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TEORIA DA CONSTITUIÇÃO

1.5 CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Tão com plexo e difícil quanto conceituar os Direitos Fundam entais é tentar, sem incorrer em equívocos e divergências doutrinárias, descrever uma classificação estrem e de discussões entre os que se dedicam ao tema.

Assim, além de com plexos em sua estrutura interna, os direitos fundam entais denotam um a pluralidade de tipos. Inúm eras são as tentativas de classificações dos m esm os com a utilização de diversos critérios. Podem-se classificar quanto à titularidade e aos sujeitos, quanto ao conteúdo ou ao objeto, quanto à estrutura, quanto ao m odo de proteção, bem com o quanto ao regim e.94

F A R I A S , E d i l s o m Per eira d e . C o l i s ã o cie D i r e i t o s : a h o n r a , a i n t i m i d a d e , a v i d a p r i v a d a e a i m a g e m v e r s u s a l i b e r d a d e d e e x p r e s s ã o e i n f o r m a ç ã o , p . 8 2 V . s o b r e o u l r a s c l a s s i f i c a ç õ e s . S A R L E T . In g o W o l f g a n g . A E f i c á c i a d o s D i r e i t o s F u n d a m e n t a i s . C A N O T I L H O , J. J. G o m e s . D i r e i t o C o n s t i t u c i o n a l e T e o r i a d a C o n s t i t u i ç ã o .

Para JO SÉ AFONSO DA SILVA, a classificação dos direitos fundam entais, no caso brasileiro, é aquela que os agrupa com base no critério de seu conteúdo, que, ao m esm o tempo, refere-se à natureza do bem protegido e do objeto de tutela. D e acordo com este critério, tem-se a seguinte classificação:

I) Direitos fundam entais do hom em -indivíduo, que são aqueles que reconhecem autonomia aos particulares, garantindo iniciativa e independência aos indivíduos diante dos demais m em bros da sociedade política e do próprio Estado, por isso são reconhecidos com o direitos individuais; como exem plo, cita-se o art. 5o da Constituição;

II) Direitos fundam entais do hom em -m em bro de um a coletividade, que são aqueles que a C onstituição os adotou como direitos coletivos (art. 5o da C onstituição Federal);

III) Direitos fundam entais do hom em -social, que constituem os direitos assegurados ao hom em em suas relações sociais e culturais. A guisa de exem plo, pode-se m encionar o direito à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à segurança, à previdência social etc. (art. 6° da Constituição Federal);

IV) Direitos fundam entais do hom em -nacional, que são os que têm por conteúdo e objeto a definição da nacionalidade e suas faculdades.( art. 12 da C onstituição Federal);

V) Direitos fundam entais do hom em -cidadão, que são os direitos políticos, denom inados tam bém direitos dem ocráticos ou direitos de participação política, (art. 14 da Constituição F e d e ra l).9:1

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Em síntese, com base na Constituição, os direitos fundamentais podem -se classificar em cinco grupos distintos:

I) Direitos individuais (art. 5o); II) Direitos C oletivos (art. 5o);

III) Direitos Sociais (art. 6o e 193 e ss.); IV ) Direitos à nacionalidade (art. 12); V) Direitos políticos (art. 14 a 17).

Para JORGE M IR A N D A , os direitos fundam entais quanto ao objeto ou ao conteúdo podem ser classificados em: direitos pessoais, direitos sociais e direitos políticos. Assim:

I) Há os direitos em que se trata de proteger, direta e essencialm ente, a pessoa enquanto tal, a pessoa singular, o indivíduo nos atributos caracterizadores da sua personalidade moral e física. P ode-se citar o direito à vida, o direito à integridade m oral e física, o direito à liberdade e à segurança, a liberdade de consciência, religião e culto.

II) São os direitos correspondentes à teia de relações sociais em que a pessoa se m ove para realizar a sua vida em todas as suas potencialidades; ou advindos da inserção nas m últiplas sociedades, sem as quais ela não poderia alcançar e fruir os bens econôm icos, culturais e sociais de que necessita. C om o exem plos de tais direitos, pode-se m encionar o direito de propriedade, da liberdade de profissão, direitos culturais com o a liberdade de im prensa, direito à educação e cultura etc. III) Por últim o, há os direitos da pessoa frente ao Estado ou no E stado, direitos de participação pública, de tomar

parte na vida política e na direção dos assuntos públicos do país. Identificam -se como exemplo o direito ao sufrágio, o acesso a cargos públicos, direito a associação política etc.96

