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Codex Alimentarium: processos de regulamentação O Codex Alimentarius foi criado em 1962, com sede em

INSTÂNCIA ESTADUAL

6. SEGURANÇA ALIMENTAR E BEM-ESTAR ANIMAL

4.3. Codex Alimentarium: processos de regulamentação O Codex Alimentarius foi criado em 1962, com sede em

Roma, constituído por 173 Membros tendo por objetivo, cumprir com o Programa Conjunto da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e da Organização Mundial da Saúde (OMS). Desenvolve suas atividades sob uma estrutura de direção composta por três órgãos, quais sejam:

a. Comissão do Codex Alimentarius: órgão máximo do Programa Conjunto da Organização das Nações Unidas, com representação de todos os países membros, sendo a instância que aprova as normas do

Codex. A sua diretoria é composta por um presidente e

três vicepresidentes;

b. Secretaria da FAO/OMS: tem como finalidade fornecer o apoio operacional à Comissão e aos seus órgãos

auxiliares em todo o procedimento de elaboração das normas;

c. Comitê Executivo: tem por competência implementar as decisões da Comissão e atuar em seu nome nos perío- dos entre reuniões.

O Codex possui, ainda, dois órgãos assessores: (1) JECFA (Grupo FAO/OMS de peritos sobre Aditivos e Contaminantes) e (2) JMPR (Grupo FAO/OMS de peritos sobre Resíduos de Pesti- cidas) e mais trinta e oito Comitês que atuam como órgãos auxi- liares.

O Codex é reconhecido pela OMC para estabelecer as normas sobre a qualidade sanitária dos alimentos e, tem como finalidade proteger a saúde da população, assegurando práticas equitativas no comércio regional e internacional de alimentos, criando mecanismos internacionais dirigidos à remoção de barreiras tarifárias, fomentando e coordenando todos os traba- lhos que se realizam em normalização, por meio de normas, códigos de uso, diretrizes e recomendações (PAHO, 2008).

Vale lembrar que dos anos 60 aos anos 80 a população mundial cresceu mais de um milhão, ensejando um incremento na produção mundial de alimentos. Além do mais, as explorações agrícolas estavam recebendo novas tecnologias baseadas em substâncias químicas. Ressaltando, que até os anos 50 o aumento da produção agrícola estava baseado, principalmente, na ampliação da área cultivada, sem, entretanto aumentar a produtividade. A partir daí o aumento da produtividade foi con- seguido por meio do aumento do risco, caracterizado pelo fomen- to e incremento no uso da mecanização agrícola e introdução de novas variedades de cultivo de alto rendimento na área vegetal, a utilização de hormônios de crescimento, estimuladores orgânicos, antibióticos, entre outros, na área animal. Os defen- sivos agrícolas bem como os fertilizantes químicos, assim como as técnicas aplicadas para reduzir as perdas e os desperdícios dos alimentos desempenharam também um importante papel no desenvolvimento e produtividade na produção de alimentos (FAO, 2006).

Contudo, a preocupação dos consumidores com a seguridade data de priscas eras, pois que na antiguidade os reis já se utilizavam de oficiais ou “provadores”, os quais atuavam

como sentinelas pela segurança dos alimentos a serem servidos aos reis e outros membros da família real. Para a avaliação de pesos e medidas corretas de cereais, documentos históricos revelam que os assírios já possuíam um método específico. Na antiga Atenas inspeções eram realizadas com a finalidade de determinar a pureza e o estado da cerveja e do vinho, e os romanos, por sua vez, possuíam um sistema estatal organizado que visava à proteção dos consumidores contra fraudes ou produtos de má qualidade. Na Idade Média, distintos países aprovaram leis relativas à qualidade e inocuidade de alimentos como ovos, salsichas, queijos, cerveja, vinho e pão (FAO, 2006).

O período entre final do século XIX e início do século XX, o império austro-húngaro, realizou uma coletânea de normas e descrições de produtos envolvendo uma grande variedade de alimentos. Entrementes, este documento não tenha vigorado como instrumento jurídico, serviu como referência em tribunais, com a finalidade de determinar normas de identificação de certos alimentos. Esta coletânea recebeu o título de Codex Alimentarius

Austriacus (FAO, 2006).

