• Nenhum resultado encontrado

Números e causas do envelhecimento populacional no Brasil

O fenômeno do envelhecimento populacional é nos dias de hoje um fato marcante no mundo todo, significando que a população idosa vem crescendo mais em relação ao crescimento das outras faixas etárias. O envelhecimento é um processo natural da vida humana e altera a relação do homem com o meio em que vive.

No Brasil, para fins de estudos demográficos, considera-se idoso a pessoa que se encontra em faixa etária a partir dos sessenta anos de idade. Tal critério cronológico é o adotado pela OMS – Organização Mundial da Saúde que considera idoso a pessoa com a idade de sessenta anos para países subdesenvolvidos e a idade de sessenta e cinco anos para os países desenvolvidos, porém não se deve olvidar que o envelhecimento apresenta várias facetas, consubstanciando-se em um processo diferenciado para cada pessoa na sociedade, variando de indivíduo para indivíduo, de acordo com as características peculiares de cada uma delas.

Para ser melhor entendido deve se observar que o envelhecer admite outras variáveis além da idade cronológica, tais como as condições biológicas, as condições psicológicas e os papéis sociais exercidos pelo indivíduo dentre outros fatores que devem também ser analisados para caracterizar como se dá o envelhecimento para cada ser humano individualmente considerado.

Por muito tempo o nosso país ignorou a existência, entre a população, de um contingente extremamente considerável de pessoas acima dos sessenta anos e tal fato, pode-se dizer, ainda ocorre nos dias atuais, pois o Brasil parece não querer enxergar que a sua população está envelhecendo e isso percebe-se

facilmente no tratamento, no mais das vezes preconceituoso, que é dispensado aos idosos no Brasil.

O crescimento da população de idosos, em números absolutos e relativos, é um fenômeno mundial tão profundo que já está sendo chamado de “revolução demográfica” e está ocorrendo a um nível sem precedentes, consequentemente afetando intensamente também o nosso país.

Para se ter uma idéia da dimensão de tal fenômeno vale dizer que no ano de 2020, o número de idosos no Brasil terá mais que dobrado. Observando-se os gráficos abaixo se percebe que esse número passará de 7% para aproximadamente o equivalente a 15% da população e atingirá uma cifra aproximada de 31,8 milhões de pessoas de acordo com estimativas da Organização Mundial de Saúde – OMS.

Gráfico n° 1 – Proporção de idosos

(população com mais 60 anos, em % da população total)

(Fonte: ONU - Organização das Nações Unidas)

Azul = mundo

Vermelho = América Latina

Laranja = países mais desenvolvidos Verde = países menos desenvolvidos Amarelo = Brasil

Gráfico n° 2 – Proporção de idosos sem curva dos países mais desenvolvidos (população com mais de 60 anos, em % da população total)

(Fonte: ONU)

Azul = mundo

Vermelho = América Latina

Verde = países menos desenvolvidos Amarelo = Brasil

Esse segmento populacional, ao crescer muito mais rapidamente se comparado ao crescimento da população total, colocará o Brasil como ocupante da posição de sexto país no mundo em termos de número de idosos.

Em reportagem divulgada no dia 01 de dezembro de 2006 no jornal O Globo mostrou-se que a esperança de vida no Brasil subiu de 71,7 anos em 2004 para 71,9 anos em 2005. A despeito disso no ano de 2005 já havia no Brasil, de acordo com pesquisas do IBGE, 2,4 milhões de pessoas que passavam dos oitenta anos de idade. Isso mostra que a população de idosos, como dito é a que mais cresce e os idosos estão ficando cada vez mais idosos, o que pode ser observado no gráfico abaixo:

Gráfico n° 3

[Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas (DEP), Coordenação de População e Indicadores Sociais (COPIS)]

Os indicadores demográficos que se pode apontar como os principais responsáveis pelo fenômeno do crescimento do envelhecimento populacional no Brasil são o declínio da taxa de mortalidade e de mortalidade infantil e a redução do índice de fecundidade que vem apresentando o Brasil nas suas últimas décadas, o que pode ser visto com a análise das tabelas a seguir inseridas.

