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Contexto para a Intervenção Precoce: O Sistema da Família

CAPITULO III Presupostos da Intervenção Precoce

3.4. Contexto para a Intervenção Precoce: O Sistema da Família

Tumbull, Summers & Brotherson (1983, cit. por Cornwell & Korteland, 1997) propõem um quadro conceptual dos sistemas da família. Este modelo incluiu quatro elementos que podem ser analisados separadamente mas que se interrelacionam e interagem. As componentes do sistema familiar são: a estrutura, a interacção, as funções e o ciclo de vida da família.

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3.4.1. Estrutura da Família

A estrutura da família compreende aspectos como a sua composição, extensão, estatuto sócio-económico, cultura, localização geográfica, o estilo, a saúde ou o bem estar.

Cada um destes aspectos resulta numa interpretação acerca da família. Por exemplo, às famílias de baixo estatuto sócio-económico está associada a ideia de uma variedade de défices. No entanto, um estudo recente revelou que as famílias que vivem na pobreza, muitas vezes, demonstram um elevado grau de competência para lidar com a complexidade das suas vidas (Rosier & Corsaro,

1993, cit. porComwell & Korteland, 1997).

A cultura define e afecta os sistemas da família. Os membros da família interagem dentro de um ou mais sistemas culturais. Os seus membros têm antecedentes religiosos e étnicos que compreendem crenças e atitudes (Anderson, 1992, cit. por Cornwell & Korteland, 1997). As famílias também desenvolvem a sua própria cultura definida por normas interrelacionadas e partilhadas pelos seus membros, incluindo valores, regras e expectativas (Handel,

1994, cit. por Cornwell & Korteland, 1997). Algumas famílias com crianças com necessidades educativas especiais parecem fazer parte de um mundo de excepção com os seus aspectos culturais. A localização geográfica inclui aspectos de características como: rurais ou urbanas, ou ainda diferenças regionais que influenciam a cultura da família.

Quando se oferecem serviços de IP. às famílias, vários aspectos da estrutura familiar são cruciais e devem ser encarados de forma reflectida.

Compreender as funções e os papéis dos vários membros que compõem cada família pode ajudar a clarificar a estrutura da família. A compreensão emerge com o desenvolvimento da parceria.

Os valores da família diferem em função da sua cultura. Torna-se importante evitar os estereótipos quando se tenta compreender o sistema familiar. Os educadores devem clarificar as percepções dos membros da família em relação à sua cultura e o significado que a família atribui a estas percepções (Ronnan & Poertner, 1993, cit. por Cornwell & Korteland, 1997).

Outro aspecto importante da estrutura da família é o estatuto sócio- económico e os pressupostos e estereótipos que lhe estão associados. O

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profissional não deve presumir que as famílias de nível sócio-económico mais baixo não têm capacidades e competências para trabalhar, com sucesso, em parceria.

3.4.2. Interacção da Família

A interacção analisa os subsistemas marital, parental, fraternal e extra- familiar nos respectivos processos de coesão, adaptação e comunicação. A coesão refere-se à ligação afectiva dos membros da família. Esta coesão pode variar da ausência de compromisso, até ao envolvimento total. A adaptação pode ir de um controlo rígido até um funcionamento caótico. A comunicação constitui o processo central usado pela família para construir a sua realidade (Handel & Whitchurch, 1994, cit. por Cornwell & Korteland, 1997).

O subsistema dos irmãos desempenha um papel dinâmico. As relações entre irmãos apresentam múltiplos desafios dado que estes, tendo idades ou géneros diferentes e tratamento único e individual, partilham os pais. Se um irmão tem uma deficiência os desafios tornam-se ainda mais complexos (Powell & Ogle,

1993, cit. por Cornwell & Korteland, 1997).

O subsistema extra-familiar pode tomar-se numa fonte indispensável de apoio informal para a família, fornecendo recursos vitais para o seu bem estar. As interacções da família encontram-se interrelacionados com a sua estrutura, variando em função dos valores, dos antecedentes étnicos e dos recursos, entre outros.

Os profissionais de I.P. deverão desenvolver a sensibilidade que lhes permita compreender os subsistemas da família. Torna-se importante que os profissionais compreendam como interagem as pessoas que compõem o sistema da família, dentro dos vários subsistemas. O sistema extrafamiliar pode tornar-se numa fonte de apoio e força para a família com uma criança com necessidades especiais e, por isso, os profissionais deviam aproximar-se dos membros deste subsistema.

Os processos usados pelas famílias para manter as suas interacções, tais como a coesão, a adaptação e a comunicação, deviam ser observados e respeitados pelos profissionais pois esses processos, muitas vezes, revelam as

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suas forças e capacidades. Deve, pois, ter-se o cuidado de não se caracterizar as famílias como patológicas devido à forma como interagem. As famílias, com uma criança pequena com necessidades educativas especiais, podem parecer ter um envolvimento patológico com os filhos aos olhos dos profissionais, mas muitas das vezes estão, apenas, na realidade, a utilizar uma dinâmica, como forma de lidar com esta situação de pressão. As famílias dispõem, pois, de capacidades únicas e diversas nas suas interacções com os filhos.