Todavia, somente na segunda metade do século XIX é que foram aprovadas as primeiras legislações que regem sobre a qualidade sanitária dos alimentos, bem como a implantação de sistemas básicos de fiscalização para o cumprimento da lei. Foi nesta época, igualmente, que iniciaram ações para a identifica- ção de fraudes na venda de produtos alimentares, bem como a identificação de produtos comestíveis inócuos.

No ano de 1943, quarenta e quatro países firmaram a “Conferência das Nações Unidas sobre Agricultura e a Alimen- tação” com a intenção de criar uma organização internacional com a finalidade de cooperar com os governos no propósito de ampliar e melhorar as normas relacionadas com a composição nutricional dos alimentos, assim como com o encargo de formular e adotar normas internacionais equivalentes. Neste sentido, as iniciativas européias para criar um código alimentário europeu, o

Codex Alimentarius Europeu, acelerou as discussões com vistas

à criação de um organismo internacional (GARCIA, 2008).

Este crescimento do setor de produção de alimentos foi a- crescido da maior percepção dos consumidores para ingestão de alimentos saudáveis, prevenindo o aparecimento de distúrbios à saúde, como por exemplo, a obesidade, a diabetes, a hiperten-

são, a resistência aos antibióticos, entre outros. Aliado a estes fatores, aparecia ainda a preocupação do consumidor com o uso na produção de alimentos de aditivos e conservantes, ou de pro- dutos contaminados por defensivos ou medicamentos (GARCIA, 2008).

Por seu turno, a disponibilização de alimentos contami- nados com substâncias químicas sintéticas, como os pesticidas, suscitou uma crescente preocupação por parte das autoridades sanitárias. Entretanto, os contaminantes de origem microbiológi- ca presentes nos alimentos de origem natural constituem uma ameaça muito maior para a saúde da população mundial. Estudos da Organização Mundial da Saúde informam que a cada ano ocorrem milhões de casos de diarréia devido ao consumo de alimentos contaminados com bactérias e vírus, e que ocorre prin- cipalmente em crianças menores de cinco anos, com ênfase aos que vivem nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento (FAO, 2006).

A ocorrência destas enfermidades traz preocupações de maior ordem, uma vez que a contaminação pode ter sua origem no solo ou na água onde se cultiva o alimento, ou mesmo no animal do qual procede o alimento, bem como na manipulação durante a elaboração e preparação, ou ainda, no prato em que é servido o alimento. Desta preocupação surgiu a expressão atual- mente em uso em relação à segurança dos alimentos, “from farm

to fork” ou “from sea to table”. Nesta proposta, as instituições nor-

matizadoras buscam um nível elevado de segurança dos alimentos, saúde e bem estar dos animais e fitossanidade, por meio de medidas coerentes "desde a exploração agrícola/- aquicola até à mesa" e de uma vigilância adequada, assegu- rando simultaneamente o funcionamento efetivo do mercado interno.

Muito embora os avanços tecnológicos na área da produção e da industrialização de alimentos, as enfermidades de origem bacteriana ainda constituem um sério problema para os consumidores, como por exemplo, a Listeria, presente em quase todos os alimentos, apresentando algumas cepas capazes de se desenvolverem em temperaturas abaixo de zero. Neste sentido, também são registradas a ocorrência de Salmonella, Campy-

lobacter ou mesmo outras bactérias nocivas, as quais a

cruas (CORRÊA et al., 2006; CORRÊA et al., 2007; PEREIRA et al. 2006).

É importante salientar que o Codex Alimentarius oferece aos países orientações relativas às boas práticas agrícolas, incluindo o modo do emprego de pesticidas, normas alimentares para a elaboração de produtos e códigos de práticas de higiene a fim de conseguir que os alimentos sejam inócuos para seus cidadãos e aceitáveis no comércio internacional. Entretanto, relatos disponibilizados pela FAO informam que os países participantes da Rodada do Uruguai reconheceram que as medi- das adotadas pelos governos nacionais para proteger a saúde de seus consumidores e dos animais e das plantas poderiam representar obstáculos ao comércio e serem discriminatórios. O Acordo sobre MSF reconhece que os governos possuem o direito de adotar as medidas sanitárias e fitossanitárias que sejam necessárias para proteção da saúde humana e impedem que sejam aplicados diferentes requisitos a distintos países nos quais prevalecem condições idênticas ou similares, a menos que exista uma justificativa científica para fazê-la (FAO, 2006; EUROPA, 2009).

