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Custo de Mão-de-obra e Taxas de Contribuições Previdenciárias

Ajustamentos numa economia de livre mercado. A análise tradicional de incidência das contribuições previdenciárias numa economia de livre mercado conclui que elas não devem representar nenhum problema para a competitividade internacional. Nessa análise, depois que os efeitos de uma alteração das taxas abriram seu caminho na economia, os empregados acabam arcando, essencialmente, com a totalidade do ônus, sob a forma de salários reais mais baixos. O resultado não depende de como o encargo é dividido entre o empregador e o empregado2. Isso significa que numa economia de livre mercado os encargos da previdência social não terão impacto significativo sobre os custos para o empregador ou sobre a sua procura de mão-de-obra3.

A razão pela qual se admite que os empregados arquem essencialmente com o ônus total das contribuições previdenciárias tem a ver com o grau em que a quantidade de trabalho que os trabalhadores estão dispostos a prestar numa dada economia varia segundo o salário líquido que conseguem ganhar. Sempre que um tributo é cobrado dos produtores de acordo com determinado insumo por eles utilizado no processo de pro- dução, os donos desse insumo devem aceitar um preço mais baixo, a menos que desejem reduzir a quantidade que vendem. Como proposição geral, a oferta de mão-de-obra é muito inelástica (a quantidade oferecida não se altera muito em função de alterações do salário líquido), de modo que os que fornecem trabalho devem aceitar um preço mais baixo por ele quando o trabalho é tributado. Além disso, a oferta de capital é muito mais elástica do que a de trabalho e por isso tributos como as contribuições previdenciárias não poderiam de modo algum ser facilmente transferidos para os donos do capital. Conseqüentemente, até mesmo os trabalhadores que acabam fazendo algum ajuste das suas horas de trabalho em função de alterações do seu salário líquido vão arcar virtual- mente com o total do ônus de qualquer alteração das taxas de contribuição.

Esse resultado pode ser encarado mais facilmente atentando-se para as várias reações que podem ser esperadas quando as contribuições previdenciárias são instituí- das ou sua taxa é aumentada. Qualquer alteração da quantia das contribuições desconta- da do salário dos trabalhadores simplesmente diminui diretamente seu salário líquido. Não altera os custos para o empregador ou o custo do produto.

2 John A. Brittain, “A Incidência das Taxas Previdenciárias sobre a Folha de Salários”, em Revista Americana de

Economia 61:1 (março 1971), 110-25; e Jonathan Gruber, “A Incidência da Tributação da Folha de Salários: Evidência do Chile”, Documento de Trabalho no 5053 (Cambridge, E.U.A.: Agência Nacional de Pesquisa Econômica, 1996). Gruber

analisou o impacto da reforma chilena, na qual foi abolida a contribuição do empregador e a taxa de contribuição do empregado foi reduzida. Ele acha que os empregados arcam com o ônus total antes e depois da reforma.

3 O resultado é aplicável também ao custo para o empregador de outros benefícios para os empregados, financiados mediante

A reação dos empregadores diante de um aumento da taxa das suas contribuições previdenciárias é um pouco mais complicada. Como o aumento da taxa causa aumento dos seus custos de mão-de-obra, eles primeiro procuram ajustar-se diretamente median- te simples redução do valor de qualquer aumento de salário em dinheiro com o qual de outra maneira concordariam. Assim os níveis dos salários reais já descontados das con- tribuições previdenciárias descerão gradualmente até abaixo da posição em que de outra maneira teriam ficado ou até que o custo total do emprego de cada trabalhador caia para o nível onde estaria se a taxa de contribuição não tivesse sido alterada.

Os trabalhadores podem aceitar a lentidão do crescimento dos salários reais como um fenômeno natural do mercado ou podem resistir a ele. A resistência aumentará temporariamente o custo da mão-de-obra para os empregadores, levando-os a praticar dois tipos de ação. A mais direta das duas é diminuir o número de empregados, produ- zindo assim um aumento do desemprego agregado da economia. Com o tempo, o maior desemprego serve para diminuir o ritmo de crescimento dos salários em dinheiro, realizando o necessário ajustamento do pagamento líquido e encorajando os emprega- dores a reporem o emprego nos níveis anteriores.

