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E COMPETITIVIDADE INTERNACIONAL

As últimas décadas têm testemunhado importantes mudanças nas relações inter- nacionais. Em muitas partes do mundo desenvolvido têm chegado novos competidores do exterior, para enfrentar as empresas que dominam tradicionalmente os mercados nacionais. Com o tempo esse desafio levou a maciça reestruturação de indústrias e instituições econômicas básicas. Organizações novas alcançaram proeminência em al- guns mercados, engolindo empresas mais antigas ou forçando-as a se adaptarem para sobreviver. Um novo grupo de corporações multinacionais desenvolveu um novo con- junto de produção global e estratégias de distribuição, nos quais instalações de produção são transferidas de uma região do globo para outra, financiadas por movimentos maci- ços de capital do setor privado e acarretando alterações dramáticas dos padrões do co- mércio internacional. Ao mesmo tempo a mudança tecnológica está criando uma nova série de indústrias de informação e de serviços, junto com uma nova série de proemi- nentes empresas.

As duas últimas décadas também testemunharam uma variedade de problemas macroeconômicos em muitas partes do mundo desenvolvido. Num momento ou noutro desse período a grande maioria dos vários países desenvolvidos viu seus índices de cresci- mento diminuir, seus níveis de salários estagnar e suas taxas de desemprego crescer. Em combinação com as alterações das relações econômicas internacionais, esses problemas nacionais renovaram o interesse por entender por que uma economia cresce mais depressa que outra. Tais preocupações com crescimento, comércio, investimentos e empregos se unem numa preocupação mais geral com “competitividade internacional”.

Na imprensa comum a ligação entre previdência social e competitividade interna- cional que atrai mais atenção diz respeito aos encargos previdenciários e aos custos para o empregador. Admite-se que altas contribuições previdenciárias do empregador levam a altos custos unitários da mão-de-obra e obrigam os preços dos fabricantes nacionais a subir para mais do que os preços cobrados pelos estrangeiros. Receia-se que isso leve, por sua vez, à perda dos mercados de exportação do país, ao aumento do volume das importações, a um movimento de fábricas nacionais para o exterior, a salários nacionais mais baixos e a maior desemprego nacional. Um exame mais detido dessa questão revela, porém, que as interações são muito mais complicadas e as ligações menos claras do que está implícito nessas admissões.

Este capítulo explora algumas das idéias correntes sobre os fatores que influen- ciam a competitividade internacional e o papel que pode caber aos programas de previ- dência social. Depois discute a relação entre as taxas da contribuição previdenciária, o

custo para o empregador e as condições institucionais e econômicas que podem levar altas contribuições previdenciárias a solapar a competitividade internacional.

Previdência Social e

Competitividade Internacional

Que é competitividade internacional? As sociedades diferem em índices de crescimento, desenvolvimento de novos produtos, expansão do comércio e enriqueci- mento da vida dos seus cidadãos. Embora a expressão seja raramente definida com precisão, os que se preocupam com a competitividade internacional parecem recear que a falta de competitividade leve de início a um declínio do número de empregos especializados bem pagos e, finalmente, a declínios do padrão de vida em relação a outros países mais competitivos.

A análise econômica ao longo dos anos encontra uma variedade de explicações para o crescimento e o desenvolvimento. As preocupações com a ligação entre o custo da previdência social e a competitividade internacional parecem refletir mais de perto a moldura analítica dos economistas clássicos (por exemplo, David Ricardo), que atri- buíam as diferenças ao que o país possuísse em território, capital, recursos naturais e mão-de-obra, operando segundo o princípio da vantagem comparativa. Nas análises clássicas os padrões de comércio refletem (entre outras coisas) os custos relativos da mão-de-obra de diferentes indústrias em diferentes países.

