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2.3 Dimensões de Cultura Nacional de Hofstede

2.3.3 Individualismo Versus Coletivismo

A terceira dimensão de cultura definida por Hofstede, tem como objetivo a conceituação do individualismo como forma de oposição ao coletivismo. Esta dimensão retrata a relação entre o indivíduo e o coletivismo que prevalece em determinada sociedade (HOFSTEDE, 2001). A sua concepção retrata a maneira como as pessoas vivem juntas, quais as implicações para seus valores e seu comportamento e as maneiras como cada sociedade interpretará a individualidade e

a coletividade, levando-se em consideração que em alguns casos tal individualidade é considerada com uma possibilidade de bem-estar enquanto em outras sociedades é encarada com um fator alienante.

A raça humana, diferentemente de outras raças animais, não é reconhecida por ser exclusivamente individualista ou gregária, mas sim, por manifestar diferentes graus de agrupamento coletivo. Conforme detalhado por Hofstede (2001), os diferentes graus de agrupamentos coletivos são reflexo de diferenças na complexidade das unidades familiares nas quais os indivíduos estão inseridos e que influenciam o seu comportamento diário. Por estar na essência humana, tal agregação coletiva pode sofrer modificações no que tange aos núcleos familiares, principalmente no contexto das sociedades modernas, em que, por muitas vezes, pode haver desintegração familiar, que será substituída pela agregação em diferentes instituições sociais, o que pode ser interpretado como reflexo da característica gregária dos seres humanos.

A relação entre os indivíduos e a coletividade nas sociedades humanas não pode ser interpretada apenas como a maneira de viver conjuntamente, pois esta relação está intimamente ligada a normas sociais de grupos da população. Com isso, Hofstede (2001) alega que essa relação afeta a programação mental das pessoas e também outras instituições além da família como a educação, a religião, a política e o utilitarismo. Com base nesta constatação, é possível afirmar que aspectos de coletivismo versus individualismo carregam diversos aspectos morais subjetivos, porque estão intimamente relacionados ao sistema de valores compartilhado entre a maioria pertencente a determinado grupo.

No ambiente organizacional, as manifestações de individualismo versus coletivismo irão influenciar fortemente a natureza do relacionamento entre as pessoas e as respectivas organizações. Sociedades de característica mais coletivista têm uma demanda maior pela dependência emocional dentre os membros das organizações inseridas nestas sociedades. Em uma sociedade que denota equilíbrio nas características de individualismo versus coletivismo a organização deverá assumir uma ampla responsabilidade por seus membros (HOFSTEDE, 2001).

A importância do entendimento dos níveis de individualismo versus coletivismo se reflete na maneira como estes aspectos irão impactar a forma pela qual os indivíduos irão cumprir ou obedecer os requisitos organizacionais. É através

do envolvimento moral com a empresa que os valores coletivos prevalecem e o envolvimento social com a organização revela uma tendência maior de manifestação dos valores individuais. Além disso, Hofstede (2001) afirma também que os níveis de individualismo versus coletivismo afetam a maneira como as pessoas serão admitidas em cargos de influência especial dentro das organizações. Finalmente, o grau de individualismo nas organizações irá depender não só da formação dos conjuntos de normas da sociedade, mas também do nível educacional dos empregados, da história da empresa e da cultura organizacional.

Como reflexo das afirmações anteriormente apresentadas, o individualismo

versus coletivismo tem reflexo no grau de zelo dos indivíduos em relação a si e seus

familiares imediatos em comparação ao grupo como um todo. Para realizar a medição de aversão à incerteza entre diferentes funcionários da empresa IBM e pertencentes a culturas de diferentes países, Hofstede se utilizou de um índice denominado IDV (Individualism Index) que foi criado para mensurar a intensidade com que a o individualismo se manifesta sob a ótica de cada cultura.

O IDV visa a identificar a maneira como o grau de individualidade manifestado nas pessoas impacta na relação com os seus pares e com a organização. Nos países onde predominam traços de individualismo, a identidade é baseada no indivíduo e sua relação com a organização tem um viés mais prático, sendo regido por um contrato de trabalho baseado em vantagens mútuas e sem um vínculo significante entre empregado e empregador. Já em países onde predomina o coletivismo, a identidade é baseada no sistema social onde os indivíduos estão inseridos e a relação com a organização é percebida em termos morais como um vínculo familiar em que a comunicação e outras formas de interação entre empregado e empregador manifestam um vínculo emocional entre eles.

O IDV dos países participantes da pesquisa de Hofstede (2001) foi computado com base nos itens presentes no Quadro 4.

Quadro 4 – Perguntas que constituem o IDV

As descrições abaixo são apresentadas como opção de escolha nas questões subsequentes: 1. Concordo Totalmente 2. Concordo 3. Indeciso 4. Discordo 5. Discordo Totalmente

s

a) Permanecer em uma determinada companhia por um período extenso não é algo desejável e os melhores gerentes em uma empresa não são aqueles que permanecem mais tempo na companhia;

1. Sentença 1: Permanecer em uma companhia por um longo período é normalmente

a melhor maneira de chegar à frente do mercado

2. Sentença 2: No geral, os melhores gerentes em uma companhia são aqueles que

estão na empresa há mais tempo

b) Uma grande companhia não é geralmente um local mais desejável para trabalhar do que uma empresa pequena, e os respondentes estão menos felizes de que a IBM é uma empresa estrangeira;

1. Sentença: Uma grande corporação é geralmente um local mais desejável para

trabalhar do que uma pequena empresa.

2. Pergunta: De um modo geral, qual é o seu sentimento pessoal sobre trabalhar

para uma empresa que é primariamente de propriedade estrangeira? 1. De um modo geral, eu prefiro desta maneira

2. Não faz diferença para mim uma forma ou outra 3. Eu preferiria que não fosse assim

c) Uma corporação não é responsável pelos seus empregados;

1. Sentença: Uma corporação deve ter a maior responsabilidade pela saúde e bem-

estar dos seus empregados e sua família.

d) Um trabalho interessante não é tão importante quanto os ganhos;

1. Sentença: Ter um trabalho interessante para fazer é tão importante para a maioria

das pessoas quanto ter altos ganhos.

e) Para chegar à frente no mercado, conhecer pessoas influentes é normalmente mais importante do que talento ou aptidão;

1. Sentença: Para chegar à frente no mercado, conhecer pessoas influentes é

normalmente mais importante do que talento ou aptidão.

f) Decisões feitas pelos indivíduos são normalmente de maior qualidade do que as decisões feitas por grupos;

1. Sentença: Decisões feitas pelos indivíduos são normalmente de maior qualidade

do que as decisões feitas por grupos.

Na primeira aplicação da survey (1967-1970) o questionário da IBM incluiu 22 objetivos de trabalho ao invés de 14. Dois desses objetivos eliminados em 1971 eram particularmente característicos do lado coletivista da dimensão em questão: a importância de trabalhar em uma empresa bem-sucedida e a importância de trabalhar em uma empresa moderna;

1. Pergunta 1: Como é importante para você trabalhar em uma companhia que é

reconhecida em seu país como bem-sucedida?

2. Pergunta 2: Como é importante para você trabalhar em uma companhia que está

posicionada na primeira linha da tecnologia moderna?

Fonte: Hofstede (2001).