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CLADE I: Primeiro Congresso Latino Americano de Evangelização (1969): uma

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Esse evento, CLADE I, ocorreu em 21 a 30 de novembro de 1969, na cidade de Bogotá, e reuniu mais de 900 delegados para a discussão do seguinte tema: “Ação em Cristo para um continente em crise” e propôs uma ambiciosa estratégia de evangelização continental, “made

in USA”. Apesar de Padilla afirmar que tal estratégia nunca ganhou corpo nas igrejas

(PADILLA, 1997, p. 118), nota-se o avanço do pensamento fundamentalista entre os latino- americanos. Segundo Costas, CLADE I foi a maior e mais abrangente reunião de protestantes evangélicos do continente e do povo de fala hispânica dos Estados Unidos (COSTAS, 1976, p. 46). Um congresso assim na América Latina não podia deixar de refletir a crescente inquietude que a situação do continente despertava em pastores, evangelistas e líderes evangélicos que confrontavam por muitos dias em seu ministério as realidades sociais e políticas (COSTAS, 1975, p. 41).

Deve-se dizer que esse encontro também foi o ponto de partida para o movimento evangelical na América Latina, definindo uma nova agenda pastoral para os evangélicos do continente que demonstravam o descontentamento com o protestantismo latino-americano ecumênico. O CLADE I, como se percebe, foi o marco histórico do rompimento com o protestantismo latino-americano ecumênico e da rejeição dos evangelicais em relação aos fundamentalistas. Além disso, Escobar afirma que:

O CLADE I foi consequência do congresso mundial de Berlim, e foram as mesmas entidades evangélicas e seus representantes na América Latina que tomaram a iniciativa para a convocação. Porém, igualmente aos congressos regionais que surgiram, tais como: na Europa, Ásia e Canadá, o de Bogotá procurou contextualizar sua reflexão e aproximar seu pensamento e sua estratégia às necessidades próprias do continente latino-americano. Por isso, em Bogotá, a consciência das mudanças aceleradas e dos problemas sociais do continente não pôde ser separada da reflexão sobre a evangelização. Bogotá, por sua vez, teve repercussões entre evangélicos em outras partes do mundo (ESCOBAR, 1995, p. 6).

Segundo Longuini (2002), a plataforma convocatória do evento era puramente fundamentalista e contou com a organização e direção da Associação Evangelística Billy Graham. Em geral, esse congresso foi fortemente evangélico, inspirador e evangelístico. Muitos dos congressistas, contudo, estavam decepcionados com a falta de perspectiva social e a superficialidade teológica. Para Bastian, esse congresso foi expressão de um movimento teleguiado, ou seja, manipulado pelos evangélicos norte-americanos, que não somente pagaram o congresso, mas definiram uma evangelização durante dez anos nesse continente (BASTIAN, 1986).

Porém, entre aqueles que se juntaram ao CLADE, havia uma consciência clara de que o continente passava por momentos críticos. Por isso, se escolheu o tema acima citado – Ação em Cristo para um continente em crise – e na medida em que a “Declaração” final expressou o espírito da reunião; em um dos seus primeiros parágrafos está afirmado que:

Esta Declaração quer também refletir a tomada de consciência que nestes dias o Senhor Jesus Cristo tem querido dar-nos, fazendo-nos sentir a crise aguda que nosso povo tem passado e o caráter imperativo de seu mandato a evangelizar. Juntos, temos reconhecido a necessidade de viver plenamente o Evangelho, proclamando-o em sua totalidade ao homem latino-americano no contexto de suas necessidades50.

Os dez parágrafos da Declaração demonstram em forma explícita ou implícita diversos aspectos dos quais se tomou consciência das raízes históricas, o imperativo evangelizador, a ausência de uma teologia da evangelização, a crítica ao subdesenvolvimento latino-americano, a injustiça, a fome, a violência e o desespero no qual a igreja devia encarnar-se, a crise juvenil, a necessidade de uma pastoral que ajudasse ao novo crente a expressar sua fidelidade à Cristo no contexto sociocultural onde Deus o colocava e o desafio do fermento renovador no catolicismo (ESCOBAR 1995). Como se pode ver, essa declaração resume um verdadeiro programa de ação. Mas a natureza do encontro não podia assegurar que se dessem passos para a realização desse programa.

