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Representação da hierarquia de conceitos relacionados com a denominação

ANÁLISE DE QUESTÕES DE TRADUÇÃO

Esquema 7: Representação da hierarquia de conceitos relacionados com a denominação

empréstimo (Correia 1999:240 apud Rebello de Andrade 2002:40).

Na nossa tradução, o recurso ao empréstimo como estratégia de tradução para unidades lexicais não existentes na LC foi útil, na medida em que evitou traduções dessas unidades por perífrase, que quebrariam, de certa forma, o ritmo de leitura do leitor. De todo o modo, e tendo em consideração que os empréstimos presentes no TC já o eram no TP, a perífrase ou a nota do tradutor não seriam necessárias, porque a autora do TP, após utilizá-los, apresenta, no corpo do texto, uma explicação atenta dos mesmos. Assim, orientámo-nos pela estratégia de manter os empréstimos que encontrámos no original.

De forma a assinalar o recurso a empréstimos no TC, colocámos essas unidades lexicais em itálico, o que adverte o leitor para a existência de um vocábulo originário de uma outra língua.

empréstimo

(passagem de uma unidade lexical de um registo A para um registo B; unidade lexical que passa de um registo A para um registo B)

empréstimo externo

(A e B são línguas diferentes)

empréstimo interno

(A e B são registos diferentes da mesma língua)

estrangeirismo

(unidade que não se adaptou ao sistema de acolhimento)

importação

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Por uma questão de relevo na tradução, restringir-nos-emos ao empréstimo linguístico externo, i.e., à passagem de unidades lexicais de uma língua natural A para uma língua natural B. Por outro lado, por sair do alcance do nosso trabalho, não discutiremos com mais profundidade a eventual diferença entre empréstimo e estrangeirismo, e usaremos apenas o primeiro termo.

Os exemplos (65) – (67) ilustram a presença de empréstimos linguísticos na nossa tradução.

(65)

a) La escritura toma cuerpo desarrollándose en los centros de estudio la evolución desde el kanji chino a los silabarios japoneses que con el tiempo llegarían a conocerse como katakana y hiragana (…).

(Página 14, linha 18)

b) A escrita ganha forma, desenvolvendo-se nos centros de estudo a evolução desde o kanji chinês aos silabários japoneses, que, com o tempo, chegariam a conhecer-se como katakana e hiragana (…). (Página 14, linha 25)

Em (65), as palavras “kanji”, “katakana” e “hiragana”, xenismos da língua japonesa, i.e., realidades próprias de determinada cultura não existentes fora dela, à semelhança do que está presente no corpo do TP, segundo a Infopédia, correspondem a “o sistema de escrita japonês composto por caracteres que derivam de ideogramas chineses”, a “um dos alfabetos básicos de escrita silábica utilizado pelos japoneses para escrever palavras de origem estrangeira e onomatopeias”, e a “um dos alfabetos básicos de escrita silábica utilizado pelos japoneses para escrever palavras japonesas”, respetivamente.

Estas palavras correspondem a empréstimos na nossa tradução, mas também no próprio TP. Uma vez que, no TP, estas unidades lexicais são grafadas em itálico, facto que remete para a existência de um empréstimo, limitámo-nos a mantê-las na nossa tradução.

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Vejamos, agora, um outro exemplo que representa uma situação semelhante.

(66)

a) Japón en el siglo V carece de escritura. De hecho existe la figura del

kataribe, cuya función es guardar en la memoria los mitos y leyendas,

así como hechos históricos ocurridos en el país y recitarlos de memoria en ceremonias de la Corte (…).

(Página 19, linha 21)

b) O Japão, no século V, carece de escrita. De facto, existe a figura do

kataribe, cuja função é guardar na memória os mitos e lendas, assim

como factos históricos ocorridos no país, e recitá-los de memória em cerimónias da corte (…).

(Página 19, linha 20)

Em (66), a palavra “kataribe”, empréstimo nas línguas de partida e de chegada, é definida, no TP, como um narrador, cuja função é memorizar os mitos, as lendas e os factos históricos do país e recitá-los de memória em cerimónias da corte, facto que evita o recurso à perífrase ou à nota do tradutor. Sendo ainda de notar que, posteriormente, no TP, “kataribe” é aproximado à palavra “jogral”, que, embora não designe exatamente o mesmo conceito, constitui uma aproximação importante, na medida em que torna mais clara e acessível a compreensão do significado deste empréstimo. Uma vez que a autora do TP pretende que o leitor conheça os termos japoneses, decidimos também, na nossa tradução, manter este empréstimo linguístico.

Vejamos, por último, o exemplo (67), que ilustra uma outra situação de empréstimo linguístico, mas, desta vez, proveniente da língua francesa.

(67)

a) Gracias a su capacidad literaria y de observación, describe magistralmente en su novela el glamour, la exquisitez y el colorido de la vida en la corte.

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b) Graças à sua capacidade literária e de observação, descreve magistralmente, no seu romance, o glamour, o requinte e a cor da vida na corte.

(Página 68, linha 25)

Em (67), o empréstimo apresentado, “glamour”, já não é um xenismo. É uma unidade lexical proveniente do francês que se integrou no espanhol e no português, línguas de partida e de chegada, para nós, e, de acordo com a Infopédia, significa “charme e encanto que possui alguém ou algo (local, desporto, etc.) atraente, sofisticado, interessante e que está na moda”. Apesar de, no TP, o empréstimo em destaque não estar formatado a itálico, decidimos, por uma questão de coerência, atribui-lhe essa formatação no TC.

Em suma, tendo-nos deparado, no TP, com palavras usadas como empréstimos de outras línguas, decidimos mantê-los na nossa tradução, atribuindo às palavras em questão a formatação itálico, de forma a distingui-las das restantes palavras.

1.2 Léxico especializado

Em Correia (2005:1), os termos são definidos como “unidades lexicais que assumem significados específicos quando usadas em discurso especializado, significados esses que lhes permitem denominar conceitos científicos e técnicos”.

Na mesma linha de pensamento, Contente (2008:36) faz notar que “a unidade terminológica é uma unidade lexical, mas nem todas as unidades lexicais são unidades terminológicas. Para que uma unidade lexical seja considerada uma unidade terminológica é necessário que esta unidade faça parte de um sistema de conceitos”.

Precisando um pouco mais a noção de termo, Contente (op.cit.:35-36) apresenta cinco características que lhe são fundamentais:

1) O termo distingue-se pela sua extensão semântica e define-se sobretudo em relação ao significado, mais do que ao significante;

2) O significado do termo define-se relativamente ao conjunto de significações dos termos que pertencem ao mesmo domínio; um termo não pode ser considerado isoladamente, ele está sempre dependente de um conjunto semântico a que pertence, ou de uma disciplina ou de uma ciência;

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3) Um termo corresponde, teoricamente, apenas a um conceito. Esta caraterística do termo baseia-se num postulado da terminologia, isto é, a relação da univocidade entre denominação e conceito;

4) Os termos possuem processos próprios de terminogénese;

5) A homonímia não constitui ambiguidade, uma vez que o termo pertence a um grupo semântico específico; deste modo, no plano do discurso, um termo constitui uma relação denominação-noção que é atualizada pelo contexto e, no plano lógico, encontra-se numa estrutura hierárquica nocional pertencente a um determinado domínio.

De maneira a sintetizar e clarificar a definição de termo, a autora apresenta a seguinte imagem esquemática: