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ANÁLISE DE QUESTÕES DE TRADUÇÃO

Esquema 10: Mecanismos de coesão textual (Duarte 2003a:90)

3.2 Coesão Interfrásica

De acordo com Duarte (2003a:91), a coesão interfrásica é assegurada por “processos de sequencialização que exprimem vários tipos de interdependência semântica das frases que ocorrem na superfície textual”, sendo os conectores frásicos e as pausas os elementos linguísticos que assinalam e exprimem este tipo de coesão. A autora menciona dois grandes tipos de conexão interfrásica: a hipotaxe (que corresponde a um tipo de conexão que implica dependência sintática ou subordinação) e a parataxe (através da qual se combinam unidades entre as quais não se estabelecem relações semânticas dependenciais, mas que são estruturalmente independentes).

Na nossa tradução, encontrámos um número razoável de problemas de coesão interfrásica. De forma a exemplificar as ideias que ia referindo ao longo do seu discurso, a autora recorre várias vezes a transcrições de excertos de obras literárias, integrando-as naquele. No entanto, a forma como articula os fragmentos transcritos com o restante texto nem sempre é adequada. Note-se, a este respeito, o exemplo (100).

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a) En verdad la caligrafía ofrece pocas posibilidades para el engaño. No hay duda de que si nos hallamos ante una persona distinguida, la escritura se empapa de ella ajena a modas o tendencias, «no había hecho el menor esfuerzo por adornar su escritura, mas para Genji ciertamente reflejaba una distinción suprema. Aunque la caligrafía no era asombrosamente peculiar ni a la moda, no podría haber sido atribuida a nadie más que a ella.»31 Y cuando la escritura alcanza semejante nivel,

ésta no puede en modo alguno dejar indiferente a un hombre sensible y educado, «la escritura poseía tal carácter que haría avergonzarse a la dama más grande y Murasaki comprendió los sentimientos de Genji hacia la remitente.»32

(Página 56, linha 16)

b) Na verdade, a caligrafia oferece poucas possibilidades de engano. Não há dúvida de que, se estamos perante uma pessoa distinta, a escrita embebe-se nela, ficando alheia a modas ou tendências: «não havia feito o menor esforço por adornar a sua escrita, mas para Genji refletia certamente uma distinção suprema. Embora a caligrafia não fosse assombrosamente peculiar nem à moda, não poderia ter sido atribuída a ninguém mais senão a ela.»31 E quando a escrita alcança semelhante

nível, não pode de modo algum deixar indiferente um homem sensível e educado: «a escrita possuía tal carácter que envergonharia a mais elevada dama e Murasaki compreendeu os sentimentos de Genji pela remetente.»32

(Página 52, linha 13)

No presente exemplo, de forma a reforçar os seus argumentos, a autora transcreve excertos de um clássico literário japonês, La Historia de Genji, inserindo-os no texto. No entanto, como se pode observar em (100a), os fragmentos transcritos não encaixam no seu discurso, pois não partilham a mesma estrutura sintática, evidenciando-se também problemas a nível da coesão temporal, pois os verbos utilizados nos excertos textuais transcritos não têm valores temporais compatíveis com os dos verbos utilizados no TP. Note-se que esta ausência de compatibilidade sintática entre os fragmentos transcritos e

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o restante texto é agravada pelo facto de os referidos fragmentos serem, em geral, separados por uma vírgula das restantes sequências textuais. Uma vez que a vírgula não estabelece a quebra estrutural e sintática necessária para inserir as citações no discurso da autora, de forma a assegurar a coesão interfrásica e temporal de (100), substituímos a vírgula pelos dois pontos, sinal gráfico que, ao contrário do utilizado pela autora, já estabelece esta quebra estrutural, que adverte também o leitor para a quebra da continuidade do discurso e para o início de uma possível explicação ou exemplificação.

Vejamos, em seguida, um outro exemplo que ilustra esta situação:

(101)

a) No obtener lo que desea propicia al hombre a escribir también la carta de la mañana siguiente, a la que ella, a pesar de su inclinación poco favorable, debe dar respuesta, «la leyó a regañadientes cuando sus damas de honor le trajeron un tintero y lo necesario para escribir y la instaron a que respondiera. El papel de la carta de Genji, de una blancura inocente, transmitía distanciamiento, pero la misiva estaba muy bien escrita.»44

(Página 60, linha 15)

b) Não obter o que deseja propicia o homem a escrever também a carta da manhã seguinte, à qual a mulher, apesar da sua inclinação pouco favorável, deve dar resposta: «leu-a de má vontade quando as suas damas de honor lhe trouxeram um tinteiro e o necessário para escrever e a instaram a que respondesse. O papel da carta de Genji, de uma brancura inocente, transmitia distanciamento, mas a missiva estava muito bem escrita.»44

(Página 55, linha 22)

Em (101), tal como se verificou no exemplo anterior, a autora recorre à vírgula para inserir uma citação no seu discurso. No entanto, o uso deste sinal de pontuação não é o mais conveniente, pois não assinala a quebra estrutural necessária para inserir a citação de forma correta, verificando-se, consequentemente, uma não compatibilidade dos tempos verbais utilizados no discurso da autora e os da citação que esta integrou naquele.

