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ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS: DO CICLO DA INTERVENÇÃO PRECOCE À PREPARAÇÃO DOS PROFISSIONAIS

4.3. A Equipa Transdisciplinar

O Modelo de Intervenção Centrada na Família assenta na colaboração entre a família e os profissionais. As equipas transdisciplinares, pela sua estrutura e função, criam oportunidades aos profissionais e famílias para um efectivo trabalho conjunto.

As medidas da actual legislação (Despacho Conjunto 891/99) tomam a equipa como o ponto de partida para os Programas de I.P., ao requerer que as avaliações e os planos do programa sejam desenvolvidos em colaboração com os pais.

O crescente reconhecimento e implementação do modelo de equipa na LP. não é, só por si, o resultado de imposição legislativa, mas reflecte, também, uma nova perspectiva do desenvolvimento humano que vê a criança como um todo integrado e interactivo (Bagnato & Neisworth, 1991; Golin & Duncanis, 1981, cit. por Mary J. McGonigel et ai., 1994). A figura 15 ilustra o que acontece quando os profissionais não vêm a criança de uma forma holística.

Figura 15 - Modelo Centrado na Criança (adaptado de Mary J. McGonigel et ai., 1994). Sob esta perspectiva, a criança toma-se numa soma de elementos separados onde ninguém é capaz de ver o todo, ou de perspectivar a criança dentro do contexto da família.

O modelo de intervenção em equipa reconhece que os problemas multifacetados das crianças com NEE são demasiado complexos para serem

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resolvidos por uma só disciplina (Holm e McCartin, 1978; Spencer e Coye, 1988, cit. por McGonigel et ai., 1994).

4.3.1. O Conceito de Equipa em Intervenção Precoce

Existem muitas definições de equipa na literatura da IP.. Holm e McCartin (1978, cit. por McGonigel et ai., 1994) descrevem uma equipa como um grupo em interacção, desempenhando actividades integradas e interdependentes. Este conceito de interdependência é comum a quase todas as definições de equipa e distingue uma equipa de um grupo.

Bagnato & Neisworth (1991) identificaram as características necessárias a uma equipa de sucesso. Os membros dessa equipa devem:

- Confiar uns nos outros;

- Respeitar os papeis e a experiência de cada um;

- Manter abertura à livre partilha de opiniões num processo de resolução de problemas;

- Permitir que outros partilhem parte das suas responsabilidades específicas; - Aceitar a estruturação por parte de um coordenador.

As equipas só funcionam, de forma eficaz, quando cada membro partilha objectivos e pressupostos.

Embora a construção da equipa e a dinâmica de grupo constituam preocupações relativamente recentes na LP., os especialistas do comportamento organizacional desde há muito que investigam estes assuntos.

No final dos anos vinte, a investigação descobriu que os factores essenciais para a produtividade são a identidade do grupo e a coesão entre os trabalhadores (Dyer, 1997, cit. por McGonigel et ai., 1994).

Para o referido autor, todos aqueles que trabalham juntos precisam de aprender novas e mais eficazes formas de resolver problemas, planificar, tomar decisões, coordenar, integrar recursos, partilhar informação e lidar com situações - problema, que possam surgir.

O trabalho em equipa precisa de ser visto, não só como um meio para atingir um fim, mas como um objectivo em si mesmo.

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Apesar de pais e profissionais poderem partilhar objectivos fundamentais, existem algumas diferenças inerentes às suas posições. Estas diferenças podem incluir objectivos comuns mas conduzir a posições contrárias. O trabalho da equipa verifica-se não quando as perspectivas se tornam as mesmas, mas quando cada um compreende a visão do outro e quando desenvolvem o respeito mútuo, a partir de um compromisso comum para o bem estar da criança.

4.3.2. Modelos de Equipas de Intervenção Precoce

A grande maioria das equipas de I.P. é, na actualidade, nos Estados Unidos da América, composta por profissionais que representam uma diversidade de disciplinas: desenvolvimento da criança; educação especial; assistência social; psicologia; enfermagem; medicina, terapia física e ocupacional e outras.

O modelo de I.P. centrada na família conduz, necessariamente, à patilha de tarefas, incluindo a avaliação das forças e necessidades das crianças e o desenvolvimento e implementação de um Plano de Individualizado de Apoio à Família (PIAF), para ir de encontro às necessidades identificadas na criança e às preocupações, prioridades e recursos da família.

Três formas de prestação de serviços, identificados e diferenciados na literatura de I.P.: multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar (Bagnato e Neisworth, 1991), estruturam a interacção entre os membros da equipa. Passamos, de seguida, à sua descrição.

4.3.3. Equipas Multidisciplinares

Nas equipas multidisciplinares, os profissionais das várias disciplinas trabalham de forma independente, embora possam partilhar o mesmo espaço e instrumentos (Peterson, 1987, cit. por McGonigel et ai., 1994).

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Nas equipas de LP. multidisciplinares, a criança é vista e avaliada, individualmente, por cada membro da equipa somente na sua área de especialização.

O modelo multidisciplinar pode ser considerado a base para a evolução dos modelos de equipa interdisciplinar e transdisciplinar.

