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4. TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

4.4 Coleta de dados

4.4.1 Período

A coleta de dados, tanto da análise sócio-histórica (quantitativa), quanto da análise formal ou discursiva (qualitativa), ocorreu de 24 de março a 11 de abril de 2014.

4.4.2 Fase Quantitativa

O instrumento utilizado nesta fase foi o questionário. Foram aplicados dois questionários distintos, um específico para os idosos residentes na Comunidade do Dendê e outro aplicado com os profissionais de saúde pertencentes ao Programa de Saúde da Família do Centro de Saúde da Família Mattos Dourado.

Em relação aos idosos, a previsão inicial era de aplicar o questionário em 88 longevos do Dendê. No final do período previsto, 99 sujeitos participaram da pesquisa, respondendo ao questionário, após terem ouvido a leitura e uma breve explicação sobre o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE. Além disso, no final da aplicação do questionário, todos assinaram ou utilizaram a digital, consentindo a participação na pesquisa. A elaboração do questionário foi baseada na revisão de literatura, em outras pesquisas acadêmicas e grupos focais já realizados no Dendê, e em outros questionários: o

“Questionário Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento – SABE”5, já validado e aplicado no Estado de São Paulo (SABE, 1999; 2006), no questionário do Vigitel Brasil-2011 (2012), que é a pesquisa da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, realizado pelo Governo Brasileiro desde 2006, e no Manual do Instrumento de Avaliação da Atenção Primária à Saúde: primary care assessment tool - PCATool – Brasil (BRASIL, 2010).

Para aplicar os questionários, foram selecionadas duas agentes comunitárias de saúde do Dendê. Essa escolha foi motivada por serem moradoras dá área, possuírem facilidade de acesso e boa aceitação pelas famílias da comunidade. No intuito de obtermos melhor coleta de dados, demostrando um perfil exato da opinião da população de idosos da Comunidade do Dendê, foi proposto um treinamento de cerca de 20 horas. O treinamento abordou a aplicação dos questionários, desde quando iniciar um contato, até como utilizar e preencher o questionário, na tentativa de padronizar a forma de aplicação e esclarecer as dúvidas. Nesse treinamento, foi abordado o processo de comunicação, pois, apesar de parecer fácil, já que se comunicar faz parte da natureza humana, este processo, por si, não é simples. Com o treinamento por meio da prática de aplicar o instrumento, adquire-se a habilidade para auxiliar e conduzir apropriadamente o preenchimento do questionário. Não há questionário bom, adequado, claro, se a habilidade do pesquisador que o emprega também não for.

Em março, no dia 15, o questionário finalizado foi apresentado às agentes de saúde. Na reunião, o questionário foi lido atentamente, observando todos os detalhes de como preenchê-lo corretamente. Foi informado que o trabalho das agentes de saúde seria revisado por nós, como forma de garantir a aplicação correta dos questionários. Neste mesmo dia, foram entregues dois questionários para que fossem aplicados e testados na segunda-feira pela manhã. Foi implementada orientação de que as agentes de saúde, durante a aplicação dos questionários, registrassem todas as dúvidas que surgissem. Dois dias depois, houve um novo encontro para que as dúvidas fossem sanadas. Os problemas identificados, como numerações das opções de respostas, foram corrigidos. Outro ponto importante foi orientar sobre o direito assegurado do pesquisado em recusar a responder qualquer questionamento. Por fim, nos

5 Questionário SABE (Saúde, Bem-estar e Envelhecimento): faz parte um inquérito multicêntrico patrocinado pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS) sobre saúde e bem-estar de pessoas idosas em sete centros urbanos na América Latina e Caribe. O desenho do estudo, o plano de amostra, o questionário... tiveram como fonte de ideias o Centro para Demografia e Ecologia de Wisconsin-Madison. O questionário encontra-se disponível, na íntegra, na página da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo na internet: http://www.fsp.usp.br/sabe/.

mostramos disponíveis a tirar qualquer dúvida, em qualquer momento da pesquisa, em qualquer hora. Os ACS foram esclarecidos de que, em caso de dúvidas, era importante que fosse esclarecida imediatamente conosco para garantir o bom andamento do trabalho.

Mesmo ciente da possibilidade de o agente comunitário de saúde, ao aplicar os questionários, pudesse cometer algum viés por pertencer à Atenção Básica do CSF Mattos Dourado, todos os esforços no treinamento foram realizados no intuito de evitar que isso ocorresse. Houve revisões nos questionários entregues e algumas visitas no campo para reavaliar a correta aplicação do instrumento. Apesar desse risco, no entanto, não tínhamos dúvida quanto ao agente de saúde ser o profissional ideal para percorrer todas as áreas do Dendê e ter fácil acesso aos moradores. A aplicação dos questionários aos idosos com 60 anos ou mais teve duração de 19 dias.

