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i. Pergunta: Em sua opinião, porque os órgãos de defesa sanitária animal tomam medidas diferenciadas diante de casos de enfermidade de notificação compulsória e outras enfermidades. Justifique.

ii. Resposta de acordo com a legislação – a Instrução Normativa (MAPA) nº 53, de 02 de julho de 2003, em seu capítulo IX, regulamenta as atividades em foco de enfermidades, conforme segue:

Art. 33. Sempre que houver a notificação de suspeita de foco de doença de notificação obrigatória, os seguintes procedimentos deverão ser observados:

I visita ao foco - visita inicial, coleta de material e remessa ao laboratório, com preenchimento de formulários próprios;

II rastreamento epidemiológico - baseado na obtenção de informações que levem o profissional médico veterinário a encontrar a origem do foco, visando definir sua extensão, evolução, difusão e conseqüências;

III interdição da área focal e perifocal - conforme a gravidade da doença, os estabelecimentos ou zonas de cultivo serão interditados, assim como as propriedades vizinhas e microbacias;

IV comunicação do foco - o foco será comunicado ao serviço veterinário oficial local e este comunicará ao estadual, por meio de formulário próprio, para a apreciação epidemiológica e tomada de decisão frente à gravidade requerida; a comunicação deverá ser imediata quando a suspeita for de doenças previstas no art. 8º;

V sacrifício sanitário - dependendo da doença, os animais existentes no estabelecimento ou zona de cultivo serão sacrificados e o aproveitamento condicional será definido pelo serviço veterinário oficial;

VI tratamento terapêutico - nos casos em que for viável, proceder-se-á ao tratamento dos animais doentes;

VII desinfecção - constatando-se a necessidade de desinfecção, será feita a despesca, com esvaziamento completo e desinfecção adequada, pelo período necessário ao extermínio do agente causador da doença, tomando-se todas as medidas necessárias para impedir que o mesmo chegue aos corpos naturais de água;

VIII acompanhamento do foco - o estabelecimento ou zona de cultivo, bem como os demais estabelecimentos pertencentes à área perifocal e microbacia, deverão ser periodicamente visitados com a finalidade de monitoramento da evolução da doença e a execução das medidas que foram recomendadas bem como a adoção de outras providências, visando o controle ou erradicação total da doença existente;

IX encerramento do foco - uma vez constatada a inexistência de agentes patogênicos, bem como o tempo de despovoamento dos estabelecimentos ou zona de cultivo e o sucesso das desinfecções realizadas, o foco será encerrado e a interdição será suspensa.

iii. Respostas dos entrevistados a) Respondente X:

b) Respondente Y:

“Por se tratar de casos distintos, como área, distribuição geográfica, capacidade de contenção da enfermidade”. c) Respondente Z:

“Essa é a mais fácil, somente interesses políticos e corruptos são levados em consideração”.

Análise dos dados - vale anotar que o Estado de Direito moderno floresceu da Revolução Francesa, tendo nascido daí, também, o Direito Administrativo como ramo autônomo da ciência do Direito e, consequentemente, forjando o princípio da legalidade da Administração Pública. Ressalta-se que o conceito e a compreensão da legalidade da Administração Pública, contra- riamente ao conceito de Estado de Direito, é um conceito fixo, fechado (MELLO, 1998).

Neste sentido, oportuno correlacionar este conceito ao prisma de uma das bases do ordenamento jurídico nacional, qual seja a Constituição Federal Brasileira. Neste ponto vale afirmar que a Constituição Federal tem por finalidade regular o compor- tamento dos cidadãos e dos órgãos do governo, visando à manutenção da paz social e da segurança jurídica, o que é considerado como fundamental para o Estado de Direito moderno. Assim, o princípio da legalidade como determinação legal de observação obrigatória, está expresso na Constituição Federal em dois momentos, quais sejam:

a) momento primeiro: no artigo 5º, inciso II, o qual rege sobre a garantia da liberdade dos cidadãos, quando prevê que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo que não seja previsto em lei;

b) momento segundo: no artigo 37, caput, como o princípio que deverá ser obedecido por toda a Administração Pública, em todos os níveis. Assim, neste momento do ordenamento jurídico resta claro, que a Administração Pública possui limites, que não está livre para fazer ou deixar de fazer algo de acordo com a vontade do governante somente, mas que deverá obedecer à lei em toda a sua atuação.

