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Classificação Internacional de Doenças

A Classificação Internacional de Doenças (CID) (OMS, 2000) consiste num manual elaborado pela OMS que contem uma lista extensa de códigos com divisões e subdivisões para os vários tipos de doenças e que incorpora, também, um enquadramento conceptual e técnico em que cada informação sobre mortalidade é tabelada e reunida.

Actualmente encontra-se em vigor a 10ª revisão desta classificação sendo que, como refere (Prior, 1985), estas revisões invariavelmente significam revisões das regras que sustentam as agregações de doenças. A informação sobre as causas dos óbitos, mesmo quando utilizada de acordo com uma classificação estandardizada como a Classificação Internacional

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Segundo informação que consta nos relatórios da DGS (2006b), expõe-se o seguinte trecho: “em finais de 2000, iniciou-se um processo activo de esclarecimento das Causas de Morte em todos os verbetes de óbito cuja causa básica de morte era desconhecida ou mal definida. Este programa obteve já resultados que se traduziram na redução da mortalidade proporcional por Sinais, Sintomas e Afecções Mal Definidas de 12,4% em 1998/99 e 2000, para 9,4% em 2002, em 2003 e na sequência da onda de calor tivemos acesso à cópia dos certificados de óbito para o período de Junho a Outubro, pelo que este grupo de causas pôde ser ainda melhor esclarecido, no ano de 2004 verificou-se um aumento da mortalidade proporcional por este conjunto de causas (9, 6%) ” (DGS, 2006b: 13).

100 das Doenças, não resolve todos os problemas em redor das dimensões de subjectividade/objectividade.

Como refere Giddens (1994), ao longo do século XX, os conceitos e critérios utilizados para identificar as principais causas de morte mudaram substancialmente. Giddens (1994) fornece o exemplo do que, no inicio do século XX, se designava por lesões

intracraneanas de origem vascular que passaram a se denominar, na década de sessenta, de lesões vasculares afectando o sistema nervoso central e que, finalmente, passaram à

designação actual de doenças cerebrovasculares (1994: 107).

As classificações das doenças e dos diagnósticos clínicos têm registado mudanças ao longo do tempo, que mais do que expressão de modas reflectem, sobretudo, alterações da visão médica em articulação com contextos sociais mais vastos. Verifica-se, deste modo, não só processos de classificação, que correspondem a entradas de novos tipos de doenças, como também se tem verificado processos de desclassificação e de reclassificação das doenças.

A título de exemplo referem-se aqui no âmbito dos processos de classificação a medicalização da tóxico-dependência ou do alcoolismo como constituindo novas entradas de doenças; no âmbito dos processos de desclassificação refira-se a desmedicalização da homossexualidade, relembre-se que a categoria homossexual era incluída no conjunto das doenças psiquiátricas (Bastos, 2002: 45) e, por último, tem-se verificado, igualmente, processos de reclassificação das doenças, como é exemplificado por Fabre (1998) para o caso da infecção pelo hiv-sida, na passagem de uma classificação de doença contagiosa para uma doença transmissível mas não contagiosa. Fabre (1998) sustenta que esta reclassificação pretendeu por um lado preservar os imperativos da saúde pública e, por outro, neutralizar as representações sociais e os efeitos negativos associados à noção de contágio (1998: 4).

A história do desenvolvimento da classificação das doenças fica associada ao desenvolvimento da estatística durante os séculos XVIII e XIX, sendo que, o estudo da quantificação das doenças para fins práticos remonta ao século XVII, no âmbito dos estudos sobre a mortalidade, especialmente marcado pelo trabalho de John Graunt na elaboração das tabelas mortuárias de Londres (OMS, 2000). Apesar destes trabalhos pioneiros, a primeira tentativa de classificação sistemática das doenças localiza-se posteriormente, em meados do século XVIII, sendo da autoria de François de Lacroix (1706-1777) que elaborou um tratado publicado sob o título de Nosologia Methodica que ficou mais conhecido pelo tratado de

101 Outras formas de classificação foram surgindo, em diversos países, no decorrer dos séculos XVIII e XIX17, sendo que cedo se percebeu da necessidade de uniformizar os critérios classificatórios base, com o intuito de se proceder à comparação entre os vários países. Neste sentido, realiza-se em 1853, o primeiro Congresso Internacional de Estatística que, reunido em Bruxelas, passa reconhecer a utilidade de uma classificação uniforme de causas de morte, tendo sido solicitado para o efeito a William Farr e Marc d’Espine a preparação de uma classificação uniforme das causas de morte (OMS, 2000). Este objectivo de uniformização passa a percorrer as várias conferências internacionais que foram posteriormente realizadas em 1891, em Viena, que culminou depois na criação do Instituto Internacional de Estatística em 1893 em Chicago e, em 1900, em Paris. A designada Classificação de Causas de Morte

de Bertillon, como a princípio foi designada por referência à autoria do presidente do comité,

responsável pela elaboração do inicial relatório - Jacques Bertillon - director dos serviços de estatística da cidade de Paris recebeu a aprovação geral e foi adoptada por vários países (OMS, 2000).

