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A análise bibliográfica baseou-se no levantamento de livros e artigos teóricos, com ênfase nas áreas de políticas públicas, sobretudo relativas ao ACF, e de administração pública, além de referências específicas relativas ao subsistema de infraestrutura portuária nacional. Já a pesquisa documental foi conduzida por meio da pesquisa de diversas fontes públicas, incluindo notas taquigráficas de audiências públicas de comissões temáticas e especiais do Congresso Nacional, da ANTAQ e da SEP, relatórios e publicações das entidades, associações, sindicatos e confederações ligadas ao tema, além de leis, decretos, resoluções e portarias.

A análise documental buscou reproduzir os fundamentos defendidos pelos autores do ACF (Sabatier & Jenkins-Smith, 1988, 1993 e 1999), seguindo suas recomendações metodológicas, sobretudo as contidas no livro de 1993, visando à obtenção de dados e análises intersubjetivamente confiáveis. Para tanto, utiliza-se de código de análise da estrutura de crenças do ACF, preparado especificamente para o caso em estudo e aplicado rigorosamente utilizando-se formato particular de análise de conteúdo, visando à identificação e agrupamento das crenças das elites do subsistema de política pública. A linha de pesquisa seguida pelos autores criticava o uso de pesquisas transversais ou longitudinais – mais comuns à época da fundação do ACF – que se valiam de instrumentos como questionários atitudinais, mapeamento de votações parlamentares, afiliação partidária para inferir simplificadamente acerca das crenças daqueles que fazem as políticas. Tratar-se-iam de

46 indicadores brutos, pouco sofisticados, incapazes de prover verdadeiro discernimento sobre o posicionamento real dos envolvidos por trás de suas manifestações formais e suas relações causais.

A análise de conteúdo clássica estrutura-se a partir da realização de inferências com base na identificação objetiva e sistemática de características específicas do conteúdo analisado. Essa forma de tratar a informação desenvolveu-se a partir da sua aplicação no jornalismo e na ciência política, estendendo-se posteriormente a várias áreas das ciências sociais aplicadas. Trata-se de um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que pode ser tanto qualitativa quanto quantitativa (Puglisi & Franco, 2005). Na sua vertente qualitativa, busca registrar similaridades em determinada mensagem ou texto, de forma a sistematizá-las. Isso é feito, comumente, por meio da classificação em categorias temáticas, de modo a refletir o sentido e o significado da comunicação. Esse trabalho passa pela codificação das ideias mais frequentes e capazes de trazer explicação ao problema proposto. Bardin (1977, p 115), contudo, alerta quanto a necessidade desse procedimento ser ancorado no contexto:

a compreensão exata do sentido é, neste caso, capital. Além do mais, o risco do erro aumenta, porque se lida com elementos isolados, ou com frequências fracas. Donde a importância do contexto. Contexto da mensagem, mas também exterior a este.

Nesse sentido, Sabatier e Jenkins-Smith (1993) dedicaram-se ao uso da análise de conteúdo de documentos oficiais governamentais e próprios dos grupos de interesse a serem estudados, a partir de recorte longitudinal de pelo menos 10 (dez) anos, período em que se poderia verificar mudanças na política e a ocorrência de aprendizagem, contrastando-as com o contexto das mudanças (Sabatier & Weible, 2007; Jenkins-Smith et al., 2015). É usual verificarmos o uso de linhas do tempo ou retrospectivas históricas quando da discussão dos resultados das pesquisas, como nos casos de Araújo (2007 e 2013) e Viana (2011), o que auxilia para que o ambiente em que o conteúdo foi registrado não seja perdido de vista quando execução da analítica.

A tarefa de construir e utilizar adequadamente o código de análise é, talvez, o aspecto mais relevante na aplicação do ACF. O uso desse tipo de ferramenta permite incrementar o grau de objetividade e de sistematização da análise, potencializando sua validade, confiabilidade e replicabilidade. Ao discutir a análise de conteúdo, Bryman (2012, p. 289) reforça esse ponto:

A objetividade, nesse sentido, reside no fato de haver transparência nos procedimentos para atribuir categorias ao material bruto, de modo que os vieses pessoais do analista influam o mínimo possível no processo. O analista de conteúdo está simplesmente aplicando as regras em questão. A qualidade de ser sistemático significa aplicar asas

47 regras de maneira consistente de forma que o viés seja novamente suprimido. Como resultado dessas duas qualidades, qualquer um poderia empregar as regras e (com esperança) chegaria aos mesmos resultados.