P ara LU ÍS RO BERTO BARROSO “...embora existam dissenções doutrinárias, fulcradas, sobretudo, em sutilezas semânticas, e haja discrepância na linguagem do D ireito Constitucional positivo, é possível agrupar os direitos fundam entais em três grandes categorias, que os repartem em: direitos políticos, direitos individuais e direitos sociais."91

A inda, há de se observar que os direitos fundam entais reportam -se sem pre à pessoa hum ana, mas há bens jurídicos que somente podem ser salvaguardados no âm bito ou através de instituições, dotadas de m aior ou m enor autonom ia, frente aos indivíduos que, em cada momento, as constituem . D aí JO R G E M IR A N D A , classifica ainda, os direitos fundam entais em individuais e institucionais, sendo individuais, obviam ente, o direito à vida, à liberdade pessoal, à liberdade de consciência, o direito ao trabalho ou o direito ao ensino e direitos institucionais o direito de antena (art. 40 da Constituição), o de livre organização das confissões religiosas (art. 41, n° 3), o direito de livre ação e associações (art. 46, n° 2), os direitos das com issões de trabalhadores (art. 54, n° 5) e das associações sindicais (art. 56) ou os direitos de participação no Conselho Econômico e Social (art. 95, n° 2).98 E xem plos extraídos da Constituição Portuguesa de 1976.

% M I R A N D A . Jo r g e. M a n u a l d e D i r e i t o C o n s t i t u c i o n a l . T o m o IV . p . 8 6

97 B A R R O S O , L u í s R o b e r t o . O D i r e i t o C o n s t i t u c i o n a l e a E f e t i v i d a d e d e s u a s N o r m a s , p. 9 7 9S M I R A N D A . Jorge. M a n u a l d e D i r e i t o C o n s t i t u c i o n a l . T o m o IV . p. 7 4

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J. J. GOM ES C A N O TILH O , por sua vez, com base no direito constitucional português afirma que

“umas das classificações m ais im portantes sob o ponto de vista jurídico-constitucional é a que se refere aos direitos, liberdades e garantias. Tal classificação e relevante sob vários pontos de vista: 1) porque ela não constitui um sim ples esquem a classificatório, antes pressupõe um regim e jurídico-constitucional especial, m aterialm ente caracterizador, desta espécie de direitos fundam entais; 2) porque esta classificação e esse regime vão servir de parâm etro material a outros direitos

análogos dispersos ao longo da Constituição; 3) porque

aos preceitos constitucionais consagradores de direitos, liberdades e garantia se atribui uma força vinculante e uma densidade aplicativa (aplicabilidade directa) que apontam para um reforço da “mais valia” norm ativa destes preceitos relativam ente a outras norm as da Constituição, incluindo-se aqui norm as referentes a outros direitos fundam entais.”99 (Ipsis Litteris)

Neste sentido, JO R G E M IR A N D A afirm a que tal classificação “ ...visa os direitos no seu cerne estrutural, m as, m ais do que no seu cerne, no seu reflexo sobre o Estado (sobre o Estado-poder e o Estado-com unidade). Visa os direitos com o expressões jurídico-constitucionais das relações entre as pessoas e as entidades públicas (sem excluir, de resto, incidência em entidades privadas). Considera-os, portanto, enquanto susceptíveis de regim es jurídicos diferenciados.” E afirma que “ ...direitos liberdade e garantias são, por exem plo, hoje, em Portugal o direito de acesso aos tribunais (art. 20, n° 1 da Constituição), o direito à vida (art. 24), às garantias de processo criminal (art. 32), o direito de constituir fam ília (art. 36, n° 1), à liberdade de im prensa (art. 38), o direito de antena (art. 40), à liberdade religiosa (art. 41), o direito de acesso à função pública (art. 47, n° 2), o direito de

sufrágio (art. 49), à liberdade sindical (art. 55), o direito à greve (art. 57), o direito de iniciativa econôm ica (art. 61), o direito de recurso contencioso contra actos adm inistrativos ilegais (art. 268, n° 4).” 100

