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INSTÂNCIA ESTADUAL

2.1.2. DEFESA SANITÁRIA ESTADUAL

Conforme citado no item anterior, o Ministério da Agricultura pode delegar suas competências às unidades da fe- deração, desde que a unidade disponha de estrutura organi- zacional e técnica para exercer as atividades pertinentes. Vale ressaltar que a instância federal do serviço de defesa sanitária animal realiza seu trabalho em conjunto com a instância estadual correspondente, que para o caso em estudo corresponde ao Estado de Santa Catarina, nomeadamente a Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural, que por sua vez executa as ações pertinentes a defesa animal por atuação da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola - CIDASC.

Dentre as atribuições da instância federal estão a normatização e auditoria dos serviços veterinários estaduais, que capilarizam a vigilância epidemiológica, realizando o trabalho em nível de campo. A competência para desempenho do trabalho é repas- sada por meio de convênios celebrados entre as partes.

Assim, considerando que a competência da Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural é delegada, sua atuação deve estar pautada dentro das determinações esti- puladas pelo órgão delegador, caso contrário poderá ser ca- racterizado abuso de autoridade ou desvio de finalidade.

Da mesma forma, o setor privado participa das ações de defesa sanitária animal interagindo com o setor público, organizando-se em associações ou cooperativas e participando de comitês municipais e estaduais, e desta forma, cumpre seu dever de cidadão e contribui no processo de decisão e, inclusive, administra fundos privados para indenização, como nos casos de ocorrência de enfermidades.

Outrora, o Serviço de Defesa Sanitária Animal do Estado de Santa Catarina era desempenhado com fundamento legal em leis, decretos, portarias e atos normativos de natureza federal. Contudo, a então Secretaria do Desenvolvimento Rural e da Agricultura, motivada pela necessidade de maior salvaguarda da saúde animal e da economia pecuária catarinense, publicou a Lei nº 10.366, de 24 de janeiro de 1997, a qual dispõe sobre a fixação da política de defesa sanitária animal e adota outras providências (SANTA CATARINA, 1997).

No que se refere à aplicação das medidas de combate às enfermidades dos animais, a Lei nº 10.366/97, em seu artigo 6º, rege:

As medidas de combate às doenças, com vistas a seu controle e erradicação, serão aplicadas prioritariamente sobre as doenças transmissíveis e parasitárias com grande poder de difusão, cujas consequências sócio-econômicas e de saúde pública possam ser graves e que interfiram no comércio interno, interestadual ou internacional de animais vivos, seus produtos e subprodutos.

A mesma lei reforça as exigências do Decreto nº 24.548/34 e também rege sobre a obrigação de declaração de determinadas enfermidades, conforme redação do artigo 8º:

Os médicos veterinários, os proprietários de animais ou seus prepostos, ou qualquer cidadão que tenha conhecimento ou suspeita da ocorrência de uma das doenças animais a seguir relacionadas, são obrigados a comunicar o fato imediatamente à unidade local do órgão executor [...].

O artigo 8º traz ainda em seus parágrafos, primeiro e segundo, a redação a seguir:

§ 1º É igualmente obrigatória a notificação da ocorrência ou suspeita de qualquer doença não identificada anteriormente no País ou no Estado. § 2º A presente lista de doenças poderá ser alterada através de ato normativo da Secretaria do Desenvolvimento Rural e da Agricultura, por proposta do órgão executor, sempre que necessário, levando-se em conta o aparecimento de novas doenças, os estudos epidemiológicos e a análise de risco.

Já o artigo 9º rege sobre as penalidades quando do não cumprimento do disposto nesta Lei, sendo a redação do artigo 9º:

A infração ao disposto no artigo anterior deverá ser devidamente apurada pelo órgão executor que, se foi o caso, além das penalidades administrativas, representará contra o infrator junto ao Ministério Público para apuração das responsabilidades cabíveis.