Resumindo, o princípio da legalidade no âmbito exclusivo da Administração Pública significa que – ao contrário do

particular, que pode fazer tudo que não seja proibido em lei, - a Administração Pública só poderá agir segundo as determi- nações legais. Desta feita, como a lei, nos termos específicos para a sanidade animal, somente regulamenta as ações para as enfermidades exóticas e as que ameaçam a economia do país, a saúde pública e o meio ambiente, resulta que o servidor público, neste caso específico do serviço veterinário oficial, somente deve agir nos casos previstos em lei. Entretanto, vale ressaltar que as lacunas da lei, consideradas como leis falhas ou omissas, encontram fundamento no método da heterointegração, que consiste no recurso a ordenamentos legislativos diversos, recorrendo a fontes diferentes daquelas dominantes (BOBBIO, 1999). Neste sentido, sustenta-se que a possível existência de lacunas formais na legislação sanitária vigente, especificamente para animais aquáticos, pode encontrar fundamento pela analogia, costume, equidade e princípios gerais que regula- mentam a Defesa Sanitária Animal, para aplicação no caso concreto não previsto expressamente (BRASIL, DOU, 1942).

Por oportuno, ressalta-se que a Política Nacional de Defesa Agropecuária, instrumento orientador das ações do setor Saúde Animal, apresenta como objetivo definir diretrizes e responsabilidades institucionais, com vistas a criar condições para proteger a saúde do rebanho nacional, incluindo os animais da aquicultura, bem como prevenir agravos à saúde animal. Anota-se, que os principais atos legais que norteiam esse processo, relativos ao período de 1934 a 2009, encontram-se, na íntegra, disponíveis no sitio eletrônico22 do MAPA, em formato digital e são eles:

(1) Decreto nº. 24.548, de 03 de julho de 1934, que aprova o regulamento do Serviço de Defesa Sanitária Animal no Brasil;

(2) o Decreto nº. 27.932, de 28 de março de 1950, que aprova o regulamento para aplicação das medidas de defesa sanitária animal;

(3) o Decreto nº. 5.741, de 30 de março de 2006, que regulamenta os arts. 27-A, 28-A e 29-A da Lei no 8.171, de 17 de janeiro de 1991, organiza o Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária, e dá outras providências;

22

(4) a Lei nº. 569, de 21 de dezembro de 1948, que estabelece medidas de defesa sanitária animal e dá outras providências;

(5) a Lei nº. 9.712, de 20 de novembro de 1998, que altera a Lei nº. 8.171, de 17 de janeiro de 1991, acrescentando-lhe dispositivos referentes à defesa agropecuária;

(6) a Portaria nº. 45, de 22 de março de 2007, que aprova o regimento interno da Secretaria de Defesa Agropecuária, na forma de Anexo a esta Portaria;

(7) outras legislações complementares, incluindo, naquilo que diz respeito aos animais aquáticos:

a) Portaria nº. 573, de 04 de julho de 2003, que institui o Programa Nacional de Sanidade de Animais Aquáticos;

b) Instrução Normativa nº. 53, de 02 de julho de 2003, que aprova o regulamento técnico do Programa Nacional de Sanidade de Animais Aquáticos;

c) Instrução Normativa nº. 18, de 13 de maio de 2008, que estabelece os procedimentos para importação de animais aquáticos para fins ornamentais e destinados à comercialização.

São ainda de interesse da maricultura de bivalves, os seguintes atos legais:

a) Instrução Normativa nº. 18, de 18 de julho de 2006, que aprova o modelo de Guia de Trânsito Animal – GTA, a ser utilizada em todo o território nacional para o trânsito de animais vivos, ovos férteis e outros materiais de multiplicação animal;

b) Portaria nº. 162, de 18 de outubro de 1994, que aprova as normas complementares anexas a citada portaria, baixadas pelo Departamento de Defesa Animal, que versam sobre a fiscalização e o controle zoosanitário das exposições, feiras, leilões e outras aglomerações de animais, em todo o território nacional.

Vale lembrar que as legislações supra mencionadas se referem somente ao Departamento de Saúde Animal, tema específico deste estudo, mas que, entretanto, também repre- sentam atos legais de interesse da maricultura de bivalves

aqueles que dizem respeito à inspeção de produtos de origem animal, ademais daqueles referentes à alimentação animal, entre outros, igualmente sob a égide do MAPA.