3.4.3. Funções da Família

As funções e as necessidades das famílias constituem um "locus" de preocupação no contexto dos sentimentos, motivações e fantasias designados por temas da família (Hess & Handel, 1994, cit. por Cornwell & Korteland, 1997). Os temas da família influenciam o seu comportamento, constituindo as lentes pelas quais esta vê os resultados das suas actividades.

Como sistema de ajuda, a I.P. deverá ser flexível para apoiar as múltiplas funções da família. As necessidades conduzem as funções. A família não se pode centrar numa só necessidade, num dado momento. As necessidades estão interrelacionadas e as funções também. As necessidades, identificadas, e a forma como a família as enfrenta mudam ao longo do tempo, sofrendo a influência de factores como disponibilidade de recursos e outras prioridades da família (Dunst et ai., 1994).

3.4.4. Modelos de Ajuda às Famílias

Brickman et ai. (1982) apresentam quatro modelos de ajuda que denominam como moral, médico, esclarecedor e compensatório.

Quando a ajuda é prestada através do modelo moral, as famílias são vistas como a causa dos seus problemas, devendo ser responsabilizadas pelas suas soluções. A família pode sofrer de solidão, exaustão e culpa.

O modelo médico, típico dos sistemas de saúde, retira da família as responsabilidades da causa e resolução dos problemas. O profissional é visto

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como o "perito" e a família pode experienciar sentimentos de incompetência, passividade e dependência.

O modelo esclarecedor sugere que a família deve assumir a responsabilidade pelos seus problemas não tendo, contudo, poder ou competências para os resolver, sem ajuda. Para algumas famílias, este modelo pode resultar num sentimento de incompetência e baixa auto-estima.

O modelo compensatório parece ser o mais eficaz para as famílias em I.P.. Neste modelo, subjacente à filosofia do programa Head Start, o profissional é visto como um facilitador ou como um recurso. A família não é responsabilizada pelos seus problemas, mas é vista como capaz de os resolver, com o apoio e a assistência prestados.

Dunst et ai. (1988b) adoptaram o modelo compensatório para o campo de I.P.. Orientam este modelo os seguintes princípios básicos:

- Todas as famílias têm forças, capacidades e competências que já se encontram presentes ou que são possíveis;

- Se uma família tem um funcionamento deficitário, isso resulta da falta de recursos e apoios;

- As competências adquirem-se, mais facilmente, dentro do contexto do quotidiano da família, orientado pelas suas prioridades, objectivos e aspirações.

Para Dunst et ai. (1988b), a ajuda eficaz tem o objectivo de desenvolver, nas famílias, a capacidade para melhor resolverem os seus problemas, indo ao encontro das necessidades. Desta forma, a família alcança os seus objectivos através da aquisição de competências que apoiam e fortalecem o funcionamento, de forma a proporcionar um maior sentido do controlo individual, e da família, sobre o seu curso de desenvolvimento.

Esta ajuda revela-se eficaz nas parcerias colaborativas nos programas de

I.P.. A parceria pode definir-se como uma associação entre a família e um ou

mais profissionais, funcionando em colaboração e estando de acordo sobre partilha de papéis, de interesses e de objectivos comuns. Nestas parcerias, espera-se que as famílias tomem as suas próprias decisões finais e resolvam os

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seus problemas com o apoio dos seus parceiros, isto é, dos técnicos de I.P. (Dunst & Paget, 1991, cit. por Cornwell & Korteland, 1997).

A investigação aponta para elementos chave das parcerias, entre a família e os profissionais, que incluem crenças, atitudes, estilo comunicativo e atitudes comportamentais (Cornwell & Korteland, 1994, cit. por Cornwell & Korteland, 1977):

1. As parcerias devem basear-se na aceitação mútua, respeito e carinho; 2. Os parceiros devem ser capazes de confiar uns nos outros;

3. As relações de parceria levam tempo a desenvolver-se; 4. As parcerias são relações recíprocas;

5. Os parceiros devem estar abertos à partilha de algo deles próprios, nas suas relações;

6. Nas parcerias, as famílias mantêm a autoridade na tomada da decisão final;

7. Os parceiros devem partilhar responsabilidades no seu trabalho conjunto para alcançar os seus objectivos;

8. Os parceiros oferecem ajuda às famílias em resposta às suas necessidades e preocupações identificadas;

9. É necessária uma comunicação aberta e eficaz nas parceiras; 10. Nas parcerias é permitido o desacordo e o dizer "não".

3.5. Da Intervenção Centrada na Criança à Intervenção Centrada