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A coleta de dados ocorreu a partir da triangulação de diversas fontes de evidências dentro do estudo de caso (YIN, 2010): coleta e análise de documentos e registros, observação direta e participante e entrevistas semiestruturadas. Toda fase de coleta de dados teve foco nas particularidades culturais que foram vivenciadas pela equipe de projeto e suas diferenças culturais, utilizando como base para o instrumento as quatro dimensões de cultura nacional apresentadas por Hofstede (2001) – a dimensão de cultura Orientação para Curto Prazo versus Orientação para Longo Prazo não foi utilizada visto que seu direcionamento é para culturas asiáticas. Além disso, também foram utilizados os fatores de sucesso de gestão de projetos elencados no PMI (2008).

3.4.1 Análise de Documentos e de Registros

A coleta de dados foi realizada através da análise de documentos e de registros que pudessem auxiliar nas etapas subsequentes da coleta de dados, no caso as entrevistas e a observação. As seguintes fontes de documentação e registros foram utilizadas para a pesquisa, destacando-se que tais registros abrangeram as atividades das equipes tanto do Brasil quanto dos Estados Unidos, Índia e Malásia:

a) Ferramenta de gestão de projetos da empresa que está sendo pesquisada: especificamente para o projeto em questão, foram analisadas as métricas do projeto bem como as descrições de status de projeto que ocorrem de maneira semanal, conforme as práticas do ciclo de projetos da empresa em questão. Tal análise teve como objetivo a identificação de possíveis efeitos ou manifestações da cultura no ciclo de desenvolvimento de software;

b) Ferramenta de documentação de defeitos do projeto: a partir desta ferramenta, foram coletadas as métricas de defeitos nas diferentes fases de teste do projeto, bem como o detalhamento dos defeitos para identificação de suas causas-raízes através de amostragem. A análise dos registros de defeito e evidências de teste teve como objetivo a

identificação de possíveis efeitos ou manifestações da cultura no ciclo de desenvolvimento de software;

c) Atas de reunião de projeto e relatórios gerenciais de status do projeto: os relatos das interações entre os membros do projeto, derivados de reuniões presenciais, teleconferências e videoconferências foram utilizados com o objetivo de identificar possíveis efeitos ou manifestações da cultura no ciclo de desenvolvimento de software;

3.4.2 Entrevistas

Entrevistas semiestruturadas constituíram a principal fonte de coleta de dados do projeto. Ainda que este tipo de entrevista tenha sido suportado por um roteiro de entrevista, permitindo uma maneira sistemática de abordagem dos temas investigados, ele permitiu também o diálogo livre entre entrevistador e entrevistado, o que é importante dentro da temática em estudo.

A execução das entrevistas ocorreu durante os meses de abril e maio de 2012, período em que o projeto escolhido estava na fase de estabilização da solução e em plena realização da fase de testes, o que foi importante para enriquecer os relatos da vivência dos entrevistados em um contexto de times distribuídos globalmente, visto que a interação entre os indivíduos se dá de maneira recorrente durante estas fases de projeto. Com o objetivo de coletar as narrativas sobre as manifestações de cultura na rotina do projeto, tanto em uma perspectiva daqueles que têm envolvimento mais técnico, quanto daqueles que realizam o trabalho de análise de requisitos perante os usuários, bem como dos gerentes de projeto que coordenam atividades de times multidisciplinares, os seguintes membros do projeto foram entrevistados: analistas de sistemas, desenvolvedores, gerentes de projetos, analistas de suporte e analistas funcionais, das equipes do Brasil, Índia, Estados Unidos e Malásia. Inicialmente, foi prevista a realização de, aproximadamente, três entrevistas por nacionalidade, totalizando 12 entrevistas. A relação de entrevistados ao final do projeto é apresentada abaixo (os nomes dos entrevistados foram substituídos por acrônimos por questões de confidencialidade):

- Malásia

- WH - Analista Funcional - Índia - BS - Analista de Sistemas - DS – Gerente de Projetos - Estados Unidos - DG - Analista de Sistemas - EW – Analista Funcional - MG – Gerente de Projetos - Brasil - CC – Analista de Sistemas - CMS – Analista Funcional - FD – Analista de Sistemas - JR – Gerente de Projetos

