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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ MARIA TATIANA VASCONCELOS GUIMARÃES

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

MARIA TATIANA VASCONCELOS GUIMARÃES

O IDOSO NO MERCADO DE TRABALHO NACIONAL

FORTALEZA

CEARÁ

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

MARIA TATIANA VASCONCELOS GUIMARÃES

O IDOSO NO MERCADO DE TRABALHO NACIONAL

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Direito, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do diploma de Bacharel em Direito, sob a orientação do Prof. Dr. Marcos Antonio Paiva Colares.

Fortaleza – CE

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MARIA TATIANA VASCONCELOS GUIMARÃES

O IDOSO NO MERCADO DE TRABALHO NACIONAL

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Direito, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do diploma de Bacharel em Direito, sob a orientação do Prof. Dr. Marcos Antonio Paiva Colares.

APROVADA EM:

09 / 07 / 2007

BANCA EXAMINADORA

___________________________________ Prof. Dr. Marcos Antonio Paiva Colares (Orientador)

Universidade Federal do Ceará - UFC

__________________________________ Prof. William Paiva Marques Júnior Universidade Federal do Ceará - UFC

_________________________________ Prof. Francisco Pereira Torres

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Dedico este trabalho a Deus, criador de tudo e de todos, por ter me dado a oportunidade de hoje chegar até aqui após tantos anos de estudos e dedicação e a minha família, sem a qual eu não conseguiria alcançar os meus objetivos, a quem eu devo tudo que sou e tudo que possuo.

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AGRADECIMENTOS

A Deus primeiramente, pelas oportunidades vividas até hoje e que me possibilitaram chegar até aqui com saúde e paz podendo dar continuidade à consecução de meus objetivos.

A minha família, em especial meus pais, que é de suma importância para a minha vida, sem a qual, com certeza, não estaria hoje podendo realizar este trabalho e alcançando mais este objetivo.

Às amigas Emanuelly, Juliana, Maria Luiza, Wladya e Patrícia que conheci na faculdade e que se tornaram pessoas importantes para mim.

Aos professores Francisco Pereira Torres e William Paiva Marques Júnior por terem também participado da realização deste objetivo.

Ao Professor Marcos Colares, por sua paciência, sugestões, incentivos e dedicação que foram imprescindíveis, em me orientar em mais essa etapa da minha vida, sem o qual a realização deste trabalho não seria possível.

(6)

Os direitos não pertencem a fases do homem, mas a toda sua existência, pelo simples fato de sua condição humana.

(7)

RESUMO

O presente estudo aborda a situação do idoso no mercado de trabalho nacional, evidenciando que existe uma profunda discriminação contra as pessoas idosas, ou seja, aquelas que alcançaram a idade igual ou superior a sessenta anos e que o preconceito está tão aprofundado que acaba gerando também efeitos maléficos para os obreiros que nem sequer alcançaram ainda tal idade e que já são discriminados na seara trabalhista por não serem mais tão jovens. O estudo aqui realizado trata também do envelhecimento populacional e da globalização neoliberal como elementos que contribuem para tornar ainda mais grave a situação do preconceito em desfavor do trabalhador de mais idade que reina em nossa sociedade. São apresentadas também sugestões que visam minimizar as adversidades por que passam os trabalhadores de mais idade no mercado de trabalho no Brasil.

(8)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 9

2 O PRECONCEITO EM DESFAVOR DO IDOSO NO TRABALHO SOB A ÓTICA DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ... 12

2.1 Dignidade da Pessoa Humana como Fundamento do Ordenamento Jurídico Brasileiro ... 12

2.2 O Princípio da Igualdade como exigência para a realização do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana ... 16

2.3 O preconceito em desfavor dos idosos e a importância do Direito ao Trabalho para as pessoas da Terceira Idade ... 22

2.3.1 O Preconceito em razão da idade ... 22

2.3.2 A irradiação dos efeitos do preconceito em desfavor dos idosos para os não idosos ... 25

2.3.3 A Importância do trabalho para as pessoas de mais idade ... 27

3 O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL E OS EFEITOS DA GLOBALIZAÇÃO PARA OS IDOSOS NO MUNDO DO TRABALHO ... 31

3.1 Números e causas do envelhecimento populacional no Brasil ... 31

3.2 Características do envelhecimento populacional no Brasil ... 38

3.3 Como deve ser visto o fenômeno do envelhecimento populacional ... 41

3.4 O Trabalho e o Envelhecimento ... 44

3.5 O mundo globalizado e o desemprego... 46

3.5.1 Flexibilização das relações trabalhistas ... 53

4 PROTEÇÃO À PESSOA DE MAIS IDADE ... 58

4.1 Proteção do idoso na Constituição Federal de 1988... 58

4.2 Política Nacional do Idoso ... 66

4.3 Lei n. 10.471 de 1° de Outubro de 2003 – Estatuto do Idoso ... 68

(9)

4.4.1 Projeto “Encanto da Praça” ... 84

4.4.2 Projeto Idoso no Trabalho ... 88

4.4.3 Iniciativas privadas ... 89

4.4.3.1 Grupo Pão de Açúcar ... 89

4.4.3.2 Grupo Multinacional Walmart ... 90

4.4.3.3 Programa Talentos da Maturidade ... 90

4.5 Universidade para a Terceira Idade ... 91

4.6 Sugestões para a integração do idoso no mercado de trabalho ... 92

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 94

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 98

(10)

O presente estudo monográfico aborda a situação do idoso no mercado de trabalho nacional.

Avulta em importância o tema aqui analisado posto que estudar a situação dos idosos no mercado de trabalho no Brasil significa revelar um dos aspectos das profundas desigualdades sociais aqui existentes, consubstanciado na discriminação em relação às diferenças entre jovens e velhos na seara trabalhista.

O presente trabalho se mostra bastante pertinente para a conjuntura atual, pois o impacto da problemática do envelhecimento no mercado de trabalho afeta a todos nós, em maior ou menor grau e dessa maneira a situação do idoso no nosso país é um desafio para todos e para cada um de nós. O estudo do tema em questão é uma forma de se atentar para o presente e principalmente para o futuro do cidadão da terceira idade no Brasil dentro da ótica do trabalho evidenciando que a conquista da longevidade e suas conseqüências é o grande desafio do século 21 para nós brasileiros.

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de minimizar as adversidades por que passam, em decorrência da discriminação existente, os trabalhadores de mais idade.

O suporte argumentativo do presente trabalho fundamenta-se, primordialmente, em pesquisa bibliográfica, ou seja, possui sua base em material publicado em livros, revistas, jornais e redes eletrônicas.

O trabalho se desenvolve sob levantamento doutrinário, revisão de literatura e estudo da legislação relacionada ao tema, com a utilização de obras de vários autores que tratam do assunto aqui abordado, realizando-se um entrelaçamento de idéias dos mesmos para a formação de um pensamento crítico e reflexivo a respeito do tema, fornecendo dessa maneira um melhor aproveitamento do estudo.

O trabalho apresenta três capítulos. O primeiro deles aborda o princípio da dignidade da pessoa humana e da igualdade e a importância da realização do direito ao trabalho para concretização de tais princípios, externando como a discriminação pode influenciar para que esses princípios sejam renegados aos trabalhadores longevos vítimas de preconceito no mundo do trabalho.

O segundo capítulo trata de aspectos relacionados ao envelhecimento populacional no Brasil, abordando os fatores que o influenciam e a intensidade com que acontece, bem como apresenta o fenômeno da globalização e suas decorrências para a propagação da discriminação existente em desfavor do obreiro de mais idade.

No terceiro capítulo apresentam-se as iniciativas legais existentes em favor da proteção do obreiro idoso que é discriminado no mundo do trabalho bem como são feitas sugestões para amenizar as adversidades na seara trabalhista por que passam o trabalhador de mais idade.