Embora o encontro tenha sido chamado de “Congresso”, aqueles que participaram não eram representantes oficiais dos órgãos eclesiásticos que pertenciam, nem se comprometeram a executar de forma prática as tarefas que, como imperativas, poderiam ser deduzidas de sua consciência. Assim, Escobar afirma: “Aqui se reflete uma característica do protestantismo evangélico latino-americano, cuja fragmentação e falta de vocação ecumênica expressam uma história acidental e uma eclesiologia muito pobre” (ESCOBAR 1995, p. 7, trad. nossa).

Mesmo com essa falta de comprometimento, o congresso produziu vários resultados “acidentais” e um desses acidentes marginais foi o início do grupo que chegou a ser chamado de “Fraternidade de Teólogos Latino-Americana”, denominado hoje de Fraternidade Teológica Latino-Americana. Longuini, ao analisar o fato, diz que esse congresso foi marcado pela clara evidência de uma polarização existente dentro do setor conservador entre fundamentalistas e evangelicais. Para explicitar melhor essa separação, o autor descreve que: “Havia um protestantismo latino-americano, conservador, manipulado, historicamente pietista e evangélico e que agora estava sendo confrontado com um fundamentalismo militante” (LONGUINI, 2002). A origem dessa Fraternidade é descrita por Orlando Costas com os dizeres:

Havia outros, porém, para quem o congresso não foi suficientemente crítico. Reagindo fortemente contra o trabalho de Peter Wagner: Teologia Latinoamericana: radical ou

evangélica? E o mesmo estava sendo divulgado entre os delegados. Houve várias

seções privadas para planejar uma estratégia para neutralizar o argumento do autor.

50 O texto de várias das "Declarações" que se mencionam neste trabalho aparece em ARANA, Pedro, Teología en el camino, Lima, Peru, Ediciones Presencia, 1987, p.40.

Um segundo grupo influenciado, em parte, por Wagner se reuniu para estabelecer as bases de uma fraternidade de teologia que apresentava uma alternativa evagélica às correntes teológicas que se divulgava pelo congresso, como Igreja e Sociedade na América Latina (ISAL). Pela graça de Deus os membros de ambos os grupos foram pouco a pouco estruturando o diálogo, e assim, se deram os primeiros passos para a Fraternidade Teológica Latino-Americana e o grupo de trabalho de ética social evangélica estava integrado pelos próprios membros (COSTAS, 1975, p. 42).

Para Longuini (2002), a elaboração de uma equipe insatisfeita com a falta de profundidade teológica e sobre a ínfima discussão acerca da responsabilidade social já estava sendo articulada nos bastidores, mas essa distribuição aumentou a motivação deles. Logo, Padilla anuncia a vontade desse grupo:

Não nos sentíamos representados pela teologia elaborada na América do Norte e imposta por meio de seminários e institutos bíblicos dos evangélicos conservadores, cujos programas e literatura eram tradução servil e repetitiva, forjada em uma situação totalmente alheia a nossa. Tampouco nos sentíamos representados pela teologia elitista dos protestantes ecumênicos, geralmente calcada em moldes europeus e alienada do espírito evangelizador e das convicções fundamentais das igrejas evangélicas majoritárias do continente americano (LONGUINI, 2002, p. 160).

W. Dayton Roberts diz que o CLADE I foi uma experiência muito valiosa para os evangélicos da América Latina, pois permitiu o reconhecimento da realidade massiva do pentecostalismo e estimulou um pouco a autocrítica. Em contrapartida, apenas tomou nota do

“aggiornamento” católico romano, enfatizando os riscos em vez das oportunidades e fracassou

– em contraste com a Assembleia Geral do CELAM no ano anterior em Medellín – ao não dar prioridade aos problemas da pobreza, da opressão, da corrupção social e da política (ROBERTS, 1980, p. 60).

Longuini (2002) corrobora com o texto acima ao afirmar que, em primeiro lugar, o CLADE I não articulou uma missiologia latino-americana nos moldes que o momento histórico exigia, mas contribuiu para o início de um processo que viria frutificar muito nesse campo. O germe da Teologia da Missão Integral está nesse congresso. Foi um congresso fundamentalista norte-americano que resultou em uma nova forma de ser evangélico. Para isso seria necessário desenvolver um novo pensar teológico de acordo com o continente sofrido.

3.7 O surgimento da Fraternidade Teológica Latino Americana (FTLA), organização

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