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PEI – Instrumento de Planejamento para a Educação Especial

No documento Dissertação de Tânia Mara dos Santos Bassi (páginas 101-106)

PLANO EDUCACIONAL INDIVIDUALIZADO – PEI – HISTÓRICO E LEGISLAÇÃO

3.4 PEI – Instrumento de Planejamento para a Educação Especial

Segundo Libâneo (2013, p.246) o planejamento “É um instrumento da racionalização do trabalho pedagógico que articula a atividade escolar com os conteúdos do contexto social.” Entende-se o planejamento didático como processo de sistematização e organização das ações docentes, que demanda tomada de decisão sobre a ação, bem como a busca por equilíbrio entre os meios e os fins e os recursos e os objetivos. Não se resume a um momento específico, nem tampouco é restrito a ação do docente, mas se trata de um processo permanente do cotidiano escolar.

Nesse caminho, o labor pedagógico na perspectiva da educação inclusiva implica em modificações na escola e nas práticas didáticas realizadas, requer dos professores estratégias e propostas curriculares novas, as quais assegurem processos de ensino e aprendizagem que respondam as especificidades e diferenças que se expressam no cotidiano escolar.

Assim, a fim de contemplar a diversidade do alunado, se configura o PEI como estratégia didática diferenciada com vistas a direcionar um trabalho que atenda a singularidades educacionais dos alunos. Ressalta- se que a efetivação da proposta educacional inclusiva apenas se dará caso o currículo e as práticas docentes considerarem as especificidades de cada educando e não se fundamentem em um padrão homogeneizador predominante, mesmo na atualidade, visto em muitas escolas, conforme afirmam Glat e Plestch (2012).

Portanto, na perspectiva inclusiva é necessário operar pedagogicamente na escolarização de alunos com deficiência, considerando suas carências físicas, sensoriais e alterações no desenvolvimento impõe a busca de alternativas pedagógicas que favoreçam sua participação escolar. Isso se torna mais evidente ao se tratar do aluno com Deficiência

Intelectual, tida como complexa, comparada às demais deficiências. Corroborando com esta afirmação, Rodrigues (2009) assegura que:

De todas as experiências que surgem no caminho de quem trabalha com a inclusão, receber um aluno com Deficiência Intelectual parece a mais complexa. Para o surdo, os primeiros passos são dados com a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Os cegos têm o braile como ferramenta básica e, para os estudantes com limitações físicas, adaptações no ambiente e nos materiais costumam resolver os entraves do dia-a-dia. (RODRIGUES, 2009. p. 23)

Mesmo considerando a complexidade da Deficiência Intelectual, entende-se que o PEI, como estratégia de organização curricular, tende a contribuir no processo de ensino- aprendizagem desses indivíduos. Nesse sentido, a definição de PEI, segundo Valadão (2010), é que ele é um planejamento educacional que

[...] quebra a barreira do padrão, auxiliando o currículo oficial, especificando e estruturando o tipo de atividade e qual o apoio profissional é conveniente para uma criança em situação de deficiência, de modo que, com isso, não haja limite, ao contrário, haja estímulo no processo de ensino e aprendizagem. (VALADÃO, 2010, p.29).

Pelas palavras de Valadão, entende-se que o currículo formal remete ao conteúdo oficial, ou seja, ao que é padrão programado para a classe sem, contudo, considerar a inexistente homogeneidade e de contemplar as peculiaridades do aluno, especificamente aquele em situação de deficiência. A partir do PEI, na promoção de adequações ou acomodações curriculares apropriadas ao aluno, torna-se favorável o seu processo de ensino e aprendizagem junto aos demais.

O PEI é compreendido como um recurso para instrumentalizar, de forma mais efetiva, propostas pedagógicas que contemplem as demandas de cada aluno, a partir de objetivos gerais elaborados para a turma (BRAUN; VIANNA, 2010; GLAT E PLESTCH , 2009, 2012, 2013; POKER, 2013). É concebido como um esboço da situação do aluno, de suas necessidades e de como estas deveriam ser atendidas. Ele está sujeito a semelhantes princípios que os demais planos efetivos de educação e ensino, de cuja diferença está no lay out. Na percepção de Pacheco (2007) [...] “a natureza prática do PEI depende de quão bem o ajuste educacional é atingido e quão bem o plano é conectado ao trabalho geral da turma.” (PACHECO, 2007, p.100). Deduz-se que o cerne da estrutura do PEI está na conexão com o currículo geral da turma, ao mesmo tempo no detalhamento e ajuste ao aluno.

Glat e Pletsch (2013) definem o PEI como:

[...]um recurso para orquestrar, de forma mais efetiva, propostas pedagógicas que contemplem as demandas de cada aluno, a partir de objetivos gerais elaborados para

a turma. É uma alternativa promissora, na medida em que oferece parâmetros mais claros a serem atingidos, sem negar os objetivos gerais colocados pelas propostas curriculares. (GLAT e PLESTCH, 2013,p. 22).