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nós, a comunidade universitária, para a busca de possíveis soluções, uma vez que o futuro da nossa nação está em nossas mãos.

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2.1 Dignidade da Pessoa Humana como Fundamento do Ordenamento Jurídico Brasileiro

Atualmente os ordenamentos são bastante influenciados pela forte tendência em reconhecer o ser humano como o ponto central e fim precípuo de todo o universo jurídico e nesse diapasão observa-se que é o Estado que deve existir em função da pessoa humana, sendo inconcebível o entendimento em contrário, já que o ser humano constitui a finalidade primordial e não simples meio da atividade estatal.

Como o ser humano é a razão fundamental de ser da existência do Estado é para ele que devem se voltar todas as garantias e proteções. Essa forte inclinação está presente em nossa Constituição e constata-se pela adoção, a guisa de valor básico do Estado Democrático de Direito, do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana.

Nestes termos assevera a Constituição Federal:

Art. 1° - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I – a soberania; II – a cidadania;

III – a dignidade da pessoa humana;

IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político.

(14)

A dignidade está acima de qualquer vontade e somente a pessoa humana, dotada de vontade racional e autônoma para guiar-se de acordo com suas próprias leis, é dotada de dignidade. Nesse contexto, afirma Kant:

Os seres cuja existência depende não em verdade da nossa vontade, mas da natureza, têm, contudo, se são seres irracionais, apenas um valor relativo como meios e por isso se chamam coisas, ao passo que os seres racionais se chamam pessoas, porque sua natureza os distingue já como fins em si mesmo, quer dizer, como algo que não pode ser empregado como simples meio e que, por conseguinte, limita nessa medida todo o arbítrio (e é um objeto de respeito).1

Verificamos que os ensinamentos de Immanuel Kant acima descritos se encaixam perfeitamente no estudo aqui realizado, onde queremos demonstrar, de antemão, que é o Estado que existe para servir às pessoas e não as pessoas para o Estado. Percebemos que para tal pensador, somente as pessoas, por serem racionais são consideradas como um fim em si mesmo e não devem ser utilizadas como meios. No mesmo sentido, Kant assegura:

No reino dos fins, tudo tem um preço, ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode-se pôr em vez dela qualquer outro como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço e, portanto, não permite equivalente, então tem ela dignidade.2

Se o texto constitucional afirma que a dignidade da pessoa humana é fundamento da República Federativa do Brasil, importa concluir que o indivíduo é o objetivo primeiro da ordem jurídica e que o estado brasileiro, caracterizado como democrático, assume a responsabilidade de assegurar as condições mínimas exigíveis para a sobrevivência digna dos homens, tão somente pelo simples fato de serem seres humanos. Aliás, de maneira inédita, o legislador constituinte de 1988, colocou, estrategicamente, o capítulo dos direitos fundamentais antes do capítulo da organização do Estado.

Em todo esse contexto, onde temos que o Estado se erige sob os imperativos do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, toda e qualquer ação do ente estatal deve ser analisada, sob o risco de ser taxada de ilegítima e

1

KANT apud MARTINS, Flademir Jerônimo Belinati. Dignidade da Pessoa Humana. 2003. p. 27/28.

2 KANT

apud ALVARENGA, Lúcia Barros Freitas de. Direitos Humanos, Dignidade e Erradicação da Pobreza –

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inconstitucional, caso venha de alguma forma violar a dignidade da pessoa humana, verificando-se, em todas as ações, se cada pessoa é tida como fim em si mesmo ou como instrumento e meio para se atingir outros objetivos.

A idéia de dignidade é, dessa maneira, paradigma essencial de avaliação de cada ação do Poder Público, constituindo alicerce fundamental sobre o qual deve ser construída a hermenêutica concretizadora da nossa Lei Maior. Além de orientar o trabalho do intérprete, sendo para ele pauta valorativa para a correta aplicação da norma, e integrar de forma indispensável o ordenamento constitucional conferindo-lhe unidade e uniformidade, o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana serve, ao mesmo tempo, para legitimar esse ordenamento do qual faz parte e para funcionar como limite ao exercício do poder.

A nossa Constituição Federal foi publicada no ano de 1988, ou seja, tem apenas 18 anos de vigência, mas já sofreu diversas emendas, e apesar disso, continua dotada de manifesta credibilidade no meio popular e também no meio científico. Isto só acontece devido ao fato de todo o seu poder normativo decorrer do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, que é premissa basilar e valor-guia de toda a ordem jurídica constitucional e, consequentemente, infraconstitucional, já que esta encontra todo seu fundamento de validade naquela.

É mediante a grandiosa importância de tal princípio que ele não pode ser em hipótese alguma menosprezado, seja na ação do Estado perante o particular, seja no relacionamento entre indivíduos, consubstanciando-se qualquer afronta sofrida pela dignidade da pessoa humana como uma ofensa ao próprio Estado Democrático de Direito. Seguindo esse contexto é que afirma José Felipe Ledur:

Deve-se cuidar para que não se lhe atribua o caráter de um mero princípio formal sem aplicação possível nas relações dos indivíduos entre si e destes com o Estado.3

Em relação ao estabelecimento de um significado único e a delimitação do conteúdo do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, se faz necessário esclarecer que não parece ser possível traçar uma definição específica, clara e

3

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absoluta do que seja efetivamente esta dignidade, pois se trata de um conceito de contornos completamente vagos e imprecisos e de uma categoria axiológica ampla e aberta, que abrange uma enorme gama de valores presentes nas sociedades democráticas contemporâneas. Mesmo assim, sabe-se que a dignidade é algo real, facilmente identificada em situações em que sofre agressões. Nessa conjuntura, é que assevera José Felipe Ledur:

É comum que o Princípio da Dignidade Humana seja lembrado quando ocorrem situações extremas que com ele se revelem incompatíveis. É nessas circunstâncias, quando a dignidade é claramente arranhada, que se torna mais fácil identificar o seu conteúdo essencial. Extrai dessa observação cumprir ao Estado e também à Sociedade estarem atentos às ameaças presentes e futuras a que reiterada vezes a pessoa é submetida. A história mostra que a humanidade tem conseguido recuperar a dignidade de pessoas ou povos afetados por acontecimentos que o submeteram à mais vil condição. E a experiência já vivida deveria ser útil para que, ao invés de se esperar pela desgraça para, então, buscar remédio para o sofrimento de pessoas ou grupos sociais atingidos em sua dignidade, mais se atente para a prevenção desses acontecimentos, evitando a sua emergência.4

Mesmo diante das dificuldades de se estabelecer uma conceituação perfeita para o que vem a ser dignidade, podemos afirmar, sem sombra de dúvida, que é um termo que alcança variados e diferentes atributos, tais como: respeitabilidade, inclusão, igualdade, autoridade, honestidade, decência, decoro, amor próprio e honra, entre outros atributos inerente a qualquer ser humano. Para Damásio de Jesus:

Conquanto não se possa estabelecer conceito absoluto para o Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana, seja porque vazado em conceitos indeterminados, plurissignificativos ou dotados de ampla ambigüidade ou porque a ele pode ser associada toda e qualquer qualidade intrínseca do homem como tal, ou seja, do homem segundo sua própria natureza, é certo ser da condição humana que decorre a necessidade de o Estado afirmar a ordem jurídica respeitante dos valores agregados à idéia de dignidade da pessoa humana, impondo a todos o dever de abstenção ou de ação capaz de concretizar a absoluta intangibilidade do homem como tal.5

Nesse sentido, ao tratar da dignidade da pessoa humana afirma Alvarenga que:

4LEDUR, José Felipe. A realização do direito ao trabalho. 1998. p. 92/93.