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Tendo estes aspetos em consideração, resolvemos este problema de coesão interfrásica, substituindo a vírgula pelos dois pontos, sinal de pontuação que adverte o leitor para uma quebra sintática, solucionando-se, desta forma, também os problemas de coesão temporal que a vírgula não conseguiu solucionar. Desta forma, entre o texto da autora e os fragmentos transcritos de outras obras estabelece-se uma conexão do tipo paratático, que permite a expressão de um nexo de explicação ou de exemplificação.

Vejamos, por último, o exemplo (102), que ilustra uma situação em que a autora insere, no seu discurso, uma citação de forma inadequada e, posteriormente, uma outra citação de forma adequada.

(102)

a) El desasosiego de la dama que no puede permitir la insistencia de un hombre queda también reflejado en «la caligrafía serpenteante que trazaba su mano temblorosa era sumamente atractiva… pero no se había propuesto atraerlo más… su único deseo había sido recordarle que al fin y al cabo ella no era indigna de su interés.» La prisa de una respuesta puede provocar la necesidad de «compensar su mala caligrafía con unas complicadas pinceladas que carecían por completo de calidad» (…). (Página 63, linha 20)

b) O desassossego da dama que não pode permitir a insistência de um homem fica também refletido em: «a caligrafia serpenteante que a sua mão trémula traçava era sumamente atraente… mas não se havia proposto atraí-lo mais… o seu único desejo havia sido recordá-lo de que, ao fim e ao cabo, ela não era indigna do seu interesse.» A pressa de uma resposta pode provocar a necessidade de «compensar a sua deficiente caligrafia com umas complicadas pinceladas que careciam por completo de qualidade»(…).

(Página 58, linha 12)

Em (102), de forma a ilustrar uma situação descrita no seu discurso, a autora recorre a uma primeira citação, introduzindo-a neste através de aspas. No entanto, a incompatibilidade estrutural entre as sequências textuais associadas evidencia a

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necessidade de se recorrer a um sinal de pontuação delimitador do discurso e indicador da quebra estrutural que possibilita a correta inserção da citação no discurso da autora – os dois pontos. Assim, tal como efetuámos nos anteriores casos com problemas a nível da coesão interfrásica, optámos por inserir também nesta situação os dois pontos imediatamente antes da citação.

Apesar de a primeira citação presente em (102) ter sido inadequadamente inserida no seu discurso, tendo sido necessária a inserção dos dois pontos, a autora integra a citação seguinte de forma adequada, pois verifica-se uma continuidade estrutural e temporal entre os fragmentos textuais associados. Deste modo, não foi, neste caso, necessário recorrer aos dois pontos porque, de facto, a citação articula-se com o discurso da autora, não se verificando qualquer problema de coesão estrutural ou temporal.

3.3 Coesão Temporal

Para Duarte (2003a:109), uma sequência textual só é coesa e coerente se “a sequencialização dos enunciados satisfizer as condições conceptuais sobre a localização temporal e ordenação relativa que sabemos serem características das situações no mundo relativamente ao qual deve ser interpretada a referida sequência textual”.

Na nossa tradução, no que diz respeito aos problemas de coesão textual, a coesão temporal foi dos problemas de tradução mais preponderantes, pois foi registado um número razoável de um uso pouco coeso de tempos verbais. Várias vezes, o texto não estabelecia uma continuidade temporal, oscilando, na mesma frase, entre vários tempos verbais com valores temporais diferentes, muitas vezes incompatíveis. Esta situação foi por nós corrigida, em prol da coesão temporal do TC. Atente-se nos exemplos (103) - (105), que ilustram a oscilação de tempos verbais no TP.

(103)

a) Este es el período álgido en la vida política de Fujiwara no Michinaga, que además casará a su segunda hija Kenshi (994-1027) con el futuro emperador Sanjo (976-1017) y a su tercera hija Ishi (999-1036) cuando contaba 20 años, con el príncipe heredero Go-Ichijo (1008-1036), que a la sazón tiene 11 años, y es además su sobrino, pues es hijo de su hermana mayor Akiko.