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ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS: DO CICLO DA INTERVENÇÃO PRECOCE À PREPARAÇÃO DOS PROFISSIONAIS

4.1. Ciclo da Intervenção

Para Simeonsson et ai., (1996), a principal condição para a eficácia da intervenção assenta no seu grau de individualização.

Os conceitos, já abordados, como por exemplo os de Kempler (1981), assim como os do modelo transaccional (Sameroff & Fiese, 1990), tornam claro que, para a criança e a sua família, as mudanças desenvolvimentais que ocorrem resultam das transacções com o ambiente. As transacções podem promover ou comprometer o desenvolvimento.

Simeonsson et ai. (1996) apresentam a operacionalização do ciclo de actividades personalizadas e sequenciadas com o Ciclo de Intervenção (Figura 14). O ciclo de intervenção que os autores propõem é composto pelas seguintes fases:

Elementos do Ciclo de Intervenção

Sinalização / Definir Expectativas de Intervenção Avaliação de resultados e Satisfação Avaliar Características/ necessidades e Prioridades da Criança e Família Implementar e Monitorizar Serviços

B

Desenvolver o Plano Individualizado de Apoio à Família (PIAF)

CAPÍTULO IV Organização dos Serviços: Do Ciclo da Intervenção à Preparação dos Profissionais

Sinalização ou encaminhamento

i

1. Definição de expectativas de intervenção;

2. Avaliação multidisciplinar das características, necessidades e prioridades da criança e da família;

3. Plano de intervenção: desenvolvimento de um plano individualizado de serviços para a família;

4. Implementação e monitorização dos serviços;

5. Avaliação dos resultados e satisfação com o programa.

Cada uma destas fases constitui uma sucessão de encontros da criança e família com os técnicos dos serviços.

4.1.1. Definição das Expectativas de Intervenção

Os encontros caracterizam-se por expectativas mútuas. Toma-se importante, nesta fase, documentar características da criança e da família.

Simeonsson et ai. (1996) apontam três razões para este procedimento; - É uma fonte de informação que define a individualidade de cada família; - Pode ser utilizada para confirmar objectivos comuns, clarificar e/ou

corrigir expectativas irrealistas;

- Serve como ponto de partida para o acompanhamento futuro, podendo ainda servir para determinar a congruência entre expectativas e resultados.

4.1.2. Avaliação Multidisciplinar das Características, Necessidades e Prioridades da Criança e da Família

O modelo de intervenção, centrada na família, significa que os pais têm a decisão última em matérias que a eles e às suas crianças dizem respeito, mas os pais só assumirão este papel se os profissionais lhes demonstrarem, claramente, o seu acordo. Uma das primeiras decisões que os pais têm de tomar é se

CAPÍTULO IV Organização dos Serviços: Do Ciclo da Intervenção à Preparação dos Profissionais querem, ou não, os serviços. A oportunidade de realizar esta escolha tem de ser explícita, ficando claro que a decisão da família será aceite sem julgamento. Quando os pais manifestam dificuldade na decisão, os profissionais podem ajudá- los no processo de deliberação, mostrando-lhes as consequências das suas decisões para a criança, para eles próprios e restantes membros da família (McWilliam, 1996b).

A avaliação terá, também, de incluir componentes naturalísticas e incidir sobre diferentes cenários onde a criança e a família vivem. A avaliação é uma forma de tomada de consciência das famílias, dos seus próprios problemas e dos problemas dos seus filhos, daí a importância da sua participação (Bairrão, 1994). Qualquer decisão programática deverá ser, então, baseada numa avaliação ecológica/sistémica e multidimensional das forças, necessidades, recursos e funcionamento das famílias (Turnbull & Turnbull, 1990).

A avaliação da criança e da família "deverá ser realizada por uma equipa pluridisciplinar e num espaço de tempo compatível com a gravidade da situação, sublinhando que nenhuma avaliação deve basear-se numa fonte única de informação, dado que o comportamento da criança é, em parte, determinado pelos contextos onde esta se encontra" (Bairrão, 1994, p. 39)

Simeonsson et ai. (1996, op. cit.) propõem, como medidas mais representativas e específicas de avaliação, os seguintes instrumentos:

- Abilities Index; - Family Need Survey;

- Perceived Adequacy of Resource Scale; - Functional Status III;

- Family Resource Inventory;

Para a avaliação global do desenvolvimento da criança os autores indicam: - Bailey Scale of Infant Development II

- Battelle Development Inventory;

Sempre que se justifique devem usar-se outros instrumentos para áreas específicas do desenvolvimento, como por exemplo: linguagem, motora ou social.