Dessa maneira o PEI vem redimensionar as práticas pedagógicas nas ações desenvolvidas por professores da classe comum e o professor do Atendimento Educacional Especializado (AEE), que por meio do trabalho colaborativo possibilitam a participação e desenvolvimento do aluno com deficiência juntamente com seus pares.

Os estudos de Glat e Plestch (2012) sobre a realização de planos individualizados para alunos com deficiência, ilustram a importância do PEI como promissor ao oferecer parâmetros explícitos a serem alcançados com alunos, sem contrariar os objetivos gerais postos nas propostas curriculares. A importância do PEI reside em auxiliar os professores na elaboração e planejamento de estratégias didáticas compreendidas em três aspectos, considerando faixa etária, o nível de desenvolvimento e o interesse do aluno, como: processo de aprendizagem escolar, habilidades sociais e habilidades próprias para a inclusão laboral.

No campo escolar, o PEI pode contribuir na prática docente, ao planejar as ações pedagógicas tornando possível ao aluno com deficiência, tomar parte nas atividades escolares e desenvolver aprendizagens, ainda que com adequações, tomando como base as práticas curriculares planejadas para a turma da qual participa. Portanto, esse planejamento educacional na perspectiva de individualização corresponde àquele aluno que necessita da especificidade no processo de ensino e aprendizagem, porém inserido num planejamento maior, em que os conteúdos coadunam.

Glat, Vianna e Redig( 2012) definem o PEI da seguinte forma:

Planejamento individualizado, periodicamente avaliado e revisado, que considera o aluno em seu nível atual de habilidades, conhecimento e desenvolvimento, idade cronológica, nível de escolarização, já alcançado e objetivos educacionais desejados a curto, médio e longo prazos. Também são levadas em consideração expectativas familiares e do próprio sujeito.(GLAT, VIANNA e REDIG, 2012, p. 21).

Em complemento a outra definição, pode-se dizer que a elaboração do PEI propicia práticas de ensino customizadas, personalizadas a partir de peculiaridades do aluno. Assim “[...] o PEI tanto individualiza como personaliza os processos de ensino para um determinado sujeito.”(SIQUEIRA et all, 2013, p. 3284)

Individualizar como prática pedagógica requer um olhar sobre o aluno, mas também reexaminar as diversas dimensões do currículo, o que demanda planejamento e intervenções baseadas em avaliações educacionais regulares acerca do processo de ensino e de aprendizagem, buscando alternativas satisfatórias.

Nesse caminho, pressupõe-se que o PEI estipula um eixo de atuação e de intervenção didática de maneira contextualizada, segundo aquilo que é estabelecido para a classe, mas também ajuíza as características próprias daquele aluno em específico, já que não existe um modo único de atender às necessidades educacionais especiais de todos alunos com deficiência.

Desse modo, a construção do PEI pode possibilitar ajustes e adequações curriculares necessárias, sem empobrecer os conteúdos ou objetivos, desde que relacionados ao trabalho escolar geral proposto para a turma. Para tanto, requer avaliações pedagógicas de modo sistemático que deem base para elaborar metas acadêmicas, bem como definir os recursos a serem usados no processo de aprendizagem escolar. Tal avaliação compreensiva sobre o aluno fornece elementos para a constituição do PEI, respondendo as singularidades que esse apresenta. (GLAT e PLESTCH, 2013, p.24)

Nesse tocante, de acordo com as Diretrizes Nacionais para a Educação Básica, a avaliação escolar deve ser de caráter pedagógico a fim de identificar “[...] as barreiras que estejam impedindo ou dificultando o processo educativo em suas múltiplas dimensões”. (BRASIL, 2001, p. 34). A avaliação como processo compartilhado entre os agentes educacionais, objetiva conhecer para intervir, de maneira preventiva e/ou remediativa, sobre as variáveis identificadas como barreiras para a aprendizagem e para a participação do aluno, visando contribuir para o seu desenvolvimento global. Nesse sentido “A avaliação constitui-se em processo contínuo e permanente de análise das variáveis que interferem no processo de ensino e de aprendizagem, objetivando identificar potencialidades e necessidades educacionais dos alunos e das condições da escola e da família.” (BRASIL, 2006, p.9).

Baseado nessa linha, Glat e Plestch (2013, p.26) mencionam que a elaboração do PEI envolve diferentes etapas: identificação, avaliação e intervenção. Assim, com o propósito de conhecer o nível de desenvolvimento escolar do aluno com deficiência, constitui-se o inventário de habilidades escolares, o qual requer ser elaborado, aplicado e avaliado por conter pistas sobre as habilidades existentes e as em processo, elucidando elementos relevantes na constituição do PEI.

Mascaro & Nascimento (2011) ratificam e explicitam as três etapas concernentes ao PEI, quais sejam:

1. A identificação, que é a avaliação preliminar para a identificação do aluno com necessidades específicas, considerando as possíveis adaptações curriculares e mudanças ambientais;

2. A avaliação, em si, denominada de avaliação compreensiva, que busca determinar quais as necessidades educacionais, considerando o que o aluno já sabe. Tais

constatações apontam para a elaboração de um Plano Educativo Individualizado (PEI);

3. A intervenção, que é a aplicação do Plano Educativo Individualizado com a reavaliação do aluno (CRUZ; MASCARO; NASCIMENTO 2011, p.4).

