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4. TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

4.8 Desfechos primário e secundário

5.1.4 Uso dos serviços de saúde no CSF Mattos Dourado

5.1.4.5 Programa de Saúde da Família

O Programa Saúde da Família (PSF) foi instituído no Brasil em 1994, posteriormente incorporado como Estratégia Saúde da Família (ESF), propondo a reorganização da Atenção Básica dentro da compreensão integral do processo saúde-doença, atuando na dimensão individual, familiar e coletiva, com uma nova dinâmica para a organização dos serviços básicos, assumindo os compromissos do SUS (BRASIL, 2006). A Capital cearense, Fortaleza, em janeiro de 2014, tinha uma proporção de cobertura populacional de estimada em 51,8% de agentes comunitários de saúde e de 37,6% de Equipe de Saúde da Família (anexo H). A cobertura pelas ESF, apesar de relativamente alta quando comparada com algumas capitais brasileiras, como Salvador (23,6%); Brasília (27,6%); Manaus (31,3%) ou São Paulo (31,7%), e comparadas com outras capitais, observa-se a necessidade de avançar na cobertura: Curitiba (45,6%); Recife (55,2%); Florianópolis (92,3%), segundo dados do Departamento de Atenção Básica (BRASIL, 2014).

A Comunidade do Dendê é coberta pelas equipes do Programa Saúde da Família, porém, com muitas áreas descobertas de agente comunitário de saúde. Em relação à Estratégia Saúde da Família, 62,7% dos idosos do Dendê afirmaram conhecer o PSF; 81,7% conhecem a equipe responsável por sua área; 91,6% conhecem o agente comunitário de saúde (ACS) responsável por sua rua. Além disso, 88% dos longevos dizem sentir-se bem acolhidos no centro de saúde; e 72% das pessoas, por serem idosas, referem algum atendimento preferencial (tabela 22). À vista desse número, percebemos que cerca de 40% dos longevos dizem desconhecer o PSF, ao mesmo tempo em que grande parte conhece a equipe e o ACS

da sua rua. Isso demonstra grande dispersão de respostas, indicando falta de informação e dificuldades de comunicação entre o CSF Mattos Dourado e o usuário idoso.

Tabela 22 – Avaliação do Programa de Saúde da Família - PSF / Atenção Básica (CSF Mattos Dourado) pelos idosos da Comunidade do Dendê (*), 2014

PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA – PSF Programa Saúde da Família – PSF

Sim Não Total

N.º % N.º % N.º %

Conhece o PSF 59 62,7 35 37,2 94 100

Conhece a equipe responsável pela sua área 76 81,7 17 18,2 93 100 Conhece o ACS responsável por sua rua 88 91,6 8 8,3 96 100 Sente-se bem acolhido no CSF Mattos Dourado 81 88,0 11 11,9 92 100 O idoso tem algum atendimento preferencial 62 72,0 24 27,9 86 100 (*) Bairro Edson Queiroz, SER VI, Fortaleza – CE, abril de 2014.

Fonte: Dados primários da pesquisa

No acompanhamento do idoso pelo PSF, uma das ações estratégicas baseadas nas diretrizes contidas na Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa e nas metas propostas no Pacto pela Vida foi a implantação da Caderneta de Saúde da Pessoa idosa. Essa caderneta é vista como expediente para identificação de situações de riscos potenciais para a saúde da pessoa idosa. O uso da caderneta pelo longevo pode possibilitar ao profissional de saúde, planejar e organizar ações de prevenção, promoção e recuperação, objetivando a manutenção da capacidade funcional das pessoas assistidas pelas equipes de Saúde da Família. No Dendê, somente 29% dos idosos têm a caderneta, apesar de 61,6% compreenderem a importância do seu uso. Além disso, somente 22,9% levam a caderneta para a consulta, enquanto apenas 6,5% tiveram a caderneta solicitada pelo profissional de saúde (tabela 23). Apesar de o Governo divulgar que de 2007 a 2009 foram entregues 13 milhões de exemplares da caderneta, e que atingiram 70% da população idosa residente em nosso País (BRASIL, 2010), na prática, encontramos idosos sem a caderneta, e idosos e profissionais de saúde sem valorizar sua utilização. Abordaremos, a seguir, a avaliação da influência do PSF na vida dos idosos da Comunidade do Dendê.