O emprego de uma língua diferente adicionou à entrevista um desafio para o entrevistador, visto que a linguagem não é um veículo neutro. A maneira de pensar é afetada pelas categorias e palavras disponíveis na linguagem. Os problemas com o uso da linguagem em uma pesquisa sobre cultura começam antes mesmo na efetiva tradução das questões. Os pesquisadores e seus informantes podem deter expectativas normativas diferentes sobre o uso da linguagem. Poucos estudos comparativos de cultura podem escapar da necessidade de tradução de instrumentos como questionários e da tradução reversa de respostas que não estão previamente codificadas. As conclusões analíticas também são suscetíveis às diferenças de linguagem. Os tradutores destas pesquisas devem, então, estar familiarizados não só com as linguagens empregadas na pesquisa, mas também com o contexto do material a ser traduzido (HOFSTEDE, 2001).

Visando a abrangência mais consistente da entrevista realizada, foi construído um roteiro de entrevista com base nas cinco dimensões de cultura nacional de Hofstede (2001) e a partir das respectivas perguntas que derivam dos índices de qualificação das culturas nacionais em relação a cada dimensão (exceto a dimensão de Orientação para Curto Prazo versus Orientação para Longo Prazo) visando a identificar efeitos nos fatores de sucesso da gestão de projetos elencados no PMI (2008).

Para garantir maior qualidade ao roteiro de entrevista produzido, foi realizada uma validação do instrumento e a devida tradução para a língua inglesa, objetivando assegurar a unicidade da amostragem de dados e permitir que os padrões de linguagem sejam uniformes conforme recomendado por Hofstede (2001). Primeiramente, utilizando-se o roteiro em português foi aplicada a entrevista com um participante do projeto, de nacionalidade brasileira, para verificação da aderência da pesquisa e análise dos resultados gerados por esta entrevista nos objetivos da pesquisa realizada. Com base no sucesso da entrevista inicial e após ajustes identificados durante a validação, o instrumento de pesquisa foi traduzido para língua inglesa e validado por um tradutor brasileiro, com certificação IELTS (International English Language Testing System).

Posteriormente, foi aplicada a entrevista a um participante americano utilizando o instrumento de entrevistas traduzido para a língua inglesa. Com base nas considerações identificadas durante a entrevista foram realizados ajustes pontuais em relação à terminologia empregada no instrumento de pesquisa em inglês. Além disso, a validação do instrumento teve como objetivo garantir a sua capacidade de replicação para que a mesma pesquisa possa ser aplicada em futuros estudos, que poderão ter amostragens diferentes, mas que deverão ter resultados e conclusões compatíveis com esta pesquisa.

Uma das grandes particularidades das entrevistas realizadas diz respeito à distante distribuição geográfica das equipes. Conforme relatado anteriormente, a realização destas entrevistas se deu através de teleconferências ou telefonemas diretamente endereçados para os respondentes que se voluntariaram a participar da pesquisa, exceto para aqueles que estavam situados no Brasil, onde a entrevista foi realizada de forma presencial. As entrevistas foram gravadas e transcritas para garantir a consistência dos dados coletados.

3.4.3 Observação Direta e Participante

Valores culturais se manifestam no dia a dia das organizações de diversas formas. Por isso, a observação do ambiente organizacional pode ser um elemento importante para compreender como estas manifestações afetam as atividades realizadas por times distribuídos. De fato, a observação participante é tradicional

fonte de dados na compreensão de manifestações culturais dentro de estudos etnográficos originários da Antropologia.

Para o estudo de caso apresentado, duas formas de observação foram realizadas: participante (ativa) - segundo Gil (2010), o observador pode assumir diferentes papéis, sendo um dos atores do estudo de caso em questão - e a participação direta (simples) na qual o pesquisador como observador passivo que não interage com o contexto onde está sendo realizada a observação (GIL, 2010).

Levando-se em consideração que o autor da pesquisa faz parte da equipe de desenvolvimento de SI na organização objeto de estudo, a observação participante foi empregada com maior ênfase no Brasil. Como a pesquisa tinha como objetivo a identificação do efeito das manifestações de cultura nacional ao longo do ciclo de desenvolvimento do projeto, houve um limite em tal observação, visto que o pesquisador teve maior interação com as equipes fora do Brasil apenas durante reuniões de teleconferência ou videoconferência.