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PARTE II CONSTRUÇÕES TEÓRICAS

CAPÍTULO 6 TRAJETÓRIAS DE VIDA DE ADOLESCENTES-PAIS

6.9 Cláudio, o filho que encontrou no avô um modelo de pai

Idade: 17 anos

Escolaridade: 8ª série (atualmente não está estudando, mas pretende retomar os estudos) Situação profissional: não trabalha atualmente. Trabalhou durante cinco meses num lava-jato

Idade da companheira: 16 anos

Idade do filho: a companheira está no 3º mês de gravidez Apresentação do adolescente

Cláudio é um jovem alto, forte, de pele e olhos bem escuros e cabelo crespo e bem curto. É bem educado e gentil, embora apresente aparentemente um déficit cognitivo

importante, o que dificultou a compreensão de questões que exigiam um grau mínimo de abstração. Durante toda a entrevista precisei repetir as questões várias vezes e de diferentes formas, para que ele as pudesse compreender.

História e situação familiar

Cláudio é o terceiro filho da Sra. N. O adolescente tem uma meia-irmã de 21 anos, dois irmãos de 19 e 12 anos respectivamente e uma irmã de 4 anos. A primeira filha da Sra. N. foi fruto de uma união que aconteceu antes de conhecer o Sr. P. com quem teve os outros filhos. O Sr. P. também já tinha sido casado e tido outros filhos. Tanto a Sra.N. como o Sr. P. foram pais na adolescência. Um primeiro filho do Sr. P. também foi pai aos 17 anos. O Sr. P. trabalha atualmente no Mato Grosso e é considerado, pelo adolescente, um bom pai. A família passa por sérias dificuldades financeiras e sobrevive quase que exclusivamente do salário dos dois filhos mais velhos (a filha é balconista e o filho realiza “serviços gerais”). Quando pode, o Sr. P. manda algum dinheiro para a família. O avô paterno do adolescente – o qual é considerado pelo adolescente um ótimo pai, pois mesmo com os filhos crescidos continua trabalhando e cuidando da família – também socorre a família. Trata-se de uma família cujas dificuldades materiais fortaleceram os laços de respeito, amizade e solidariedade. Cláudio parou de freqüentar a escola, segundo a Sra. N., porque o lugar onde moram é muito perigoso para sair à noite, e a família não dispõe de recursos para pagar o transporte para o adolescente freqüentar outra escola.

Situação familiar da mãe-adolescente

A., a companheira de Cláudio, tem 16 anos e até saber da gravidez morava com a família. Quando soube que estava grávida, passou a morar na casa do adolescente e até hoje não teve coragem de contar “a novidade” à família. Parou de estudar porque começou a apresentar dificuldade na escola que é considerada por ela “muito puxada”. Depois do nascimento do bebê, pretende retomar os estudos. Assim como sua irmã, tem projetos ambiciosos: se preparar para prestar o vestibular para o curso de medicina. A família do adolescente admira o bom desempenho escolar de A. e a incentiva a prosseguir os estudos.

Trajetória no CDS

Cláudio cumpre, desde 19/10/2005, medida socioeducativa na modalidade de Liberdade Assistida (L.A.), sancionada por no mínimo seis meses, por ter cometido um assalto a um ônibus em companhia de um amigo. Ambos portavam um revolver, e, enquanto o companheiro recolhia o material roubado, Cláudio apontava a arma para os passageiros.

Antes da L.A., ficou preso no CESAMI durante 38 dias. História da gravidez e da parentalidade

Cláudio recebeu a notícia da gravidez da namorada pela Sra. N., quando ainda estava preso. Inicialmente achou que fosse apenas uma maneira de a mãe lembrá-lo de que precisaria mudar de vida e ser mais responsável. Relata que não ficou muito surpreso com a notícia, pois de alguma forma já suspeitava da gravidez e sempre teve vontade de ter um filho. Normalmente, o casal fazia uso de preservativo, mas depois que voltavam de festas essa regra não era observada. Indagado sobre as mudanças que ocorreram na sua vida depois da gravidez da companheira, o adolescente diz que agora tem que arrumar um emprego e precisa parar de sair para a rua e para festas. Quando soube que seria pai, se sentiu ambivalente, pois, apesar de sempre ter desejado um filho, ficou com medo de perder a liberdade de sair com os amigos e de ser controlado pela namorada. Cláudio conta que a família toda se mobilizou com a notícia: a mãe ficou contente, pois este será o seu primeiro neto; o pai de longe acompanha a gravidez da nora e a irmã se prontificou a assumir o sobrinho caso os adolescentes não quisessem cuidar dele. Todos participam da gravidez e contribuem como podem: materialmente e/ou com sugestões de nomes e se prontificando a ajudar a cuidar do bebê. Todavia é a Sra. N. quem mais o apóia, dando-lhe conselhos, ajuda financeira e carinho. Cláudio acha que para ser pai, apesar de precisar de um trabalho e de independência financeira, isso não é suficiente: não é só o dinheiro, o amor também é muito importante (sic). O adolescente faz planos para o filho: quer que seja uma menina porque segundo ele: é menos danada, homem é mais danado. Quer que a filha estude e que seja que nem a mãe dela, inteligente que nem a mãe dela (sic). Para o futuro, deseja que a filha continue os estudos e siga eventualmente a carreira de professora. Com exceção da preocupação em relação a conseguir um trabalho e matrícula na escola para conseguir se

beneficiar da Bolsa de Reinserção Juvenil (BOREJ), Cláudio não tem grandes preocupações como pai. Relata que se tivesse pensado melhor, teria adiado a paternidade para quando ele e A. já tivessem terminado os estudos. Embora não tenha planos muito ambiciosos como é o caso da companheira, o adolescente relata que gostaria de realizar um curso técnico em eletrônica, e de poder pagar o aluguel de uma casa para viver com A. e o filho, independente da família: qualquer trabalho de seiscentos reais pra mim tá bom, já dá pra cuidar (sic). Seu modelo de pai é o avô paterno que, além de muito presente e carinhoso conseguiu fazer com que todos os filhos estudassem e até hoje, apesar de já estarem todos adultos, ainda se preocupa em prover a família.