Tabela 23 – Avaliação do uso da Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa por longevos da Comunidade do Dendê (*), 2014

CADERNETA DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa

Sim Não Total

N.º % N.º % N.º %

Tem a Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa 27 29,0 66 70,9 93 100 Acha importante o uso da caderneta 53 61,6 33 38,3 86 100 Leva a caderneta quando vai para consulta 11 22,9 37 77,0 48 100 Durante a consulta é solicitada a caderneta 6 6,5 86 93,4 92 100 (*) Bairro Edson Queiroz, SER VI, Fortaleza – CE, abril de 2014.

Fonte: Dados primários da pesquisa

Finalizando os questionamentos a respeito do uso e acessibilidade aos serviços de saúde, investigamos a percepção dos idosos referente à influência do PSF na sua vida. Para 70,9% dos longevos residentes na Comunidade do Dendê, o PSF melhorou efetivamente sua vida. Enquanto isso, para 29% ele não fez diferença (tabela 24). Portanto, para cerca de um terço dos idosos, a Estratégia Saúde da Família não fez diferença em sua vida. Apesar da Atenção Primária em Saúde ser reconhecida geralmente como um dos componentes-chave de um sistema de saúde eficaz, ainda se percebe dificuldade em se manter os preceitos constitucionais do direito à saúde, o que enseja um sentimento de insegurança entre os usuários quanto ao SUS. Quando se identifica o fato de que boa parte dos idosos do Dendê desconhece o PSF, o que dizer das suas propostas? Esse desconhecimento, além da falta de informações, também deve estar ligado à falta de concretização destas.

Tabela 24 – Avaliação da influência da implantação do Programa de Saúde da Família, no CSF Mattos Dourado, na vida dos idosos da Comunidade (*), 2014

INFLUÊNCIA DO PSF NA VIDA DOS IDOSOS N.º % Influência do PSF na vida dos idosos

Melhorou efetivamente minha vida 61 70,9

Não fez diferença na minha vida 25 29,0

Piorou minha vida 0 0,0

86** 100

(*) Bairro Edson Queiroz, SER VI, Fortaleza – CE, abril de 2014. (**) 13 idosos não responderam este questionamento

Para a pesquisadora Starfield (2005), um sistema de saúde com forte referencial em Atenção Primária à Saúde é mais efetivo, é mais satisfatório para a população, tem menores custos e é mais equitativo, mesmo em contextos de grande iniquidade social. A APS é complexa, no entanto, demanda uma intervenção ampla em diversos aspectos para que se possa ter efeito positivo sobre a qualidade de vida da população, necessita de um conjunto de saberes para ser eficiente, eficaz e resolutiva. A APS é definida como o primeiro contato na rede assistencial dentro do sistema de saúde, caracterizando-se, principalmente, pela continuidade e integralidade da atenção, além da coordenação da assistência dentro do próprio sistema, da atenção centrada na família, da orientação e participação comunitária e da competência cultural dos profissionais (STARFIELD, 2004).

Observando as definições da pesquisadora Starfield sobre APS, e mesmo com a Atenção Primária implantada e funcionando no CSF Mattos Dourado, um terço dos idosos referiram que isso não fez diferença em suas vidas. Isso pode ocorrer quando o modelo implantado, na prática, funciona como o modelo antigo, unicista clínico/biológico. Essa possibilidade está ligada também a própria formação do profissional de saúde. Para Ronzani e Stralen (2003), a formação desse profissional ainda é pautada no modelo antigo, em que se prioriza a especialização e o trabalho fragmentado em detrimento da formação generalista, mantendo, muitas vezes, o discurso tradicionalmente biologizado do profissional de saúde em detrimento das questões psicossociais também envolvidas nesse processo. Na medicina, somente em 2010, o Conselho Nacional de Educação instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais11, para atender às demandas e pressões sociais por saúde e na tentativa de reorientar a formação médica brasileira.

Outro ponto, que também tem ligação com a formação, refere-se ao modelo existente de atenção aos idosos que pode, ainda, não ser adequado, não atendendo totalmente as suas necessidades. Segundo Araújo, Brito e Barbosa (2008), os problemas de saúde do idoso, além de serem de longa duração, requerem pessoal qualificado e equipes multidisciplinares. Qualificar e quantificar os profissionais de saúde para assistência aos idosos é essencial, uma vez que há falta de profissionais nos serviços para esta atenção.

11 Diretrizes Curriculares Nacionais de graduação em Medicina almejam como perfil um egresso: [...] com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, capacitado a atuar, pautado em princípios éticos, no processo de saúde-doença em seus diferentes níveis de atenção, com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação à saúde, na perspectiva da integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano (Art.3o p.1).