É objetivo do Codex Alimentarius servir como norteador de ações e incentivador na elaboração e no estabelecimento de definições e requisitos aplicáveis aos alimentos com fins de harmonização que possibilite facilitar o comércio internacional. As normas estabelecidas pelo Codex têm a finalidade de garantir ao consumidor um produto saudável e genuíno, não adulterado e que esteja devidamente etiquetado e embalado. O incremento do

Codex permitiu a melhoria das normas aplicáveis à fabricação,

elaboração, inocuidade e qualidade dos alimentos em todo o mundo e tem contribuído com o crescimento do comércio mundial de alimentos (FAO, 2006).

A harmonização das normas nacionais com as internacionais favorece o comércio e diminui a proliferação de critérios nacionais distintos, os quais poderiam refletir em entraves comerciais. Por seu turno, os governos podem justificar medidas nacionais quando estas estão alicerçadas em análises de risco adequado, contudo as medidas não devem restringir o comércio mais que o necessário para estabelecer o nível de pro- teção desejado para a saúde pública. Entretanto, é importante ressaltar que o nível de proteção sanitária que desejam os gover-

nos, embora seja de sua exclusiva incumbência, não pode ser arbitraria, mas deve ser coerente com riscos sanitários similares.

A liberdade dos países de estabelecerem seus próprios padrões de exigências na determinação de regras sobre a produção, o processamento e o consumo de produtos alimen- tares, pode se converter em barreiras intransponíveis para países exportadores destes produtos, sendo que, muitas vezes estas barreiras são estabelecidas com a finalidade de maquiar a proteção do setor produtor doméstico (THORSTENSEN, 2001).

Entendendo que as enfermidades dos animais ou mesmo, os agentes patogênicos presentes ainda na etapa de produção animal podem influenciar na inocuidade dos alimentos e, preocupados com a possibilidade de que o OIE e o Codex pudessem produzir normas diferentes, ou mesmo contraditórias, ou de que não dessem pronta resposta em certos campos para os quais as normas ainda não foram preparadas, foram instaurados mecanismos formais de cooperação entre o Codex e o OIE. Essa ação conjunta levou à existência de um grupo de trabalho permanente do OIE que trata, com o apoio de altas personalidades do Codex, do problema dos riscos potenciais que existem para os consumidores na etapa de produção dos animais e seus produtos. Esse grupo tem por objetivo propor ao OIE e ao

Codex as novas normas apropriadas para cobrir, por exemplo, os

riscos que existem nos estabelecimentos agrícolas vinculados à salmonela, listeria, E. Coli 157, cisticercose, uso de antibióticos etc.

Como parâmetro de harmonização internacional, o Acordo MSF tem designado e adotado, para efeitos de inocuidade dos alimentos, as normas diretrizes e recomendações estabelecidas pela Comissão do Codex Alimentarius. Para melhor compreensão, ressaltamos aqui alguns dos artigos do Acordo MSF, a saber:

Artigo 2.2 - Os membros asseguram que qualquer medida sanitária e fitossanitária só seja aplicada quando necessária para a proteção da saúde e da vida das pessoas e dos animais ou para preservar os vegetais, que esteja baseada em princípios científicos e que não se mantenham sem testemunhos científicos suficientes (ACORDO MSF).

Artigo 3.1 - Para harmonizar no maior grau possível as medidas sanitárias e fitossanitárias, os Membros basearão suas medidas sanitárias ou fitossanitárias em normas, diretrizes ou recomendações internacionais, quando existam, salvo disposição em contrário ao presente Acordo (ACORDO MSF).

Ainda, com o objetivo de estimular para que os produtores de alimentos adotem voluntariamente as normas e procedimentos foi elaborado pelo Comitê do Codex Alimentarius um Código de Ética para o Comércio Internacional de Alimentos, que traz como princípios gerais a ideologia de que todos os consumidores tenham direito a alimentos inócuos, sãos e genuínos e protegidos de práticas comerciais desonestas.

Atualmente, o Codex Alimentarium é referência mundial para consumidores, produtores e indústria de gêneros alimen- tícios, para os organismos nacionais de controle de alimentos e para o comércio internacional de produtos alimentares. A sua influência estende-se a todos os continentes e a sua contribuição para a saúde dos consumidores e a garantia de práticas comer- ciais leais é enorme.