Apesar de se pretender situar no domínio destas classificações um campo mais alargado das doenças, as várias propostas não deixaram de reflectir, desde a sua génese, a grande dependência relacionada com a produção de estatísticas referentes às causas de morte. Após a segunda grande guerra e com a criação da OMS é então criado um manual com a proposta de uma lista mais abrangente e que passa incluir tanto as dimensões relativas à mortalidade como à morbilidade. Este manual surge com a designação mais lata de

Classificação Estatística Internacional de Doenças, Lesões e Causas de Morte (OMS, 2000),

que se manteve até a actualidade com esta designação, sendo que ficou mais conhecido pela fórmula abreviada de Classificação Internacional de Doenças e pelo acrónimo CID.

Exposto um breve percurso histórico apresenta-se, de seguida, um dos vários quadros de doenças presentes neste manual (CID-10ª revisão) sendo que este Quadro 3.1 dá conta da forma mais agregada de apresentação de doenças organizadas por grandes grupos.

Como se pode observar, através do Quadro 3.1, esta classificação implica uma codificação que se encontra organizada e dividida em 22 grandes categorias, que aqui são

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Neste período destaca-se o metodologista Lineu (1707-1778) que escreveu, entre outros tratados, o Genera Morborum, sendo que no inicio do século XIX, a classificação de doenças mais utilizada era a de William Cullen (1710-1790), de Edimburgo, surgida em 1785 sob o título de Synopsis Nosologiae Methodicae” (OMS, 2000). “No quarto Congresso Estatístico Internacional, realizado em Londres e, 1860, Florence Nightingale recomendou a adopção de classificação de doenças de Farr para a tabulação da morbilidade hospitalar” (OMS, 2000).

102 denominadas por capítulos, e que correspondem aos grandes grupos de doenças e de causas de mortalidade, que são apresentados sob numeração romana. Cada um destes capítulos apresenta-se com uma designação própria - como por exemplo “Capítulo XIX - Doenças do aparelho circulatório” - que corresponde por sua vez a outros tantos agrupamentos de categorias que surgem com uma identificação alfanumérica composta por três caracteres.

Quadro 3.1 Classificação internacional de doenças (CID-10ª revisão). Grandes grupos de doenças

Capítulos Grandes grupos de doenças Códigos

I A-B Algumas doenças infecciosas e parasitárias A00 B99

II C-D Neoplasias (tumores malignos) C00 D48

III D Doenças sangue órgãos hematopoéticos e transtornos imunitários D50 D89

IV E Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas E00 E90

V F Transtornos mentais e comportamentais F00 F99

VI G Doenças do sistema nervoso G00 G99

VII H Doenças do olho e anexos H00 H59

VIII H Doenças do ouvido e da apófise mastóide H60 H95

XIX I Doenças do aparelho circulatório I00 I99

X J Doenças do aparelho respiratório J00 J99

XI K Doenças do aparelho digestivo K00 K93

XII L Doenças da pele e do tecido subcutâneo L00 L99

XIII M Doenças sistema osteomuscular e tecido conjuntivo M00 M99

XIV N Doenças do aparelho geniturinário N00 N99

XV O Gravidez parto e puerpério O00 O99

XVI P Algumas afecções originadas no período perinatal P00 P96

XVII Q Malformações congénitas deformidades e anomalias

cromossômicas Q00 Q99

XVIII R Sintomas sinais e achados anorm ex clín e laborat R00 R99

XIX S-T

Lesões envenenamentos e algumas outras consequências de

causas externas S00 T98

XX V-Y Causas externas de morbilidade e mortalidade V01 Y98

XXI Z Contactos com serviços de saúde Z00 Z99

XXII U Códigos para propósitos especiais U04 U99

103 Relativamente a este código de identificação alfanumérica o primeiro caracter corresponde, de uma maneira geral, a uma letra que identifica o capítulo respectivo18, seguidos de números para a segunda e para a terceira posição. Dentro de cada agrupamento, algumas das categorias de três caracteres correspondem a doenças isoladas, que segundo o que é referido no texto (OMS, 2000) são escolhidas devido á sua frequência, gravidade ou susceptibilidade à intervenção de saúde pública, enquanto outras categorias se destinam a grupos de doenças que são reunidas por apresentarem características comuns. Por exemplo, a categoria “A-00” corresponde apenas a uma doença: a cólera; enquanto que a categoria “E- 07” corresponde a um conjunto de doenças englobadas em “outros transtornos da tiróide”. Por outro lado, algumas doenças tidas normalmente como correspondendo a apenas uma entidade nosológica, como por exemplo a Diabetes Mellitus, corresponde aqui a um conjunto de cinco categorias, que no fundo especificam diferentes tipos e situações associadas à doença e, deste modo, a Diabetes Mellitus surge compreendida entre os códigos “E-10” e “E-14”.