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Edimburgo (1910): A rejeição da América Latina

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3.2 Os primeiros passos para o surgimento da TMI

3.2.1 Congressos antecedentes ao CELA I (1949)

3.2.1.1 Edimburgo (1910): A rejeição da América Latina

A conferência de Edimburgo aconteceu entre os dias 14 e 23 de junho de 1910 e foi um encontro que reuniu os representantes das principais igrejas protestantes europeias e norte- americanas interessadas nas missões cristãs mundiais para discutir uma forma de alcançar o mundo em sua época.

O evento de Edimburgo marcou a transição do movimento missionário moderno ao movimento ecumênico do século XX, foi de caráter global e vários temas foram abordados, tais como: a proclamação do evangelho ao mundo não cristão, a educação e sua relação com a formação cristã na vida nacional, as igrejas e os campos missionários, a mensagem missionária em relação com as religiões não cristãs, a preparação dos missionários, a sede principal das juntas missionárias, missões e relações com governos, cooperação e promoção da unidade (ALVAREZ, 2010, p. 49).

Esse acontecimento só foi possível porque o Mundo Moderno estava aberto para os protestantes. Gouveia39 afirma que esse congresso se realizou graças ao missionário John Mott40

38 Fissura histórica: tem um significado de algo estreito e pouco profundo e pode ser de longa duração. No entanto,

o conceito usado por Bonino: Hacia un protestantismo ecumênico. In CLAI, Oatextpec 78, Unidad y Mision em

América Latina, São Jusé, Costa Rica, 1980, não defini claramente o acontecimento histórico da separação entre

os pensadores das duas vertentes protestantes, Ecumênicos e Fundamentalistas. Acredito que por ter uma época de início para está controvérsia e um distanciamento no decorrer dos anos, o termo adequado para essa separação deve ser bifurcação. Pois, nascem do mesmo ramo religioso e após um tempo se tornam antagônicos.

39 Antônio Gouvêa Mendonça: Nasceu em 1922, na Cidade de Arealva, na região de Bauru, estado de São Paulo,

os pais eram protestantes e ajudaram a plantar a terceira igreja presbiteriana do Brasil; formado em Filosofia pela PUC, iniciou seu mestrado em Filosofia pela USP, mas, devido à perseguição ditatorial, os professores foram desligados inclusive seu orientador. Porém, após alguns anos se doutorou em Ciências Sociais pela mesma universidade. Cooperou com a formação da Pós Graduação em Ciência da Religião na Universidade Metodista de São Paulo, onde deu aula por 20 anos e se tornou professor emérito; também lecionou na Universidade Mackenzie de São Paulo e foi escritor e defensor do pensamento ecumênico. Morreu em outubro de 2012.

40 John R. Mott (1865-1955): Metodista estadunidense e um dos grandes líderes no movimento missionário

protestante. Foi um dos jovens que, sob inspiração de D. L. Moody, assinaram a declaração para o trabalho missionário no fim do século XIX. Sua liderança no YMCA e no movimento Estudantil Cristão o motivou a fundar a Federação Mundial de Estudantes Cristãos em 1895, levando o entusiasmo e a inspiração missionária a níveis mundiais. A contribuição missiológica de Mott é mais de caráter motivador e estrutural que de reflexão e crítica. As grandes conferências mundiais missionárias e ecumênicas e os concílios ecumênicos nacionais e regionais para a tarefa do testemunho cristão são fruto de gênio administrativo e de espírito tenaz desse visionário evangelista na transição do Século XIX ao XX.

– presidente do Congresso – que escreveu cartas pessoais para aproximadamente 600 pessoas do mundo inteiro, solicitando pronunciamento sobre a “expansão do Evangelho” no mundo não cristão.

