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A Legislação Nacional e o PE

PLANO EDUCACIONAL INDIVIDUALIZADO – PEI – HISTÓRICO E LEGISLAÇÃO

3.2 A Legislação Nacional e o PE

O direito à educação escolar vai além de um quesito contemporâneo relacionado aos processos produtivos e de inserção profissional. Ele abrange, também, a cidadania social e política. Assim, esquadrinham-se no processo histórico da modernidade, no conjunto normativo e até mesmo internacional, os princípios fundantes do direito à educação e acesso escolar.

Conforme Cury (2002) está-se numa época em que a cidadania encara novos desafios e procura novos espaços de ação por meio das transformações na contemporaneidade. Para ele “O direito à educação escolar é um desses espaços que não perderam e nem perderão sua atualidade.” (CURY, 2002, p. 246). Atualmente, não existe país que não certifique, nos textos legais, o ingresso de seus cidadãos à educação básica. A educação escolar é base instituidora da cidadania, a qual é indispensável para políticas que objetivam a participação de todos nos aspectos sociais e políticos, como também no mundo profissional.

O direito à educação é reconhecido internacional e nacionalmente. O âmbito legal normatiza as regras, explicitando os direitos, os deveres, os limites e as possibilidades de ação. Contudo, é inquestionável que por vezes, as expectativas e o que é expresso na lei se esbarram nas condições e no funcionamento da sociedade. Portanto, a lei não assume um caráter mecânico de realização de direitos sociais, por seguir o contexto, contrariamente ela expressa uma dimensão de luta.

Cury e Ferreira (2010) complementam que com a promulgação da Constituição Federal, em 1988, na qual a educação foi reconhecida como direito social e público e subjetivo, têm-se chamado progressivamente o poder judiciário a fim de dirimir situações e garantir a efetivação do direito estabelecido. Esse procedimento foi nominado pelos autores de judicialização das relações escolares. No tocante, a proteção judicial da educação, entre

outros, tal direito engloba: gratuidade do ensino oficial em todos os níveis; ·atendimento especializado aos portadores de deficiência; prioridade de atendimento à criança e ao adolescente; oferta do ensino noturno regular; previsão dos programas suplementares de material didático-escolar.

No Brasil, o compromisso proclamado pela Conferência Mundial de Educação Para Todos, em 1990, em Jomtien, Tailândia, teve influência nas políticas educacionais e elaboração do Plano Decenal de Educação para Todos (1994-2003).

No entanto, somente a partir de 1995, foram criados instrumentos que viabilizaram o cumprimento e até mesmo a superação das metas definidas pelo Plano Decenal. Passo importante nesta direção foi dado com a Emenda Constitucional nº 14, que explicitou as responsabilidades educacionais da União, Estados e Municípios e instituiu o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef). Com isso, a universalização do ensino obrigatório tornou-se prioridade na política educacional.

Segundo Plestch (2010) a proposta de educação para todos é recente na história das sociedades capitalistas, remonta ao final do século XIX e início do século XX na Europa. Tal ideário ganhou força durante a primeira metade do século XX, culminando, após as duas grandes guerras mundiais, com a Declaração dos Direitos Humanos de 1948, na qual se estabeleceu o seguinte princípio: toda a pessoa tem direito à instrução. De acordo com a autora, a partir da política de universalização da Educação Básica, tomou força no plano internacional a proposta de inclusão escolar.

Plestch (2010) coloca que em 1994, foi realizada a Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais: acesso e qualidade, promovida pelo governo espanhol e a UNESCO, que resultou na Declaração de Salamanca (1994), usada como principal referência internacional na área. Mesmo que a inserção de pessoas com necessidades educacionais especiais já ocorresse há décadas, gradativamente e de modo pouco estruturado, este documento é tido como referência por pesquisadores da área de Educação Especial para a instituição do termo inclusão escolar. Este se propagou depressa, influenciando a elaboração de políticas públicas e práticas educacionais em inúmeros países, inclusive no Brasil.