5

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[...] é o fundamento primeiro, fundamento de todos os direitos fundamentais, sendo próprio da essência do homem. É por isso que se torna inimaginável vida humana sem dignidade, ou imaginá-la ausente na vida dos indivíduos.6

2.2 O Princípio da Igualdade como exigência para a realização do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana

A posição hierárquica privilegiada que inegavelmente desfruta o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana na Constituição Federal de 1988, confere a tal instituto a prerrogativa de funcionar como ponto de partida para os demais princípios, já que em se preservando a dignidade visando o bem-estar dos seres humanos, tudo o mais é possível.

Nesta orientação é que se pode admitir que o Princípio da Igualdade ou Isonomia decorre da dignidade da pessoa humana. Ao se tratar desigualmente uma pessoa em relação à outra, sem uma razão justificadora para tal comportamento diferenciado, restará profundamente afetada tal pessoa em sua dignidade, portanto, ao se desobedecer ao Princípio da Igualdade afronta-se consequentemente o Princípio Supremo da Dignidade da Pessoa Humana.

A consagração da dignidade da pessoa humana, como explicitado, implica em considerar-se o homem, com exclusão dos demais seres vivos, como o núcleo de todo o mundo jurídico. Esse reconhecimento abrange todos os seres humanos e cada um desses individualmente considerados, de maneira que a projeção dos efeitos difundidos pela ordem jurídica não há de se manifestar, a princípio, de modo diverso ante a duas pessoas, assim, reputam inconstitucionais todas as práticas, atribuídas aos poderes públicos ou aos particulares, que visem de alguma forma expor um ser humano em posição de desigualdade perante os demais privando-o dos meios necessários à sua subsistência, desconsiderando-o como pessoa e reduzindo-o à condição de coisa.

6

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Nesse contexto, é exigência para a realização do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana a obrigação do Estado de garantir igualmente a todas as pessoas um patamar mínimo de recursos, capaz de prover-lhe a digna subsistência. Assim, destaca Furtado:

A partir do momento em que a dignidade humana é preservada para parte da população, que pode ter acesso a alimentação, moradia, saúde, educação, segurança, previdência, transporte, dentre outros, e que outra expressiva gama de pessoas da mesma nação fica tolhida de tal acesso, escoriou-se duplamente a Carta Política, a uma pelo fato de não se respeitar o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana em relação aos mencionados relegados, e a outra pelo fato de não se implementar a isonomia, vale dizer, ao se dispensar tratamento diferenciado a alguns em relação a outros, todos, igualmente, pessoas, e, portanto detentores do direito de preservação de suas dignidades de pessoas humanas e do direito de tratamento isonômico.7

A interferência do Princípio da Dignidade no ordenamento jurídico consagra-se, portanto, nos seguintes termos:

a) reverência à igualdade entre os homens;

b) impedimento à consideração do ser humano como objeto ou coisa, degradando a sua condição de pessoa;

c) garantia de um patamar existencial mínimo.

Dessa conjuntura resulta uma importante conseqüência, a de que a igualdade entre os homens representa uma verdadeira obrigação imposta aos poderes públicos, tanto no que concerne à elaboração da regra de direito (igualdade na lei) quanto em relação à sua aplicação (igualdade perante a lei).

O ministro Celso de Mello, em manifestação no Supremo Tribunal Federal, representa a interpretação de tal Corte do Princípio da Igualdade:

O Princípio da Isonomia, que se reveste de auto-aplicabilidade, não é — enquanto postulado fundamental de nossa ordem político-jurídica — suscetível de regulamentação ou de complementação normativa. Esse princípio — cuja observância vincula, incondicionalmente, todas as manifestações do Poder Público — deve ser considerado, em sua precípua função de obstar discriminações e de extinguir privilégios (RDA 55/114), sob duplo aspecto: (a) o da igualdade na lei e (b) o da igualdade perante a lei. A igualdade na lei — que opera numa fase de generalidade puramente

7

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abstrata — constitui exigência destinada ao legislador que, no processo de sua formação, nela não poderá incluir fatores de discriminação, responsáveis pela ruptura da ordem isonômica. A igualdade perante a lei, contudo, pressupondo lei já elaborada, traduz imposição destinada aos demais poderes estatais, que, na aplicação da norma legal, não poderão subordiná-la a critérios que ensejam tratamento seletivo ou discriminatório. A eventual inobservância desse postulado pelo legislador imporá ao ato estatal por ele elaborado e produzido a eiva de inconstitucionalidade. (MI 58, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 19/04/91)

O Princípio da Igualdade ou Isonomia se inaugura, portanto, em dois aspectos, o primeiro deles se dá através das ações dos poderes Legislativo e Executivo quando da feitura das normas, atuando cada um dentro de sua esfera de competência, sendo a competência legiferativa prioritária para o Poder Legislativo e por outro lado, se apresenta de forma secundária para o Poder Executivo, ou seja, legislar é tarefa primordial para o poder Legislativo e secundária para o poder Executivo que a realiza por meio das Medidas Provisórias e das normas de sua estrita competência. O outro aspecto de atuação do Princípio da Isonomia é quando da aplicação da norma pelo intérprete, este não poderá, sem um motivo plausível, conceber diferenciações por motivo de idade, sexo, cor, raça, condição social, origem etc.

Percebe-se que conceder tratamento isonômico é objetivo de nossa Carta Magna, para isto se verificar, basta se proceder à leitura do artigo 3° da Constituição Federal e seu inciso IV:

Art. 3° - Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I – (...); II – (...); III – (...);

IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer forma de discriminação.

Excomungou, pois o nosso texto constitucional toda forma de segregação e discriminação, tendo que ser realizada a promoção do bem estar arredando-se todos os tipos de preconceito.

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O Princípio da Isonomia, dentre outros, tem por fito assegurar a garantia individual de igualdade, e noutro passo, coibir protecionismos, preterições impertinentes ou favoritismos.8

Imprescindível, porém, a advertência de que o reclamo de tratamento igualitário não exclui a possibilidade de discriminação, mas exclui sim, a possibilidade de que esta se processe de maneira injustificada e desarrazoada. Seguindo essa linha de pensamento certifica Comparato:

O que se veda são as diferenciações arbitrárias, as discriminações absurdas, pois, o tratamento desigual dos casos desiguais, na medida em que se desigualam, é exigência tradicional do próprio conceito de Justiça, pois o que realmente protege são certas finalidades, somente se tendo por lesado o princípio constitucional quando o elemento discriminador não se encontra a serviço de uma finalidade acolhida pelo direito [...].9 .

E com idêntico raciocínio afirma Bandeira de Melo:

Os tratamentos diferenciados são compatíveis com a Constituição Federal quando verificada a existência de uma finalidade razoavelmente proporcional ao fim visado.10

A heterogeneidade presente na sociedade é a razão pela qual o ordenamento jurídico não pode adotar um tipo de proteção que se projete de maneira uniforme para todos, devendo proceder à análise dos desiguais de maneira desigual, não permitindo que ocorram as diferenciações injustificadas e realizando as discriminações que sejam necessárias para efetivar a igualdade substancial entre todos.

A obediência ao Princípio da Igualdade é uma exigência do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, posto que se para alguém, enquanto indivíduo e enquanto pessoa é dada as oportunidades e condições de se viver dignamente e para outro, igualmente indivíduo e igualmente pessoa, não são dadas as mesmas oportunidades, incorre-se num afrontamento à dignidade dessa pessoa privada de possuir as mesmas condições que a outra, e por outro lado, também resta ferido o princípio constitucional que determina que os iguais devem ser igualmente tratados porque são pessoas detentoras de dignidade humana.

8FURTADO, Emmanuel Teófilo. Preconceito no Trabalho e a Discriminação por Idade. 2004. p. 141.

9

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 2004. p. 66. 10 MELLO, Bandeira de.

