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2 TEMPO-ESPAÇO ESCOLAR/SOCIAL NA PERIFERIA: A REPRODUÇÃO DAS DESIGUALDADES NOS TEMPOS E ESPAÇOS DA ESCOLA

2.5 Os impactos da globalização na periferia: a educação à serviço do capital imperial

80 Com a crise39 desembocada na década de 70, a globalização40 foi anunciada como única e necessária alternativa para a superação dos problemas decorrentes41.

A adesão das nações mundiais a esse modelo vem acentuando o poder político- ideológico das organizações transnacionais do capital. Isso porque são estas agências que definem o receituário político-econômico de vários países no mundo sob a justificativa de construção de uma “aldeia global”.

Uma delas tratou de operar no desmonte do Estado de inspiração keynesiana, também chamado de Estado de Bem-Estar Social. Como uma de suas principais características podemos destacar a orientação do poder público a partir de um programa de responsabilização com gastos e investimentos sociais (leia-se políticas sociais) que produzissem uma infraestrutura mínima de condições para o “consumo de massa”.

Essa alternativa foi historicamente necessária para a retomada das altas taxas de lucro que haviam sido comprometidas pela crise de superprodução da década de 30. Por outro lado, importante salientar seu inegável impacto na qualidade de vida de muitos trabalhadores (estáveis, brancos e sindicalizados) com: maior “estabilidade no emprego, políticas de renda com ganhos de produtividade e de previdência social, incluindo seguro desemprego, bem como direito á educação, subsídio no transporte, etc.” (CANTERBERY, 2001, p.70-71).

No lugar do Estado de Bem estar Social, um novo consenso42 que expressa a

posição das decisões transnacionais é firmado. Novas orientações quanto à atuação do

39 Esgotamento do modelo de produção fordista-keynesiano na década de 60 e deflagrado na de 70 com a “saturação dos mercados de bens de consumo duráveis, concorrência intercapitalista e crise fiscal e inflacionária que provocou a retração dos investimentos”. (FRIGOTTO, 1995, p. 73). Outros motivos para a crise podem ser tributados à “[...] a decisão da Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) de aumentar o preço de seu produto; a determinação árabe de suspender o fornecimento de petróleo para o ocidente durante a guerra árabe-israelense, em 1973; o surgimento da concorrência japonesa com um novo modelo de gestão (o toyotismo) na produção automobilística; as mudanças tecnológicas e as desigualdades entre os setores de trabalho no interior do sistema fordista” (FILHO, CHAVES, RIBEIRO e SOUSA, p. 89, p. 2014).

40 Partimos de uma ideia de globalização como: resultado histórico, “o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista” (SANTOS, 2000), possibilitada pela expansão diferenciada de sua lógica em todo o globo através de sua nova base técnica das forças produtivas.

41 “[...] profunda recessão combinada com baixas taxas de crescimento e altas taxas de inflação” (MOTA, 2007, p. 42) associado ao desenfreado desemprego que se instalou em todos os setores da sociedade em seus diversos níveis

81 Estado são definidas e impostas sobre o mundo como exigência de uma sociedade globalizada que podem ser sintetizadas como:

a) Estado mínimo;

b) fim da estabilidade no emprego;

c) corte abrupto das despesas providenciarias e dos gastos sociais, em geral, com as políticas sociais. Este modelo teve nos governos Thatcher, na Inglaterra, Regan, nos Estados Unidos e Pinnochet, no Chile seus pioneiros. Seu principal sintoma se explicita pela crescente incapacidade de o fundo público financiar a acumulação privada e manter as políticas sociais de reprodução da força de trabalho.

Nesse sentido, apesar da menção “Estado mínimo”, não há nada nesse sentido no contexto atual. A crítica ao papel interventor do Estado na economia, não extingue a presença do Estado como forma de assegurar a acumulação ampliada que é impossível apenas pelo capital tendo em vista seu caráter contraditório (MÉSZAROS, 2002).

As recuperações da economia e da reprodução das formas de expropriação de excedentes nos pós-70 supunham um modelo produtivo que possibilitasse “ir além da fábrica fordista” (BIHR, 1998, p. 87, grifos do autor). Essa transição teve como um de seus elementos determinantes os avanços no campo das tecnologias da informação que, sem extinguir a centralidade do trabalho produtivo, tornaram a dinâmica rígida e limitada do fordismo em: difusa, fluída e flexível (BIHR, 1998), daí a nomeação de acumulação flexível.

O dinamismo produtivo provocado por este tipo de modelo fez com que as etapas dos processos produtivos passassem a ser realizados em locais diferentes (fábrica fluída, difusa e flexível) de acordo com a potencialidade produtiva do lugar/região, território. Como é uma tendência do próprio capital superar suas barreiras de tempo e espaço para a produção sem limites de mais-valia absoluta e relativa, o projeto da globalização trouxe implicações na forma de integração ainda mais subordinada e dependente dos espaços subdesenvolvidas na divisão internacional do trabalho.

