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Os Centros Educacionais Unificados: a tentativa de construção de tempos espaços escolares contra-panópticos.

3 EXPERIÊNCIAS E CONCEPÇÕES DE TEMPO-ESPAÇO ESCOLAR PARA A EDUCAÇÃO INTEGRAL NO BRASIL.

3.2 O tempo-espaço escolar em experiências do século XX e XXI no Brasil: as escolas funcionalistas em questão.

3.2.4 Os Centros Educacionais Unificados: a tentativa de construção de tempos espaços escolares contra-panópticos.

Os Centros Educacionais Unificados (CEUs) foram implementados em São Paulo/SP no ano de 2003 durante a gestão de Marta Suplicy (PT).

A proposta pedagógia dos CEUs e sua configuração arquitetônica tenta superar alguns aspectos tanto da proposta dos CIEPs quanto dos CAICs. Apesar de recuperar a concepção redentora de escola e pensá-la com um equipamento urbano voltado para a inclusão da periferia à oferta de bens e serviços (educação, saúde, lazer, trabalho), aspecto forte nos CIEPs e CAICs, o CEUs procuraram dialogar com a ideia de escola experimental anisiana. Nesse sentido, não adianta apenas a comunidade das periferias ser beneficiadas apenas dentro da escola sem que isso não implique nenhuma

150 transformação fora dela. Procura nesse caso superar a visão compensatória da escola e recuperar seu papel transformador, de modo que a escola pudesse experimentar o cotidiano e o cotidiano experimentar a vida dos sujeitos, como sonhara Anísio. Assim os CEUs seriam polos de desenvolvimento comunitário.

Interessante notar que começa a se desenhar na proposta dos CEUs alguns princípios que orientam o modelo das cidades educadoras como: educação popular, intersetorialidade, educação como algo que extrapola os muros da escola, etc.

A ideia era que a escola mudasse a cidade, estendendo sua oferta se aproveitando dos espaços da cidade, irradiando possibilidade de melhorias de seus espaços e articulando ações de diversos setores da sociedade e do poder público para que o território das periferias estivessem em plenas condições de receber os CEUs e não ocorrer o fenômeno de estigmatização que associou os CIEPs à uma escola de baixa qualidade, engolidos pelos problemas do seu entorno.

Dessa maneira, incorporando o conceito de cidade educadora em sua gestão, Marta Suplicy, através do documento Operação Urbano CEU, elencou cinco atributos básicos para a construção dos CEUs, a saber:

1.Melhoria das escolas do entorno; 2. Canalização de córregos, 3. Melhoria nas vias públicas (asfaltamento, sinalização e iluminação); 4. Redirecionamento de tráfego e transporte coletivo; 5. Regularização de terrenos para a implantação dos CEUs (SOUZA, 2010, p. 32).

A soma destes elementos necessários para a implementação dos CEUs só seria possível a partir do mapeamento de territórios de vivência. No site dos CEUs essa estratégia é definida da seguinte forma

[...] Entende-se os Territórios de Vivência como o espaço envoltório (raio médio de 50km) aos CEUs, que apresenta-se como foco das políticas de desenvolvimento por meio da ampliação do acesso à infraestrutura cultural e do fortalecimento da economia da cultura. Uma vez que os atores e agentes ali presentes são ao mesmo tempo demandantes e produtores de serviços e bens culturais nos equipamentos culturais multiuso, configura-se grande potencial para fortalecimento da economia criativa e inclusão produtiva em áreas de vulnerabilidade social no país.

151 Do ponto de vista dos espaços, um dos objetivos dos CEUs era superar a face mais precária e os problemas encontrados nos projetos arquitetônicos anteriores a ele (mais precisamente CIEPs e CAICs). Os ideais inovadores pregados pela proposta político-pedagógicas dos CEUs voltados ao desenvolvimento das cidades careciam de um projeto arquitetônico que expressasse um salto em relação às marcas de tradicionalismo e atrasos presentes, próprio da política educacional brasileira. Nesse sentido, arquitetura dos CEUs buscou superar projetos antigos em dois aspectos.