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Quando em situação idêntica, onde não se permite tratamento diferenciado, trata-se diferentemente duas pessoas, depaupera-se a dignidade de uma em detrimento da outra merecedora de igual dignidade. Ao não obedecer ao Princípio da Isonomia, somente discriminando dentro das exceções deste próprio princípio, que permite diferenciações apenas quando diferentes são as situações, visando igualá-las na medida em que se desigualam, atenta-se, como visto, conseqüentemente contra o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana.

Inexiste, pois, dignidade sem isonomia, pois todo homem é detentor de dignidade e merece, por isso, tratamento igual ao dos demais, sob pena de restar-se diminuído perante os outros. Nesses termos assevera Barros:

A não-discriminação é, provavelmente, a mais expressiva manifestação do Princípio da Igualdade, cujo reconhecimento, como valor constitucional, inspira o ordenamento jurídico brasileiro em seu conjunto.11

Os vários motivos da discriminação residem no preconceito que podemos definir como sendo um juízo prévio sedimentado sem uma verdadeira justificativa que o embase, advindo de uma compreensão, em geral, incompleta, parcial e embaçada, que desqualifica uma pessoa em virtude de uma característica pessoal, determinada externamente, e identificadora de um grupo ou segmento mais amplo de indivíduos, como a idade, a cor, o sexo, a nacionalidade, a riqueza, a perfeição física etc. É uma opinião formada sem qualquer tipo de reflexão que nos impede de ver as coisas de uma maneira mais desenvolvida, ampla e transparente.

A eliminação e o combate a todas as formas de discriminação são medidas fundamentais para que possa ser garantido o pleno exercício dos direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais, ou seja, para se assegurar o pleno exercício da cidadania, próprio dos regimes democráticos de direito.

Qualquer país que se intitule democrático, como é o caso do Brasil, não pode conviver com a discriminação aceitando práticas preconceituosas. Daí decorre a importância e a urgência em se erradicar todas as formas de

11

BARROS apud MARANHÃO, Rosanne de Oliveira. O portador de deficiência e o direito do trabalho. 2005. p.

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discriminação, baseadas em gênero, raça, cor, etnia, idade, nacionalidade, religião e demais critérios.

O combate à discriminação é expressiva manifestação e exigência do Princípio da Igualdade, cujo reconhecimento, como importante valor constitucional, decorrente da dignidade da pessoa humana e inspira o ordenamento jurídico em sua inteireza.

Na Constituição brasileira encontramos toda uma estrutura normativa visando tolher a discriminação. A nossa Lei Maior estabelece, por exemplo, em seu artigo terceiro, já acima citado, como um dos objetivos da República Federativa do Brasil, "promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação" e no art. 5o, inciso XLI, promete punir "qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais".

Apesar de a nossa Carta Magna abraçar o Princípio da Igualdade, estabelecendo-o como imprescindível ao bem estar de todos, há ainda em nosso país, imperiosa necessidade de um maior avanço no campo legislativo e de um maior engajamento e conscientização por parte da sociedade em geral para que toda e qualquer forma de discriminação e preconceito seja efetiva e definitivamente expurgada do nosso convívio social, para que aqueles que ainda não se acostumaram à convivência democrática saibam que se faz forçoso e indispensável para o bem estar da coletividade e de cada um de nós individualmente saber respeitar e conviver com as diferenças.

As leis existentes ainda não conseguiram alcançar o necessário efeito prático porque o preconceito, de todos os tipos e com as mais variadas causas, infelizmente, encontra-se profundamente arraigado na cultura brasileira. É desse contexto que decorre a grande dificuldade de aplicação prática da lei.

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parte do conteúdo das leis, o Estado perderá sua legitimidade se o funcionamento destas leis não tiver a capacidade de demonstrar obediência ao requisito de tratamento igualitário para todos. E se as desigualdades não forem abrandadas, não se pode alegar de forma alguma que o Estado seja democrático e que esteja eficazmente cumprindo sua obrigação de assegurar o requisito da igualdade que é essencial para a realização do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana.

Não basta realizar a igualdade formalmente reconhecida, é necessário se buscar a concretização da igualdade substancial que respeita as diferenças e atua em prol da observância do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, fundamento do Estado Democrático de Direito e valor que atrai a realização dos direitos fundamentais do homem em todas as suas dimensões.

2.3 O preconceito em desfavor dos idosos e a importância do Direito ao Trabalho para as pessoas da Terceira Idade

2.3.1 O Preconceito em razão da idade

Toda e qualquer forma de preconceito caracteriza uma sociedade doente. O preconceito é uma opinião sem julgamento adequado de mérito causado pela ignorância e revela-se através de atitudes discriminatórias e injustas em desfavor de alguém. É uma opinião qualquer sem razão lógica que a justifique e que simplesmente passa a ser acreditada, sem nenhum questionamento, como se a mais pura verdade fosse.

O preconceito se expressa através das discriminações injustificadas que ocorrem das mais variadas formas. Como visto, a discriminação é injustificada quando é desprovida de qualquer critério ou fundamento razoável que a embase.

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em nosso país o fato de se ter alcançado uma idade avançada tem sido um forte elemento ensejador de discriminação. Vale aqui ressaltar que considera-se idoso a pessoa com idade igual ou superior a 60 anos porém, como se verá a seguir, a discriminação no mundo do trabalho por conta da mais idade atinge pessoas que se encontram longe da idade sexagenária, tendo por volta apenas dos 40 anos ainda.

Um dos mais importantes aspectos que fortemente contribui para a diminuição do status social do idoso no Brasil é, sem dúvida alguma, o rápido e constante desenvolvimento tecnológico dos anos recentes. Uma das conseqüências disso é a não valorização e o despojamento das habilidades daqueles que estão na terceira idade tornando suas contribuições imediatas para a sociedade em que vivem menos relevantes.

O que outrora era tido como sua maior riqueza e o colocava numa posição em evidência na sociedade – seu saber e seu conhecimento acumulado, frutos de uma longa experiência de vida – nos dias atuais não é tão apreciado. O que foi produzido no passado não tem interesse hoje e possivelmente será destruído amanhã, pois o ciclo permanente de produção e consumo exige incessantemente a destruição e o desaparecimento do que foi produzido no passado e a criação permanente de novas formas de produção e consumo.

O saber atual tem como ideologia primordial o conhecimento técnico-científico dominado pelos jovens e que exclui quase que completamente o idoso do mercado de trabalho, muito poucos, artistas, profissionais liberais, políticos, conseguem ser considerados nessa idade melhores do que quando eram jovens.

Nesse diapasão sustenta José Afonso da Silva:

A idade tem sido motivo de discriminação, mormente no que tange às relações de emprego. Por um lado, recusa-se emprego a pessoas mais idosas, ou quando não, dão-se-lhes salários inferiores aos dos demais trabalhadores [...].12

12

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É perfeitamente plausível que em atividades determinadas o critério de idade deva ser levado em conta para a contratação do trabalhador, ou seja, nos casos em que a natureza do trabalho a ser exercido é motivação para o estabelecimento de idade máxima.

O que acontece é que uma grande parte das vagas fornecidas no mercado de trabalho brasileiro não apresentam nenhuma peculiaridade que permita qualquer forma de discriminação por idade, o que enseja o combate pela sociedade civil e pelas autoridades públicas à prática preconceituosa do estabelecimento de idade sem qualquer motivo justificador do limite.

Nesses termos o STF editou a súmula 683 que trata de limite de idade para concurso público:

O limite de idade para inscrição em concurso público só se legitima em face do Art. 7°, XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido.

O referido inciso XXX, do Art. 7° da Constituição Federal estabelece:

Art.7° XXX – proibição de diferença de salário, de exercícios de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.

