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Como a Previdência Social afeta a Poupança: Evidência Estatística

As tentativas de medir o real impacto dos planos previdenciários sobre o com- portamento de poupança enfrentam numerosos desafios que os analistas ainda não con- seguiram superar com êxito. As comparações com a poupança nacional agregada exami- nam tendências ao longo do tempo ou diferenças em um dado momento entre diferen- tes países. Em qualquer dos dois casos os dados disponíveis são imperfeitos e a capaci- dade de ajuste em função da influência de outros fatores é seriamente limitada. Uma frustrante conseqüência é que dois pesquisadores podem produzir estudos de resulta- dos contraditórios convincentes. Pequenas variações na maneira especial de conduzir um teste estatístico, o modo especial de levar em conta outras influências ou o especial

conjunto de anos ou amostra de países estudados podem significar a diferença entre a verificação de que os programas de previdência social aumentam a poupança, a diminu- em ou não têm nenhum efeito10. Estudos de variações do comportamento de poupança dos indivíduos de determinado país sofrem outras limitações estatísticas e não conse- guem generalizar, com base nos possíveis efeitos sobre uma parte da população, o im- pacto sobre a poupança nacional total.

Estudos do impacto dos planos previdenciários em regime de repartição. Em muitos países os planos operam em grande parte no regime de repartição, indepen- dentemente de terem ou não sido desenhados com essa abordagem em mente. A pre- missa mais comum para estudos estatísticos tem sido, muito mais, examinar se tais abor- dagens têm tido o efeito de reduzir a poupança nacional.

Infelizmente os esforços para estabelecer ligação entre planos previdenciários em regime de repartição e índices de poupança nacional não têm tido êxito. Após exaustivo repasse de estudos do país inteiro e de estudos do impacto potencial do sistema nos Estados Unidos, um acatado economista americano concluiu:

“Por uma variedade de razões, que vão da introspecção e da experiência pessoal à análise de estatísticas de poupança, as pessoas desenvolveram uma impressão so- bre como a previdência social afeta a poupança. Os economistas, que não são imunes à impressão mais do que quem quer que seja, têm aplicado as ferramentas da sua disciplina na tentativa de determinar qual impressão está correta.

Existe conclusiva evidência de que até agora fracassaram. Utilizando o melhor que a teoria econômica e as técnicas estatísticas têm para oferecer, produziram uma série de estudos que podem ser citados seletivamente pelos verdadeiros crentes em impressões conflitantes ou por pessoas com agendas políticas que procuram desenvolver11

Repassando a evidência dez anos depois, o Banco Mundial chegou a conclusão muito próxima:

(...) numerosas investigações empíricas (quase todas baseadas em dados dos Esta- dos Unidos) têm sido incapazes de provar conclusivamente que a poupança caiu, realmente, onde programas de regime de repartição foram instituídos. (...) Análi- ses dos índices de poupança em outros países fornecem resultados igualmente conflitantes. Estudos do impacto dos programas de seguro-velhice no Canadá, França, República Federal da Alemanha, Japão, Suécia e Reino Unido não encon-

10 Leimer e Lesnoy demonstram esse ponto para estudos de séries históricas nos Estados Unidos. [Ver Dean R. Leimer e Selig

D. Lesnoy, “Previdência Social e Pou

11 Henry J. Aaron, Os Efeitos Econômicos da Previdência Social (Washington, D.C.: A Instituição Brookings,

1982), 51.

traram impacto significativo, salvo um efeito agregado levemente positivo na Suécia, onde o sistema previdenciário é pesadamente financiado12.

Estudos do impacto de planos em regime de capitalização. Ainda que os programas em regime de repartição não tenham reduzido a poupança, passar para pla- nos em regime de capitalização poderia fazê-lo. Como mencionado antes, tal política poderia ser seguida devido à preocupação de que sem intervenção governamental o mercado livre poderia gerar poupança insuficiente. Previdência social obrigatória, em regime de capitalização, é uma forma de intervenção governamental com potencial para alterar esse resultado.

Só alguns estudos exploraram sistematicamente o possível impacto da previdên- cia social sobre regime de capitalização ou esquemas de aposentadoria sobre a poupança nacional. Todos dizem respeito à experiência dos Estados Unidos ou do Canadá.

Uma categoria de estudos examina programas que oferecem subsídios tributários para estimular a poupança individual para a aposentadoria. Eles exploram a extensão em que tais políticas levam as pessoas a poupar mais ou simplesmente levam pessoas que já economizaram a transferir seus ativos para contas com incentivos tributários. Nenhuma conclusão clara emerge deles13.

Outros estudos procuraram saber se os ativos de lares individuais variam sistema- ticamente em função das variações dos seus prospectivos direitos de aposentadoria. Também dizem respeito às experiências dos Estados Unidos e do Canadá, onde aposen- tadorias privadas são muitas vezes parte do pacote de emprego mas não são obrigatórias por lei. Isso pode ser ou não representativo da situação de outras sociedades e sob um esquema universal obrigatório.

A questão pesquisada nesses estudos é se os lares que irão receber benefícios maio- res parecem, em relação a seus níveis de rendimentos e em condições iguais, possuir meno- res economias ou outros recursos. Na medida em que isso ocorra, pode-se assumir que os menores recursos estejam contrabalançando algo da poupança maior que de outra maneira resultaria da acumulação de ativos ocorrida nos fundos de pensão. Esses estudos tendem a encontrar evidência de contrabalanço parcial. Talvez 60% (os resultados em geral variam entre 40% e 80%) dos ativos acumulados nos fundos de pensão não são diretamente

12 Banco Mundial, op. cit., 307. Knut Magnussen, estatístico norueguês, compilou o que é provavelmente o repasse mais completo

e cuidadoso dos estudos do impacto da previdência social sobre a poupança. [Ver Knut Magnussen, “Aposentadorias, Compor- tamento quanto à Aposentadoria e Poupança Pessoal”, Documento para Discussão PI-9609 (Londres: Instituto de Aposen- tadorias, Faculdade Birkbeck, Universidade de Londres, agosto 1996).]

13 Esses estudos especiais - juntamente com outros mais gerais sobre a relação entre previdência social e poupança - são sumari-

ados em Gerard Hughes, “Financiamento das Aposentadorias, o Efeito de Substituição e Poupança Nacional”, documento para uma conferência sobre “Aposentadorias na União Européia, DG V”, e Gesellschaft für Versicherungswissenschaft und- gestaltung e. V., (Münster, Alemanha, junho 1996).

contrabalançados pela menor acumulação de ativos nos lares que recebem benefícios14. Como as pensões complementares dos Estados Unidos e do Canadá são mais comuns nas firmas de salários mais altos, o grau de contrabalanço de ativos num plano previdenciário universal poderia ser até mais baixo. Quem ganha menos tem menor capacidade de fazer reduções compensadoras dos seus ativos pessoais.

Sumário de evidência estatística. Apesar de numerosas tentativas de medir o impacto estatisticamente, não emergiu nenhuma evidência coerente de ligação entre a instituição de planos previdenciários de regime de repartição e redução de índices de poupança pessoal. Isso sugere que se esses programas tiveram impacto negativo sobre a poupança individual, provavelmente foi bem modesto. Ao mesmo tempo, os estudos sugerem que planos em regime de capitalização podem levar a um aumento da poupança individual, embora menor do que a importância bruta dos ativos acumulados neles. Embora os benefícios em regime de repartição possam não ser responsáveis pela dimi- nuição da poupança individual, contar em lugar deles com abordagens de capitalização pode, não obstante, causar aumento da poupança pessoal.

Ligação entre Poupança Pessoal