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A Colaboração no ensino do design: reflexões sobre aplicação em disciplina teórica

CAPÍTULO 2: PEDAGOGIA DO DESIGN NO BRASIL - REFLEXÕES E

2.3 A Colaboração no ensino do design: reflexões sobre aplicação em disciplina teórica

Neste artigo, Marina Moraes et. al (2018) relatam a experiência na disciplina Teoria e História do Design 2, do quinto período do curso de Design de uma Universidade Federal de Curitiba, que propõe uma investigação da história contemporânea do design “através de um viés social e filosófico da pós-modernidade” (não-paginado). O objetivo do artigo é a relação entre teoria e prática que possibilita a reflexão sobre a melhoria na colaboração do design em sala de aula.

A professora propôs uma discussão sobre os projetos que os alunos haviam elaborado durante a graduação, possibilitando a seleção de trabalhos nos quais houvesse admiração e vínculo com o processo criativo. Os projetos escolhidos (imagem e breve parágrafo de contextualização do projeto) foram entregues aos alunos para uma análise teórica em grupo, observando o processo criativo do projeto e suas referências, sendo que um dos objetivos do Plano de Ensino da disciplina é “refletir sobre o design mundial e o design brasileiro como construções sociais e históricas”, analisando os artefatos com a intenção de perceber as interações culturais e estilísticas, ampliando o entendimento sobre o processo de produção.

A colaboração em design também foi abordada como atividade, através de um debate com o tema: “Quais os ganhos de pensar a colaboração no design dentro do contexto contemporâneo?” Sendo assim, a professora propôs uma reflexão sobre o design, tendo como base o próprio trabalho dos alunos, ao mesmo tempo que exercitavam a escrita de textos científicos, conseguindo

perceber as características do design traçadas pelos autores da bibliografia da disciplina, em seus próprios trabalhos.

Os autores relatam que houve resistência dos alunos no processo de crítica e reflexão sobre o referencial teórico, além do medo de se expor durante os debates e discussões. Ao mesmo tempo descrevem a experiência como uma oportunidade para trabalhar o interesse dos discentes em avaliar e serem avaliados, através da colaboração no processo de construção teórica dos artigos, sendo que seus próprios trabalhos são representantes da proposta de design contemporâneo.

Os grupos foram organizados de forma que os alunos percebessem o interesse uns dos outros e se agrupassem de forma estratégica, já que a abordagem do design na universidade discutida é generalista.

A autora evidencia a pertinência do acesso ao processo criativo do designer que, no caso, eram os próprios alunos. Além disso, os estudantes puderam exercitar uma reflexão teórica acerca da sua própria produção, trazendo um olhar mais atento a aspectos que podem passar despercebidos no processo de elaboração de um projeto durante a graduação, sendo que nem sempre o designer-estudante está consciente de suas próprias referências ao projetar.

O aluno, estando motivado a responder essas questões, possibilitava estar livre de julgamentos ou elevações com relação a qualidade técnica da sua produção, pois apresentava um caráter contextual e não prático imediatista de análise (Não paginado).

A análise dos trabalhos de forma coletiva, através da apresentação e discussão entre os membros do grupo e na sala de aula, permitiu uma abordagem colaborativa de design, já que a atividade possibilitou que os alunos olhassem para o próprio trabalho de forma crítica e para o trabalho do outro aluno de forma respeitosa. Essa abertura do próprio processo criativo ao outro é o que permite a reflexão sobre o projeto e seu resultado final. Além disso, a discussão dos projetos

em paralelo com a discussão teórica foi percebida pelos alunos como sendo crucial para a estruturação do pensamento crítico para a escrita do artigo.

A professora também destaca que o processo de avaliação dos trabalhos finais foi feito de forma a incentivar a pesquisa sem a recompensa. A nota foi dada em equipe, e não de forma individual.

O primeiro aspecto relevante neste artigo é o trabalho colaborativo como facilitador do diálogo, colocando em evidência que o conhecimento não se constrói sozinho, mas em conjunto com outros. No trabalho colaborativo com os colegas, existe a oportunidade para que as reflexões sobre um objeto de estudo sejam compartilhadas uns com os outros, permitindo que o outro possa trazer uma diferente visão sobre o trabalho, inserindo diversos pontos de vista que enriquecem as discussões. Além disso, a colaboração traz uma sensação de autonomia sobre o próprio trabalho, que ao mesmo tempo não é individualista, já que se encontra numa situação de cooperação. Exercita também a expressão de ideias e opiniões sem a mediação do professor. No exercício de escrever um artigo em grupo, apesar de não haver projeto, há a busca da solução de construção do texto de forma coerente.

Outro aspecto interessante é a decisão da professora de trazer os projetos dos próprios alunos para serem discutidos em sala. Ao fazer isso, como ela mesma afirma, aproveita-se o vínculo afetivo que o aluno tem com sua própria criação, oportunizando um envolvimento maior com a atividade. A autora afirma que os grupos foram separados pelas áreas que os alunos mais se interessavam, o que, de acordo com ela “possibilitou um profissionalismo nas relações e um interesse maior na estruturação da proposta”. Esse elemento de afetividade e identificação com o tema de estudo é crucial para o bom funcionamento do trabalho colaborativo e do próprio diálogo: parte-se do interesse dos alunos, fazendo o caminho entre o que é familiar e conectando essa vivência com os aspectos teóricos da disciplina.

A revisitação do próprio processo criativo permite que o aluno exercite a auto reflexão, percebendo aspectos que podem antes não ter sido identificados, devido à pressa para entregar os projetos dentro do prazo. Esse exercício estipulado dentro de uma disciplina oportuniza a conexão entre a ação de projetar com a reflexão sobre o projetar, percebendo o seu próprio fazer dentro de um complexo cultural, que mesmo de forma inconsciente, possui referências e até mesmo o espírito da época em que foi criado.

Ao final do artigo, os autores destacam que sua estratégia pedagógica motivou os alunos a construírem um pensamento crítico através do tensionamento entre as opiniões contrárias e da reflexão teórica por meio da discussão dos autores do referencial teórico. O conhecimento sobre o ato de projetar gradualmente vai saindo do senso comum e trazendo maturidade para o aluno, aguçando a sua leitura de mundo.

2.4 O Ensino de Semiótica em um Curso de Design -