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COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO DESDE SEU DESCOBRIMENTO

4 O COMÉRCIO EXTERIOR E A INFRAESTRUTURA PORTUÁRIA

4.1 COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO DESDE SEU DESCOBRIMENTO

O comércio exterior brasileiro tem história que flui paralelamente com a evolução de suas navegações marítimas. Retratando tal histórico, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC, 2008) publicou, no ano de 2008, um extenso material histórico sobre os 200 anos do comércio exterior brasileiro.

Tudo iniciou com a vantagem do território brasileiro de abranger uma ampla gama de recursos naturais que acabaram por conquistar as atenções dos desbravadores europeus que vieram às novas terras justamente em procura de riquezas. Desta forma, é neste período de exploração dos recursos naturais pelas nações europeias que compreende-se a vocação reinante do Brasil de se estabelecer como exportador de recursos, mesmo antes de ser concebido como país independente, séculos mais tarde. Furtado (2005, pg. 19) cita o seguinte quanto ao tema: “Os magníficos resultados financeiros da colonização agrícola do Brasil abriram perspectivas atraentes à utilização econômica das novas terras.”

Porém, como dito anteriormente, é com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1808, que suas operações comerciais internacionais dão seus primeiros passos. Em 28 de janeiro daquele ano é publicada a Carta Régia de Abertura dos Portos brasileiros às Nações Amigas. É a partir deste ponto que o Brasil passa a exercer controle próprio sobre seu comércio exterior.

Durante a primeira metade do século XIX, o comércio exterior do país caracterizou-se pelos fortes laços comerciais com a Inglaterra, herdados da relação com Portugal. Por conta disso, as importações, provenientes quase integralmente da Grã-Bretanha, permaneceram dominando a balança comercial até 1860. O café, a borracha e o algodão eram os principais produtos exportados. Em 1844, o governo brasileiro extinguiu o Tratado

Comercial com a Grã-Bretanha, o que teve como reação o aumento dos valores de importação, estimulando a criação de algumas indústrias no país. (BRASIL, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, 2008).

Já na segunda metade do século XIX, o destaque fica para a diversificação dos destinos das exportações e a transformação da balança comercial para o saldo positivo, obtido graças à produção e exportação do café que, em 1860, já respondia a cerca de 49% das exportações, seguido pelo açúcar (21,2%), algodão (6,2%), fumo (2,6%) e cacau (1%). Furtado (2005, pg. 148) ressalta tal destaque desta maneira:

[...] a economia brasileira parece haver alcançado uma taxa relativamente alta de crescimento na segunda metade do século xix. Sendo o comércio exterior o setor dinâmico do sistema, é no seu comportamento que está a chave do processo de crescimento nessa etapa. Comparando os valores médios correspondentes aos anos noventa com os relativos ao decênio dos quarenta, depreende-se que o quantum das exportações brasileiras aumentou 214 por cento. [...] Um aumento de 214 por cento do quantum das exportações, acompanhado de uma melhora de 58 por cento na relação de preços do intercâmbio, significa um incremento de 396 por cento na renda real gerada pelo setor exportador.

Neste período, a dependência para o café aumentava cada vez mais (chegando a responder por mais de 60% das exportações), contribuindo para o aumento sucessivo de saldos positivos na balança comercial e para o acúmulo de capital, que era parcialmente direcionado para a expansão de atividades manufatureiras. A exploração de borracha também torna-se destaque, no final do século, por conta da crescente indústria automobilística nos Estados Unidos. (BRASIL, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, 2008).

Foi no século XX que ocorreram as transformações que definiram o rumo do comércio exterior brasileiro no século XXI. Em sua primeira metade, a mudança econômica baseia-se fortemente nos choques externos vivenciados pelos países que, à época, dominavam o mercado global, caso dos países europeus e dos Estados Unidos. Acontecimentos como a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Quebra da Bolsa de Valores (1929) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) fizeram com que a estabilidade das exportações brasileiras fosse fragilizada, obrigando o país a voltar-se para sua produção interna como forma de salvar-se de uma crise econômica, fatores que favoreceram o surgimento de uma indústria nacional. (BUESCU, 2011).