No primeiro era premissa básica dos CEUs não reproduzir a lógica de edifícios padrões já presenta nas cidades, “em especial nos prédios escolares, um tipo de arquitetura que compartimentava os ambientes escolares, dificultando a comunicação e a integração dos diferentes segmentos presentes numa escola” (SOUZA, 2010, p. 26). Daí a nomenclatura Centros Unificados já expressa uma tentativa de direcionamento da proposta. Tanto que em sua estrutura havia a existência de três escolas em diálogo e inter-relacionadas, a saber: CEI – Centro de Educação Infantil destinadas às crianças de 0 a 3 anos; EMEI – Escola Municipal de Educação Infantil destinada ao atendimento de crianças de 3 a 5 anos e EMEF - Escola Municipal de Ensino Fundamental que atende as crianças e adolescentes de 6 anos em diante e também jovens e adultos no período noturno. Essa organização sequencial e inter-relacionada da arquitetura permitia que os alunos a medida que fossem avançando de nível, passariam a frequentar o bloco escolar seguinte em uma mesma “grande” e “unificada” escola, como podemos observar na imagem abaixo.

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Fonte: Disponível em:

http://lh3.ggpht.com/_pWZnNVp2yF4/St36GG0d5bI/AAAAAAAAAME/lfZxpVa4koA/007++ CEU+Alto+Alegre++2009-02-01.jpg

O outro objetivo, articulado ao primeiro, em relação à configuração da arquitetura escolar dizia respeito a construção de espaços resignificando as relações de poder comumente estabelecidas e naturalizadas no interior da escola. E a forma como se organiza a escola em seus espaços informa sobre a configuração de suas relações de poder, como já vimos nas instituições panópticas.

Dessa forma os CEUs se propõem a superar a ideia de espaços vigiados e controlados por um poder panóptico, substituindo-o pela ideia de proteção social, na qual a comunidade era a responsável pelo controle das ações na instituição. A apropriação do conceito de cidades educadoras e da ideia de uma educação escolar e comunitária, fez com que a arquitetura dos CEUs assumisse uma estética de “escola aberta” e visível internamente, com uma infraestrutura que “remete a fluidez das linhas e as transparências das vidraças em uma edificação modular” (ibidem, p. 63). Segundo o autor, esse tipo de arquitetura a sua orientação para a visibilidade e controle social pode ser definida como contra-panóptico.

Para a implementação das amplas dimensões arquitetônicas dos CEUs foram definidas área territoriais distintas já que no projeto arquitetônico havia três tipos de proposição como podemos observar na tabela abaixo.

153 Tabela 8 – Tipos de CEUs Modelos de Céus Descrição Investi mento Modelo de CEU – 700m²

Edificação Multiuso com 5 pavimentos: praça coberta; pista de skate; equipamentos de ginástica; CRAS; salas de aula; salas de oficina; telecentro; salas de reunião, biblioteca; cineteatro/auditório com 48 lugares e terraço.

R$ 2,71 milhões

Modelo de CEU – 3.000m²

2 Edifícios multiuso, dispostos numa praça de esportes e lazer: CRAS, salas multiuso, biblioteca; telecentro; cineteatro/auditório com 60 lugares; quadra poliesportiva coberta; pista de skate; equipamentos de ginástica; playground e pista de caminhada R$ 2,02 milhões Modelo de Ceu - 7.000m²

Edificação multiuso de um pavimento, dispostos numa praça de esportes e lazer: CRAS, salas multiuso, biblioteca; telecentro; cineteatro/auditório com 125 lugares; pista de skate; equipamentos de ginástica; playground; quadra poliesportiva coberta; quadra de areia; jogos de mesa e e pista de caminhada.

R$ 3, 50 milhões

Fonte: http://ceus.cultura.gov.br/index.php/home/modelos-de-ceu-s. Acesso em: 25/02/2015

Com bases nestes modelos foram implementadas em São Paulo 45 CEUs em duas fases. Uma primeira na gestão de Marta Suplicy (chamada de fase vermelha) e outra na gestão de José Serra/Gilberto Kassab (2004-2012) (chamada de fase azul). Diferentemente das tensões políticas que abandonaram ou deram outros rumos à projetos de gestões anteriores, os números estas duas fases mostram até certo equilíbrio na gestão dos CEUs: no que diz respeito à obras inauguradas, na fase vermelha foram inaugurados 47% (21 CEUs) e na fase azul 53% (24 CEUs) dos 45 CEUs. No que diz respeito a área construída dos 45 CEUs também há equilíbrios: do total de 536. 324m² foram feitos 51,4% na fase vermelha e 48,6% na fase azul.

A única diferença apontada dos estudos entre ambas a gestões do CEUs é que a gestão do PT se aproximou mais das pretensões de construir uma arquitetura transparente, contra panóptica e que possibilitasse um maior controle social da escola. Na gestão dos prefeitos do PSBD houve tentativas tornar os CEUs ambientes mais fechados e protegidos com a incorporação de grades, muretas, etc.

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3.3 A renovação da filosofia pragmatista na educação em duas vias: a vertente

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