Em bora, não seja um a classificação dos direitos fundamentais no sentido estrito, vale registrar, segundo a ótica de J. .J. GOM ES CANOTILHO, as diferentes funções que estes direitos podem desempenhar, a saber: prim eiro teria a função de defesa ou de liberdade. Exem plo típico seria o inciso IX, art. 5o da C onstituição Federal de 1988, que preconiza a liberdade de expressão intelectual, artística, científica e de com unicação, independente de censura ou licença . Segundo, teria a função de prestação social que significa, em sentido estrito, o direito do particular a obter algo através do Estado, com o por exem plo, direito à educação ( art. 205 da CF/88) , à saúde (art 196 da CF/88), segurança pública( art. 144 da CF/88), todos constitucionalm ente assegurados em nossa Carta Maior. Terceiro, trata-se de im posição de um dever ao Estado, no sentido de este proteger perante terceiros os titulares de direitos fundamentais. Neste sentido, o Estado tem o dever de proteger a vida perante eventuais agressões de outros indivíduos. Assim, pode-se, à guisa de exem plificação, citar a proteção da inviolabilidade do dom icílio, o direito de proteção à propriedade, bem com o a proteção e defesa do consum idor contra atos abusivos e lesivos ao seu patrimônio.(art. 5o da CF/88).

Finalm ente, os direitos fundamentais assumem a função de não- discrim inação. H odiernam ente, inspirados nos ideais de liberdade, igualdade e

w C A N O T I L H O . J.J. G o m e s . D i r e i t o C o n s t i t u c i o n a l e T e o r ia d a C o n s t i t u i ç ã o . C f. t a m b é m M I R A N D A . J o r g e . M a n u a l d e D i r e i t o C o n s t i t u c i o n a l . T o m o IV p. 9 2 e ss

fraternidade, não se concebe, nos modernos E stados D em ocráticos de D ireitos, quaisquer atos discrim inatórios à dignidade da pessoa hum ana. Assim , a partir do princípio da igualdade e dos direitos de igualdade específicos consagrados na Constituição, a doutrina deriva esta função prim ária e básica dos direitos fundam entais, qual seja, assegurar que o Estado trate os seus cidadãos como cidadãos fundam entalm ente iguais. Pode-se citar, com o exem plo, o art. 5o. caput, incisos XXXIV e X X X V II.101

Portanto, os direitos fundam entais, com o valores superiores na Constituição brasileira, representam conquistas históricas. Trata-se de direitos consagrados pelas ordens jurídicas ocidentais de nosso tempo. São direitos hum anos que ganharam , por sua positivação, um a adjetivação especial de direitos fundam entais. Pode-se nomear, à guisa de ilustração, o direito à vida, o direito à igualdade, o direito à liberdade e o direito à dignidade hum ana São referenciais de justiça plasm ado no texto constitucional. A C onstituição brasileira encerra um a conjugação desses quatro postulados fundam entais. E o faz de m odo tal que possibilita ao intérprete identificá-los como os seus quatros princípios básicos, por extensão, os princípios básicos da ordem do D ireito e do Estado. R epresentariam tais postulados os direcionadores máximos da valoratividade constitucional, o nexo unitário do sistema constitucional brasileiro.

Em resumo, pode-se afirmar a íntim a e indissociável vinculação entre os direitos fundam entais e as noções de C onstituição e sistem a C onstitucional.

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V inculada ao conceito de sistema, cad a Constituição adquire, por conseguinte, um certo perfil ou caráter individual, traço peculiar que o intérprete não deve m enosprezar, do contrário, jam ais logrará penetrar o verdadeiro “espírito da Constituição, cujo reconhecim ento é indispensável para que ele possa inferir o sentido essencial das normas constitucionais. Neste sentido, BONAVIDES afirma que “o sistem a constitucional teria por conteúdo, primeiro, a Constituição propriam ente dita, segundo, as leis com plem entares prevista pela Constituição,

terceiro, todas as leis ordinárias que, do ponto de vista material, se possam reputar

constitucionais, em bora não estejam no texto da Constituição form al, e a seguir, com o o m áxim o relevo, o conjunto de instituições e poderes (...), a saber, os

1 ( P ^

partidos políticos e correntes de interesses” . “ E, por sua vez, na Constituição, e não som ente nesta, que os direitos fundam entais encontram abrigo. Aliás, as idéias de C onstituição e direitos fundam entais são, no âm bito do pensam ento da segunda m etade do século XVIII, m anifestações paralelas e unidirecionadas da mesma atm osfera espiritual. Ambas se com preendem com o limites normativos ao poder estatal. Som ente a síntese de am bas outorgou à Constituição a sua definitiva e autêntica dignidade fundam ental. O s direitos fundam entais integram, portanto, ao lado da definição da form a de E stado, do sistema de governo e da organização do poder, a essência do Estado constitucional, constituindo, neste sentido, não apenas parte da C onstituição formal, m as tam bém elem entos nuclear da Constituição m aterial.103

IIP B O N A V I D E S , P a u l o . C u r s o d e D i r e i t o C o n s t i t u c i o n a l , p. 81

CAPÍTULO II