Neste sentido, também em nível federal o legislador preocupou-se com a defesa animal e, na Lei de Crimes Ambientais — Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 —, acolheu a proteção indistinta dos animais, sendo que as principais refe- rências à fauna estão nos seguintes artigos:

Art. 31: Introduzir espécime animal no País, sem parecer técnico favorável e licença expedida por autoridade competente.

Pena: detenção de três meses a um ano, e multa. Art. 54: Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a

mortandade de animais ou a destruição significativa da flora.

Pena: reclusão, de um a quatro anos, e multa. Crime culposo:

Pena: detenção, de seis meses a uma ano, e multa.

Art. 61: Disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas.

Pena: reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Por seu turno, o Código Penal Brasileiro, também faz referência às sanções cabíveis em caso de disseminação de agentes patogênicos capazes de causar agravos à saúde dos animais, sendo que em seu artigo 259, rege:

Art. 259 Difundir doença ou praga que possa causar dano à floresta, plantação ou animais de utilidade econômica:

Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Modalidade culposa

Parágrafo único - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a seis meses, ou multa.

Ao se examinar o texto, depreende-se que, tanto no Código Penal como na lei de Crimes Ambientais está prevista a pena de detenção para aqueles que disseminarem doenças aos animais. Vale lembrar que o OIE considera que não é necessária a manifestação da enfermidade para que se considere foco, bastando apenas a detecção da presença do agente patogênico.

Entretanto, conforme explica Dias (2000), a crise do sistema penitenciário brasileiro possibilita a penalização de agressores ao meio ambiente por meio de penas alternativas, que são autônomas, possibilitando trocar as penas privativas da liberdade pelas restritivas de direito quando o crime for culposo ou quando a pena for inferior a quatro anos, ou de acordo com a personalidade e a conduta social do acusado. As penas alter-

nativas vão desde a pena de prestação de serviços em parques e jardins públicos, à proibição de contratar com o Poder Público, a restauração do bem, a prestação pecuniária ou o recolhimento domiciliar.

Frente ao exposto, resta reforçar a necessidade de comunicação às autoridades sanitárias legalmente constituídas, a ocorrência ou a suspeita de qualquer enfermidade que esteja comprometendo a saúde dos animais. Vale ressaltar que Santa Catarina amargou prejuízos de diferentes níveis quando da ocorrência da enfermidade das manchas brancas em camarões

Litopenaeus vannamei em cultivo, no ano de 2005. E que as

autoridades sanitárias somente foram comunicadas depois que a enfermidade havia comprometido vários estabelecimentos. Neste episódio, nem os produtores e nem mesmo os órgãos de assistência técnica e extensão rural, contumazes observadores dos cultivos, comunicaram as observações de mortalidade elevada que se instalava entre os animais alvo. Resta claro que os atores envolvidos no setor da aquicultura catarinense neces- sitam uma maior compreensão da legislação pertinente, bem como devem buscar uma maior aproximação com as autoridades legalmente constituídas para as ações cabíveis.

Vale aqui ressaltar que o Brasil faz parte de um contexto internacional, sobre o qual vamos discorrer no item sobre as instituições internacionais. Assim, por determinação legal, a autoridade sanitária nacional, neste estudo representada pelo Departamento de Saúde Animal, por sua Divisão de Epide- miologia tem a responsabilidade do controle dos informes de notificação imediata, semanais e mensais. Este banco de dados é alimentado pelas informações emanadas dos serviços oficiais dos órgãos executores das ações de defesa sanitária animal nas distintas Unidades Federativas. O amparo legal para estas informações está no Decreto nº 54.548, de 03 de julho de 1934, bem como em legislações posteriores que, para o caso dos animais aquáticos está na Instrução Normativa n· 53, de 02 de junho de 2003. Salienta-se ainda, que a origem das informações para os serviços veterinários locais está na atenção do proprietário, no sistema de vigilância da defesa sanitária animal local ou de terceiros.