Na análise dos trabalhos que aplicam o framework, percebe-se que há ampla gama de abordagens, algumas utilizando a codificação de documentos e outras apenas a análise qualitativa das potenciais crenças, como no trabalho de Brown e Stewart Jr. (1993). Quando utilizados, Araújo (2007, p. 94) ainda pondera que “o nível de detalhamento dos códigos de análise documental varia de acordo com a complexidade do problema pesquisado e, também, em função da quantidade de documentos disponíveis como fonte de informação”. Nota-se também que parte dos estudos se concentram somente nas crenças centrais de política (policy core beliefs), a exemplo do trabalho de Sewell (2005), enquanto outros, como Araújo (2007 e 2013) e Vieira (2013) trabalham com os três níveis de crenças.

Quanto às entrevistas semiestruturadas aplicadas, tiveram o objetivo de obter informações aprofundadas acerca do funcionamento do setor, diante da perspectiva de atores que atuam nos principais atores que participam dos fóruns de debate, contribuindo no seu dia- a-dia para a ocorrência de mudanças na política que permeia o subsistema. Além disso, tiveram função também de embasar a construção da estrutura de crenças preliminar, que deu origem ao primeiro esboço de código de análise, como será visto no próximo subcapítulo. Ressalva-se, contudo, que a leitura preliminar das referências bibliográficas e dos documentos coletados foram também essenciais para a conformação do referido código.

De acordo com Bryman (2012), essa é uma estratégia eficiente para que o pesquisador deixe o diálogo aberto, que o permita relacionar os pontos trazidos pelo entrevistado com os conceitos advindos da teoria e de outras fontes de dados. Nesse sentido, procurou-se deixar o entrevistado livre para discorrer sobre as questões, que funcionaram como tópicos a serem seguidos. Dawson (2007) lembra que as entrevistas semiestruturados são as mais aplicadas quando se fala de pesquisa qualitativa, sendo indicadas situações em que o pesquisador precisa delimitar parcialmente as informações que quer coletar.

O roteiro, que está reproduzido no Apêndice 1, contemplou três tópicos: perfil e trajetória profissional no setor portuário, análise da evolução recente do setor e identificação de atores relevantes e percepção da sua atuação. O racional de elaboração do roteiro seguiu os conceitos trazidos pela literatura clássica do ACF (Sabatier e Jenkins-Smith, 1988, 1993 e 1999). As informações foram gravadas em áudio - sob o compromisso da sua manutenção em sigilo - e os pontos de destaque registrados em bloco de notas e, posteriormente, transcritas para texto.

48 Quanto à seleção dos atores que seriam alvo das entrevistas em profundidade, foram realizados levantamento bibliográfico e consultas a especialistas que atuam no setor para a elaboração de lista preliminar de potenciais entrevistados. A seleção dos atores a serem entrevistados deu-se a partir de critérios de conveniência e representatividade do ator dentro do setor, a abrangência entre os diversos grupos atuantes, diversidade entre funcionários de organizações públicas e privadas, nível hierárquico de gestão e formação acadêmica, e a postura de abertura para contribuir à pesquisa.

A primeira entrevista realizada foi definida em função da ampla experiência do entrevistado no subsistema, tanto do ponto de vista gerencial, uma vez que se trata de gestor de políticas públicas de órgão central, quanto das especificidades do setor portuário, no qual atua há considerável tempo. O objetivo dessa primeira entrevista é que funcionasse como piloto para o aperfeiçoamento do roteiro de perguntas e da dinâmica de interação. Após essa entrevista piloto, as questões foram simplificadas e resumidas em menos caracteres, reduzindo, inclusive uma página do roteiro original para o final.

No primeiro contato com os entrevistados, foi solicitado - ao final das entrevistas - que outros nomes de relevância fossem indicados, técnica consagrada como snowball sampling method (técnica de amostragem da bola de neve) pela literatura (Bryman, 2012), a qual permitiu a ampliação e priorização da relação de futuros entrevistados, combinando com as escolhas por conveniência. Os 8 (oito) entrevistados concordaram com a gravação da entrevista, mas acordou-se com todos eles que suas falas não seriam divulgadas, havendo a necessidade, portanto, de ocultar suas identificações.