Ainda, ressalta-se que a Lei Substantiva expressa no Código Penal, conforme enunciado em seu artigo 259, que: “difundir doença ou praga que possa causar dano a floresta, plantação ou animais de utilidade econômica” representa crime ou ilícito cuja pena é de reclusão com mínimo de dois anos e máxima de cinco anos e ainda, prevê a aplicação de multa. Vale anotar que o “tipo objetivo” do crime, neste caso, é: difundir, espalhar, disseminar, propagar doença ou praga. Lembrando ainda, que por definição da OIE, não é necessário a manifestação clinica da doença para se considerar um caso a ser notificado. A simples identificação do agente etiológico, o que atualmente, por meio de ensaios laboratoriais biomoleculares se tornou bem mais eficiente a identificação, é considerado foco e deve ser comunicado às autoridades veterinárias locais para que as medidas sanitárias cabíveis sejam aplicadas. Em síntese, omitir a informação sobre um agente patogênico e permitir a difusão deste agente, mesmo que em níveis reduzidos de infecção representa crime passível de punição com privação de liberdade.

ANEXO II

Neste anexo são apresentados detalhes dos dados que permitiram discorrer sobre o manuscrito II - A construção institucional e organizacional do serviço de defesa sanitária animal no Estado de Santa Catarina com vistas à sanidade de bivalves. Neste documento são apresentados os dados que permitiram tal estudo e no qual estão anotados os indicadores do entendimento dos participantes em relação ao tema.

1. Do conhecimento e fundamentos técnicos do pro-

fissional da UVL 1.1. Estrutura pessoal

a) Unidade Veterinária Local X:

Classificação23 I. Estrutura pessoal

MB B R S I

1. conhecimento específico em aquicultura x

2. conhecimento das espécies em aquicultura na área sob jurisdição da UVL x

3. conhecimento da legislação específica x

4. conhecimento sobre os procedimentos das legislações específicas x

5. conhecimento das enfermidades dos animais aquáticos de notificação x

6. conhecimento sobre procedimentos a serem adotados na área focal x

7. treinamento especifico em sanidade de animais aquáticos x

8. consulta ao site do OIE específico para animais aquáticos x

b) Unidade Veterinária Local Y:

Classificação I. Estrutura pessoal

MB B R S I 1. conhecimento específico em aquicultura x 2. conhecimento das espécies em aquicultura na área sob jurisdição da UVL x 3. conhecimento da legislação específica x 4. conhecimento sobre os procedimentos das legislações específicas x 5. conhecimento das enfermidades dos animais aquáticos de notificação x 6. conhecimento sobre procedimentos a serem adotados na área focal x 7. treinamento específico em sanidade de animais aquáticos x 8. consulta ao site do OIE específico para animais aquáticos x

c) Unidade Veterinária Local Z:

Classificação I. Estrutura pessoal

MB B R S I 1. conhecimento específico em aquicultura x 2. conhecimento das espécies em aquicultura na área sob jurisdição da UVL x 3. conhecimento da legislação específica x 4. conhecimento sobre os procedimentos das legislações específicas x 5. conhecimento das enfermidades dos animais aquáticos de notificação x 6. conhecimento sobre procedimentos a serem adotados na área focal x 7. treinamento específico em sanidade de animais aquáticos x 8. consulta ao site do OIE específico para animais aquáticos x

Análise dos dados - na avaliação da estrutura pessoal do profissional responsável pelo PNSAA nas UVLs evidenciou-se que embora haja um relativo preparo do profissional médico veterinário para as ações no PNSAA, o planejamento das ações em Defesa Sanitária Animal está centrada na identificação de bovinos e bubalinos, ficando em plano subpreferencial as ações do PNSAA. Constatou-se, ainda, interesse dos profissionais para a realização de treinamentos e cursos de atualização em

sanidade de animais aquáticos, bem como houve manifestação de vontade de acesso a informações e mesmo, a expectativa de realização de cursos formais de longa duração, com a perspectiva de melhor compreender as espécies da aquicultura e com isto, melhor servir ao interesse público.

Quanto ao controle de enfermidades endêmicas, verificou- se preocupação apenas com a enfermidade das manchas brancas em camarões marinhos, em particular sobre os controles que se traduzem em submeter à análise laboratorial por meio de testes de identificação da sequência genômica viral pela técnica da reação em cadeia da polimerase, realizada em póslarvas dias antes da transferência para os estabelecimentos de engorda. Vale registrar que as enfermidades objeto da atuação da defesa animal, segundo a Instrução Normativa n0 53/2003, são as exóticas e as que comprometem a economia do setor. A IN 53/2003 está em consonância com a lista proposta pelo OIE em seu Código Sanitário para Animais Aquáticos. O fato dos controles recaírem apenas sobre a enfermidade das manchas brancas, para o caso dos camarões em cultivo, contraria a legislação nacional e os desígnios do OIE, uma vez que pesquisas científicas relatam a ocorrência de outros agentes etiológicos de declaração compulsória identificados em camarões catarinenses de cultivo.

2 Da informação e dados epidemiológicos