Em Portugal, Bairrão & Almeida (2002) salientam que o papel dos pais na avaliação parece ser, principalmente, o de prestar informação aos técnicos. Só uma pequena percentagem de pais desempenha um papel mais activo. As

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preocupações e necessidades das famílias são avaliadas, segundo o referido estudo, principalmente através da entrevista.

4.1.3. Plano de Intervenção

Neste terceiro elemento do ciclo, a família, em conjunto com os membros da equipa de intervenção, desenvolve um plano individualizado de serviços.

A Lei Pública 99-457, dos Estados Unidos, serve de referência para a elaboração do Plano Individualizado de Apoio à Família (PIAF). Com base nas necessidades e recursos identificados, da criança e da família, selecciona-se um ou mais objectivos que se desenvolvem em colaboração entre a família e os técnicos. O PIAF serve como instrumento de implementação e avaliação dos

resultados de intervenção.

Em Portugal, a legislação (Despacho Conjunto n.° 891/99, Ministério da Educação, da Saúde e do Trabalho e da Solidariedade, 1999), propõe o Plano Individual de Intervenção. O Plano Individual de Intervenção tem de assegurar o envolvimento das famílias nos termos por estas determinados e é elaborado a partir da avaliação da criança, no seu contexto familiar. Do Plano Individual de Intervenção deve constar:

a) O diagnóstico global da situação da criança, no seu contexto de vida, contendo a identificação dos seus aspectos de saúde das suas capacidades e competências e das suas características comportamentais; b) A identificação dos recursos e necessidades da criança e da família

efectuada com esta, em estreita colaboração e em partilha de informação; c) A designação dos apoios a prestar, acordados entre profissionais e

família, mediante informação detalhada que lhe facilitem as decisões nas várias opções a tomar;

d) A indicação da data do início da execução do plano e do período provável da sua duração;

e) A periodicidade da avaliação.

Segundo investigação de Bairrão & Almeida (2002), o Plano Educativo Individualizado (PEI) é o documento mais usado pelos educadores. O Plano

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Individualizado de Apoio à Família (PIAF), embora mais utilizado para crianças dos 0 aos 2 anos, é pouco usado dos 3 aos 5. Uma grande parte dos educadores

revela utilizar apenas notas informais.

A investigação aponta para a utilização desta escala para complementar outros métodos de avaliação da intervenção (Simeonsson et ai., 1996).

4.1.4. Implementação e Monitorização dos Serviços

Este é um aspecto crucial do ciclo de intervenção, ainda que, muitas vezes, ignorado. Torna-se importante uma documentação sistemática da implementação e prestação dos serviços, de forma a conseguir fazer inferências sobre os factores responsáveis pelos resultados obtidos.

Simeonsson et ai. (1996) enfatizam a avaliação como um processo que implica a documentação e organização de dados para cada elemento do ciclo de intervenção e não apenas como um processo a realizar no final de uma intervenção.

Avaliação dos Resultados e da Satisfação

O último elemento do ciclo permite identificar limitações na prestação de serviços, introduzir alterações e monitorizar a qualidade. A importância desta fase assenta, segundo Simeonsson et ai. (1996), nas seguintes razões:

- Responsabilidade relativamente à família. As famílias são "consumidoras" dos serviços de I.P. e investem o seu tempo e esforço na planificação de serviços para as suas crianças, assim como para elas próprias. Torna-se necessário que se lhes revele em que medida os resultados vão sendo atingidos;

- Responsabilidade relativamente aos fundos públicos e privados aplicados na implementação dos serviços de I.P.;

- "Feed-back" para a própria equipa, no sentido de documentar os sucessos e o que é necessário mudar nas actividades de intervenção.

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- Do ponto de vista científico, interessa estabelecer relações entre a intervenção e os resultados obtidos, de forma a poder generalizar as intervenções melhor sucedidas.

Durante o ciclo de intervenção, algumas questões, para as quais é necessário encontrar resposta, vão surgindo:

- Quais são as expectativas das famílias e dos profissionais? - Quais são os objectivos e a natureza da intervenção? - Em que medida a intervenção é individualizada?

- Há fidelidade na implementação dos serviços planeados?

- Foram especificados, previamente, os resultados esperados da