Vale destacar que na Educação Especial, Políticas Públicas são ações articuladas entre o Poder Público e a sociedade, estabelecidas consuetudinariamente a fim de se garantir a execução de um direito legal. Para Di Giovanni (2009), as Políticas Públicas são formas contemporâneas de exercício de poder nas sociedades democráticas que levam ao fortalecimento da representação da sociedade na esfera governamental. Uma Política pública

pode ser vista como uma diretriz para enfrentar um problema público. Da mesma forma, Kassar (2011) conceitua as Políticas Públicas como a garantia de execução dos direitos sociais da cidadania – e neste caso da cidadania especial – na dinâmica da sociedade humana e democrática.

Na atualidade, a educação como direito de todos, no que implica a inclusão escolar, é assegurada na Constituição federal (1988), no Estatuto da criança e do Adolescente, e na própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, aprovada em 1996.

Nessa premissa, a Lei Brasileira de Inclusão (LBI), conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei n. 13.146/2015, ratifica que a educação constitui direito da pessoa com deficiência, sinalizando para o aprimoramento dos sistemas de ensino a fim de que haja a inclusão plena. A referida lei orienta para a adoção de medidas individualizadas e coletivas em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social dos estudantes com deficiência, favorecendo o acesso, a permanência, a participação e a aprendizagem em instituições de ensino; (BRASIL, 2015).Esses pressupostos da LBI aproximam a ideia do desenvolvimento do PEI tendo em vista uma prática educacional nos preceitos inclusivos.

A LBI de modo amplo trata do acesso a garantias e direitos para as pessoas com deficiência nas diversas áreas. Na Educação elucida a inibição da recusa de matrícula de aluno com deficiência no ensino regular, inclusive na educação privada, ratificando o que traz a Constituição Federal (1988) e o PNE, o qual reconhece nas suas diretrizes o respeito à valorização da diversidade e princípios de equidade, chamando para o poder público a responsabilidade de garantir o acesso à educação.

Quando o PNE em sua Meta 4 fundamenta o atendimento à Educação Especial, traça toda um processo estratégico de como essa meta deve ser alcançada ao longo da década, inter-relacionando as estratégias com os postulados teóricos e as ferramentas como o PEI para se alcançar a meta, ou seja, há uma complementaridade

A Lei Nº 13.005 de 25 de junho de 2014, que aprovou o PNE, traz metas educacionais inter-relacionadas, de caráter nacional. Consonante com essa política pública mais abrangente, os planos de educação estaduais e municipais foram elaborados alinhados ao PNE.

O PNE, na meta 4, menciona:

4.8.garantir a oferta de educação inclusiva, vedada a exclusão do ensino regular sob alegação de deficiência e promovida a articulação pedagógica entre o ensino regular e o atendimento educacional especializado;

4.16) incentivar a inclusão nos cursos de licenciatura e nos demais cursos de formação para profissionais da educação, inclusive em nível de pós-graduação,

observado o disposto no caput do art. 207 da Constituição Federal, dos referenciais teóricos, das teorias de aprendizagem e dos processos de ensino-aprendizagem relacionados ao atendimento educacional de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. (BRASIL, 2014). Reconhece-se a iniciativa por parte da União na previsão do envolvimento dos entes federados, na garantia da Educação Especial Inclusiva. Para tanto, traz também em suas metas a valorização e formação de profissionais docentes.

O PEE nº 4.621 quanto à Educação Especial recomenda universalizar para a população de 4 a 17 anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, efetuado de preferência na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, sejam esses públicos ou conveniados. (MATO GROSSO DO SUL, 2014, p. 17).

O PEE, na meta quatro menciona:

4.26. propiciar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades uma proposta pedagógica acessível, nas escolas comuns, com a utilização do Plano Educacional Individualizado (PEI);

[...]

4.9. garantir que a Educação Especial seja integrada à proposta pedagógica da escola comum, de forma a atender as necessidades de alunos(as) com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, a partir do primeiro ano de vigência do PEEMS. (BRASIL, 2014).

Entende-se que sob a linha mestra da Constituição Federal (1988) que institui a educação como direito de todos, dispõe que a União se incumbe à elaboração do seu PNE e que compete também aos estados e municípios fomentarem os respectivos planos de educação, os quais salvaguardem os direitos das pessoas com deficiência, criando condições para que a sua escolarização se materialize, no ensino comum. Assim, a meta 4 do PEE em suas diretrizes regulamentadas aponta para organização o trabalho didático de maneira a contemplar as especificidades desse alunado, afirmando o PEI como instrumento que visa melhorar e personalizar o planejamento pedagógico a fim de atender a diversidade.

