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Certificação das ocupações profissionais

5. TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO E A EDUCAÇÃO POR COMPETÊNCIAS: A

5.4 A CERTIFICAÇÃO PROFISSIONAL PELO MODELO DE COMPETÊNCIAS

5.4.1 Certificação das ocupações profissionais

A Classificação Brasileira de Ocupações – CBO foi publicada em 1982, tendo sofrido alterações que não modificaram sua estrutura e concepção metodológica.86 Sua finalidade é identificar ocupações no mercado de trabalho, visando sua classificação. Seu limite é administrativo, portanto, não possui efeito de regulamentação, o que deve ser realizado por lei federal, e sancionada pelo Presidente da República.

Uma das aplicações da CBO é contribuir na produção da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), no cruzamento de dados do Seguro Desemprego e na formulação de políticas públicas de geração de emprego e renda. Sua finalidade, ainda, é servir de base para o cadastramento no INSS e em pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

85 São diversas as experiências de certificação de pessoas. Alguns organismos de certificação acreditados pelo INMETRO podem ser citados: Associação Brasileira de Ensaios não Destrutivos e Inspeção (ABENDI); Associação Brasileira de Manutenção (ABRAMAN); Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais (ABM); Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT); Centro de Tecnologia do SENAI/RJ; Fundação Brasileira de Tecnologia da Sondagem (FBTS) Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON/NQCP); Petrobras/SEQUI; Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais; Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF).

86 A última atualização da CBO foi publicada pela portaria ministerial nº. 397, de 9 de outubro de 2002.

Sua função é reconhecer, nomear e codificar os títulos, além de descrever as características das ocupações do mercado de trabalho brasileiro. As ocupações do mercado brasileiro são organizadas e descritas por famílias, sendo que cada família constitui um conjunto de ocupações similares correspondentes a um domínio de trabalho mais amplo que aquele da ocupação.

A metodologia desenvolvida prioriza a descrição do trabalho pelos próprios trabalhadores. Há, portanto, a centralidade no fazer profissional, considerando as representações sociais, sem considerar, assim como na metodologia da classificação de pessoas, conhecimentos da formação essencial ou regulamentações e recomendações das entidades representativas.

A ocupação assistente social está na mesma família que economia doméstica.87 A classificação vigente contou com a participação de 10 especialistas. As áreas ou atividades estão descritas como: “orientar indivíduos, grupos, comunidades e instituições; planejar políticas sociais; pesquisar a realidade social; executar procedimentos técnicos; monitorar as ações em desenvolvimento; promover eventos técnicos e sociais; articular recursos disponíveis; coordenar equipes e atividades; desempenhar atividades administrativas.” A área de atuação centraliza-se, na classificação, em competências de orientar, planejar coordenar.

A classificação das profissões de assistente social e economia doméstica possui a seguinte descrição: “Prestam serviços sociais orientando indivíduos, famílias, comunidades e instituições sobre direitos e deveres (normas, códigos e legislação), serviços e recursos sociais e programas de educação; planejam, coordenam e avaliam planos, programas e projetos sociais em diferentes áreas de atuação profissional (seguridade, educação, trabalho, jurídica, habitação e outras), atuando nas esferas pública e privada; orientam e monitoram ações em desenvolvimento relacionados à economia doméstica, nas áreas de habitação, vestuário e têxteis, desenvolvimento humano, economia familiar, educação do consumidor, alimentação e saúde; desempenham tarefas administrativas e articulam recursos financeiros disponíveis”. Nessa descrição, além de competências de orientar e planejar, são descritas competências de avaliar planos, programas e projetos. Mas cabe o destaque para prestação de serviços sociais sobre direitos e deveres.

A caracterização do trabalho delimita instituições das esferas pública e privada, assim como organizações não governamentais. “Podem atuar em empresas ou instituições do setor agropecuário, comercial, industrial e de serviços. O foco de atuação é a família (ou indíviduo). São estatutários ou empregados com carteira assinada. Trabalham em equipe, sob supervisão ocasional, em ambientes fechados e em horário diurno, podendo, o assistente social trabalhar em horários irregulares durante plantões e em casos emergenciais. Eventualmente, trabalham sob pressão, levando à situação de estresse.”

