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7 PESQUISA DE CAMPO – DO CAMINHO CONHECIDO

7.3 Análise dos documentos ou das fontes secundárias

7.3.3 Ciclo/História da Empresa

Denominada Phaser113, ao se instalar, em 1982, como uma microempresa no ramo de assistência técnica para eletroeletrônicos, seu principal serviço era de decodificação de televisores em monitores Apple. Inicia-se dentro de uma visão de terceirização, como uma prestadora de serviços da Compucity, que atuava no segmento de informática da época. Acompanha o crescimento do setor, com o surgimento e a ampliação do uso do computador, do microcomputador, em especial. Receberia, pouco mais à frente, a carteira de clientes e fornecedores de sua contratante que se tornara revendedora da Itautec.

Sociedade entre amigos, parentes, é criada nova empresa em 1984 – Microcity através de novos acordos, e em 1985, novos acordos societários (com entendimentos, desentendimentos) é feita a divisão das duas empresas – a Phaser e a Microcity.

No mundo, nessa ocasião, aconteciam também grandes acordos; novas regras se instalavam, com intenso crescimento e expansão da área. A Microsoft, comandada por Bill Gates, evidenciava grandes

Elementos para análise

A mudança de assistência técnica para a locação se ajustava a um momento em que a economia brasileira ficou travada, introduzindo elementos novos na oferta de serviços para a informática. A situação permitiu aos clientes, durante o prazo do confisco, experimentar uma fórmula que se revelou benéfica.

Sendo as máquinas de propriedade da Microcity, sua manutenção seria feita com o máximo de cuidado, tendo o cliente a garantia de seu funcionamento e atualização sem maiores ônus do que o contratado. Comprava-se o serviço que a máquina prestava e não o objeto em si.

Este Modelo foi uma feliz criação de experiências diversas dos seus sócios e colaboradores, de insights, de intuições e, também de know how diversificado, tudo indicando uma forte influência de um tipo de conhecimento pessoal, singular, o conhecimento tácito. A participação dos dois irmãos Nacif foi fundamental, pois suas visões de mundo eram complementares: a criação e a consistência das operações principalmente financeiras.

Os ciclos da empresa estão “carregados” de conhecimento tácito: o início, a recriação do negócio, a consolidação e, finalmente, o momento atual de repensar o seu modelo e sua dinâmica.

oportunidades e grandes riscos. Inúmeras empresas surgiam e desapareciam como por encanto. A tecnologia não estava sendo suficientemente apropriada, além da existência de grande amadorismo, questão discutida nos documentos consultados.

No Brasil, as empresas continuavam a luta pelo espaço, com altos índices de mortalidade empresarial. Instalava- se um novo patamar, deixando para trás a época de desbravamento e pioneirismo do negócio de computação.

Com o crescimento que esse patamar proporcionou, a casa onde a empresa funcionava tornou-se pequena e um espaço com características especiais foi construído. Ali uma identidade foi materializada, moldando o fazer dos novos “colaboradores”, que passaram a chegar em ondas cada vez mais volumosas. Em 1988, ela trabalha a pleno vapor, em novo endereço na residência da família de um de seus sócios, ocupando a garagem, depois quartos, com uma alegria e desenvoltura que o florescer dos negócios causava em todos os seus funcionários, que não chegavam a dez. Por essa ocasião, já se iniciava o fim da reserva de mercado da informática no Brasil. Nesse mercado, o segmento de microcomputadores apresentou o maior número de negócios em 1984, com a instalação de 6.680 micros pessoais e de 11.218 de uso profissional. O ritmo de vendas do sistema de pequeno porte permitiu uma troca de posições entre as primeiras colocadas no setor. Os periféricos – impressoras e terminais – também registraram expansão: foram fornecidos 72.511 produtos, dos quais mais de 35.000 referentes a terminais financeiros – o grande mercado comprador. (NACIF, 2001: 24)

Os ciclos são universais em qualquer empreendimento: a) o estágio de formação, em sua forma divergente e criativa; b) o estágio de regulamentação, com o estabelecimento de vínculos por igualdade ou semelhança, e, finalmente, c) o estágio de reinvenção, quando novos padrões terão que ser configurados. O início do empreendimento, com a fundação de uma empresa de assistência técnica para eletrônicos, começou de forma amadorística; sociedade entre jovens que não eram da área da informática, nem técnicos. Irmão, amigos, pessoas da família, 1982, 1984, 1985, numa época em que a informática se colocava em posição de destaque nos negócios no Brasil... O esforço de uma assistência técnica cuidadosa, cursos, livros, reuniões, mesmo quando o negócio era venda. Trata-se de uma fase heróica, intensa, de grandes “sacadas”, de descobertas, de invenções, de criatividade. Todos estão juntos, numa atividade dura, trabalhosa, e ao mesmo tempo divertida. Todos são amigos, compartilham sonhos e idéias.

É quando começa a germinar o segundo e vitorioso ciclo da empresa, mas que na realidade é um novo momento do ciclo da reinvenção do empreendimento, que poder-se-á considerar como o ciclo inicial: o de passar de vendas para o negócio de locação. O clima de trabalho na assistência técnica era o de promover o estímulo ao aprendizado, discussões intermináveis, intercâmbio interno entre os profissionais, troca de saberes, e ainda muita “conversa jogada fora”...

A semente foi lançada como por acaso, num happy hour, numa sexta feira, em divagações – surge a idéia de alugar computadores, em vez de vendê-los e dar assistência técnica. Ela se antecipa à idéia que hoje é buscada à exaustão, a idéia de agregar valor, que se consolida num novo Modelo de Negócio. Do ponto de vista de ciclo, se inicia um novo estágio, o da expansão e do crescimento, com a consolidação do Modelo de Negócio. Esses momentos podem se configurar como aparecimento de comunidades de prática, segundo os autores da visão da empresa baseada em conhecimento.

A idéia de locação, em lugar de compra, e não somente assistência técnica, representa um importante espaço de afirmação de um conhecimento único, singular, criado por conjugação de várias experiências dos sócios e funcionários.

Do ponto de vista da aprendizagem, a análise do “contexto capacitante” evidencia como o conhecimento de natureza social é ampliado quando a convivência no trabalho é amparada por conceitos e visões compartilhadas. (von KROGH, NONAKA & ICHIJO, 2001).

Na história da Microcity, a mudança em 1997/1998, para a sua sede no Vale do Sereno, não é apresentada, nos documentos, como um marco distintivo dessa história, embora no imaginário de seu pessoal vá se constituir em importante ciclo de expansão e de desafio. Atualmente, a empresa conta com duzentos funcionários diretos, fora os franqueados.

Hoje, as pessoas falam com certo saudosismo do período do crescimento. Lembram com saudosismo da desorganização aparente – desorganização interna, espacial devido ao tamanho do escritório – que contrastava com a organização comercial, levando todos a imaginar aquele “paraíso total” que poderia ser definido com duas palavras: desorganização organizada. (NACIF, 2001: 67)

Com a consolidação do Modelo de Negócio Microcity e suas ampliações, surgem novos desafios, como novas parcerias, inaugurações de filiais, abertura de franquias. No momento atual , a Microcity vive estes dois aparentes dilemas:

• Como manter a informalidade, a diversão, a alegria, num novo dimensionamento de seus negócios, que, pela complexidade, exigem padronizações?

• Como transferir o conhecimento gerado ao longo de toda uma vida, conhecimento de natureza tão original, na maioria das vezes escondido e difícil de ser transmitido?