42 O consenso de Washington faz referência ao conjunto de orientações neoliberais para a crise da década de 70, como resposta ofensiva às políticas macroeconômicas herdada do período keynesiano.

82 Tendo como base as desigualdades estruturais entre nações no plano internacional, o recrutamento da periferia às cadeias de produção da aldeia global é realizado por meio de: setores produtivos que exigem menor qualificação, menos tecnologia e mão-de-obra baratae com baixo nível de escolarização em abundância para produção de produtos de baixo valor agregado: as commodities, como no caso do Brasil.

Olhando para a história podemos dignosticar que a globalização não rompe com os laços de imperialismo que sustentam e são resultados da dialética expansão- acumulação/globa-local do sistema capitalista. Antes, torna mais acirrado esse processo.

A reprimarização e a reprodução da subordinação e da dependência de nossa economia são expressões da renovação da relação colônia-império escamoteada na globalização enquanto fábula (SANTOS 2000). Segundo Fontes (2010), as alterações nas formas de imperialismo clássico deram origem a relações de dominação de outra forma, denomiando pela autora de capital-imperialismo43.

Essa nova forma de imperialismo repercute de duas formas: no enfraquecimento do poder dos estados-nações e na dominação das mega-empresas globais sob a égide do capital financeiro sobre o capital produtivo. Como resultado, temos a invasão “consentida” de grandiosos impérios financeiros em nosso território e, nesse sentido, o reordenamento do espaço (cidades, territórios, regiões) para garantir sua livre circulação. Além do mais, acentuam-se expropriações ainda mais violentas, se elevam as desigualdades sociais e se interdita o desenvolvimento interno de um país, seu potencial tecnológico, científico, produtivo e de bem estar das pessoas.

43 Derivada do imperialismo, no capital-imperialismo a dominação interna do capital necessita e se complementa por sua expansão externa, não apenas de forma mercantil, ou através de exportação de bens ou de capitais, mas da produção local, impulsionando expropriações de populações inteiras das suas condições de produção (terra), de direitos e de suas próprias condições de existência, ambiental e biológica. [...] (p. 149)

[...] não se trata apenas de uma “política”, mas de uma totalidade que somente pode existir em processo permanente de expansão, e que, tendo ultrapassado um determinado patamar de concentração, se converte em forma de extração de mais-valor dentro e fora de fronteiras nacionais (p. 152).

83 Sendo as demanas científicas da nação um componente importantíssimo para o planejamento educacional, o domínio do capital-imperio na periferia implica também um processo de internacionalição das políticas educacionais orientadas principalmente para a “gestão” dessa pobreza que se aprofunda nas cidades e territórios no final do século XX e início do século XXI.

No caso do Brasil a educação é convocada associar-se no conjunto das estratégias de controle social e da modernização do capital subalterno através de: “[...] políticas de redução da pobreza de ampla massa de trabalhadores; a criação de parcerias público privada, entre outras “ações articuladas” com empresas, bancos e organizações empresariais e da sociedade civil” (idem, p. 33) voltadas para “questões sociais”.

Parece-nos que nos últimos anos houve uma clara adesão a estes princípios pelos últimos gestores nacionais, a saber: FHC (1995-1998/1999-2002); Lula (2003- 2006/2007-2010) e Dilma (2011-2014). Esta adesão é atestada na incorporação de documentos, orientações e teses vinculadas à organismos internacionais como referências privilegiadas na construção da política educacional brasileira, tais como: Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre a Educação para o século XXI - Educação um tesouro a descobrir (DELORS, 1998); Conferência Mundial de Educação para Todos44; Acordo Geral sobre o Comércio e Serviços45; Programa

Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) (2000)46.

Essa adesão vem sendo realizada a partir da retomada de um eixo de expansão histórico da escola pública brasileira tida como provisória no séc. XX, a saber: a expansão do acesso escolar a partir de uma oferta formativa diferenciada para os pobres. Vimos que essa fragmentação da oferta teve como expressão a produção de tempos e espaços diferenciados. De tal maneira, coexistiram tempos-espaços escolares precários (predominante) e modernos. Na subseção seguinte, tentaremos rastrear as diferentes formas de instrumentalização daquilo que antes era visto como um problema

44 Ocorrida na cidade de Jomtiem, Thailândia em 1990.

45 Orientado pela Organização Mundial do Lvre Comércio - Inclui a educação como uma mercadoria como outra qualquer e, portanto, passível de processo de mercadorização (OMC, 1995).

46 Impacta nos currículos escolares. No Brasil a coordenação dessa avaliação é de respomsabilidade do Instituito Nacional de Estudos e Pesquisas Educaionais Anísio Teixeira – INEP.

84 provisório, assumindo o status de recurso de ação para a promoção de tempo-espaço escolar.

2.6 A institucionalização dos “encurtamentos” do tempo-espaço escolar: as

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