Nesse sentido, não pode o trabalhador de idade avançada, tema central do estudo aqui realizado, ser injustificadamente discriminado no tocante à admissão de emprego pelo simples e só fato de possuir mais idade, não pode também ver-se vítima de preconceito, auferindo menor renda que um jovem que executa a mesma função, somente por ser mais velho, e não pode ter impossibilitada sua ascensão tendo dita impossibilidade razões embasadas apenas no critério de idade.

(26)

A marca de obsolescência e de inutilidade que recai sobre a pessoa idosa constitui-se num verdadeiro problema social com o qual a pessoa na terceira idade vê-se obrigada a conviver e a cotidianamente enfrentar. Trata-se de verdadeira afronta ao Princípio da Igualdade, afetando, como resultado, a dignidade dos idosos.

A simples denominação de “inativo” que o indivíduo recebe, remete-o à uma condição social nitidamente inferior, fazendo-o perceber-se como ser não mais produtivo e nisso então passar a acreditar. As construções mentais que daí se originam, resultantes de distorções preconceituosas institucionalizadas, são bastante prejudiciais e acabam por conduzi-lo a uma espécie de exílio social, uma vez que o próprio idoso já não consegue perceber-se como produtivamente capaz e, tão pouco, como socialmente importante.

2.3.2 A irradiação dos efeitos do preconceito em desfavor dos idosos para os não idosos

Difícil é a definição de idoso haja vista que vários são os critérios que podemos adotar para definirmos tal termo, como por exemplo, o cronológico, o biológico, o psicológico e outros, porém faz-se imprescindível esclarecer que cada situação é única e os critérios devem ser sopesados de acordo com cada uma delas.

(27)

Ao que diz respeito ao tema do presente estudo monográfico, que trata da situação do idoso no mercado de trabalho nacional, se faz mister ressaltar que existe entre nós brasileiros uma verdadeira atitude prematura no que diz respeito à noção que temos sobre a terceira idade, ou seja, com uma faixa etária considerada baixa, pode-se dizer que até mesmo por volta dos quarenta anos de idade, o trabalhador brasileiro encontra sérias dificuldades para adentrar ou permanecer no mercado de trabalho, sendo a pessoa que se encontra nessa faixa etária taxada de incapaz para trabalhar e produzir, assim como o são os idosos, verdadeiras vítimas do preconceito no mercado de trabalho.

Nesse sentido assevera Moreno:

No Brasil, Infelizmente, ainda predomina a mentalidade que uma pessoa de 40 anos é considerada velha para o trabalho, sendo que, após esta idade, o indivíduo que perde o emprego depara-se com enormes dificuldades, enfrentando todos os tipos de discriminação para conseguir uma nova colocação no mercado, exceto quando se trata de pessoa altamente qualificada e especializada.13

Essa antecipação influi sobremaneira para mostrar que o preconceito contra o idoso no mercado de trabalho brasileiro já alcançou um elevado nível, estando tão profundamente arraigado em nossa cultura, que consegue afetar não só quem é realmente idoso, mas atinge também, e de maneira drástica, já que o trabalho é um elemento essencial para uma vida digna, pessoas que ainda são jovens, que possuem por volta de quarenta anos de idade apenas, pessoas que ainda possuem, em tese, uma vida longa pela frente, que sob qualquer análise estão longe de serem consideradas idosas e não podem ser privadas de possuírem um trabalho, pois essa privação afeta incisivamente a sua sobrevivência e qualidade de vida. É esta uma triste realidade, mas que infelizmente este presente em nosso país.

Acrescente-se que a situação é ainda mais grave nas funções mais modestas, pois nestas o nível do preconceito é ainda maior. Nesses moldes, enfatiza Furtado:

É certo que essa precocidade em se enxergar no trabalhador a mais idade tanto é maior quanto mais modesta for sua atividade laboral, não se

13

(28)

podendo deixar de admitir que em atividades intelectuais e de altos cargos há uma rarefação da mencionada precocidade em se enxergar a mais idade, sendo, ao reverso, o fator mais idade muitas vezes status positivo para o desempenho daquela função intelectual de mando.

Ora, se o idoso não há que ser discriminado por todo um espírito de isonomia que norteia a legislação vigente, que dizer do que é discriminado sem sequer ser idoso, mas tão-somente pelo fato de, erroneamente, existir uma noção ante tempus da condição de idoso em nossa realidade, noção esta tanto maior quanto mais modesta for a profissão ou atividade do trabalhador? 14

Em toda essa conjuntura, resta evidente que o idoso na sociedade brasileira não está sendo reconhecido com a devida e merecida dignidade e tal situação é bastante preocupante, reivindicando urgentemente soluções, pois se o preconceito em relação à idade atingisse somente aos idosos, já se poderia dizer que a situação era merecedora de meticuloso estudo, então pode-se considerar a situação atual de grandessíssima gravidade, já que chegou a espraiar seus maléficos efeitos sobre até mesmo quem não tem mais idade, merecendo uma especial atenção por parte do Poder Público e devendo ser com urgência repensada pela sociedade em geral.

2.3.3 A Importância do trabalho para as pessoas de mais idade

Inegável é que o trabalho é instrumento que confere dignidade ao ser humano, sendo esse o seu significado mais importante, não podendo ser visto sob uma ótica baseada puramente em interesse econômicos e desumanizados. Nesse sentido são as palavras de Silveira Noronha:

Entendemos que o significado do trabalho no contexto da personalidade humana, caracteriza-se como o objeto de sua exaltação. O que mais enaltece a personalidade humana é o trabalho realizado com plena dignidade.15

O trabalho é, indubitavelmente, meio para a obtenção da vida e por isso não pode o trabalho remunerado ser passível de comparação com nada. A dignidade da pessoa humana exige que se criem condições reais para que a própria

14

FURTADO, Emmanuel Teófilo. Preconceito no trabalho e a discriminação por idade. 2004. p. 294.

15

(29)

pessoa seja autora e participante de sua própria realização pessoal, por isso deve ser a ela garantida pelo Estado possibilidades honestas de se obter recursos que possibilitem a sua digna sobrevivência.

A falta de trabalho é incompatível com a dignidade da pessoa humana, portanto, pode-se afirmar sem sombras de dúvidas que os laços que ligam a dignidade da pessoa humana e o direito ao trabalho justamente remunerado são indissociáveis.

Nesse contexto assegura Moreno:

A possibilidade de trabalhar é um imperativo da dignidade do ser humano, qualquer que seja a sua idade, sendo elemento essencial ao cultivo da auto-estima.16

A dignidade, como princípio primeiro e fundante da nossa Constituição Federal, não se harmoniza com a falta de trabalho devida e justamente remunerado, pois sem ele, às pessoas não podem prover a sua subsistência, ou seja, não podem sem trabalho, viver dignamente.

O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana é notoriamente incompatível com qualquer atitude que reduza o trabalhador a um mero vendedor de sua mão de obra, sem amor e orgulho próprios e sem a capacidade de conduzir seu próprio destino.

O protagonista do trabalho humano é o homem, sendo este fato suficiente o bastante para lançar, em primeiro plano, a proteção de sua dignidade. Assim procedeu o legislador constituinte de 1988, quando, ao lado da dignidade da pessoa humana, considerou como princípio fundamental o do valor social do trabalho, na tentativa de erradicar por completo a mentalidade de que o trabalho é um simples bem material e de mostrar que ele é importante não apenas para o indivíduo em si mas para a sociedade como um todo. O trabalho é, pois, valor e a sua concretização é atributo da dignidade do ser.

(30)

O trabalho, como não podia ser diferente, na terceira idade se reveste de grandiosa e fundamental importância, na medida em que é tido como a prática sistemática de uma atividade profissional passível de valoração, capaz de oferecer inúmeros benefícios à vida das pessoas na proporção em que seja reconhecido por elas, como fonte de prazer e sinônimo de engrandecimento e de realização pessoal.