Para iniciar a pesquisa quantitativa com os profissionais de saúde, foi solicitado à Secretaria Municipal de Saúde o Termo de Autorização ou Anuência para realização da pesquisa. A Coordenadoria da Gestão do Trabalho e Educação na Saúde deu parecer favorável. O instrumento utilizado também foi o questionário, sendo este baseado no questionário de “Autoavaliação para a Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica: AMAQ”. (BRASIL, 2012). Esse questionário tratou de temas como: atenção à saúde prestada aos idosos do Dendê; capacitação dos profissionais das Equipes de Saúde da Família para o atendimento ao idoso; da utilização do Caderno de Atenção Básica; do uso da Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa, entre outros. No período de 24 de março a 11 de abril, entregamos o questionário diretamente a alguns profissionais de saúde, e, para outros, tivemos a colaboração da coordenadora médica do CSF Mattos Dourado. Foram entregues dez questionários, e, até o dia 11 de abril, somente sete profissionais os devolveram.

4.4.3 Fase qualitativa

Nesta fase, inicialmente, utilizamos como instrumento de coleta de dados a entrevista em profundidade com alguns idosos que responderam os questionários. Uma vez conhecidos os dados iniciais da pesquisa quantitativa e falas dos idosos na pesquisa qualitativa, observamos a necessidade de aprofundamento na relação dos idosos com o Centro de Saúde. Para isso, os agentes comunitários de saúde foram identificados como

“informantes-chaves” e o grupo focal foi escolhido como instrumento mais adequado para coleta dessas informações.

A entrevista em profundidade é um recurso metodológico que busca, com base em teorias e pressupostos definidos pelo investigador, recolher resposta baseada na experiência subjetiva de uma fonte selecionada por deter informações que se intenta conhecer. Os questionamentos permitem explorar um assunto ou aprofundá-lo, descrever processos e fluxos, identificar problemas, microinterações, padrões e detalhes, caracterizando a riqueza de um tema (DUARTE, 2005). As entrevistas foram realizadas com idosos, com 60 anos ou mais, residentes na Comunidade do Dendê, e usuários do Centro de Saúde da Família Mattos Dourado. O local da pesquisa foi o domicílio do entrevistado.

A escolha dos entrevistados partiu da lista dos 99 idosos que responderam o questionário utilizado na fase quantitativa. Inicialmente, os longevos foram subdivididos em 4 áreas de acordo com o local de moradia, e, posteriormente, de forma aleatória simples, foram selecionados três idosos por área, que foram convidados a fazer parte do estudo pelas agentes comunitárias de saúde - ACS, sendo realizado um agendamento prévio. As entrevistas ocorreram em quatro dias, do dia 1 ao dia 4 de abril, alternando entre os turnos da manhã e da tarde, possibilitando, assim, se adequar ao melhor horário determinado pelos idosos.

Todas as entrevistas foram realizadas por nós. O primeiro momento da entrevista era destinado a informar aos entrevistados da finalidade da pesquisa, sendo lido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de forma simples, facilitando a compreensão do idoso. As entrevistas foram gravadas, todas com a permissão dos idosos. Para coleta de dados, utilizamos como instrumento a entrevista em profundidade. No intuito de registrar gestos e expressões relevantes contidos na linguagem não verbal durante as entrevistas, utilizamos um diário de campo. O fechamento amostral foi de oito entrevistas, estabelecido por saturação de dados.

O outro momento da fase qualitativa foi o grupo focal, com os ACS. Segundo Minayo (2000, p.19), o grupo focal pertence à categoria mais geral de pesquisa aberta ou não estruturada, visando a colocar as respostas do sujeito no seu próprio contexto. Para Krueger (1994, p. 155), citado por Costa (2012), a entrevista de grupo focal “é uma marca dentro das tendências humanas. Atitudes e percepções relativas a conceitos, produtos, serviços ou programas são desenvolvidas, em parte, pela interação com outras pessoas”. A ideia defendida por vários pesquisadores é de que os debates nos grupos estabelecem um senso coletivo, onde

os significados são negociados e as identidades elaboradas pelos processos de interação social. Portanto, a interação é a chave para o método, pois o que os participantes dizem pode ser confirmado, reforçado ou contestado dentro do grupo da discussão.

O grupo focal foi realizado no dia oito de abril, sendo formado por agentes comunitários de saúde. Para realizar essa atividade, fez-se necessário um planejamento de cerca de quinze dias. Na preparação, seguindo um cronograma, observamos a escolha dos ACS, contemplando a presença de um representante de cada equipe de PSF; a entrega dos convites aos participantes; o local para realizar a atividade – no CSF Mattos Dourado, na sala destinada aos agentes de saúde, com autorização da Coordenação do Centro de Saúde; o conteúdo com um roteiro contendo perguntas norteadoras das discussões e a condução da sessão, assumida por nós, realizando funções de observador e moderador. Toda a sessão durou cerca de 80 minutos e foi gravada com permissão dos participantes, o que nos possibilitou, como observador, registrar informações e detalhes da linguagem não verbal. Na função de moderador, foi possível direcionar o grupo à discussão da atenção à saúde do idoso na APS, incentivar a participação de todos os participantes, possibilitando um aprofundamento das discussões.