4.3.4. Equipas Interdisciplinares

As equipas interdisciplinares são também compostas por profissionais de várias disciplinas, mas têm, tradicionalmente, tendência a incluir a família como membro. Mas, a grande diferença entre as equipas multidisciplinares e interdisciplinares reside na interacção entre os membros da equipa. Enquanto as equipas multidisciplinares se caracterizam pela coexistência, as equipas interdisciplinares são caracterizadas por canais de comunicação formais que incentivam os membros da equipa à partilha de informação e à discussão dos resultados individuais, em encontros regulares (Fewell, 1983; Peterson, 1987, cit. por McGonigel et ai., 1994).

Neste modelo, os especialistas das várias disciplinas avaliam as crianças, separadamente, mas a equipa, conjuntamente, discute os resultados das suas avaliações individuais e desenvolve planos de intervenção, sendo cada especialista responsável pela parte do plano relacionado com a sua área profissional.

Apesar deste modelo resolver alguns dos problemas associados às equipas multidisciplinares, os problemas de interacção e comunicação permanecem, neste quadro interdisciplinar: Alguns membros da equipa interdisciplinar podem não compreender a formação e as práticas de outros membros da equipa, de disciplinas diferentes e, por isso, podem hesitar em aceitar informações ou recomendações vindas da parte destes. A terminologia partilhada nem sempre significa um conceito partilhado. Para o sucesso de uma equipa interdisciplinar, os seus membros deverão, por isso, reconhecer e aceitar as diferenças mútuas (Howard, 1982, cit. por McGonigel et ai.,

1994).

4.3.5. Equipas Transdisciplinares

As equipas transdisciplinares são compostas por profissionais de várias disciplinas e também pelas famílias.

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O papel da família, nas equipas transdisciplinares, é, contudo, mais central do que nas equipas interdisciplinares, onde a família tem uma intervenção secundária.

O modelo transdisciplinar tenta transcender as limitações e constrangimentos das disciplinas individuais, no sentido de formar uma equipa que ultrapasse as fronteiras disciplinares e aumente a comunicação, a interacção e a cooperação entre os seus membros. Transpor as fronteiras disciplinares é a característica fundamental do modelo transdisciplinar, o que torna este modelo de equipa especialmente apropriado para a I.P..

Nas equipas transdisciplinares, todas as decisões sobre avaliação, planificação e implementação dos programas são tomadas por consenso mas, quando não existe consenso, as decisões da família devem prevalecer (Bailey, 1991; Dunst, 1991, cit. por McGonigel, et ai., 1994). Apesar de todos os membros da equipa transdisciplinar partilharem responsabilidades, no desenvolvimento do plano, este é levado a cabo pela família, em conjunto com um elemento da equipa designado como principal prestador de serviços.

4.3.6. Primeiros Contactos

Num programa transdisciplinar, a responsabilidade pelos primeiros contactos com a família é, muitas vezes, rotativa, entre os membros da equipa.

Os primeiros contactos representam a primeira exposição da família ao Programa de LP. e a sua primeira oportunidade de ser tratada como um membro da equipa. Nos contactos iniciais com a família, os membros da equipa têm como objectivo criar um ambiente acolhedor que visa o respeito mútuo. A relação que se estabelece, durante os primeiros contactos, cria um padrão para as interacções futuras. Se, nos primeiros contactos, o prestador de serviços não demonstra respeito pela capacidade da família, para tomar decisões e para identificar as suas próprias preocupações e prioridades, será extremamente difícil, se não impossível, à família sentir-se e agir como verdadeiro membro da equipa.

Durante os primeiros contactos, o prestador de serviços apresenta à família a filosofia transdisciplinar, explicando o papel central desta. As opções do programa são

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disponibilizadas e as escolhas iniciais da família são exploradas (McGonigel et ai., 1994).

4.3.7. Implicações do Modelo de Equipa Transdisciplinar

Certas qualidades dos profissionais contribuem para o sucesso do funcionamento da equipa. Os profissionais que integram equipas transdisciplinares

eficazes evidenciam qualidades de companheirismo. São, também, flexíveis, capazes de chegar a um consenso, acordando em suportar uma decisão da equipa, com a qual não concordam, completamente. Estas qualidades são características próprias de pessoas com maturidade, a nível pessoal e profissional (McGonigel et ai., 1994).

4.3.8. Dimensões dos Programas Transdisciplinares

Para que a abordagem transdisciplinar seja eficaz, os membros da equipa devem ter plena consciência da influência deste modelo na operacionalização do programa e devem implementar, conscientemente, procedimentos transdisciplinares, ao longo de cada fase da prestação de serviços.

Na tentativa de implementar o modelo transdisciplinar sem uma reflexão adequada, muitos trabalhos acabam por ser uma compilação de retalhos de todos os três modelos de equipa apresentados. Infelizmente, alguns dos modelos de programas que daí resultam combinam os aspectos menos eficazes de cada um dos modelos de equipa (Garland et ai., 1989, cit. por McGonigel et ai., 1994).

De forma a evitar tal confusão, é importante que os membros da equipa saibam como funciona o modelo transdisciplinar em cada componente do programa, de forma a que as adaptações possam ser feitas cuidadosamente, com base na filosofia, subjacente, ao programa transdisciplinar.

PARTE It

Planificação e

Organização Empírica do