Gudin (apud Almeida, 2007) separa algumas características das relações econômicas do Brasil para os anos de 1950 e início de 1960, como reflexo do período de instabilidade econômica ocasionado como consequência da primeira metade do século. As

importações rígidas de matérias primas e equipamentos para as indústrias, sem possibilidade de substituição; a inelasticidade na oferta dos produtos de exportação, que ocorre, entre outros fatores, pela dependência nas condições meteorológicas e deficiência no sistema de transportes; a economia dependente às flutuações internacionais; e a deterioração nas relações de troca, em virtude da desvalorização da moeda nacional.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2010, pg. 9) sintetiza da seguinte forma a dificuldade na busca por investimentos externos na década de 60:

Após a Segunda Grande Guerra, os países latino-americanos não tiveram acesso nem à doação de recursos por meio de um Plano Marshall (1947-1952) nem a uma economia regional em construção apoiada pelo acesso privilegiado aos mercados dinâmicos (inicialmente Comunidade Econômica Européia e, mais tarde, integração comercial dos países asiáticos). A Aliança para o Progresso (1961-1970), após a revolução cubana, apresentou contribuição restrita para o crescimento da região. Assim, o financiamento externo tornou-se muito dependente da expansão do investimento direto das multinacionais dos Estados Unidos, da Europa e, posteriormente, do Japão, dadas as dificuldades para se expandir as exportações predominantemente de bens primários.

Estas dificuldades acabaram prejudicando diretamente o desenvolvimento do comércio exterior, que teve pequenas taxas de crescimento, apesar do grande avanço da indústria interna, o que continuou deixando o comércio exterior brasileiro dependente das exportações agrícolas e pendurado em pesadas importações de insumos para bancar a industrialização, como máquinas e bens manufaturados. Na Tabela 4 é possível verificar que, em 1964, a participação de bens básicos, como o café e o açúcar, respondiam por 85,4% do total das exportações.

Tabela 4 - Exportação por fator agregado e contas selecionadas do balanço de pagamentos – Brasil.

Fonte: BRASIL. Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2010.

A situação econômica brasileira só começou a mudar com o surgimento do regime militar, em 1964. O Brasil então viveu um período de significativa evolução econômica, então denominado de “milagre econômico”, onde o comércio exterior sofreu sua maior mudança: iniciou o processo de transformação de simples exportador de matéria prima para uma maior participação na venda de produtos manufaturados, atingindo assim novos patamares de valores nas importações e exportações. Isso refletiu também no aumento da gama de diversidade de produção de mercadorias e no aumento de novos destinos para a exportação. Houve também grande aumento na entrada de capital estrangeiro para investimentos no país. Este período só seria quebrado com a crise do petróleo na década de 70 onde o Brasil contraiu grande dívida externa e, como forma de tentar segurar seus gastos, diminuiu drasticamente suas importações, promovendo a tentativa de substituição dos mesmos por produtos nacionais. (GUDIN apud ALMEIDA, 2007).

Na década de 90, ocorre a estabilização da economia brasileira e a abertura comercial com redução de tarifas de importação e novos incentivos à exportação. Deve-se destacar também a participação do Brasil na Organização Mundial do Comércio e no início de atividades no Mercado Comum do Sul (Mercosul), da qual permitiu o aumento substancial de

seus fluxos comerciais. (BRASIL, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, 2008).

Atualmente, o Brasil é a sexta maior economia mundial e configura-se como um dos principais países emergentes em âmbito global, assim como já é o líder regional. Este status proporciona uma enorme capacidade de obtenção de investimentos externos, visto que há uma grande quantidade de áreas de investimento no país (setor de infraestrutura e energia, por exemplo) com baixo risco3 graças à ótima estabilidade econômica e política que o país goza, assim como permite uma participação cada vez maior nos negócios internacionais. Como prova disso, verifica-se na Tabela 5, a evolução da balança comercial brasileira dos últimos 20 anos elaborada pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Tabela 5 - Evolução da balança comercial brasileira dos últimos 20 anos.

Fonte: Associação de Comércio Exterior do Brasil – AEB, 2012.

É importante ressaltar que, com relação à composição da pauta exportadora, ocorre, atualmente, uma inversão entre os produtos básicos e os manufaturados. Essa mudança se verifica devido aos altos valores cotados para as commodities (ferro, petróleo, soja, carnes, açúcar e café como exemplo dos principais (BANCO CENTRAL DO BRASIL,

3 O índice do Risco-Brasil, de outubro de 2008 até dezembro de 2010 medido pela JP Morgan, caiu de 677 para

2012)) cenário que se apresenta positivo para os exportadores brasileiros do setor, e à valorização do Real, que faz com que os manufaturados fiquem mais caros, diminuindo o interesse deste produtos em cenário global. A Tabela 6 mostra esta inversão.

Tabela 6 - Exportações por fator agregado.

Fonte: Associação de Comércio Exterior do Brasil – AEB, 2012.

Tendência esta que deve seguir crescendo pois agrega mais valor aos produtos aqui produzidos.