A classificação considera como competências pessoais do assistente social e do economista doméstico: “Trabalhar com ética profissional; Manter-se atualizado; Ouvir atentamente (saber ouvir); Demonstrar bom senso; Demonstrar sensibilidade; Contornar situações adversas; Trabalhar em equipe; Manter-se imparcial; Demonstrar auto-controle; Lidar com estresse; Demonstrar discrição; Manter-se disciplinado; Manter-se firme; Demonstrar persistência; Mediar conflitos; Participar de grupos de estudo; Demonstrar sensibilidade política; Estimular a criação de novos recursos; Respeitar as diversidades étnicas, culturais, de gênero, de credo, de opção sexual, etc; Demonstrar criatividade; Manter o sigilo profissional; Manter-se flexível; e Demonstrar ousadia”.

Destaca-se a delimitação do foco na família e nas competências atributos ou habilidades sociais no trabalho a dinâmica das relações. Entretanto, alguns elementos sobressaem, especialmente pela crítica do Serviço Social, como a imparcialidade, outros se aproximam do perfil profissional recomendado, a exemplo da postura ética, da participação em grupos de estudo e do respeito à diversidade.

As atividades definidas na CBO estão centradas em eixos de ação, particularmente na orientação, no planejamento, na pesquisa, na execução de procedimentos, no monitoramento, na promoção de eventos, na articulação de recursos, na coordenação de equipes e atividades, no desempenho de atividades administrativas, na demonstração de competências pessoais. Tais atividades demonstram uma perspectiva instrumental e distanciada das diretrizes para o trabalho social na atualidade, especialmente na construção de mediações técnico- políticas que fortaleçam os processos democráticos no campo dos direitos.

A metodologia adotada pela CBO é amplamente criticada pelo CFESS, tendo em vista a não incorporação de competências e atribuições determinadas pelas legislações profissionais, e o fato de ter sido construída com base em

um a m etodologia pouco representativa, visto que elabora as funções a partir de consulta a pequeno grupo escolhido de prof issionais, não abrangendo, portanto, o univer so prof issional. No caso do Serviço Social brasileiro, o disposto na CBO para assistentes sociais está longe de expressar suas com petências e atribuições. O CFESS, em reunião com o Ministério do Trabalho, já solicitou sua revisão. Desse m odo, a CBO não pode ser parâm etro para definição do trabalho de assistentes sociais” (CFESS, 2011, p. 6)

Entre as deliberações do conjunto CFESS/CRESS no eixo orientação e fiscalização, aprovadas nos Encontros Nacionais, comparece, de modo reiterado, a necessidade de alteração das definições da profissão na CBO88, considerando a

legislação profissional. Não obstante as insuficiências na metodologia, nos resultados classificatórios e seus impactos, compõem a agenda política e regulatória do Serviço Social, a melhor definição das competências e atribuições, no contexto entre a crise e legitimidade do projeto ético-político profissional.

88 As gestões junto ao Ministério de Trabalho e Emprego são recorrentes, com registros das estratégias adotadas, sem sucesso, tendo em vista a metodologia empregada, o que pode ser identificado na ação relatada: “Acompanhamento, junto ao MTE, das alterações na descrição da profissão, veiculada no sítio da CBO – Classificação Brasileira de Ocupações, de forma agregada à profissão de economia doméstica. A ação requerida pelo CFESS, em julho de 2004, com esclarecimento sobre as características legais da profissão, competências e atribuições privativas, foi reiterada, posteriormente, por meio de ofício e, no exercício de 2009, foi intensificada, durante reunião na Divisão da CBO, a qual procedeu algumas correções na descrição das atribuições, entretanto, manteve a descrição conjunta com as atividades do economista doméstico. Segundo a chefa da Divisão da CBO, a metodologia utilizada (que agrega as profissões por “famílias”) só poderá ser alterada na próxima edição da CBO, prevista para 2011. Nesse sentido, além da pressão para a correção, está sendo produzido um documento a ser enviado ao MTE no início de 2011” (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Relatório Anual de Gestão. Brasília, 2011).

6. PROFISSIONALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL CONTEMPORANEO: