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Como deve ser visto o fenômeno do envelhecimento populacional

É indubitável que o envelhecimento influencia o consumo, a transferência de capital e propriedades, impostos, a geração de pensões previdenciárias, o mercado de trabalho, a saúde enquanto assistência médica, a composição e a organização da família. O envelhecer é um processo normal, irreversível, inevitável e não deve ser visto como uma doença. Portanto, não deve ser tratado apenas com soluções médicas, mas também por intervenções sociais, econômicas e ambientais.

A reflexão a ser feita sobre o envelhecimento da população no Brasil não pode e nem deve ficar adstrita a uma mera análise demográfica, mas, sobretudo deve abranger os aspectos econômicos, sociais e culturais do povo brasileiro, com o intuito de se perceber de forma mais clara quais são as conseqüências, as transformações e as perspectivas que esse processo do envelhecimento traz em seu bojo e quais as atitudes políticas sociais que devem ser adotadas frente a esse fenômeno que de maneira tão intensa se apresenta à sociedade brasileira.

A consciência das mudanças trazidas pelo envelhecimento da população ainda é muito incipiente, porque muitas pessoas ainda pensam no Brasil como um país de jovens e não se dão conta de que nossa nação está ficando cada vez mais “enrugada e de cabelos brancos”, fato que traz conseqüências importantes para o entendimento de questões fundamentais implícitas nesse processo de envelhecimento e para que se estabeleça um debate maduro acerca dessas questões, em busca de soluções eficientes que propiciem melhor o enfrentamento da situação.

É preciso haver uma mudança profunda de valores entre nós brasileiros, sobretudo é necessário e urgente se repensar e se modificar a imagem de dependência e de fragilidade que se tem a respeito do idoso, imagem essa, que ainda é a mais propagada na nossa sociedade atual marcada pelo preconceito, dificultando que a velhice seja vista como uma etapa da vida marcada pela

experiência acumulada e sob o império das conseqüências bio-psico-sociais que marcaram a vida de cada indivíduo ou grupo social coeso.

Numa pesquisa realizada recentemente pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o SESC, em 204 municípios de regiões de todo o Brasil, intitulada de “Idosos no Brasil – vivências, desafios e expectativas na terceira idade”, pesquisa essa considerada a mais abrangente feita com idosos até os dias de hoje, descobriu-se que 85% das pessoas com mais de dezesseis anos no Brasil acham que há o preconceito em desfavor dos idosos, mas apenas 4% admitem serem preconceituosos em relação à terceira idade, taxando os que nela se encontram de ultrapassados, incapazes e tristes. Essas porcentagens, sem nenhuma dúvida, retratam a sociedade brasileira e suas atitudes com vistas à exclusão dos idosos, onde a maioria das pessoas não admitem que são preconceituosas porque sabem que o preconceito é algo repugnante e feio, mas todos sabem que o preconceito reina nessa seara e fingem não enxergar.

A pesquisa demonstrou a falta de informação na sociedade sobre a velhice e sobre as reais necessidades dos idosos, sejam elas físicas, morais, sociais, culturais etc. Isso só vem a evidenciar que a população em geral não está preparada para lidar com o fenômeno do envelhecimento populacional, dificultando o atendimento das demandas das pessoas mais velhas.

Os indivíduos que se encontram na terceira idade não desejam ser desligados e retirados da vida social, aliás, nenhuma pessoa saudável, independentemente de sua idade deseja isso para si. Tampouco os idosos querem ser rotulados de objetos de cuidado (que não podem mais dar nenhum tipo de contribuição) por isso hão de ser proporcionadas a eles oportunidades de inclusão nas decisões a respeito da sociedade e da sua própria vida cotidiana, garantindo que eles vivam dignamente, obviamente nos limites de suas restrições, mas também valorizando o que eles ainda muito têm a oferecer, que se faz mister ressaltar, é de grande valor para a sociedade.

A drástica mudança no perfil etário de nossa população traz, como demonstrado, muitos desafios para a sociedade, onde tudo deve ser repensado,

sempre visando o bem-estar de todos, com uma perspectiva de uma revisão do papel social e da imagem que se tem a respeito do idoso, criando-se condições para a sua reinserção ou manutenção na vida social, aproveitando-se o seu potencial para ser usado na velhice.

O isolamento e a exclusão do idoso na sociedade, decorrência do forte preconceito existente, significa a antecipação da sua morte social antes da ocorrência de sua morte biológica. Diante desse aspecto o Brasil precisa urgentemente adotar medidas que o tornem preparado para que a crescente população de idosos possa exercer verdadeiramente sua cidadania. Não pode mais o Brasil agir como se fosse ainda um país jovem, ignorando e fingindo não ver que a sua população está cada vez mais de “cabelos brancos”.

A velhice deve passar a ser encarada como uma fase normal da vida de todos nós, pois ela, em tese, não torna um ser humano mais ou menos importante ou mais ou menos digno que os demais cidadãos. O envelhecer não deve ser rejeitado, até porque é um processo inevitável e inerente a todos nós, cuja única saída, infelizmente, ainda é morrer cedo. Precisamos lembrar que nós também, possivelmente, vamos ficar velhos e se os problemas não forem enfrentados agora, nós, os jovens de hoje, seremos os velhos excluídos e vítimas de preconceitos de amanhã.

Somente com essa forma de encarar a realidade ocorrerá uma transformação realmente significativa em relação ao papel e ao reconhecimento da importância do idoso na sociedade brasileira. Há ainda um caminho muito longo a se percorrer, a batalha está apenas começando, sobretudo como já dito, porque o idoso é ainda nos dias atuais um forte alvo de atitudes preconceituosas existentes no Brasil, sobretudo no que diz respeito às oportunidade de trabalho.