O Plano Estadual de Educação de Mato Grosso do Sul segue as mesmas linhas e diretrizes estabelecidas pelo PNE. Em tese, trata-se apenas de uma adequação do nacional para as características estaduais. Todavia, as estratégias do PEE na meta 4 estão nos mesmos moldes estabelecidos pelo PNE, apenas inclui diretivas a mais, dada as características do Estado e o número de alunos com deficiência atendidos nas redes de ensino.

Nota-se um avanço na previsão do PEI, haja vista que na Meta 4 do PEE, há menção específica a respeito do PEI e sua utilização e execução, porém, no PME a ser visto abaixo, há menção genérica sobre o tema, sem se aprofundar na questão PEI, o que fica à cargo da Resolução SEMED nº 184/2018. Ao se fazer as considerações sobre as condições específicas dos alunos, o PME se cala nas suas diretrizes macro para a Educação de Campo Grande/MS.

O Plano Municipal de Educação – PME- do município de Campo Grande/MS, foi instituído pela Lei nº 5.565, promulgada em 23 de junho de 2015, compreende o período de 2015 a 2025. Ele dá continuidade ao já previsto no PNE e no PEE, acerca da meta 4 da Educação Especial assegura:

[...] o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados.

4.8 garantir a oferta de educação inclusiva, vedada a exclusão do ensino regular sob alegação de deficiência; 4.8.1 promover a articulação pedagógica entre o ensino regular e o atendimento educacional especializado, favorecendo o desenvolvimento e a aprendizagem, por meio dos recursos e apoios especializados. 4.20 estabelecer mecanismos alternativos de avaliação, considerando as especificidades do alunado e os recursos disponíveis. (CAMPO GRANDE, 2015).

No encaminhamento da educação inclusiva, Santos (2014) menciona que:

Os desafios inerentes à construção de um sistema educacional inclusivo são percebidos na sua dimensão histórica, como processo de reflexão e prática, que possibilita efetivar mudanças conceituais, político e pedagógicas, coerentes com o propósito de tornar efetivo o direito de todos à educação, preconizado pela Constituição Federal de 1988. (SANTOS, 2014, p. 53).

Nesse sentido, entende-se que a perspectiva da Educação Especial, impelida pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD), aprovada pela Organização das Nações Unidas (2006) e no Brasil pela Constituição Federal (1988), por decretos e Planos de Educação vem garantir aos alunos com deficiência o acesso ao ensino comum, tendo por meio do PEI a possibilidade do atendimento as suas necessidades educativas especiais. Assim, em meio aos desafios da educação inclusiva, o trabalho docente requer a construção de saberes e competências para lidar com o aluno da Educação Especial, hoje presente nas escolas por meio da política de inclusão.

Vê-se que muitos são os documentos que vêm assegurar à pessoa com deficiência seus direitos à educação. Primeiramente, o único espaço escolar destinado a esses sujeitos se caracterizava por ser especial, fosse escola, sala ou classe. Porém, issose modificou no

decorrer do tempo passando a ser designado o espaço da escola comum, sendo esse coletivo a todos os alunos, observadas suas demandas específicas.

A partir disso, a perspectiva inclusiva tem a finalidade de oportunizar uma educação para todos, apontando para a democratização do espaço escolar por meio da superação da exclusão de pessoas que apresentam necessidades educacionais especiais e da dicotomia entre o ensino comum e o especial, por meio de classes especiais. A inclusão pressupõe mudanças estruturais na escola a fim de viabilizar aos alunos com deficiência as mesmas oportunidades educativas que têm acesso os demais alunos.

A política de educação inclusiva está sendo construída pelos sistemas de ensino estaduais e municipais, na consolidação de suas bases legais. Porém, estabelecida no cenário da educação nacional e paulatinamente se avança nessa realização. Com a educação na perspectiva inclusiva, portanto, os alunos com deficiência estão inseridos nas classes comuns do ensino comum e se torna preciso considerar suas especificidades muitas vezes apagadas pelo “todos.” Deve-se refletir sobre a organização e o planejamento do trabalho pedagógico desenvolvido de maneira a garantir efetivamente o direito ao acesso, à permanência e ao conhecimento escolar para estes alunos.