma inequívoca as condições definidas. Se, por qualquer motivo (deficiente desenho do programa, ineficácia do processo de seleção, enviesamento na implementação…), empresas start-

ups que não se enquadram devidamente nas condições definidas, possam vir a ser

aprovados e beneficiem dos apoios concedidos, é muito provável que o resultado que se venha a obter seja diferente ou mesmo contrário ao objetivo perseguido.

Subsidiar iniciativas empresariais que não tenham as características das que se pretendem apoiar, poderia causar uma distorção no processo de seleção natural que se realiza no mercado, mantendo empresas que o mercado não reconhece como viáveis ou atribuindo apoios a novas empresas que deles não necessitam (Navaretti et al., 2002). No seguimento desta linha de raciocínio coloca-se a questão de saber que razões poderão levar os governos a ir além da melhoria das condições gerais de investimento e criação e desenvolvimento de empresas e deixar ao livre arbítrio do mercado a luta concorrencial.

No que se refere às ASO, uma das razões mais comuns para justificar os apoios públicos específicos são as denominadas “falhas de mercado” que acabam por legitimar qualquer política de estímulo à iniciativa empreendedora (Storey, 2003).

Sendo relativamente consensual a necessidade de intervenção do estado para mitigar estas ineficiências no funcionamento dos mercados existem diferentes visões sobre a justificação para essa intervenção, nomeadamente as abordagens neoclássica e evolucionista já descritas no capítulo II.

Apesar de perspetivarem caminhos e quadros justificativos diferentes em termos de intervenção pública, é importante conciliar ambas as perspetivas numa abordagem integrada que conduza a um mix de medidas e instrumentos, capazes de apoiar o desenvolvimento de capacidades intangíveis (aptidões e conhecimentos), e de valorizar os recursos tangíveis investidos pelas empresas que sejam adequados ao contexto específico de cada região ou país (Laranja, 2007).

Estando esta tese orientada para o estudo dos fatores que influenciam o desempenho de novas empresas que sejam spin-offs académicas e a compreensão da forma como as políticas públicas podem incidir diretamente sobre as empresas e indiretamente sobre aqueles fatores, uma questão central é a segmentação dos beneficiários alvo dessas políticas de forma a poderem adequar-se os instrumentos de apoio (Vernon, 1988; Nooteboom et al., 1992). Constata-se que, no panorama atual, a diversidade de características do lado dos projetos empreendedores contrasta com uma certa estandardização dos instrumentos de apoio (Laranja, 2007).

Com efeito, existem relativamente poucos países9 que tenham apoios específicos para este tipo de empresas, sendo que na maior parte dos casos, os apoios às ASO estão incluídos em apoios mais genéricos dirigidos a PME com níveis de capacidade tecnológica muito diferenciados (ver anexo III). Contudo, a análise dos resultados de países que implementaram incentivos específicos para este tipo de empresas sugerem que a focalização dos apoios em ASO, sobretudo no caso em que há serviços de aconselhamento e acompanhamento, contribui substancialmente para o sucesso deste tipo de empresas (Fahrenkrog et al., 1993; Stam et al., 2008).

Outro aspeto de capital importância no âmbito do apoio à criação e desenvolvimento de ASO relaciona-se com as políticas públicas para a ciência, a inovação e a tecnologia. As oportunidades de criação de projetos empresariais inovadores de base tecnológica dependem, em grande medida, da capacidade de produção de novos conhecimentos científicos e tecnológicos num dado contexto ou região. No entanto, sendo uma condição necessária, não é suficiente (Holcombe, 2007). É imprescindível associar-lhe um ecossistema que propicie a sua exploração comercial.

Segundo Acs et al. (2009), a exploração bem-sucedida de resultados da investigação combinada com a transferência e difusão do conhecimento estimula o crescimento e a

9 Referem-se a título de exemplo os programas BTU e TOU na Alemanha, especificamente dirigidos para

pequenas empresas de elevada capacidade tecnológica, bem como o caso dos apoios disponibilizados pelo NUTEK na Suécia, o programa SMART no Reino Unido ou o programa SIBR nos EUA.

prosperidade nas economias modernas, sendo que a política de empreendedorismo é justificada muitas vezes pela importância chave de difusão do conhecimento na sociedade. Deve sublinhar-se, no entanto, que esta política se baseia numa visão excessivamente mecânica do sistema económico, onde o conhecimento flui dos centros de produção para as empresas, sendo estas consideradas repositórios passivos das invenções criadas nos centros de saber (Henrekson & Stenkula, 2009).

Ora, gastos em I&D não produzem automaticamente mais inovações ou mais empreendedores que iniciam novos negócios. Este é apenas o primeiro passo de um processo sistémico e interativo de inovação e comercialização. Sem uma economia empreendedora que funcione bem, o potencial de aumento da I&D pode desvanecer-se pois para que possa traduzir-se em crescimento económico, os empreendedores devem explorar as invenções através da introdução de novos produtos no mercado ou a introdução de novos métodos de produção (Bhidé, 2003).

No entanto, este processo tem subjacentes riscos e incertezas, tão mais elevados quanto maior o nível de disrupção da inovação introduzida no mercado, sendo estes fatores que justificam o apoio público ao empreendedorismo e, no caso presente, ao empreendedorismo de base académica que pode desempenhar um papel importante na conversão e exploração do conhecimento (O’Shea et al., 2005; Locket et al., 2005; Rothaermel et al., 2007; Grilli, 2014)

No que se refere às ASO, os principais intervenientes no processo de definição e implementação de apoios públicos à conversão do conhecimento em valor económico e social são as universidades e outras instituições ligadas à produção de conhecimento. Ora, consoante já foi sublinhado no capítulo II as políticas universitárias de transferência de conhecimento e de apoio à sua conversão e exploração comercial, bem como as estruturas e serviços que disponibilizam aos membros da comunidade académica, são um dos fatores que maior influência deverá ter na criação e posterior desempenho das ASO.

Tendo em conta o exposto, no ponto a seguir apresentar-se-á um resumo das caraterísticas e dos instrumentos utilizados por algumas universidades portuguesas, bem como por alguns programas de apoio aos empreendedores na criação e desenvolvimento das suas empresas, nomeadamente: programas Neotec, Finicia e Portugal Ventures em Portugal; programa Neotec Espanha; programas SBIR e SBTR nos EUA; programa Smart no Reino Unido; programas da AWS na Áustria; e, Futour e Exist na Alemnaha). No anexo III, expõem-se com mais detalhe os programas examinados.

No documento Spin-offs académicas em Portugal (páginas 89-91)