O mecanismo menos direto são alterações dos preços dos produtos. Os empre- gadores podem de início recuperar o custo das contribuições previdenciárias mais altas aumentando os preços dos produtos. Esses aumentos fazem subir o nível geral dos preços, reduzindo os níveis reais de salário mediante redução do poder de compra de um dado salário nominal. As pressões dos preços continuarão até que os salários reais tenham caído o suficiente para contrabalançar o impacto do aumento das contribuições previdenciárias4.

Impacto das barreiras ao ajustamento. Entretanto, o resultado do livre merca- do não precisa perdurar se o governo ou outras forças do mercado de trabalho forem capazes de interferir no processo de ajustamento que acaba de ser exposto. Duas fontes potenciais de tal interferência são as disposições sobre salário mínimo e políticas anti- inflacionárias efetivas.

Os níveis do salário mínimo podem ser estabelecidos por lei ou mediante nego- ciação coletiva. Criando um piso abaixo do qual os salários não podem descer, essas disposições afetam o processo que normalmente ocorreria para levar os trabalhadores a arcar com os ônus das contribuições. Em particular, se os salários mínimos são indexados

4 Estudos empíricos tendem a verificar que de um-terço a metade do ajustamento se faz mediante menor crescimento dos salários

em dinheiro e o resto mediante alterações pelo empregador tanto do número dos seus empregados como dos preços que cobra. Tipicamente, o grosso dos ajustamentos ocorre dentro de um ano a um ano e meio. Ver Bertil Holmlund, “Taxas sobre a Folha de Salários e Inflação Salarial: a Experiência Sueca”, em Revista Escandinava de Economia 85:1 (1983), 1-15; Daniel S. Hamermesh, “Novas Estimativas da Incidência da Contribuição sobre a Folha de Salários”, em Revista Econô- mica do Sul (abril 1979), 1208-19; ou Wayne Vroman, “Taxas do Empregador sobre a Folha de Salários e Comporta- mento dos Salários em Dinheiro”, em Economia Aplicada 6 (setembro 1974), 189-204.

(formal ou informalmente), os ajustamentos obrigatórios não podem funcionar para reduzir ao mínimo os salários reais dos trabalhadores. Estes são protegidos contra o ônus no todo ou em parte do aumento da contribuição, embora os que ganham mais não sejam. O custo de empregar trabalhadores de salário mínimo cresce, forçando para cima o custo unitário da mão-de-obra e, muito provavelmente, levando à redução do número de trabalhadores de salário mínimo empregados.

As políticas monetárias (ou outras condições econômicas), eficazes para impedir um aumento do nível geral de preços, podem também interferir no processo de ajusta- mento, pelo menos durante algum tempo. Como foi mencionado, o processo pelo qual os aumentos das contribuições previdenciárias - especialmente as dos empregadores - são traduzidos em ganhos reais mais baixos dos trabalhadores pode bem incluir um aumento geral dos preços. Políticas anti-inflacionárias efetivas podem tornar lento esse processo de ajustamento, deixando os empregadores com custos mais altos por um período maior do que seria o caso de outra maneira. É provável também que os custos mais altos tragam maior desemprego.

Sumário dos impactos nacionais. Em suma, quando os níveis dos preços e dos salários têm razoável liberdade para se ajustarem, os aumentos das contribuições previdenciárias causarão diminuição dos salários reais, quer recaiam primeiro sobre o empregador, quer sobre o empregado. Onde salários mínimos efetivos impedem que os salários baixem e políticas anti-inflacionárias efetivas inibem ajustamentos para cima dos preços dos produtos, o ritmo em que o resultado do mercado livre é alcançado pode ser substancialmente reduzido. Entrementes, tanto os níveis de emprego como os custos por unidade de mão-de-obra podem subir5.

Custos de Mão-de-obra e