Nesse enquadramento, o exercício do trabalho numa fase mais avançada da vida humana, pode atuar sobre as pessoas de forma bastante benéfica, como poderoso estímulo, capaz de revitalizar a saúde física, mental e principalmente social, além de servir-lhes como um meio através do qual possam satisfazer algumas das suas necessidades humanas.

No mundo contemporâneo o trabalho é um componente muito importante na vida das pessoas. Por meio dele é possível a aquisição de recursos para a subsistência, a interação com outras pessoas, a criação de rede de contatos, o estabelecimento de vínculos afetivos, o planejamento e a concretização de sonhos materiais. É possível, acima de tudo, através do trabalho, a afirmação de cada um como sujeito cidadão que produz e contribui para o desenvolvimento social. Dessa forma a reinserção no mercado de trabalho pode ser considerada uma importante via de inclusão social de pessoas na terceira idade.

Estabelece o artigo 5°, inciso XIII, de nossa lei maior que:

Art. 5° - XIII. É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer.

Ao se referir a tal inciso da Constituição relacionando-o com o princípio da igualdade, afirma José Afonso da Silva:

Em primeiro lugar, o princípio significa que a liberdade de exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, reconhecido no art. 5°, XIII, da Constituição, pertine a qualquer pessoa em igual condição. Assim, o acesso ao emprego privado como aos cargos, funções e empregos públicos há de ser igual para homens e mulheres que demonstrem igualdade de condições. 17

17

(31)

Com base no inciso XIII do art. 5° acima descrito percebemos ser inaceitável em nosso ordenamento qualquer tipo de discriminação injustificada em relação ao exercício de trabalho, e nesse sentido não é porque uma pessoa seja mais velha, que ela, tendo as mesmas condições de exercer determinada função que uma mais jovem, será impedida de exercer uma profissão tendo tal impedimento sustentação apenas em sua idade mais avançada em relação aos demais. A todos, respeitando-se as condições exigidas para o exercício das funções, deve ser propiciada oportunidade de ter um trabalho digno e nele permanecer sem ser de alguma forma vítima de discriminação.

(32)

3.1 Números e causas do envelhecimento populacional no Brasil

O fenômeno do envelhecimento populacional é nos dias de hoje um fato marcante no mundo todo, significando que a população idosa vem crescendo mais em relação ao crescimento das outras faixas etárias. O envelhecimento é um processo natural da vida humana e altera a relação do homem com o meio em que vive.

No Brasil, para fins de estudos demográficos, considera-se idoso a pessoa que se encontra em faixa etária a partir dos sessenta anos de idade. Tal critério cronológico é o adotado pela OMS – Organização Mundial da Saúde que considera idoso a pessoa com a idade de sessenta anos para países subdesenvolvidos e a idade de sessenta e cinco anos para os países desenvolvidos, porém não se deve olvidar que o envelhecimento apresenta várias facetas, consubstanciando-se em um processo diferenciado para cada pessoa na sociedade, variando de indivíduo para indivíduo, de acordo com as características peculiares de cada uma delas.

Para ser melhor entendido deve se observar que o envelhecer admite outras variáveis além da idade cronológica, tais como as condições biológicas, as condições psicológicas e os papéis sociais exercidos pelo indivíduo dentre outros fatores que devem também ser analisados para caracterizar como se dá o envelhecimento para cada ser humano individualmente considerado.

(33)

facilmente no tratamento, no mais das vezes preconceituoso, que é dispensado aos idosos no Brasil.

O crescimento da população de idosos, em números absolutos e relativos, é um fenômeno mundial tão profundo que já está sendo chamado de “revolução demográfica” e está ocorrendo a um nível sem precedentes, consequentemente afetando intensamente também o nosso país.

Para se ter uma idéia da dimensão de tal fenômeno vale dizer que no ano de 2020, o número de idosos no Brasil terá mais que dobrado. Observando-se os gráficos abaixo se percebe que esse número passará de 7% para aproximadamente o equivalente a 15% da população e atingirá uma cifra aproximada de 31,8 milhões de pessoas de acordo com estimativas da Organização Mundial de Saúde – OMS.

Gráfico n° 1 Proporção de idosos

(população com mais 60 anos, em % da população total)

(Fonte: ONU - Organização das Nações Unidas)

(34)

Azul = mundo

Vermelho = América Latina

Laranja = países mais desenvolvidos

Verde = países menos desenvolvidos

Amarelo = Brasil

Gráfico n° 2 Proporção de idosos sem curva dos países mais desenvolvidos (população com mais de 60 anos, em % da população total)

(Fonte: ONU)

Azul = mundo

Vermelho = América Latina

Verde = países menos desenvolvidos

Amarelo = Brasil

(35)

Em reportagem divulgada no dia 01 de dezembro de 2006 no jornal O Globo mostrou-se que a esperança de vida no Brasil subiu de 71,7 anos em 2004 para 71,9 anos em 2005. A despeito disso no ano de 2005 já havia no Brasil, de acordo com pesquisas do IBGE, 2,4 milhões de pessoas que passavam dos oitenta anos de idade. Isso mostra que a população de idosos, como dito é a que mais cresce e os idosos estão ficando cada vez mais idosos, o que pode ser observado no gráfico abaixo:

Gráfico n° 3

[Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas (DEP), Coordenação de População e Indicadores Sociais (COPIS)]

(36)

Tabela n° 1

INDICADORES DEMOGRÁFICOS - BRASIL

1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004

Esperança de vida ao nascer

66,57 68,49 70,43 70,71 71,00 71,29 71,7

Taxa de natalidade

(por mil habitantes)

24,21 21,93 21,13 21,00 21,00 20,85 20,64

Taxa de mortalidade

(por mil habitantes)

6,95 6,55 6,34 6,33 6,33 6,32 6,51

Taxa de mortalidade infantil

(por mil nascidos vivos)

47,00 37,90 30,10 29,20 28,40 27,50 26,60

Taxa de fecundidade total

2,79 2,51 2,39 2,36 2,35 2,33 2,31

(Fonte: IBGE/DEP/COPIS)

Tabela n° 2

FECUNDIDADE

ANOS TAXA

1960 6,21

1970 5,76

1980 4,01

1990 2,79

2000 2,39

2010 1,85

2020 1,81

(37)

Esses fatores associados promovem a base demográfica para um envelhecimento real da população brasileira. Considera-se, portanto, o crescimento mais elevado do contingente idoso como resultado da alta fecundidade prevalecente no passado comparativamente à atual e da diminuição da mortalidade e da mortalidade infantil que beneficiou todos os grupos populacionais.

Estudos mostram que, devido às quedas das taxas de fecundidade, como demonstrado nas tabelas acima, e à diminuição gradativa das taxas brutas de mortalidade, que podem ser visualizadas no gráfico seguinte, registradas nas últimas décadas, o envelhecimento da população brasileira é um processo que pode ser considerado irreversível. O país, que antes era considerado de jovens, começa a mudar profundamente a sua estrutura demográfica com o aumento e a presença notável dos cabelos grisalhos.

Gráfico n° 4 – Taxas Brutas de mortalidade – 1990 – 2004

(38)

As razões para as reduções que ocorreram nas taxas de fecundidade no Brasil são muitas. Tais reduções são resultados do processo de urbanização da população brasileira marcada por uma grande necessidade da diminuição do tamanho da família estabelecido pelo “modus vivendi” dos grandes centros urbanos,

que tem como característica marcante, dentre outras, a progressiva incorporação da mulher à força de trabalho. Por outro lado, as mulheres tornaram-se mais receptivas ao controle familiar e esse fato é bastante influenciado pela crescente disponibilidade de meios contraceptivos no Brasil.

O decréscimo nas taxas de mortalidade e de mortalidade infantil, por sua vez, tem sido ocasionado devido às melhorias ocorridas nas áreas de saúde, infra-estrutura e técnica sanitárias, proporcionando uma enorme diminuição no número de doenças ou dos seus efeitos mortíferos.

Os avanços na medicina são fatores de suma importância a serem apontados como uma das causas do fenômeno do envelhecimento populacional no mundo e no Brasil. Tal avanço propiciou o aumento progressivo da longevidade e, portanto da expectativa de vida. É cada vez maior o número de pessoas que chegam e ultrapassam a idade de sessenta anos, e mais que isso, a medicina possibilitou que essas pessoas alcançassem tal idade em boas condições de saúde física e mental, que quando associados a fatores sociais, culturais e espirituais são aspectos relevantes para dar qualidade de vida aos anos acrescidos pela ciência, propiciando condições para que essas pessoas possam contribuir muito com a sociedade.

A grande intensidade com que ocorre o processo do envelhecimento populacional no Brasil também pode ser vista ao analisarmos o indicador que relaciona o número de idosos com o contingente de crianças. Esse indicador passou de 13,90 idosos (pessoas com mais de 60 anos de idade) para cada 100 crianças (menos de 15 anos de idade) no ano de 1991 para 27,30 em 2000.

(39)

Estudos estimam que esse indicador que relaciona número de idosos e número de crianças atingirá a cifra de 138 idosos (pessoas com mais de 60 anos de idade) para cada 100 crianças (menos 15 anos de idade) em pouco mais de quarenta anos, ou seja, o número de idosos superará, em um curto intervalo de tempo, o número de crianças no Brasil.

Mundialmente falando, podemos perceber nitidamente a grandiosidade de tal fenômeno, pois, estudos mostram que em 1950 havia cerca de 204 milhões de idosos no mundo e em 1998 esse número aumentou para 579 milhões de pessoas idosas, revelando um crescimento de quase oito milhões de pessoas idosas por ano. E ainda, segundo as projeções, o número de pessoas com 100 anos de idade ou mais aumentará 15 vezes, passando de 145.000 pessoas no ano de 1999 para 2,2 milhões de centenários em 2050. No Brasil, os centenários eram 13.865 em 1991 e já em 2000 chegou esse número a 24.576 pessoas.

3.2 Características do envelhecimento populacional no Brasil

Nós brasileiros estamos envelhecendo numa velocidade surpreendente, muito mais rápido do que o sucedido em países altamente industrializados como o são a França, a Alemanha, o Japão e o Canadá. Tais países envelheceram depois de se tornarem ricos e bastante desenvolvidos, podendo, portanto enfrentar as conseqüências do envelhecimento de sua população de maneira a obter resultados satisfatórios favorecendo e protegendo a parcela mais idosa do contingente de seus habitantes.

(40)

estrutura que proporcione uma educação de qualidade para as pessoas, a crise no sistema de saúde oferecido à população, o desemprego estrutural etc.

Observe-se que, segundo Kalache:

O envelhecimento da população brasileira é um fato irreversível, e que deverá se acentuar, no futuro próximo imediato. O impacto desta nova "ordem demográfica" é imenso — sobretudo, quando se observa que os fatores associados ao subdesenvolvimento continuarão se manifestando por um tempo difícil de ser definido. Não estamos, portanto, diante de uma situação como a européia quando o envelhecimento de suas populações ocorreu, a maioria dos países europeus já apresentava níveis sócio-econômicos que proporcionavam, a grande parte de suas populações, condições de vida satisfatórias. Com isso, os problemas conseqüentes ao envelhecimento populacional puderam ser encarados como prioritários. Nem por isso tem sido fácil resolvê-los. O desafio para nós é, portanto, considerável. O envelhecimento de nossa população está se processando em meio a condições de vida, para parcelas imensas da população, ainda muito desfavoráveis. O idoso não é uma prioridade, como pode ser visto nos países industrializados. No entanto, eles estão aí para ficar e em proporções crescentes [...].18

São tantos e tão sérios os problemas vivenciados por nosso país que isso faz com que o envelhecimento da população não seja enfrentado da maneira adequada, ocasionando então o fato de que os idosos no Brasil não são tratados com a merecida dignidade. Estamos alcançando os padrões de idade europeu sem nem de longe termos recursos suficientes para enfrentar tão difícil desafio para a sociedade como um todo em que se perfaz o envelhecimento populacional.

Para se fazer uma comparação e se ter uma noção de quão célere está acontecendo o envelhecimento da população brasileira, tomemos como parâmetro a França, onde foram necessários 120 anos para que o número de idosos passasse de 7% do total da população francesa para atingir o percentual de 14%, possibilitando a este país uma adaptação gradual para enfrentar tal fenômeno. O Brasil, com o acelerado ritmo do envelhecimento de sua população em que se encontra, vai experimentar um aumento semelhante num período de apenas 20 anos, ou seja, um século a menos para poder se adaptar a tal fato fenomenal que é o envelhecimento da população.

18

(41)

O Brasil, embora longe de conseguir solucionar os graves problemas relacionados à infância e à juventude, como saúde, educação etc., já está tendo que enfrentar todas as implicações sociais decorrentes desse intenso processo de envelhecimento com taxas comparáveis àquelas experimentadas por países mais desenvolvidos, como os já acima citados. O ritmo acelerado do envelhecimento da população brasileira dificulta ainda mais o enfrentamento desse desafio, pois a implementação de soluções é bastante difícil e elas não conseguem acompanhar a velocidade que caracteriza o envelhecimento.

As principais características do fenômeno do envelhecimento no Brasil, como dito, é de um lado, a rapidez com que o mesmo acontece, e de outro, o fato desse envelhecimento da população está se dando sem estar sendo acompanhado por uma proporcional melhoria da qualidade de vida dos brasileiros.

A conseqüência, atualmente vivida por nós, é a ocorrência de drásticas mutações na estrutura etária de nosso país, num tempo relativamente curto, sem que a maioria da população brasileira tenha acesso às conquistas sociais e sem que o desenvolvimento institucional esteja em sintonia com o enorme contingente da população idosa.

A pobreza numa sociedade tão desigual como é a brasileira ocasiona a reprodução dessa pobreza na velhice, sendo tal fato resultado do ciclo vicioso da desigualdade social. As condições sócio-econômicas do idoso refletem a grande desigualdade existente no país que oferece aos seus cidadãos chances mínimas para uma existência humana social e digna.

(42)

3.3 Como deve ser visto o fenômeno do envelhecimento populacional

É indubitável que o envelhecimento influencia o consumo, a transferência de capital e propriedades, impostos, a geração de pensões previdenciárias, o mercado de trabalho, a saúde enquanto assistência médica, a composição e a organização da família. O envelhecer é um processo normal, irreversível, inevitável e não deve ser visto como uma doença. Portanto, não deve ser tratado apenas com soluções médicas, mas também por intervenções sociais, econômicas e ambientais.

A reflexão a ser feita sobre o envelhecimento da população no Brasil não pode e nem deve ficar adstrita a uma mera análise demográfica, mas, sobretudo deve abranger os aspectos econômicos, sociais e culturais do povo brasileiro, com o intuito de se perceber de forma mais clara quais são as conseqüências, as transformações e as perspectivas que esse processo do envelhecimento traz em seu bojo e quais as atitudes políticas sociais que devem ser adotadas frente a esse fenômeno que de maneira tão intensa se apresenta à sociedade brasileira.

A consciência das mudanças trazidas pelo envelhecimento da população ainda é muito incipiente, porque muitas pessoas ainda pensam no Brasil como um país de jovens e não se dão conta de que nossa nação está ficando cada vez mais “enrugada e de cabelos brancos”, fato que traz conseqüências importantes para o entendimento de questões fundamentais implícitas nesse processo de envelhecimento e para que se estabeleça um debate maduro acerca dessas questões, em busca de soluções eficientes que propiciem melhor o enfrentamento da situação.

(43)

experiência acumulada e sob o império das conseqüências bio-psico-sociais que marcaram a vida de cada indivíduo ou grupo social coeso.

Numa pesquisa realizada recentemente pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o SESC, em 204 municípios de regiões de todo o Brasil, intitulada de “Idosos no Brasil – vivências, desafios e expectativas na terceira idade”, pesquisa essa considerada a mais abrangente feita com idosos até os dias de hoje, descobriu-se que 85% das pessoas com mais de dezesseis anos no Brasil acham que há o preconceito em desfavor dos idosos, mas apenas 4% admitem serem preconceituosos em relação à terceira idade, taxando os que nela se encontram de ultrapassados, incapazes e tristes. Essas porcentagens, sem nenhuma dúvida, retratam a sociedade brasileira e suas atitudes com vistas à exclusão dos idosos, onde a maioria das pessoas não admitem que são preconceituosas porque sabem que o preconceito é algo repugnante e feio, mas todos sabem que o preconceito reina nessa seara e fingem não enxergar.

A pesquisa demonstrou a falta de informação na sociedade sobre a velhice e sobre as reais necessidades dos idosos, sejam elas físicas, morais, sociais, culturais etc. Isso só vem a evidenciar que a população em geral não está preparada para lidar com o fenômeno do envelhecimento populacional, dificultando o atendimento das demandas das pessoas mais velhas.

Os indivíduos que se encontram na terceira idade não desejam ser desligados e retirados da vida social, aliás, nenhuma pessoa saudável, independentemente de sua idade deseja isso para si. Tampouco os idosos querem ser rotulados de objetos de cuidado (que não podem mais dar nenhum tipo de contribuição) por isso hão de ser proporcionadas a eles oportunidades de inclusão nas decisões a respeito da sociedade e da sua própria vida cotidiana, garantindo que eles vivam dignamente, obviamente nos limites de suas restrições, mas também valorizando o que eles ainda muito têm a oferecer, que se faz mister ressaltar, é de grande valor para a sociedade.

(44)

sempre visando o bem-estar de todos, com uma perspectiva de uma revisão do papel social e da imagem que se tem a respeito do idoso, criando-se condições para a sua reinserção ou manutenção na vida social, aproveitando-se o seu potencial para ser usado na velhice.

O isolamento e a exclusão do idoso na sociedade, decorrência do forte preconceito existente, significa a antecipação da sua morte social antes da ocorrência de sua morte biológica. Diante desse aspecto o Brasil precisa urgentemente adotar medidas que o tornem preparado para que a crescente população de idosos possa exercer verdadeiramente sua cidadania. Não pode mais o Brasil agir como se fosse ainda um país jovem, ignorando e fingindo não ver que a sua população está cada vez mais de “cabelos brancos”.

A velhice deve passar a ser encarada como uma fase normal da vida de todos nós, pois ela, em tese, não torna um ser humano mais ou menos importante ou mais ou menos digno que os demais cidadãos. O envelhecer não deve ser rejeitado, até porque é um processo inevitável e inerente a todos nós, cuja única saída, infelizmente, ainda é morrer cedo. Precisamos lembrar que nós também, possivelmente, vamos ficar velhos e se os problemas não forem enfrentados agora, nós, os jovens de hoje, seremos os velhos excluídos e vítimas de preconceitos de amanhã.

(45)

3.4 O Trabalho e o Envelhecimento

O trabalho pode ser uma realidade da terceira idade. O idoso é ser humano que como todos os outros possui potencialidades e limitações podendo fazer parte expressiva da força de trabalho desse milênio. Para tanto, os sistemas de produção devem se adequar a esta nova realidade populacional, considerando que os idosos podem sim ser criativos e eficazes podendo continuar a contribuir em muito com a sociedade.

A velhice não pode ser um vácuo social, é preciso se combater esse afunilamento existente nos dias de hoje que diminui cada vez mais os espaços na comunidade que permitem a existência social produtiva para o idoso, condenando-o a cumprir um papel imposto a ele contra a sua vontade, de velho inútil, incapaz, improdutivo e dispendioso, não oportunizando o aproveitamento de suas capacidades e experiências para a sociedade produtiva. A digna existência não é direito só dos jovens, é direito de todos aqueles que estão vivos e o direito ao trabalho é parte integrante e fundamental da dignidade de uma pessoa. Nesse sentido afirma Amarilho:

[...] é através do trabalho, expressão genuína da energia humana, que o homem desenvolve a si mesmo e também participa do desenvolvimento da sociedade em que vive. Parece enganosa a crença de que o trabalho seja limitado apenas àqueles que são jovens, detentores de força física, uma vez que esta é apenas uma das energias a serem utilizadas nas atividades laborativas. As potencialidades mentais dos indivíduos de terceira idade, hoje comprovadas, merecem, portanto, serem entendidas como sinônimo da força produtiva de que são detentores.19

O decorrer do tempo e o aumentar da idade não traz apenas efeitos negativos para a capacidade em relação ao trabalho, pois, anos de trabalho trazem também a acumulação de experiências profissionais que facilitam muitas vezes a realização de tarefas. A capacidade do idoso não pode ser avaliada somente levando-se em conta suas limitações, mas também devem ser valorizadas as suas possibilidades.

19

AMARILHO apud NASCIMENTO, Roberta Fernandes Lopes do. et all. Atualidades sobre o idoso no mercado

(46)

Não existe necessariamente uma relação negativa entre o desempenho no trabalho e o envelhecimento. Ao contrário, essa relação pode ser positiva, inclusive para quem contrata uma pessoa mais velha, pois em muitos casos, pode-se dizer que os trabalhadores mais velhos são mais satisfeitos no trabalho, são os que faltam menos, são os mais responsáveis, são mais cuidadosos e se acidentam menos.

Não podemos confundir idade avançada com senilidade ou enfermidade como se fossem sinônimos, pois não o são. É cada vez maior o número de pessoas idosas com boa saúde mental e também física, com ampla capacidade de aprender e motivação para atualizar-se diante dos acontecimentos deste milênio. Se por um lado há realmente certa debilitação física com o envelhecimento, debilitação essa que a medicina vem ajudando a superar, por outro há um enriquecimento da vida com as experiências vividas e conhecimentos apreendidos.

Todo o sistema de organização do trabalho deve ser repensado nas empresas para que os indivíduos possam envelhecer profissionalmente, com sentimento de dignidade e auto-estima elevada. Nas palavras de Anita Liberalesso Néri em seu artigo intitulado “Envelhecimento e Trabalho” temos que:

Envelhecer bem no trabalho depende de uma combinação ótima entre as mudanças em exigências do contexto do trabalho e as capacidades, habilidades, e outras características dos indivíduos. Os trabalhadores mais velhos têm grande chance de funcionar bem se e quando puderem utilizar seu capital de experiências e se puderem usar certas características do ambiente físico, informativo e social do ambiente de trabalho como suportes para o seu desempenho.20

Os idosos são sempre mencionados como problemas e passaram a ser a geração indesejada, sendo eles gradativamente isolados do convívio social. Para se combater tal fato é preciso fazer com que eles sintam-se úteis, produtivos, capazes de interagir com o meio e levar experiências de sua vida para o seu trabalho, sem serem taxados de improdutivos e de “peso social”.

20 NÉRI,

Imagem

Gráfico n° 1  –  Proporção de idosos
Gráfico n° 2  –  Proporção de idosos sem curva dos países mais desenvolvidos  (população com mais de 60 anos, em % da população total)
Gráfico n° 3
Gráfico n° 4  –  Taxas Brutas de mortalidade   –   1990  –  2004

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