Tabela n° 1

INDICADORES DEMOGRÁFICOS - BRASIL

1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004

Esperança de vida ao nascer

66,57 68,49 70,43 70,71 71,00 71,29 71,7

Taxa de natalidade

(por mil habitantes)

24,21 21,93 21,13 21,00 21,00 20,85 20,64

Taxa de mortalidade

(por mil habitantes)

6,95 6,55 6,34 6,33 6,33 6,32 6,51

Taxa de mortalidade infantil

(por mil nascidos vivos)

47,00 37,90 30,10 29,20 28,40 27,50 26,60 Taxa de fecundidade total 2,79 2,51 2,39 2,36 2,35 2,33 2,31 (Fonte: IBGE/DEP/COPIS) Tabela n° 2 FECUNDIDADE ANOS TAXA 1960 6,21 1970 5,76 1980 4,01 1990 2,79 2000 2,39 2010 1,85 2020 1,81 (Fonte: IBGE/DEP/COPIS)

Esses fatores associados promovem a base demográfica para um envelhecimento real da população brasileira. Considera-se, portanto, o crescimento mais elevado do contingente idoso como resultado da alta fecundidade prevalecente no passado comparativamente à atual e da diminuição da mortalidade e da mortalidade infantil que beneficiou todos os grupos populacionais.

Estudos mostram que, devido às quedas das taxas de fecundidade, como demonstrado nas tabelas acima, e à diminuição gradativa das taxas brutas de mortalidade, que podem ser visualizadas no gráfico seguinte, registradas nas últimas décadas, o envelhecimento da população brasileira é um processo que pode ser considerado irreversível. O país, que antes era considerado de jovens, começa a mudar profundamente a sua estrutura demográfica com o aumento e a presença notável dos cabelos grisalhos.

Gráfico n° 4 – Taxas Brutas de mortalidade – 1990 – 2004

[Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas (DEP), Coordenação de População e Indicadores Sociais (COPIS)]

As razões para as reduções que ocorreram nas taxas de fecundidade no Brasil são muitas. Tais reduções são resultados do processo de urbanização da população brasileira marcada por uma grande necessidade da diminuição do tamanho da família estabelecido pelo “modus vivendi” dos grandes centros urbanos, que tem como característica marcante, dentre outras, a progressiva incorporação da mulher à força de trabalho. Por outro lado, as mulheres tornaram-se mais receptivas ao controle familiar e esse fato é bastante influenciado pela crescente disponibilidade de meios contraceptivos no Brasil.

O decréscimo nas taxas de mortalidade e de mortalidade infantil, por sua vez, tem sido ocasionado devido às melhorias ocorridas nas áreas de saúde, infra-estrutura e técnica sanitárias, proporcionando uma enorme diminuição no número de doenças ou dos seus efeitos mortíferos.

Os avanços na medicina são fatores de suma importância a serem apontados como uma das causas do fenômeno do envelhecimento populacional no mundo e no Brasil. Tal avanço propiciou o aumento progressivo da longevidade e, portanto da expectativa de vida. É cada vez maior o número de pessoas que chegam e ultrapassam a idade de sessenta anos, e mais que isso, a medicina possibilitou que essas pessoas alcançassem tal idade em boas condições de saúde física e mental, que quando associados a fatores sociais, culturais e espirituais são aspectos relevantes para dar qualidade de vida aos anos acrescidos pela ciência, propiciando condições para que essas pessoas possam contribuir muito com a sociedade.

A grande intensidade com que ocorre o processo do envelhecimento populacional no Brasil também pode ser vista ao analisarmos o indicador que relaciona o número de idosos com o contingente de crianças. Esse indicador passou de 13,90 idosos (pessoas com mais de 60 anos de idade) para cada 100 crianças (menos de 15 anos de idade) no ano de 1991 para 27,30 em 2000.

Levando-se em conta esse intenso ritmo com que o envelhecimento acontece, é fácil concluir que no corrente ano existem mais de 30 idosos para cada 100 crianças no Brasil.

Estudos estimam que esse indicador que relaciona número de idosos e número de crianças atingirá a cifra de 138 idosos (pessoas com mais de 60 anos de idade) para cada 100 crianças (menos 15 anos de idade) em pouco mais de quarenta anos, ou seja, o número de idosos superará, em um curto intervalo de tempo, o número de crianças no Brasil.

Mundialmente falando, podemos perceber nitidamente a grandiosidade de tal fenômeno, pois, estudos mostram que em 1950 havia cerca de 204 milhões de idosos no mundo e em 1998 esse número aumentou para 579 milhões de pessoas idosas, revelando um crescimento de quase oito milhões de pessoas idosas por ano. E ainda, segundo as projeções, o número de pessoas com 100 anos de idade ou mais aumentará 15 vezes, passando de 145.000 pessoas no ano de 1999 para 2,2 milhões de centenários em 2050. No Brasil, os centenários eram 13.865 em 1991 e já em 2000 chegou esse número a 24.576 pessoas.