Compreende-se que essas etapas permitem a tomada de consciência acerca da realidade do aluno, proporcionando a base para as propostas de intervenção no âmbito escolar. A princípio, dá-se o inventário geral sobre o aluno, em que se levanta as habilidades e dificuldades que ele detém. Posteriormente, elabora-se o planejamento em que se promove as devidas adequações curriculares, a fim de ajustar ao aluno um plano individual de educação correspondente.

A partir desse pressuposto, Siqueira et al (2013) acrescentam que a composição do PEI:

[...] contém todas as informações do discente, ou seja, seus interesses, suas possibilidades, conhecimentos do sujeito, necessidades e prioridades de aprendizagem (como ensinar, quem vai ensinar e como ensinar). Prevendo recursos, estratégias, conteúdos, profissionais envolvidos, expectativas, prazos, habilidades. O PEI inclui não só a área acadêmica, mas também social e laboral. (SIQUEIRA et all, 2013, p.3284).

Para tanto, admite-se como fundamental que a elaboração do PEI seja de maneira colaborativa entre os que atuam com o aluno. Devem participar, dentre outros, os especialistas (com a finalidade de suporte), os professores regentes, profissionais da saúde, em situações de alunos com maior comprometimento. (GLAT; PLESTCH; REDIG, 2012; GLAT; PLESTCH, 2013; PACHECO 2007).

Portanto a elaboração do PEI deve contar com todos os membros da comunidade escolar que atuam junto ao aluno, além da família. O PEI emerge de um apanhado das características gerais apresentadas pelo aluno, bem como das necessidades desse, constituindo-se de um registro escrito avaliativo, formulado em equipe, em que se procura propor respostas educativas adequadas às necessidades educacionais que se apresentam no processo de escolarização do aluno com deficiência que necessite de meios alternativos para o alcance de sua aprendizagem. Para tanto, tem-se como importantes a observação e a avaliação compreensiva sobre o aluno e as informações complementares dispostas pelos constituintes envolvidos no processo. Considera-se o educando em seu estágio atual de habilidades, conhecimento, desenvolvimento, idade cronológica, nível de escolarização em que se encontra e a partir desses, os objetivos educacionais almejados a curto, médio e longo prazos. A necessidade subjetiva é a base do plano, que deve constar a prioridades de tarefas e as formas de avaliação. (GLAT e PLESTCH, 2013, p.44-45).

Nesse caminho, a individualização no tocante a diferenciação pedagógica, diz respeito à adequação do ensino frente às necessidades específicas, não depreendendo efeito exclusivo e segregador do aluno em meio ao processo de inclusão, ao contrário, responde a demanda inclusiva ao atender suas peculiaridades e favorecer sua aprendizagem no grupo.

Considerando o aspecto de diferenciação do ensino, acrescenta André (1999):

Diferenciar é dispor-se a encontrar estratégias para trabalhar com os alunos mais difíceis. Se o arranjo habitual do espaço de sala não funciona com esses alunos, se os livros e materiais didáticos não são adequados para eles, se, enfim, as atividades planejadas não os motivam, é preciso modificá-las, inventar novas formas, experimentar, assumir o risco de errar e dispor-se a corrigir. Diferenciar é, sobretudo, aceitar o desafio de que não existem respostas prontas, nem soluções únicas; é aceitar as incertezas, a flexibilidade, a abertura das pedagogias ativas que em grande parte são construídas na ação cotidiana, em um processo que envolve negociação, revisão constante e iniciativa de seus atores. (ANDRÉ, 1999, p.22). Infere-se que não se trata de beneficiar um aluno com deficiência em detrimento dos demais e sim de propor estratégias diferenciadas, individualizadas de ensino, bem como utilizar recursos e linguagens diversificados, adequando tempo e espaço escolar, reconsiderando inclusive os procedimentos e critérios avaliativos tendo em vista as necessidades que se apresentam. Nessa premissa, o PEI, constitui-se em uma estratégia didática norteadora que se traduz em respostas educativas às necessidades específicas, visando beneficiar o processo de escolarização de alunos que apresentam Deficiência Intelectual, matriculados em ensino comum. Pode-se dizer que o PEI se materializa no formulário como instrumento didático, mas que acaba se tornando uma estratégia pedagógica pela amplitude de ações inseridas e previstas nesse formulário.

Há diferentes configurações e modelos de formulários do PEI, porém têm como característica comum a composição de informações básicas: nome, idade, percurso escolar, aprendizagens construídas e dificuldades observadas, objetivos educacionais, metodologias, recurso, prazos. (GLAT, VIANNA E REDIG , 2012; GLAT E PLESTCH, 2013).

No documento Dissertação de Tânia Mara dos Santos Bassi (páginas 101-106)