Mais tarde os economistas vieram a perceber que as forças formadoras do crescimen- to e do desenvolvimento econômicos eram muito mais complicadas. A análise clássica admi- tia implicitamente um mundo estático no qual os produtos e as técnicas mudavam muito devagar e o crescimento ocorria em grande parte mediante o acréscimo de mais trabalho e mais capital ao processo de produção. Embora contenha muitas noções valiosas, essa análise não é de grande utilidade para explicar muitas das diferenças atuais dos índices de crescimen- to e desenvolvimento. Claramente, outros fatores estão também em jogo.

A busca desses outros fatores logo conduziu à apreciação do papel de diferentes instituições econômicas e políticas e a uma série de influências menos mensuráveis, mais intangíveis, que envolvem atitudes e organizações sociais. Muito do crescimento econô- mico do mundo desenvolvido parece explicado por crescentes níveis de competência dos trabalhadores, alterações tecnológicas e melhorias da organização das empresas iso- ladamente e do sistema econômico. Isso levanta muitas questões. Que combinação de instituições e atitudes responde pelas diferenças dos sistemas educacionais e tradições nacionais? Por que os avanços científicos ocorrem mais num lugar do que em outro? Por que algumas empresas são mais eficientes no desenvolvimento, produção e coloca- ção de novos produtos? Por que alguns sistemas econômicos e políticos são mais capa-

zes de gerar tais empresas? Ao que parece, os determinantes da competitividade inter- nacional têm de ser encontrados tanto nas respostas a questões como estas como nas comparações dos custos relativos de mão-de-obra.

O Instituto Internacional para o Desenvolvimento da Gestão, de Lausanne, Suí- ça, prepara regularmente uma ampla análise e classificação da competitividade das gran- des economias do mundo. Suas pesquisas o levaram a concluir que a competitividade internacional resulta da complexa interação de uma variedade de influências diferentes. Suas classificações se baseiam em mais de 200 medidas de oito categorias diferentes, aí incluídas: a robustez da economia nacional de cada país; a qualidade da sua infra-estru- tura tecnológica básica, comércio internacional e transações financeiras; a qualidade da gerência do setor privado, políticas fiscais públicas, pesquisa nacional e atividades cien- tíficas; o custo do capital; e o tamanho e qualidade da força de trabalho1.

O elo com a previdência social. Como os determinantes da competitividade internacional não são bem compreendidos, as ligações entre os programas previdenciários e a competitividade também não são claras. Todavia, existem várias maneiras pelas quais a existência e operação de programas previdenciários podem aumentar a competitividade internacional de um país. Um sistema de saúde eficientemente organizado pode contri- buir para uma força de trabalho mais sadia. Um sistema de benefícios que proteja a renda dos que se incapacitam para o trabalho e os dependentes dos que morrem jovens, e que reduza a necessidade de os trabalhadores de meia idade pouparem recursos econô- micos para a aposentadoria pode proporcionar tanto os meios como a motivação para que os pais aumentem o investimento na educação dos filhos. O seguro-desemprego e benefícios para a aposentadoria antecipada podem ajudar a reduzir a resistência dos trabalhadores à mudança industrial. Dessas e de outras maneiras os programas de previ- dência social podem ajudar a criar o tipo de comportamento e atitudes que parecem facilitar o crescimento econômico e aumentar a competitividade internacional.

Contudo, esses programas podem ser caros. O financiamento de programas previdenciários generosos exige que o governo cobre impostos e/ou contribuições previdenciárias elevados, que se traduzem em pesados encargos para os empregados. É possível, então, que qualquer impacto positivo dos programas previdenciários sobre a competitividade internacional seja superado pelo impacto negativo de colocar as empre- sas nacionais em desvantagem em matéria de custos.

1 Stephane Garelli, “Os Fundamentos da Competitividade Mundial”, em Anuário de Competitividade, Edição de

1996 (Lausanne, Suíça; Instituto Internacional de Desenvolvimento de Gerência, 1996).

Custo de Mão-de-obra e Taxas