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Classificação do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM5)

DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

2.3 Classificação do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM5)

Para Carvalho (1997, p.55) “Por muito tempo, acreditou-se que a deficiência mental fosse uma doença”, porém muitos daqueles que apresentam tal deficiência gozam de saúde perfeita, levando à conclusão de que não se trata de possuir nenhum tipo de doença, mas sim uma condição específica de disfuncionalidade intelectual que é diferente daquilo que a

sociedade convencionou chamar de normal. Ainda se compartilhou por anos, na sociedade, que essa deficiência remetia a uma incompetência generalizada, ao se supor que a pessoa manifestasse limitações em todas as áreas do desenvolvimento, bem como nas realizações gerais do presente e futuro.

No entanto, avanços científicos e a prática educacional têm demonstrado que tais pessoas com Deficiência Intelectual possuem capacidades e habilidades pessoais que tornam possíveis a sua participação no meio físico e social.

Segundo a nova edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, (DSM5) (2014) a Deficiência Intelectual (Transtorno do Desenvolvimento Intelectual) é definida como: “Transtorno com início no período do desenvolvimento que envolve déficits funcionais, tanto intelectuais quanto adaptativos, nos domínios conceitual, social e prático.” (DSM5, 2014, p.33).

Nessa concepção, devem-se preencher os critérios: Déficits intelectuais; déficits em funções adaptativas; início dos déficits intelectuais e adaptativos durante o período de desenvolvimento.

Nota-se que o diagnóstico de Deficiência Intelectual corresponde ao CID11 de Transtornos do Desenvolvimento Intelectual. No referido manual DSM5, emprega-se ambas nomenclaturas: Deficiência Intelectual e Transtorno do Desenvolvimento Intelectual. Ainda, segundo nota do manual citado, uma Lei Federal dos Estados Unidos, Public Law111-256, Rosa’s Law, substituiu a nomenclatura retardo mental por deficiência mental e posteriormente, Deficiência Intelectual. De modo que a expressão Deficiência Intelectual é utilizada comumente por profissionais como médicos, educadores entre outros, além do público leigo e grupos defensores dos direitos humanos.

Acerca da gravidade da Deficiência Intelectual, o DSM5 especifica graus: F70 (leve), F71 (moderada), F72 (grave), F73 (profunda). Esclarece-se que os níveis de gravidade têm base no funcionamento adaptativo e não em escores de QI, dado que o funcionamento adaptativo conduz ao entendimento sobre a necessidade e o nível de apoios requeridos (DSM5, 2014).

No tocante as características diagnósticas da Deficiência Intelectual, o DSM5 estipula: déficits em capacidades mentais genéricas; prejuízo na função adaptativa diária comparada a pessoas de mesma idade, gênero e aspectos socioculturais; início durante o período de desenvolvimento, isto é, o reconhecimento de déficits intelectuais e adaptativos no decorrer da infância e adolescência.

O diagnóstico tem base em avaliação clínica, bem como em testes padronizados, envolvendo as funções adaptativa e intelectual. O julgamento clínico se faz necessário devido a interpretação dos testes de QI. Observa-se que quando a promoção do teste padronizado é dificultosa, dado a prejuízo sensorial e /ou comportamento grave, o sujeito pode ser diagnosticado com Deficiência Intelectual não especificada.

Para o DSM5 (2014, p. 38-39), a Deficiência Intelectual acomete todas as raças e culturas. Ela é tida como condição heterogênea que ocorre por múltiplas causas: etimológicas pré-natais as quais envolvem as síndromes genéticas, malformações encefálicas, doença materna e influências ambientais (álcool, drogas); razões perinatais relacionadas a eventos durante o parto e nascimento que acarretam encefalopatia neonatal; e ainda em virtude pós- natais que incluem hipóxia, lesão cerebral traumática, doenças convulsivas e privação social grave e crônica.

Complementa Carvalho (1997) que a literatura especializada diz que não só fatores biomédicos originam a Deficiência Intelectual, posto que a privação ambiental e cultural extremada, no convívio com o mundo físico e social e na restrição ao ambiente familiar, além de maus-tratos, abusos e negligência, contribui para o surgimento dessa deficiência.

Quanto à prevalência da Deficiência Intelectual, de acordo com o DSM5 (DSM5, 2014), tem-se na população como um todo cerca de 1%, com alterações decorrentes da idade. Contudo, a predominância da DI grave é de aproximadamente 6 por 1000.

Quanto ao desenvolvimento e curso da Deficiência Intelectual, o DSM5 coloca que a referida deficiência ocorre no período do desenvolvimento que, como mencionado, engloba a infância e adolescência. A idade e características estão ligadas a etimologia e de quão grave é a disfunção cerebral. Atrasos nos aspectos motores, linguísticos e sociais podem ser percebidos nos dois anos de vida em casos tidos como graves. Todavia em níveis mais leves podem não ser notados até a idade escolar, quando se manifestam dificuldades na aprendizagem acadêmica. Ainda em caso de Deficiência Intelectual associada à síndrome genética pode ocorrer aparência física característica, como a síndrome de Down. Em situação de deficiência adquirida, o surgimento pode ser abrupto, consequente de doenças: meningite, encefalite e traumatismo encefálico no decorre do período de desenvolvimento.

Segundo o DSM5 (2014), a Deficiência Intelectual não é progressiva, em algumas doenças genéticas pode ter fases de piora e de estabilização. Após a primeira infância tal deficiência pode permanecer pela vida, mesmo que o nível de gravidade seja capaz de mudar no decorrer do tempo. O curso pode ser alterado em virtude de condições médicas ou genéticas implícitas e comorbidades. Intervenções precoces e continuadas contribuem para

melhorar o funcionamento adaptativo e em algumas situações a função intelectual. De maneira que é normal, em se tratando de crianças pequenas, postergar-se o diagnóstico de Deficiência Intelectual para após proporcionadas as devidas intervenções. Em crianças mais velhas e adultos com DI, o nível de apoio propício corrobora para a participação nas atividades e favorece a função adaptativa.

Nota-se que esse modo de pensar a Deficiência Intelectual, segundo a literatura médica como se expressa no DSM5, prevalece ainda a classificação leve, moderada, severa e profunda levando a prognósticos pouco animadores. Embora posta pelo DSM5, a possibilidade de avanços no funcionamento adaptativo e algumas situações da função intelectual, mediante intervenções precoces e continuadas, também o apoio propício. No entanto, Padilha (2000, p.46) contrapõe o modelo médico, “[...] em que tudo é dado como pronto: assim é, porque assim é.” E se define o CID. Padilha (2000) convida a romper com esse paradigma médico, o qual define a deficiência pela falta. Depreende-se que há, do ponto de vista pedagógico, necessidade de se ter uma visão mais otimista ao pensar sobre a deficiência, não salientando os déficits, mas os pontos fortes. Em outras palavras, não pela via dos defeitos, mas das possibilidades como nos traz Vygotski (1997) nos Fundamentos da Defectologia, ao alertar que as características negativas e as complicações da deficiência provêm do “[...] desenvolvimento social incompleto, de uma negligência pedagógica.” (VYGOTSKI, 1997, p. 144). O autor faz uma referência ao desenvolvimento das funções superiores culturais que são necessárias a todos, cujo desenvolvimento impõe o compromisso escolar, criando condições pedagógicas para desenvolver as capacidades mais complexas do sujeito, vislumbrando suas possibilidades.