A correspondência de Mott constituiu o primeiro diálogo ecumênico. Aliás, nunca é demais ressaltar a obra de Mott quando o assunto é ecumenismo. Mott foi Prêmio Nobel da Paz (1946) e presidente do Conselho Mundial de Igrejas (1954), após ter desenvolvido intensa atividade ecumênica internacional, criando a Federação Mundial de Estudantes Cristãos (1895). Também foi secretário geral internacional da Associação Cristã de Moços, presidindo o Congresso de Edimburgo (1910) e o Conselho Internacional de Missão (1921), sendo também o seu presidente honorário (1942). O pensamento de Mott centralizava-se na evangelização do mundo através de um labor comum de todas as igrejas, levando em conta a essência do Evangelho acima das barreiras confessionais. Isto está presente em sua ação e relatado em seus escritos: Evangelization of the world in this generation (1900), Cooperation and the

world mission (1935) e Adresses and papers of John R. Mott (1946). De fato, a intensa

preparação do Congresso, liderada por Mott, chamava a atenção dos líderes mundiais do protestantismo para a necessidade e possibilidade de cooperação entre as igrejas na área missionária, pondo de lado as diferenças confessionais, o que por si só caracterizou o Congresso como marco do movimento ecumênico (MENDONÇA, 2008, [p.1]).

Nessa conferência, foram abordados os seguintes temas: tradução da Bíblia ajuda médica, trabalho social, literatura no idioma nativo, formação educacional em todos os níveis, lugar e formação da mulher, evangelização de novas regiões, crescimento da igreja, comportamento dos missionários em relação aos nativos, emancipação das igrejas locais por meio do autossustento e da autoadministração e comportamento em relação aos governos (LONGUINI, 2002).

Houve uma discussão anterior ao congresso na qual os líderes anglo-católicos (da igreja Anglicana) se posicionaram contra o condicionamento da América Latina como um campo missionário. Para esse encontro, o continente foi considerado cristianizado pelos católicos e os anglicanos anunciaram que não participariam da conferência se os missionários protestantes ou líderes evangélicos da América Latina fossem convidados. John A. Mackay41 declara da seguinte forma essa repulsa:

Naqueles anos o esforço missionário protestante na América Latina e nas terras associadas historicamente com a Igreja Católica Romana, era considerado pela maioria dos eclesiásticos europeus como algo meramente anticatólico. Os missionários nestas terras eram considerados fanáticos, membros de um proletariado

41 John Alexander Mackay (1889-1983): Escocês, presbiteriano, uma das personalidades mais importantes no

Comitê de Cooperação na América Latina. Suas obras mais conhecidas são: The Other Spanish Christ: A study in the Spiritual History of Spain and South America (1932), That Other America (1935), Ecumenics: The Science of the Church Universal (1964). Mackay articulou uma missiologia ecumênica para a América Latina nos congressos missionários latino-americanos em 1916, 1925 e 1929 e ao mesmo tempo participou do Conselho Mundial de Missão e das Conferências Mundiais de Missão.

iletrado e rústico, cujo trabalho merecia o repúdio (MACKAY, 1963, p. 11, trad. nossa).

Embora o trabalho de personalidades como Speer42 e Mott para a América Latina fizesse parte do Congresso, o mesmo não apresentou fruto esperado. O paradoxal é que, apesar de sua exclusão no congresso, foram criadas condições para a formação do Comitê de Cooperação na América Latina (CCLA) (PIEDRA, 2006).

Dentro das condições supraditas, missionários norte-americanos realizaram duas reuniões e, após discutirem uma forma de sanar essa indiferença, lançaram um manifesto com as breves palavras: “Milhões e milhões de pessoas estão praticamente sem a palavra de Deus e não conhecem realmente o que é o evangelho” (BASTIAN, 1990, p. 158, trad. nossa). Então, entre esses missionários, surgiu o desejo de celebrar uma conferência similar à de Edimburgo para a América Latina. Esse desejo tornou-se mais intenso, e impulsionou o secretário executivo da Junta de Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, Robert E, Speer, a convidar vários delegados interessados na América Latina a se reunirem informalmente para discutir como essa lacuna poderia ser suprida.

Como resultado desses entendimentos, realizou-se em Nova York, em março de 1913, uma conferência sobre missões na América Latina, sob os auspícios da Conferência Estrangeiras da América do Norte (HOGG, 1954). Essa conferência criou a Comissão de Cooperação na América Latina (CCLA), tendo como presidente o próprio Robert Speer, um dos participantes relevantes do Encontro de Edimburgo e, como secretário executivo, Samuel Guy Inman. Esse Comitê convocou e preparou o Congresso do Panamá (1916) e outros, fazendo assim surgir os primeiros passos para uma consciência protestante latino-americana.

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