• Nenhum resultado encontrado

Desenvolvimento de Software em Times Distribuídos

Levando-se em consideração que a evolução tecnológica propicia para as organizações a distribuição geográfica de funcionários, observa-se que a adoção da prática de times distribuídos se torna cada vez mais comum nas organizações. Diversas áreas de atuação permitem a adoção desta abordagem, tais como: grupos de desenvolvedores de software, analistas financeiros, projetistas de automóveis, consultores e pesquisadores. Estes profissionais se beneficiam da possibilidade de realizar um trabalho de forma conjunta, mesmo estando em pontos geograficamente distantes. Isso é possível através do aparato tecnológico que permite a comunicação ampla através do tempo e espaço. Porém, ao analisar o contexto global destes times distribuídos, nota-se que os desafios inerentes a esta atividade não estão relacionados apenas às dificuldades da distribuição em diferentes regiões geográficas e diferentes fusos horários (OLSON; OLSON, 2004).

Segundo Carmel e Agarwal (2002), desde o início da década de 2000, a prática de alocação de recursos de desenvolvimento de software em localidades distantes das áreas centrais de negócio das organizações é uma prática consolidada nas organizações. Por se tratar de uma proposta que difere da modalidade tradicional de desenvolvimento de software, na qual os recursos estão alocados em espaço geográfico semelhante, o desenvolvimento de software distribuído demanda controles formais, incentivos e outras características que influenciarão no seu sucesso (CARMEL; AGARWAL, 2002). Principalmente no que tange à colaboração efetiva entre times, a integração de conhecimentos tácitos e especializados que estão dispersos entre os limites das organizações e das diferentes culturas será fator chave de sucesso neste tipo de processo (RAI et al., 2009).

Além do benefício da melhoria do custo e a possibilidade de encontrar alto número de profissionais disponíveis em outros mercados, a abordagem de equipes colaborativas em times distribuídos surge também a partir da necessidade das organizações e seus funcionários de trabalharem em contextos globais, que cruzam fronteiras e localizações geográficas, cargos e hierarquias funcionais, presença física semelhante dos gestores e suas respectivas unidades de negócio (CUMMINGS, 2004).

A revisão da literatura permite identificar algumas características de relacionamento entre os diversos envolvidos em um processo de desenvolvimento distribuído. De maneira inicial, sob a ótica da confiança entre os atores de um projeto de desenvolvimento de forma distribuída, Sabherwal (1999) argumenta que esta pode se manifestar de quatro maneiras principais:

a) Confiança com base no cálculo: a relação de confiança é estritamente balizada por recompensas ou punições contratuais financeiras do acordo do projeto;

b) Confiança com base no conhecimento: que não está relacionada ao conhecimento técnico ou de visões de negócio do cliente ou fornecedor, mas sim ao processo dos indivíduos pertencentes a determinado projeto conhecerem uns aos outros e assim confiarem em seus pares;

c) Confiança com base na identificação: há uma identidade entre os indivíduos que normalmente será motivada por objetivos comuns a serem alcançados pela equipe de projeto (clientes ou fornecedores); d) Confiança com base em desempenho: que irá depender fortemente do

sucesso do projeto em suas fases iniciais, gerando assim um senso comum de atingimento de objetivos.

Majchrzak et al. (2005) apresentam o conceito de compartilhamento de conhecimento através de times distribuídos de forma colaborativa, que tem como desafio não apenas as características de comunicação inerentes a cada indivíduo, mas tem também como traço marcante a complexidade de como as ideias de determinado indivíduo podem se integrar com as ideias de outrem.

Já na perspectiva de modelos de processo de desenvolvimento de SI, as características dos times distribuídos evidenciam os desafios da descentralização da tomada de decisão nas perspectivas técnicas e funcionais (de regras de negócios) em relação ao produto ou sistema que está sendo desenvolvido (PRIKLADNICKI; AUDY, 2010). Segundo os autores, em um projeto com times distribuídos, pode haver maior autonomia em relação a decisões técnicas, enquanto em um projeto em que o time está situado na mesma localidade geográfica, as decisões serão tomadas de forma conjunta.

De forma a contribuir para o estudo das características que não têm viés técnico ou funcional em relação à produção de software na modalidade de times distribuídos, Khan et al. (2011) apresentaram como resultado de sua revisão literária sistemática, além dos desafios da interação entre cliente e fornecedor, os quatro tipos de barreiras que tiveram expressiva significância em seu estudo:

a) os atrasos nas entregas;

b) barreiras culturais e de linguagem; c) falta de controle sobre o projeto;

d) baixo nível de gerenciamento de contratos.

Com base nas informações apresentadas anteriormente, mais uma vez é possível perceber que os fatores culturais apresentados podem influenciar o processo de desenvolvimento de software. Além disso, com base em sua revisão literária, em que foram revisitadas edições das revistas acadêmicas líderes na área de pesquisa científica em SI desde o início da década de 1990 até 2004, Leidner e Kayworth (2006) sugerem que estudos que abordaram os níveis nacionais e organizacionais de cultura se preocuparam com a influência dos valores no processo de desenvolvimento de software.

Leidner e Kayworth (2006) apresentam ainda, como área que necessita de pesquisa mais abrangente, o estudo da influência da cultura em times de desenvolvimento de software globalmente distribuídos e culturalmente diversificados. Levando-se em consideração as tendências em relação a times de desenvolvimento de SI culturalmente diversos, os autores alegam que mais pesquisas precisam ser conduzidas para examinar como os diferentes valores dos membros destes times se complementam ou se opõem no desdobramento dos processos de desenvolvimento de SI ao longo do tempo.

Tal afirmação de Leidner e Kayworth (2006) tem alto alinhamento com a proposta deste estudo, levando-se em conta a abordagem proposta de se analisar as manifestações da cultura nacional (que são formadas pelos valores dos indivíduos) no contexto de times distribuídos de desenvolvimento de software dentro de uma organização multinacional de tecnologia. Tal argumentação também é endossada por Carmel e Agarwal (2002) e Kaiser e Hawk (2004) que argumentam que, com a expansão do uso das práticas de desenvolvimento de SI em contextos de diversidade geográfica, será cada vez mais importante compreender como as

diferenças de valores em times culturalmente diversificados podem influenciar no processo de desenvolvimento de software e de forma subsequente, nos seus resultados. Além disso, os pesquisadores deverão considerar como tais times podem conciliar valores conflitantes para que resultem em práticas efetivas de desenvolvimento de software.